Odisseia do Zodíaco escrita por SEPTACORE


Capítulo 11
Iluminados




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O clima na montanha podia comparar-se ao que Babi, Brenda e Netto carregavam em suas mãos – canecas de café, tão quentes que o calor era sentido até por quem passava perto. Tamanho era o sabor da bebida que mal perceberam o aparecimento de Toni carregando uma Barbara inconsciente, utilizando seu atributo, seguido por Americo e Alexandre. 

— Leve-os até Luisa e Jake – ordena Americo, apontando para um corredor na outra extremidade do salão. – Preciso ativar o protocolo. 

— Tudo bem – Alexandre assente e depois corre para seguir o leonino e a canceriana.
Nesse momento, Americo se vira para Netto, o geminiano que tomava os últimos goles de seu café.

— Avise Felipe, Maiara e Fernanda que preciso deles aqui, por favor. — Netto entrega sua caneca para Americo e tira um espelho do seu bolso. Depois, fecha os olhos sutilmente, colocando a mão direita sobre a face do espelho. Em cerca de segundos, o geminiano não estava mais ali, e sim dentro de uma oficina, abaixo do dormitório da Terra, onde duas pessoas trabalhavam apressadamente. 

— Felipe? Fernanda? – Chama o garoto, olhando através de um retrovisor em cima de uma mesa. – Vocês estão aí? 

— Quem fala? – pergunta a doce voz de Fernanda, procurando o paradeiro da voz. – Onde você está? 

— Aqui! Eu, Netto.

 Fernanda se encaminha até a porta, achando que alguém estava querendo entrar, mas é Felipe quem avista Netto, após pegar um parafuso próximo ao retrovisor.

— Está aqui – ri Felipe, mostrado a figura do geminiano. 

— Ah, desculpa, não estamos acostumados a sermos visitados assim – diz Fernanda. – Enfim, o que deseja?

— Americo quer falar com vocês – explica ele. – Ele está aqui na Copa, aguardando. 

— OK, estamos indo pra aí. – Felipe pega um pano que estava em cima da mesa e começa a lavar as mãos apressadamente.

Pela maneira como o garoto comportava-se, o assunto parecia ser sério. Isso motivou Netto a ir mais rápido contatar a leonina Maiara. O garoto fecha os olhos e, em poucos segundos, percebe-se em uma sala enorme que já teve o prazer de conhecer.

Há poucos metros de um espelho de parede onde Netto estava, três leoninos treinavam esgrima com espadas de madeira. Triza e Maiara lutavam como profissionais, aparando e produzindo golpes dignos de guerreiros medievais. Enquanto isso, Gorran assistia à luta empolgado, como se aguardasse a hora de uma delas perder e ele assumir o lugar. Porém, um simples ato de Netto possibilitou o desejo do garoto. 

— Maiara, Americo te chama aqui na Copa – grita ele. 

Imediatamente, as duas param de lutar e encaram o espelho. Sem nenhuma pergunta, a leonina assente e passa a espada para Gorran. 

— Finalmente! – exclama o garoto. 

— Já estou descendo – avisa ela, tirando o suor de sua testa com uma toalha e se dirigindo para as escadas. 

Respirando fundo, ao som do primeiro “plac” das espadas se chocando, Netto retorna para a copa em que estava. Ele retira a mão da superfície do espelho e o guarda novamente em seu bolso. 

— Você foi rápido – comenta Americo, devolvendo a caneca ao garoto. 

— Não é a toa que meu apelido é Barry Allen – responde ele, rindo. – Bem, Bruna me chama. Até mais e boa sorte no que forem fazer.

Enquanto Netto seguia por um corredor à esquerda, Felipe e Fernanda chegavam por um corredor ao lado de Americo. Maiara desce os últimos degraus e só para de correr quando chega ao lado deles – e quando para, não dá um sinal cansaço e nem pausa para respirar. 

— Chegou a hora? – pergunta Felipe, olhando de Fernanda para Americo, e de Americo para Maiara. 

— Sim, chegou! – responde o líder sagitariano, aflito. – Dois humanos comuns conseguiram tocar a montanha. Se estamos vulneráveis a eles, estamos a algo muito pior. 

