Na manhã seguinte, Ron acordou com a luz do sol invadindo o quarto sem cortina. Virou-se para o lado, mas Hermione não estava do seu lado. De repente, Ron achou que a noite anterior havia sido um sonho e que Hermione não foi encontra-lo na praia. O pesadelo passou ao escutar o barulho de algo caindo no andar de baixo. Ron deixou o conforto do colchão, o único objeto no quarto, e vestiu-se para encontrá-la.

Hermione estava vestida apenas com a camiseta branca usada por Ron no dia anterior e enquanto se concentrava na frigideira no fogão cantava junto com os Beatles. Ron ficou encostado no batente da porta a admirando. Hermione era linda, todos concordavam, mas ninguém além dele a viu tão linda como estava agora com apenas uma camiseta amassada e maior que ela e o cabelo preso em um coque bagunçado.

—Você está linda! –Ron não aguentou e a surpreendeu com um abraço por trás e um beijo no pescoço.

—Bom dia. –Hermione sorriu e Ron aceitou o sorriso como incentivo a continuar com os beijos. –Ron, eu estou cozinhando.

—Pode continuar. –ele falou chegando perto da orelha dela.

—Tem fogo aqui. –ela sussurrou com os beijos em sua orelha.

—Aqui também. –Ron estava quase a convencendo.

—Eu não vou colocar fogo na casa, Ron! –Hermione conseguiu se desvincular do abraço e tirou a frigideira do fogão.

—Podemos considerar o que fizemos ontem como o que então? –ele foi mais rápido e se afastou antes que Hermione o acertasse com o pano que usava para secar as mãos.

—Podemos comer? –ela sentou-se à mesa ainda rindo. Viver com Ron era rir o tempo todo. –Estou morrendo de fome.

—Eu te cansei, não foi? –Ron piscou atrevido.

—Você não para? –Hermione o serviu com ovos e bacon. –Nem na primeira vez que dormimos juntos você foi tão bobo.

—Talvez porque eu acordei e descobri que estávamos casados? Cortou todo o clima para piadas.

—Ou talvez porque você não lembra como foi a sua performance. –ela riu ao ver a cara emburrada dele. –Não fique triste, Ron. Acho que você atingiu o objetivo ou nós não teríamos repetido.

—Nós repetimos? –ele sorriu satisfeito por saber. –E por que você nunca me contou?

—Para evitar essa conversa que estamos tendo agora. –Hermione ignorou a expectativa dele em continuar com o assunto. –Foi constrangedor demais, Ron. Eu nunca tinha feito nada parecido.

—Eu também não. –Ron levou o garfo a boca antes de continuar. –Bom tiveram outras, mas você foi a primeira com quem eu acordei casado.

—Bom saber que você não casou bêbado com mais ninguém. –ela fechou a cara e continuou a comer em silencio.

—Ei, você foi a primeira e a última. –Ron deixou a comida de lado e se aproximou dela. –Você é a única com quem eu quero passar a minha vida. Você, Hermione Weasley.

—Você tem um péssimo jeito para estragar o momento.

—Que momento? –ele olhou a sua volta tentando entender. –O café da manhã?

—Eu fui até a sua avó pedir comida emprestada para preparar esse café porque eu queria te contar uma coisa que eu esqueci de dizer ontem, mas agora eu só consigo pensar nas mulheres com quem você dormiu! –Hermione colocou as mãos no rosto para poder chorar.

—Eu agradeço pelo café da manhã e por você ter ido pedir para a minha avó. –Ron tentava faze-la parar de chorar acariciando suas costas. –Desculpe, eu não deveria ter tido aquilo. Mas a lista não é grande se é o que você está pensando.

—Se eu considerar as suas músicas como base a lista deve ser enorme. –Hermione fungou e voltou a chorar.

—Podemos fingir que essa conversa não existiu? –ele tirou as mãos do rosto dela e limpou as suas lágrimas. –Eu vou sair e você conduz o momento como queria antes de eu estragar tudo. Pode ser?

—Isso não é um filme para voltarmos a cena de novo.

—Você é uma ótima atriz, vai conseguir. –Ron antes de sair comeu o último pedaço de bacon. –E será que na nova cena você pode fazer mais bacon porque estavam deliciosos.

—Eu posso tentar. –ela sorriu indo em direção ao fogão.

Como uma gravação, Ron saiu da cozinha e ficou na sala por um tempo rindo do que acabara de acontecer. Desde quando Hermione ficou tão emotiva? Eles já haviam conversado sobre o passado antes e Hermione nunca reagiu assim com a menção de ex-namoradas. Quando o cheiro do bacon invadiu a sala, Ron entendeu como o seu momento de entrar em cena.

