HALE

— Aí, ele disse “Aceito.” e o príncipe Osten respondeu “Então, considere-se favorito.”

       Ean tinha acabado de contar de contar toda a história que tinha ouvido quando passara em frente ao quarto de Kile. Um acordo com os irmãos da princesa? Por que eu não imaginei que isso aconteceria?

      - E agora o que nós vamos fazer? Contar para ela é o mesmo que pedir para sermos odiados pelos príncipes e comprar briga com o Kile vai ser ruim para a nossa reputação e ainda vai fazer com que ele seja notado pelos jornalistas. Alguém tem alguma ideia?

      Ean parecia pensar em um plano mirabolante e complicado para que Kile acidentalmente rolasse pela escadaria do palácio; sei muito bem que ele não gosta da princesa e sequer pretende gostar dela, ele está ali pela coroa, o que faz dele um concorrente muito mais forte. Fox ainda processava as informações e parecia extremamente frustrado; ele é o completo oposto do Ean, ele veio aqui unicamente pela Eadlyn, movido por uma paixão platônica que vem desde a infância, mas ele não tem muita personalidade e não consegue falar direito com ela de tão nervoso que ele fica, não vou precisar me preocupar com ele. Leeland estava encolhido no canto da cama de Ean com uma cara entre o choque e o choro, definitivamente ele é um dos concorrentes “descartáveis”. Na realidade, acho que a princesa só o deixou ficar devido ao seu acesso de choro na primeira eliminação. O que eu e esses três patetas poderíamos fazer que ofuscasse o favoritismo dos príncipes?

  - Já sei! – gritou Ean – Já que ele se uniu aos meninos para fazer um presente, nós deveríamos nos unir e fazer uma surpresa para a princesa, podemos chamar outros selecionados e excluir o Kile, como ele não vai ganhar nenhum reconhecimento pelo presente dos meninos vai parecer que ele esqueceu o aniversário dela. Nem um favoritismo da família real conseguiria salvá-lo de uma gafe dessas.

 - Ean, seu gênio do mal incrível, essa ideia é ótima! – disse Fox, fazendo com que o ego de Ean inflasse como um balão.

 - Eu sei, eu sei, obrigado. – disse ele fazendo pequenas reverências – Mas, sejamos francos, se quisermos ser notados temos que arranjar outros garotos. O único de nós que está relativamente bem nas pesquisas é o Hale, com ênfase no relativamente porque já faz um tempo que você não sai com a princesa Eadlyn, não é mesmo? Sem ofensas, claro.

— Ean, só porque você diz “Sem ofensas” depois de uma tentativa falha de me humilhar não significa que isso se torne menos ofensivo. Além disso, você não saber se eu saí com a princesa e eu realmente não ter saído com ela são coisas bem diferentes. – menti inescrupulosamente, mas a tentativa de Ean em esconder o desgosto no seu sorriso de desdém valeu totalmente o meu blefe – Mas você tem razão. Quem chamaremos?

Leves segundos de silêncio passaram-se até Leeland – sim, surpreendentemente, Leeland- abrir a boca.

— Podemos chamar o Henri e pedir para ele fazer um bolo para gente, daqueles bem grandes e bonitos. Conseguiríamos o presente e um aliado. E como ele é um lesado, não vai nem contar para o Kile, não precisamos nem explicar a história para ele.

— Perfeito! Então, vou agora mesmo falar com ele. Vejo vocês depois para acertar os detalhes. – disse antes de sair do quarto e deixá-los para trás.

Sei que poderia fazer uma coisa muito melhor para a princesa Eadlyn, poderia desenhar um vestido tão maravilhoso que ela usaria no Jornal Oficial e ainda teria o crédito só para mim. Mas, nas atuais circunstâncias, destruir Kile é mais importante para atingir meus objetivos do que conquistar a princesa. Sua Alteza vai ter que ficar para depois.

O que? Quais são meus objetivos? Bom... Digamos apenas que eu sou um concorrente bem mais forte que Ean.

— X –

KILE

Soltei um suspiro de frustração e desespero. Bom, vamos relembrar...

O que eu estava fazendo? Tentando arrumar um presente para Eadlyn.

E por quê? Porque os meninos pediram.

E por que eu tinha aceitado isso? Porque eles disseram que iriam falar bem de mim e que isso faria com que eu subisse nas pesquisas de popularidade.

E por que isso é importante para mim? Porque... Porque... Droga! Eu não sei!

Peguei o último papel no qual tinha escrito as ideias que tinha pensado até agora, amassei e joguei no cesto de lixo. A bolinha caiu perfeitamente no local onde eu queria e teria até ficado lá se a lixeira já não estivesse completamente lotada com outras bolinhas de papel cheias de ideias que não serviriam para a Eadlyn. Levantei e sai do quarto, precisava de um pouco de ar. Não ia conseguir mais nada ficando ali de qualquer jeito.

— Ei, olha por onde anda, coisa!

Ahn? Ah, tá. Josie.

— Bom dia para você também, Alteza. Diga-me o que a faz tão agitada assim?  — disse com uma ironia que geralmente dirijo a poucas pessoas, e quando digo poucas pessoas quero dizer minha irmã e Eadlyn.

 - Kaden me emprestou um filme que foi lançado pouco antes da Segunda Guerra Mundial. É um conto de fadas com música, mas parece divertido. Quer ver comigo?

Não sei o que me deu na cabeça para dizer sim aquela proposta descabida, mas o fato é que eu disse e, com isso, minha irmã me arrastou animadamente até a sala de cinema do palácio.

Bom, de qualquer forma não poderia ser tão ruim. Poderia?

Josie colocou o filme na televisão e sentou-se ao meu lado, tão ansiosa estava que chegava a ser engraçado. As primeiras imagens surgiram na tela, todas em preto e branco, via-se apenas uma garota e um cachorrinho. A menina começa a cantar, ela imagina como seria a vida além do Kansas, que deve ser aonde ela mora. Kansas, que nome estranho, nunca ouvi falar de um lugar com um nome assim, deve ser fictício. Enfim, voltando ao filme, ela está cantando sobre como ela gostaria de morar em um lugar depois do arco-íris e o cachorro... Espere, já sei!

— É isso! – gritei, fazendo com que Josie pulasse na cadeira, visivelmente assustada.

— Ai, Kile! Que susto! Isso o que?

— Desculpe, Josie. Não vou poder ver o resto do filme com você, preciso resolver uma coisa.

Sequer dei espaço para que minha irmã absorvesse o que estava acontecendo. Enquanto eu saía, Totó latia desesperadamente no filme, estava sendo levado por um furacão. Ele iria para Oz e eu iria para o abrigo de animais.