— Tudo bem, terminamos as últimas estacas ontem – responde o garoto, empolgado. – Fernanda, mostre à Maia onde as estacas se encontram, enquanto isso vou ativar o software. Precisaremos de mais pessoas para instalar.

— Deixe com a gente, leonino tem de sobra nessa montanha – responde Maiara, depois se vira para Fernanda. – E então, me guie até as estacas, por favor? 

— Vamos!

As garotas saem, deixando-os sozinhos. 

— Tem como me explicar o plano, exatamente? – pergunta Americo. – Ainda estou confuso. 

Felipe tira um aparelho do bolso e começa a digitar rapidamente, revirando os olhos.

— É o seguinte: produzimos sessenta e sete estacas de metal com rastreadores, vamos fincá-las nas entradas da montanha e elas estarão conectadas às pulseiras de metal, que serão distribuídas entre os líderes dos signos. – Felipe tira uma das pulseiras do bolso e entrega para Americo. – Cada vez que algo se aproximar duzentos e trinta e três metros de uma das estacas do lado de fora da montanha, as pulseiras começarão a apitar, indicando com uma seta o local onde a coisa se aproxima. 

— Acho que entendi – diz ele. – Gostei da ideia.

— Eu também. Enfim, mais tarde, passe na oficina para distribuir as pulseiras entre os líderes, porque eu nem sei quem são.

— Tudo bem. Confio na habilidade deles. Mais alguma coisa?

O garoto aproxima o aparelho do rosto de Americo. 

— Preciso da sua voz para ativar o programa, para o caso de algo dar ruim. 

— E o que eu devo dizer, exatamente? 

— Ativar o... Bem, não sei o nome dessa operação, você pode escolher agora. – Americo respira fundo, nervoso. Era a primeira vez que executava um comando como aquele, e nem sabia que aparelho era, pois estava longe de ser um celular, ou uma calculadora. 

— Ativar o Protocolo de Defesa – diz, e, segundos depois, o aparelho apita e uma bolinha vermelha aparece no monitor. 

— Ótimo. O programa só funcionará a partir da meia noite. Até lá, distribua as pulseiras entre os conselheiros, obrigado. 

Felipe aperta a mão do líder.

— Agora é hora de ficarmos atentos – responde Americo.

* * *

Vitor estava inquieto aquela noite, lembrando-se da porta que encontraram na pequena biblioteca secreta na noite anterior, pela qual não conseguiram passar. Sem conseguir se controlar, ele levanta da roda que os piscianos formaram no Cafofo e ruma para aquele corredor sombrio. A porta da biblioteca se abre e o cheiro de papel guardado e repleto de mofo contagia o ambiente. A porta que tinha se aberto desapareceu, dando lugar à velha estante, como antes ocupava seu lugar. Estranhando esse fato, Vitor busca, na sala, alguma resposta. Em cima da mesa empoeirada, o cubo mágico que Augusto tanto se apegara. Um flashback passou por sua cabeça.
 “Augusto termina o cubo gritando um ‘YES!’ (...) Um barulho alto toma conta da sala silenciosa e o que costumava ser uma estante se torna uma passagem secreta.”

— É isso – conclui ele. – O cubo é a chave – diz ele segurando o cubo em suas mãos. Ele move o cubo tentando desvendá-lo, mas percebe que é realmente um bosta nesse tipo de problema. Mesmo não querendo admitir, ele larga o cubo em cima da mesa e sai da sala para encontrar a única solução que conseguia pensar.

 Perto da montanha havia uma área descoberta com um jardim suspenso, aonde alguns iam para ter um momento terapêutico, onde podiam estender colchonetes e meditarem, ou refrescar as ideias e pensar. Geralmente, era tomado por piscianos, mas nas circunstâncias atuais, eremitas de outros signos frequentavam o local em busca de um pouco de paz. Augusto decidira regar suas mini-palmeiras. 

— Você por aqui? – diz Vanessa, zoando Augusto, que segurava um regador.

— Estou regando minhas plantinhas, será que posso? - responde.

— Não dá pra te ver regando uma mini-palmeira.

Augusto bufa, mas logo se rende a rir junto com a pisciana.

— Vejamos se não é o filho da Palmeirinha — sussurra Clara, que estava deitada num colchonete ali perto, junto com Vittoria.