—Bom dia! –ele se aproximou e a beijou. –O cheiro está bom! O que devo a honra deste café da manhã preparado pela minha linda esposa?

—Menos falso, por favor. –pediu Hermione voltando a rir.

—Não estou sendo falso. –Ron a beijou novamente quando ela se aproximou para servi-lo. –Muito obrigado.

—Você seria um péssimo ator. –ela sentou-se para continuar a comer.

—Então me ensine. –ele a cutucou esperando. –Vamos, Hermione, não estrague o momento!

—Você não notou nada de diferente nos cartões que eu mandei com as rosas? –perguntou como quem não quer nada.

—Não. –Ron tateou o bolso do jeans, tirou o cartão e releu em voz alta. –Eu não sou bom nisso, me diz logo!

—Vamos, Ron! –Hermione estava se divertindo.

—Me dá uma dica! –ele olhava para o cartão intrigado. –Você é a mais inteligente que eu, não é justo!

—Não é questão de inteligência, Ron. –Hermione sorriu e leu o cartão em voz alta. –Não?

—Olha, se você me fez refazer o momento para ficar com joguinhos de enigma saiba que isso sim é estragar um momento. –Ron falou emburrado o que fez Hermione gargalhar.

—Tudo bem. Eu vou direto ao ponto.

—Ótimo! –ele sorriu esperando a revelação. –Ou você teria que fazer mais bacon para me manter aqui.

—“Estamos torcendo por você”. –ela repetiu. –Quem você acha que estava torcendo por você além de mim?

—Seu pais.

—Se fosse eles porque não assinaram? –Hermione estava ficando ansiosa com a demora dele para entender.

—Eu não sei, Hermione. –Ron bufou. –Na verdade, quando eu li achei que era o Alex, mas seria muita maldade sua. E depois você disse que me ama então não pode ser ele.

—Esquece o Alex, Ron. –ela trouxe o foco para eles. –Nenhum chute?

—Não.

—Sem graça, você desiste fácil demais, Ron.

—Você que faz jogos sem graça demais. Não consegue prender a atenção da plateia.

—Posso contar?

—Diz logo, Hermione! –implorou ele ansioso.

—Tudo bem. –Hermione respirou fundo antes de fazer a grande revelação. –A pessoa que estava torcendo por você não assinou porque ela ou ele não está aqui e não tem um nome ainda. Sabe por quê? –Ron negou balançando a cabeça. –Por que ela ou ele está aqui. –Hermione pegou a mão dele e guiou até a sua barriga. –Mas eu sei que daqui essa pessoinha estava torcendo pelo papai.

Ao escutar a palavra papai foi como se o tempo tivesse parado, daquele momento em diante, Ron não seria mais somente filho, irmão, neto, cunhado, tio e marido, agora seria pai de alguém. Alguém este que não conhecia, mas já o amava com todo o seu coração.

—Você está gravida? –ele precisava confirmar.

—Sim, Ron. –Hermione sorriu emocionada. –Quase dois meses.

—Isso significa que nós fizemos na lua de mel? –Ron permanecia com a mão na barriga da esposa.

—Sim, Ron. –ela afirmou rindo. –Não estrague o momento.

—Só queria confirmar. –Ron sorriu indicando o seu colo para que Hermione senta-se. –Nós seremos pais, dá para acreditar?

—Não. –Hermione riu nervosa. –Em menos de um ano nós nos casamos duas vezes e estamos com um filho a caminho.

—Por que esperar? –ele a beijou animado. –A vida é agora e devemos comemorar! Vamos fazer uma festa!

—Festa?

—É, assim comemoramos a nossa volta, a casa e o bebê!

—Porque não fazemos uma coisa de cada vez. –Hermione sugeriu. –Vamos ficar aqui, só nós dois...

—Três. –Ron a corrigiu com um sorriso bobo.

—Três. –ela retribuiu o sorriso e continuou. –Depois voltamos a Londres, contamos a todos e quando estiver mais próximo do nascimento do bebê nós fazemos o chá de bebê aqui assim todos conhecem a casa quando ela tiver mais que duas cadeiras e um colchão.

—Você está sempre certa ou faz de propósito? –Hermione mostrou a língua em resposta e Ron riu. –Quem mostra a língua quer beijo.

—Então o que você está esperando? –ela sorriu o desafiando.

—Não irei estragar o momento? –ele perguntou a centímetros dos lábios dela para provocá-la.

