KADEN

Osten estava sentado displicentemente sobre uma poltrona, jogando o que quer que fosse naquele videogamezinho, totalmente alheio ao que falei nas últimas duas horas.

- Osten, presta atenção! Você pelo menos ouviu o que eu disse?

- Claro que sim! - disse ele, levemente alarmado com meu grito.

- Então qual foi a última palavra que eu falei?

- Ér... Seleção?

- NÃO!

Uma semana. Uma semana, e Osten não fazia a menor ideia do perigo que corremos.

- Eu vou explicar pela última vez! - eu disse roubando seu jogo.

- Ei!

- Quieto! Osten, falta só uma semana para o aniversário da Eadlyn! Sabe o que vai acontecer se não tivermos um presente para dar? Um ano com uma Eadlyn brava! Você tem noção da periculosidade disso? - ele riu levemente, como se estivesse contendo uma gargalhada - O que foi?

- Periculosidade é uma palavra engraçada...

- OSTEN!

- Ai! Calma! Não precisa gritar! Ahren sempre cuida de tudo!

- Acontece que, caso você não esteja sabendo, Ahren está na França e está brigado com a Eadlyn! Obviamente, ele não vai salvar nossa pele esse ano!

- Oh... E o que nós vamos fazer?

Essa era a pergunta que vinha martelando a minha cabeça há dias. Eadlyn é uma garota complicada; ela é forte e poderosa demais para ser delicada, mas sensível demais para não ter um resquício de menininha. E isso é o que complica, qual presente é bom o suficiente para ela?

- Não sei ... - disse em um suspiro desesperado - Eu esperava que você tivesse alguma ideia.

- Eu? Minha mente é unicamente voltada para o crime, não espere de mim nenhuma ideia fofinha - disse mastigando a palavra com asco como se falasse de cocô de cavalo e não do presente da irmã mais velha. Na verdade, talvez ele preferisse falar de cocô de cavalo.

- E agora? Precisamos de ajuda! Mas quem conhece a Eadlyn tão bem quanto nós, é criativo o suficiente para fazer um presente incrível e para quem podemos pedir esse favor sem corrermos o risco de sermos entregues?

Depois de um breve momento de silêncio, vi o rosto de Osten iluminar-se, e sua boca contrair-se em um sorriso traquina. Ele tinha uma ideia.

- Eu acho que conheço alguém assim...

- X -

- Espera, deixa eu ver se eu entendi. Vocês querem que eu arranje um presente perfeito para a Eadlyn, sem ganhar nenhum crédito por isso e em uma semana, certo?

- Certo. - eu e Osten dissemos em uníssono.

- E por que eu faria isso?

Nos entreolhamos sem saber bem o que dizer. Depois de três horas pensando, recorrer ao Kile pareceu uma ideia revolucionária - sejamos sinceros, para quem nunca tinha sequer comprado um presente, era mesmo uma ideia revolucionária -, mas nunca passou pela minha cabeça que ele pudesse nos questionar.

Felizmente, o pequeno criminoso que eu chamo de irmão tinha pensado nisso.

- Você achou mesmo, Kile, que eu faria uma proposta dessas sem considerar a sua parte? Você me subestima...

- Desembucha, garoto.

- Nós sabemos o que você quer, Kile. Sabemos que, no fundo, você quer ser o príncipe, mas você tem andado meio em baixa com o público, não é mesmo? Já aquele Henri... Parece bem querido pelo povo.

- E o que vocês podem fazer? - disse Kile aparentemente descrente, mas deixando entrever um pouquinho de sua paixão por Eadlyn que nem ele mesmo entendia e que tentava, a todo custo, esconder.

- Ora, você sabe que eu e meu irmão somos muito carismáticos. Se, por acaso, o público souber que você é nosso favorito...

- Você vai para o topo das pesquisas de popularidade. - completei, abismado com a engenhosidade do plano.

- E eu sou o favorito de vocês?

- Aí, depende. - disse Osten lentamente estendendo a mão - Você aceita?

Kile hesitou por um instante, olhou para a mão de Osten como se pensasse no que estava se metendo. Mas, por fim, selou o acordo com um aperto de mão.

- Aceito.

- Então considere-se favorito.