— É Palmirinha, minha filha — Pedro diz e todos riem de uma Clara corada.

Do outro lado do jardim, estavam André e Julia, conversando. Logo, chegou um Vitor ofegante, que procurava Augusto por todo Pico.

— Cansei! – ele diz se jogando no colchonete e reclamando da dor que sentiu. - Não o acho em nenhum canto!

— Quem? – Julia diz, sacudindo um incenso.

— O Augusto! Esses capricornianos vivem nas sombras.

— Vitor, ele tá bem ali, regando as plantas dele – André diz, rindo.

Bufando, Vitor se aproxima de Augusto e Vanessa:

— Até que enfim te encontrei! – Vitor respira antes de prosseguir. – Preciso de um favor seu.

— Quanto vai me custar? – pergunta Augusto.

— É sério, cara. É super importante – responde ele.

— Fala logo, Vitor – pressiona Vanessa.

— É sobre a sala que descobrimos ontem, preciso verificar uma coisa.

Augusto hesita, mas acaba concordando em segui-lo, com Vanessa ao encalço deles.

Na biblioteca, Vitor pega o cubo e o entrega para Augusto.

— Preciso que você monte o cubo novamente. A porta secreta vai se abrir e, lá dentro, pelo palpite que tenho, encontraremos algumas respostas.

— Que palpite? – pergunta Vanessa.

— Lembra quando eu disse sobre meu pai ser astrólogo e as histórias que ele me contava? 

— Sim, ninguém deu muita moral – respondeu Vanessa.

— Seu pai é astrólogo? – pergunta Augusto – Nossa, quero!

— Era, né? Porque... Né? Morreu, assim como o de todo mundo.

— Faz parte – era o máximo que Augusto conseguia dizer.

— Pois é, uma das muitas histórias que ele contava era sobre uma sombra destinada a acabar com a ordem das constelações. Amara disse sobre isso em seu discurso, pouco antes de desmaiar.

— Tá, e como era essa história? – pergunta Augusto.

— Eu não lembro muito bem, faz muitos anos.

— Muito útil – ironiza Augusto.

— Só monta o cubo. Descobriremos depois.

Augusto senta na poltrona e põe-se a trabalhar no cubo, analisando as combinações que sabia.

— Anda, mano – pediu Vitor.

— Não trabalho sobre pressão.

Alguns minutos depois, a última virada no cubo faz a estante se mover.

— Consegui. – Augusto se levanta e segue Vitor e Vanessa até a sala escura, tirando a lanterna de energia mecânica, que sempre carregava no bolso. Iluminando a parede à sua frente, ele encarou novamente os 12 quadros com os símbolos dos signos do zodíaco em cada um.

Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes. Um por um, Augusto passara a lanterna. Se aproximando no canto direito da sala, ele para em frente ao quadro de Capricórnio.

— Melhor signo.

Vitor toma a lanterna de sua mão e aponta para o último quadro à direita. O símbolo de Peixes preenchia quase todo o quadro. O mesmo símbolo na palma de sua mão. Seus olhos saltam do quadro para sua mão e de sua mão de volta para o quadro. Uma força estranha o faz se aproximar do quadro e, com a palma esquerda aberta, ele toca o quadro. Uma luz ilumina o quadro e ela se reflete em Vitor.

— Augusto, toca o quadro de Capricórnio – pede Vitor.

O capricorniano repete o gesto de Vitor e a luz que salta de seu quadro também o ilumina.

— É isso. Meu pai falava sobre a necessidade do zodíaco trabalhar em conjunto. Precisamos de uma mão em cada signo – conclui Vitor.

Vanessa, Vitor e Augusto abandonam a sala e partem em busca de eremitas de signos diversos. Não sabiam se qualquer eremita serviria, mas tinham que tentar.

* * *

Enquanto o Protocolo de Defesa era ativado, três pessoas subiam o elevador, rumo ao último andar – que há horas havia sido inaugurado, muito bem finalizado por Gabriela e Letícia. Os objetos pertencentes àquele andar iam ser instalados por Eduardo, Mattheus e Enio, cujos pés passaram apressadamente pelo piso de madeira, em direção às enormes lonas dobradas ao lado de barras de carbono.