—Não, será perfeito terminar a cena com um beijo. –Hermione sentiu a respiração dele se aproximando mais.

—Agora eu entendi a crise de choro. –Ron decidiu a provocar um pouco mais. –Será rotina daqui para frente?

—Sim e se você não me beijar logo irá começar outra crise. Só que não será de choro, mas sim de raiva! –ela o ameaçou.

—Tudo para satisfazer os desejos da mãe do meu filho. –ele sorriu antes de beijá-la.

—Ou filha. –Hermione o corrigiu após o beijo.

A animação com a chegada do bebê era tanta que os dias passavam rápido demais, mesmo Ron e Hermione estando de férias. Tudo se concentrava nos preparativos do bebê e a reforma na casa comprada em Brighton. Hermione quis aproveitar o tempo livre e facilidade de fazer uma obra grande sem um recém-nascido por perto. Ron a deixou livre para mudar e decorar a casa como quisesse desde que o seu pedido fosse atendido, queria uma piscina no enorme quintal. Os meses foram passando e quando finalmente Hermione deu a reforma como encerrada, Ron tratou de convidar toda a família para a inauguração.

A casa do paraíso, assim foi apelidada a casa em Brighton, estava pronta para receber os convidados para o chá de bebê. A decoração ficou por conta de Ginny, Hermione e Jane enquanto Molly e Helen cuidaram dos preparativos na cozinha e Arthur e David prometeram um belo churrasco no almoço.

—Tem certeza que não vai precisar de mim? –Ron perguntou mais uma vez antes de sair.

—Tenho, Ron. –Hermione respondeu de novo. –Vá pescar com o seu pai, você prometeu a ele faz meses.

—Eu sei, mas tínhamos que recuperar o tempo perdido, depois arrumar a casa e o quarto do bebê. –ele numerou cada argumento.

—Vai logo, Ron! –ela o beijou e indicou a porta. –Seu pai está te esperando.

—Até mais tarde. –Ron se despediu com um beijo e um carinho na barriga dela. –Se cuidem.

—Tem bastante gente para nos cuidar aqui, não se preocupe. –Hermione disse ao ver Ginny se aproximando. –Fuja enquanto pode!

—Eu escutei, Hermione! –Ginny fingiu estar brava. –Boa pescaria, Ron. Nós cuidaremos muito bem delas.

—Me leva junto! –Hermione sussurrou implorando.

—Vamos, Hermione! –Ginny puxou Hermione pelo braço para a sala onde as mulheres estavam reunidas finalizando as lembrancinhas que seriam entregues para os convidados. –Temos muitas flores para arrumar.

O tema do chá de bebê seria flores, em especial rosas, devido ao nome escolhido para a bebê. Hermione e Ron descobriram que seriam pais de uma menina no quarto mês e a escolha do nome foi um longo debate. Nenhum nome agradava ambos ou o bebê não parecia ter cara para o nome. Até o dia que Ron surpreendeu Hermione com um buquê de rosas, como havia feito várias vezes, após uma consulta em que viram a bebê no ultrassom e Hermione sugeriu o nome Rose. Ron aceitou imediatamente, rosas tiveram grande importância na vida deles e seria um lindo nome para a primeira filha deles.

Inspirada com o nome da afilhada, Ginny sugeriu o tema para o chá de bebê. Hermione gostou da ideia, só não esperava ter a sua casa transformada em uma floricultura. Tentou reduzir a empolgação de Ginny, mas ela se juntou a Jane que estava ansiosa demais com a chegada da primeira neta e Hermione não teve nada a fazer a não ser aceitar tudo o que elas sugeriram.

O resultado foi lindo. Isso Hermione não poderia negar. Ginny e Jane capricharam e cuidaram dos mínimos detalhes, Hermione se sentiu culpada por não ter se empolgado tanto quanto a cunhada e a mãe. Então, Ron a lembrou o quanto ela ficou neurótica com a decoração do quarto de Rose.

A festa começou cedo com a chegada dos irmãos de Ron e suas famílias. Arthur e David começaram o churrasco enquanto os demais convidados iam chegando.

—Quer ajuda, pai? –Ron ofereceu ajuda.

—Não se preocupe, filho. –Arthur tirava e colocava a carne no fogo. –Nós estamos dando conta.

—Você e Hermione são as estrelas da festa. –David o serviu com a carne assada. –Vá aproveitar!

Ser o centro das atenções não era algo que deixava Ron confortável, a não ser que estivesse cantando, mas Hermione agia tão naturalmente. Ron se juntou a esposa e compartilhou de todos os mimos e carinhos que Hermione a filha estavam recebendo.

