Os preparativos já estavam feitos, os avisos também. Iam sair dentro de pouco minutos. A banda estava no piso de baixo para dizer adeus aos milhares de fãs que estavam na rua para vê-los partir. Lúcia e Lia tinham ficado no piso de cima, pois não queriam ser vistas nem ver as fãs. Lúcia estava a conter-se ao ver aquelas raparigas a atirarem-se ao seu Bill.
Lá em baixo, Bill e Gustav acenavam dum lado e Tom e Georg do outro. O autocarro ia a uma velocidade extremamente vagarosa para não atropelar ninguém. Cartazes que diziam indecências, declarações de amor e de afecto eram exibidos na ânsia de algum dos quatro se apaixonar por alguma fã.
Na rua, as raparigas iam dando gritinhos histéricos porque: “O Tom piscou-me o olho” ou “O Gustav acenou-me”.
Lúcia e Lia falavam, para passar o tempo e para esquecer a algazarra que se estendia lá em baixo:
- Que maluqueira, né? – dizia Lia.
- Sim...
- E de pensar que nós éramos assim. – pensava Lia.
- Nós? Diz antes tu. Eu nem os conhecia.
- Está bem. É verdade. Ainda te lembras? Já foi há cinco meses.
Lúcia ainda se lembrava. Lembrava-se de ver Tom e Bill pela primeira vez e de Bill a ter visto nua. Lembrava-se de todos os pormenores: das conversas, das brincadeiras. De tudo. Tinha sido, ainda era, um sonho.
- Sim, ainda me lembro. Estar aqui é irreal, não é? Se acordar na minha cama, não posso garantir que foi um sonho.... Parece que estamos mesmo aqui. – disse Lúcia, aluada.
- Isso é porque estamos! Acorda, Lú!
- Estou acordada mas tenho medo que acabe.
- Bem, algum dia há-de ter que acabar. – concluiu Lia.
O autocarro ganhava velocidade. Já tinham passado a barreira de fãs e as motas da polícia que os acompanhavam, ficavam para trás. Bill, Tom, Gustav e Georg voltavam para cima. Encontraram-se todos na pequena sala no final do autocarro.
- Where are we going? Where is the next concert? – perguntou Lúcia a Bill.
- Hamburg Stadium. We should arrive in five hours.
- Five hours? What are we gonna do until there? – perguntou Lúcia.
- I’ve got some ideas... – disse Tom baixinho, só para que Lia ouvisse, que estava sentada a seu lado.
Lúcia pensava; quando lá chegassem ainda iam dar autógrafos às fãs que, apesar de já os terem visto umas centenas de vezes e de já terem um álbum de autógrafos deles, ainda queriam mais um, nem que fosse pelo facto de a cor do próximo autógrafo ser diferente da do último.
Autógrafos? Lúcia levantou-se, pedir licença e foi ao compartimento dos quartos. Sabia que estava ali, ela tinha-o trazido. Sim, ali estava. Pegou nele e voltou à sala. Voltou a sentar-se ao lado de Bill. Virou-se para ele, imitou uma fã histérica, e disse:
- Please Bill please, give me an autograph. – e entendeu-lhe a sua prenda de anos, aquela que Tom lhe mandara, apenas assinada por ele, Gustav e Georg.
Todos se riram, incluindo Bill. Pediu uma caneta a Tom que a fez aparecer da manga do casaco. Bill assinou: “With love, your Bill”. Lúcia não mostrou a ninguém o que ele escreveu mas ninguém pediu para ver.
- Can we see the DVD? We’d never seen it until the end. – pediu Georg.
Lúcia tirou o DVD e foi por no leitor de DVD por baixo da televisão. Tinham arranjado programa para as cinco horas. Colocou as legendas em inglês, uma vez que assim todos poderiam ver.
Tom ausentou-se porque tinha fome e ia ao piso de baixo comer alguma coisa. Bill encostou-se a Lúcia e assim ficaram a ver o filme, enquanto ela lhe fazia festas no cabelo. Lia, que já tinha visto o filme umas trezentas vezes, foi à casa de banho. Continuaram a ver o DVD que, apesar de já ter sido gravado há cinco meses, parecia ter sido ontem. Gustav e Georg meteram-se com Bill quando apareceu este e Lúcia aos beijos no corredor.
Já iam a meio do caminho e a meio do DVD. Quando estava a dar uma entrevista da banda em que Lúcia tinha traduzido as falas deles, Lia voltou. Vinha vermelha, mas Lúcia pensou que fosse por a casa de banho ser demasiado pequena e ter de se fazer várias manobras para lá entrar. Cinco minutos depois chegou Tom, sentando-se ao lado de Lia. Bill levantou-se um pouco, olhou para Tom e disse:
- Hey, Tomy, your t-shirt is inside-out.
Fora mauzinho em dizer aquilo em inglês.

To be continued...