— Ao trabalho! – diz Mattheus, estendendo as lonas manualmente. 

Enio corre para separar as barras e procurar o manual, enquanto Eduardo concentra-se para abrir mais duas lonas de uma só vez, utilizando o atributo do seu signo, Aquário; depois, reorganiza as barras girando-as no ar, como fez no seu último treinamento. No fim, só foi preciso encaixá-las de acordo com o que o manual dizia. 

— Barra A4 encaixa com a B4 – Enio lê o manual em voz alta. – E a B4 com a C4. 

Mattheus obedece aos comandos de Enio, colocando facilmente e fixando com um pino. 

— Me deixe adivinhar: C4 se encaixa com a D4? – sugere Eduardo. 

— Não existe D4 – responde Enio. – Começa outro ciclo de barras. C4 com A5. 

— Qual a lógica desse manual? 

— Não sei, mas as duas barras não se encaixam – diz Mattheus, tangenciando uma ponta da outra. – Acho que está errado.

Enio lê o manual várias vezes, até conferir se as peças realmente pertenciam aos seus respectivos lugares. Tudo estava perfeito, no seu devido lugar – exceto as pontas que não se encaixavam. 

— Vamos ter que chamar alguém que projetou isso – sugere Eduardo.

— Relaxem, tenho uma ideia – diz Mattheus. 

O garoto de Áries segura a ponta de uma das barras e concentra-se no seu atributo. Disparar chamas era fácil, mas conter para que apenas a ponta da barra se aquecesse sem desintegrar necessitava de muito cuidado. No fim, acabou certo, e encaixou uma barra na outra, antes mesmo de uma delas se esfriar. 

Depois, eles se juntam para prender a lona às barras e finalmente tinham uma asa delta perfeita pronta. 

— Agora é só terminar as outras duas – comenta Enio, desanimado. 

Os eremitas não demoram mais que vinte minutos para montar as outras duas asas delta, até colocarem os equipamentos de segurança para testar. 

— Vamos colocar logo isso pra voar – diz Mattheus, apressado, apertando um botão ao lado da parede rochosa, onde, teoricamente, uma porta se abriria.

Para a surpresa de ambos, o chão começa a tremer e a parede desliza para o lado, deixando a luz do sol entrar na sala, iluminando as caixas e os papeis de outros equipamentos que viriam a montar. Uma rampa se projetava para fora da montanha, por onde deviam correr antes de entrar em voo. 

Mattheus pega a asa delta que continha um A1 na lona e a segura entre seu peito, prendendo-o ao mesmo. Com capacete e caneleiras bem apertados, o garoto corre para a rampa e pula quando se encontra a centímetros da borda. Dá aquela sensação de desespero e frio na barriga, junto com o arrependimento de ter pulado sem ao menos conferir se estava tudo certo – ou ao menos conferir as condições climáticas. 

Mas agora já era tarde, e Mattheus via-se fazendo uma longa curva em um céu limpo. Pôde ver Eduardo e Enio pulando atrás dele, repetindo seus movimentos, e juntos começaram a circular a montanha. Nunca tinham parado pra pensar em como o Pico do Cristal era enorme e bonito, com tanto verde cobrindo as rochas negras e a terra seca. Plantas de diversas espécies se espalhavam por campos inteiros, onde era possível notar pessoas, agora, correndo com objetos em suas mãos. 

— O que eles estão fazendo? – pergunta Eduardo, segurando-se firmemente no cabo da asa delta. 

— Não sei, mas parece que estão enterrando alguma coisa! – responde Enio, que não teve dificuldade para gritar. 

— Vamos chegar mais perto – sugere Mattheus.

— E como faz isso? 

— Não sei, vou tentar apontar para baixo. 

Mattheus força seu corpo para frente ao mesmo tempo em que levanta seus pés. Eduardo e Enio repetem o movimento e agora os três voavam rapidamente na direção ao chão, com o vento soprando seus cabelos com todas as forças. 

Decorridos alguns segundos do movimento, Enio percebe que se aproximavam demais do chão. Ele grita para que os demais amigos voltem a planar, mas ambos não tinham força para tal ato – ou então, não sabiam como voltar.