 O almoço foi delicioso, a comida estava tão boa que foi difícil para Ron parar de comer. Desde que começou as férias, Ron já havia ganhado alguns quilos e hoje com certeza a conta aumentou.

—Onde você pensa que vai? –Molly chamou o filho que caminhava para as espreguiçadeiras em volta da piscina para um merecido cochilo pós almoço. –Não importa, vá para a sala que Hermione irá abrir os presentes!

—Tem bastante gente para ajudá-la. –Ron respondeu com os olhos pesando.

—Você é o pai, nenhuma ajuda será tão boa quanto a sua. –Molly encerrou o assunto empurrando o filho para a sala.

Todos estavam reunidos na sala, até mesmo James deixou o cochilo pós almoço para acompanhar a revelação dos presentes. Hermione estava radiante, a gravidez a deixou ainda mais linda. Mesmo ela reclamando dos pés inchados e ganho de peso, Ron não parava de elogiar a esposa.

—Você está linda! –ele a beijou antes de sentar na cadeira ao lado dela.

—Obrigada. –Hermione agradeceu um pouco envergonhada. Ron estava sendo tão atencioso. –Pronto para abrir os presentes?

—Esperei a minha vida toda por isso! –Ron piscou e a fez rir.

Os irmãos Weasley tiveram a ideia de deixar o momento um pouco mais divertido. Hermione teria que adivinhar os presentes e caso não acertasse, Ron teria que sofrer as consequências tendo o rosto pintado e provas de trocar frauda de bonecas.

—Você é horrível nisso, Hermione! –Ron resmungou quando a esposa errou mais um presente.

—Eu achei que era frauda! –ela se defendeu. –Era mole, George fez o embrulho de propósito!

—Não me culpe, cunhada. –George sorriu nem um pouco ofendido. –O que iremos fazer com você, irmãozinho?

—Anda logo, George! –ele bufou esperando o que irmão iria aprontar desta vez.

Ginny havia pintado o seu rosto com maquiagem. Harry enrolou um lençol nas pernas do amigo como uma frauda de pano. Fred fez duas chuquinhas no seu cabelo para Hermione imaginar como Rose seria. Mas nenhuma das várias fraudas que tivera de trocar sujas com pó de café o preparou para o que George fez. Ron teria que de olhos fechados, provar papinhas de bebê e dizer qual era o sabor. Hermione continuou a repetir o péssimo desempenho e Ron continuou a pagar. Precisou responder questões sobre cuidados de bebê dos sogros e pais e a vovó Helen o fez desfilar ao lado de Hermione usando uma faixa com os dizeres “papai do ano” e “mamãe do ano”. No final, toda a vergonha que passou não foi nada comparado a felicidade estampada no rosto de Hermione e nos muitos mimos em forma de roupas adoráveis que Rose recebeu. Por elas, Ron faria tudo novamente.

—Achei você. –Hermione sentou-se junto ao marido na espreguiçadeira e o ofereceu a cerveja que trouxera.

—Muita gentileza, obrigado. –ele aceitou e tomou um longo gole antes de começar a mexer no cabelo dela. –Eles já foram?

—Não, estão lá dentro limpando a bagunça e esperando Arthur preparar a churrasqueira para fazer o jantar. –ela fechou os olhos preguiçosamente com o carinho que recebia. –Obrigada por hoje.

—Não foi nada. –Ron a beijou. –Você gostou?

—Muito! –Hermione respondeu animada. –Desculpe por tudo isso. –ela olhou para o estado em que o marido se encontrava após o fim da brincadeira.

—Foi divertido. –ele riu de si mesmo. –A hora de Fred, George e Harry irá chegar e eu estarei pronto para me vingar. Além de que, quando Rose for adolescente e dizer que eu sou o pior pai do mundo por não deixa-la sair, eu vou mostrar fotos de hoje.

—Aposto que sim. –Hermione riu ao imaginar o quanto a filha seria chantageada com esta foto.

O pôr do sol refletido na piscina era uma bela vista para terminar o dia, mas nada era tão lindo quanto Hermione nos seus braços e carregando a sua filha. Tudo que aconteceu desde aquela noite em Vegas até o chá de bebê, Ron não mudaria um dia se quer. Hermione sentia-se completamente feliz e realizada ali, deitada nos braços de Ron. Nunca imaginou que Ron, o cara desconhecido que amanheceu casada em Vegas, seria o pai da sua filha e amor da sua vida.