Rainha do Submundo escrita por Vatrushka


Capítulo 5
Mais do que você pensa




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Hermes, enfim, retornou ao barco.

"Encontrei rastros na areia da praia. O droide partiu naquela direção em uma canoa."

Hirieu franziu o cenho. "Numa canoa? Improvável. É isso que ele quer que você pense. Um droide de alta tecnologia, por mais receoso de água que seja, não precisaria chegar a esse ponto. Como Hécate disse, tenho certeza de que ele está nos assistindo."

Hermes pareceu irritar-se. Hirieu parecia ser tão bipolar quanto o oceano. "Óbvio que considerei essa possibilidade, mas temos que nos movimentar! Vamos ficar aqui, parados? Na expectativa que ele esteja dando uma de stalker?"

"Ele viu nossa capacidade de luta." Concluiu Hécate. "Está nos estudando, para descobrir nossas..." O olhar da deusa encontra o de Hirieu. "Fraquezas."

Droga. Desabafara no lugar errado e na hora errada. Porém, se perguntava como um droide usaria isto contra ela...

Os três Hs permaneceram em um longo silêncio. Examinavam o ambiente ao seu redor, receosos.

"Talvez seja a hora de descansarmos."

 

 

Hécate e Hirieu foram os primeiros a dormir. Hermes parecia muito agitado, portanto acharam melhor tê-lo como primeiro vigia.

A deusa não estava acostumada a dormir em rede. Custou para achar uma posição confortável. Quando parecia estar prestes a adormecer, um zumbido de mosquito a alertou.

Irritada, sacudiu o ar ao seu redor. Viu que não havia sido o suficiente quando sentiu uma picada extremamente dolorosa em seu pescoço.

Por impulso, desgrudou o inseto de sua pele. Tentou analisá-lo, mas sua visão estava mais nebulosa que o comum.

A última conclusão que teve antes de desmaiar foi a de que o mosquito era, digamos... Robótico demais.

 

 

Entrou em um estado que parecia sonhar. Se bem que estava mais para um delírio...

Estava em um lugar vasto e escuro. Andava incessantemente, mas nunca parecia sair do lugar.

"Hécate." Ouviu uma voz feminina e bela ressoar atrás de si. Virou-se, reconhecendo-a.

"Nix!"

Nix era a deusa da noite. Na concepção de Hécate, a mais poderosa de todos os seres. A considerava como uma madrinha, e em alguns casos, como uma mãe.

Quando tentava domar seu ódio contra Hades, foi Nix quem a ajudou em sua travessia. Convencendo-a a não descontar nada em Perséfone, persuadindo-a a perdoar Hades.

Mas o quê ela estaria fazendo aqui...? Será que era mesmo a deusa tentando ajudá-la, ou era uma armadilha imposta pelo veneno daquela "mosca"?

"Hécate." O sussurro apareceu ao lado de seu ouvido.

Virou-se. Ela havia sumido.

Os sussurros continuaram cada vez mais insistentes e repetitivos, torturando-a lentamente. Tapou os ouvidos quando as vozes de Nix começaram a berrar como jamais pensaria ouvir a deusa berrando.

'Definitivamente é uma ilusão pra me desequilibrar.' Concluiu, afastando seus pensamentos das vozes. 'Preciso acordar.'

O droide provavelmente percebeu que quem sempre separava as discussões e acalmava o comportamento de Hirieu e Hermes - era Hécate. Sem ela... era apenas questão de tempo para que se concentrassem mais em implicar um com o outro do que na missão.

Assim ficaria pateticamente mais fácil de lidar com os dois.

"Silêncio!" Exclamou a deusa, levantando-se. Para sua surpresa, as vozes obedeceram.

Quando ia começar a se concentrar para emergir na realidade, o cenário mudou. Estava nos aposentos de Hades.

Olhou para sua cama. Lembrou-se de todas as vezes que oferecera sessões de acupuntura - tanto para Hades quanto para Perséfone. Eram boas memórias... no mínimo, divertidas.

"Ah, Hécate. Você conseguiu tirar muitos nós das minhas costas." Disse Hades, aparecendo ali com um copo de vinho. A deusa segurou para não corar pelo fato de ele estar seminu.

Seus cabelos negros, que vinham até o ombro, estavam soltos. Hades parou diante de Hécate, coçando o cavanhaque. Era doloroso lembrar como ela se sentia toda vez que olhava para aqueles olhos escuros...

O que ela não daria para que eles se voltassem para ela da mesma forma que se voltam para Perséfone...?

O veneno pareceu perceber esta ânsia por parte de Hécate, já que Hades colou seu corpo ao dela. A deusa perdeu o ar.

"Quero que seja minha." Ele sussurrou em seu ouvido. Ela sentiu arrepios instantaneamente. A ilusão projetava o que queria, como uma distração.

Hécate pôs as mãos em seus ombros, tristonha. Sussurrou de volta no ouvido de Hades.

"Eu sempre fui."

Sentiu os braços fortes do deus se fecharem em sua cintura. Parecia estar segura. Não teve coragem de se soltar dali por alguns minutos.

Mas sabia que não era real.

Lembrou-se da vã esperança que teve com Hades. Até mesmo depois de seu casamento, quando, a princípio, Perséfone o odiava. Hécate esperou que continuasse assim. Que Perséfone continuaria o odiando, que Hades se cansaria de agradá-la e que então finalmente daria uma chance para Hécate.

Mas não foi isso o que aconteceu. Perséfone foi cedendo a seus encantos. Ódio virou amor.

"Mas você sempre foi," murmurou, segurando as lágrimas. "e sempre será de Perséfone."

A ilusão se apagou. Tudo que se sentiu em seguida foi a dor. Pareceu ficar horas sem nada ouvir, ver ou cheirar. Apenas a dor, constante e imutável.

Ao mesmo tempo, a consciência de que havia conseguido combater o veneno lhe proporcionava um pouco de alegria. Nada era mais real que a dor. Foi ela que a fez despertar.

Devagarosamente, a dor foi diminuindo - ao longo que Hécate voltou a sentir as partes de seu corpo. Quando sentiu energia o suficiente, abriu os olhos.

Levou tempo para que conseguisse focar a visão. Quando o fez, viu o corpo de Hermes flutuando em alto mar e Hirieu decapitado.


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