 Eduardo tentava desesperadamente colocar a asa delta paralela ao chão, mas só conseguiu utilizando seu atributo. Começou a planar e a diminuir a velocidade, ajudando Enio a se estabilizar também. Só restava apenas Mattheus, que se distanciava de ambos e estava bem próximo ao chão. Não tinha forças para ajudar o amigo com a telecinese a uma distância grande e, indo de mal a pior, um incidente aconteceu e viram que tudo estava perdido. 

A cerca de quarenta metros do chão, Mattheus começou a entrar em pânico e isso gerou algumas faíscas de suas mãos. Essas faíscas se transformaram em labaredas, deixando a asa delta em chamas, produzindo uma fumaça que se via de longe. 

— AI, MEU DEUS, E AGORA? – pergunta Enio, desesperando, enquanto Eduardo tentava usar seus atributos de alguma maneira.

Nada mais podia ser feito pelo garoto de Áries, exceto o que ele mesmo podia fazer por si. Respirando fundo e mantendo a calma, Mattheus teve de confiar numa teoria que Ingrid – sua conselheira – mencionara. A capacidade das chamas serem fortes ao ponto de sustentar seu corpo tinha de ser verdade. Com isso, queimou o cabo que o ligava à asa delta, deixando a enorme estrutura para trás e entrando em queda livre. 

Vinte metros do chão e Mattheus começou a soltar as primeiras labaredas – que se transformaram em enormes chamas. Oxigênio entrava por suas narinas, alimentando o fogo interno e liberando através de suas mãos. A explicação científica para aquilo quase não coincidia com a realidade, principalmente quando se aproximou cinco metros do chão e as chamas retornaram ao seu corpo, suspendendo-o no ar e jogando-o para o lado, diminuindo o impacto da queda. 

Chamuscado, com o dor no calcanhar e roupas queimadas – incluindo o capacete –, o garoto de Áries deitou-se no gramado, esperando o socorro de eremitas que se aproximavam. Enquanto Eduardo e Enio pousavam suas asas delta desajeitadamente, Toni e Stefani largavam suas estacas no chão e conferiam o corpo do menino caído.

— Ele está bem? – pergunta Enio, aproximando-se e tirando o capacete de Mattheus.

— Acho que quebrei alguma coisa! – responde ele. 

Toni ergue o ariano e o coloca em seu ombro. 

— Vou levá-lo até Jake – diz Toni. – Sté, continue instalando os rastreadores. Já volto para te ajudar.

— E nós vamos limpar isso aqui. 

Eduardo levanta as mãos e as três – ou duas e meia – asas delta se e erguem no ar. Depois, retorna rapidamente para a montanha ao lado de Enio, prometendo um ao outro que não pulariam mais daquela rampa.

* * *

— Alguém pode explicar qual é a da reunião? – Alexandre pergunta em meio a outros tantos eremitas na pequena biblioteca.

— Não sabia que você era tão alto – diz Adriéli, uma aquariana.

— Nem sou, tenho 1,84, você tem quantos?

— Faço 16 esse mês – responde ela, distraída.

Alexandre pisca os olhos sem entender.

— Sério, galera, o que vocês querem? – pergunta Vivaldo, um taurino que estava prestes a completar seu treinamento.

— Vocês trouxeram a gente aqui para ver o Augusto montar um cubo, é? – pergunta Yasmim. A ariana honrava seu signo e não tinha muita paciência para esperar sem saber o que estava acontecendo.

— Se acalmem – tentou Vitor. – Ele precisa montar o cubo.

Jean, Ana e Ney sentaram-se em algumas poltronas que encontraram pela sala. Os outros procuraram lugares no chão, já que o geminiano, a libriana e a escorpiana ocupavam as únicas poltronas restantes. Luísa Fiorin, uma novata de Virgem, aproveitava o tempo que tinha para tirar a poeira de uma estante, pois a estava incomodando.

— Vai demorar muito? – perguntou Rafaela, uma novata canceriana, que andava sempre com Eduardo, mas o amigo havia subido ao quarto andar e disse para ela voltar ao dormitório.

Evelin lixava as unhas próxima a uma estante, enquanto Augusto penava para montar o cubo.

— Já estou quase lá – respondeu ele.

— Ai, garoto! – disse Yasmim. – Você se perdeu 10 passos atrás e não tá sabendo como refazer.

Após perceber o erro, Augusto refaz os últimos movimentos e monta o cubo.

— Finalmente – exclama Vitor para a passagem reaberta.

Augusto vai atrás dele com a lanterna e Vanessa guia os eremitas para dentro da sala. Vitor pega a lanterna direciona os eremitas, um a um, para seus respectivos quadros. Yasmim posiciona-se à frente do quadro de Áries; Vivaldo, do de Touro; Jean, Gêmeos; Rafaela, Câncer; Evelin, Leão; Fiorin, Virgem; Ana, Libra; Ney, Escorpião; Alexandre, Sagitário; Augusto, Capricórnio e Adriéli à frente do quadro de Aquário.

— Vanessa, vá você no quadro de Peixes. Preciso ver de fora o que acontece.

Ela se põe à frente do quadro de Peixes e aguarda.

— Coloquem a palma da mão esquerda na superfície do quadro – pede ele.

— Como vamos saber se não é uma armadilha? – pergunta Evelin.

— Porque já fizemos isso antes – respondeu Augusto, encostando a mão no quadro, iluminando-o instantaneamente. Vanessa o seguiu dando coragem para os outros.

Enquanto os eremitas colocam suas mãos nos seus quadros, Vitor conta:

— Há muito tempo, meu pai me contava algumas lendas sobre o zodíaco de uma antiga sala como essa, com a representatividade de cada signo existente nos mapas zodiacais. Uma sala que escondia uma profecia antiga que falava sobre uma sombra que viria para mexer com a ordem nas constelações. Para acessar essa profecia, os signos precisariam se unir. Amara nos alertou sobre essa sombra e essa profecia, até as estrelas, com seu brilho reduzindo, têm nos dado sinais de que não é somente uma história. Precisamos enfrentar o que quer que esteja lá fora esperando por nós.

A luz que saía de cada quadro era capaz de iluminar a sala inteira, e um som retumbante abafava as palavras que Vitor pronunciava.

* * *

Desde que Gorran havia lhe mostrado a Caverna dos Nomes, Vittoria não procurava outro lugar para descansar, relaxar e meditar. Os Jardins Suspensos já não eram mais um lugar tão quieto como antes, visto que muitos procuravam por uma pausa na loucura que era o dia-a-dia da montanha. Com os pés na água do lago no centro da Caverna, ela extraía todo estresse dos últimos treinamentos. A imagem de sua irmã chegou a sua cabeça. Já não estavam mais brigadas e até trocavam algumas palavras, mas não haviam parado para conversar sobre o passado. Talvez não precisassem mais. Uma presença calorosa sentou-se ao seu lado.

— Se importa se eu te fizer companhia? – perguntou Gorran, sorrindo para ela. Ela sorriu de volta concordando.

— Que insano, não é? – Gorran tenta fazer Vittoria falar, já que não conversam há tempos.

— O que? – pergunta ela.

— Tudo que temos vivido nos últimos dias. Como viemos parar aqui, você e sua irmã, todo esse treinamento... – ele fez uma pausa, que Vittoria entendeu se tratar da morte dos seus pais. Eles perceberam que não era preciso ser dito. -... Tudo.

— Li sobre a montanha e sobre ela estar aqui para nos proteger, além de treinarmos para protegê-la também.

— Mas é tão estranho não saber sobre nada e não encontrar respostas.

— Pelo menos, encontramos pessoas como nós aqui e eu pude encontrar até uma irmã que não sabia que eu tinha.

— Alguns encontros são melhores do que outros – completa Gorran.

Ela o olha e percebe que ele a olhava de volta. A mão dele desliza sobre o chão e encontra a dela. Ambos correm seus olhares para as mãos e depois, de volta para onde estavam. Nunca havia estado tão próximos, nem mesmo amigos como eles tinham essa intimidade. Eles perceberam seus rostos se aproximarem e suas respirações ofegarem.

— Go... Gorran – gaguejou Vittoria.

— Vick – respondeu ele.

Os olhos se fecharam e os lábios se encontraram. A lua refletia seu brilho na água que banhava seus pés e os iluminava na caverna escura.

* * *

A luz que os cegava, aos poucos, diminuía seu brilho o suficiente para iluminar a sala e a porta entre os quadros de Virgem e Libra, exatamente no centro da parede. A porta pela qual Vanessa não conseguiu atravessar nem usando seu atributo. Vitor avançou e, entre Fiorin e Ana - que, junto com os outros, separavam suas mãos das molduras -, girou a maçaneta e abriu a porta. A sala revelada era menor que a biblioteca duas portas atrás. Mal cabiam todos os eremitas que se encontravam ali. O único objeto da sala era um pedestal de pedra lascada. Vitor aproximou-se do pedestal e analisou as inscrições na pedra. Um símbolo que nunca havia visto antes. Um círculo com uma estrela de seis pontas e, em volta, os 12 símbolos dos signos do zodíaco. Além disso, a imagem de um poço artesanal. Não, um poço qualquer. Um que ele conhecia muito bem.

— Então, do que se trata? – perguntou Fiorin.

— A lenda conta de um lugar dentro das montanhas que refugiavam os que carregavam a marca dos signos do zodíaco. É o lugar onde os segredos mais ocultos da montanha são guardados por algum tipo de magia. O lugar por onde todo eremita passa. É lá que está escondida a profecia que procuramos – explicou Vitor.

— Que lugar é esse? – perguntou Evelin.

— Não conseguem se lembrar de um lugar por onde todos passaram? – incitou Vitor.

Todos ficaram pensativos, mas Vitor se adiantou:

— Eu sei onde fica. Sigam-me.

Dizendo isso, ele partiu em disparada para fora dos corredores mal iluminados. Chegando numa área descoberta, seguiu até o poço da Iniciação, onde os eremitas mergulhavam para pegar suas pedras. As pedras que os identificavam como eremitas do Pico do Cristal. Ao se aproximarem do poço, os amuletos pendurados em seus pescoços brilharam dando-lhes ânimo. Vitor subiu no patamar que abrigava o poço e, sem hesitar, mergulhou. Olhando para as paredes, deixando que seu amuleto o guiasse, ele procurava nas paredes do poço qualquer coisa que o ajudasse a encontrar a profecia. Quase deixara escapar o símbolo que havia visto minutos antes no pedestal da Sala dos Quadros talhado numa das pedras da parede do poço. Com o ar em seus pulmões quase acabando, reuniu suas últimas forças para puxar a pedra da parede.

Os eremitas que haviam ficado do lado de fora do poço, olhavam ansiosos para a água, procurando por Vitor. A noite não os deixava enxergar quase nada. De repente, ele surge respirando ofegante. Alexandre e Jean se adiantaram para ajudá-lo a sair do poço. Com uma placa de pedra nas mãos, ele era erguido pelos colegas. Fiorin correu ao armário próximo à entrada para o Pico e pegou uma toalha para que ele pudesse se secar.

— Conseguimos – disse Vitor segurando a placa. – Vamos resolver isso de uma vez por todas.

De um lado da placa, o símbolo que ele havia visto no pedestal reuniam os símbolos de todos os signos. Na outra face, uns dizeres muito estranhos e sem sentido, que não conseguiam ler direito devido à falta de iluminação.

— É uma língua estranha, não dá pra ler – disse Ana, tentando ler as linhas estranhas na traseira da placa.

— Você não sabe nem o alfabeto, fofa – brincou Evelin.

— Tu não me arrasa, não.

— Deixe-me ver – disse Alexandre, tomando a placa em suas mãos.

Sua visão melhorada permitiu analisar cada traço da placa separando o que era inscrição dos traços de erosão da própria rocha, afinal, depois de muitos anos, era possível que boa parte da originalidade da pedra tenha se perdido.

— É uma língua antiga, talvez milenar – começou ele. – Esses traços não são palavras, mas símbolos antigos. Cada símbolo, combinado com outros, formam frases.

— Você não consegue identificar esses símbolos? – perguntou Adriéli.

— Eu teria que analisar com calma, mas consigo identificar alguns – respondeu ele. Apontando para um estranho “S” na placa, ele completou – Esse aqui significa serpente.

Eles se lembraram do ataque da serpente gigante em Santos, que culminou na morte de Thomas e Mick, além de deixar feridos os que sobreviveram.

— Vamos levar isso para o Americo – propôs Vivaldo -, ele vai saber o que fazer.


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