Cantar no Wembley lotado foi mais que um sonho. Ron nunca esqueceria aquelas duas noites. A ficha demorava a cair e ter a sua família no camarim o esperando para comemorar não o fazia querer voltar para a realidade, poderia viver este sonho por mais alguns minutos.

Ver seus pais, irmãos, avó orgulhosos era o melhor reconhecimento e recompensa que poderia querer, a mídia também era só elogios, mas como disse Hermione nos seus votos, de que adianta o sucesso se você não tem com quem dividir? Pronto, bastou lembrar-se dela para o sorriso murchar. Todos seus familiares estavam ao seu lado, menos ela.

—Férias, meu jovem! –Fred sentou-se ao lado do irmão que se afastou da família por um momento. –Qual o próximo passo?

—Não sei. Talvez sair um pouco de Londres. –Ron respondeu com medo do sorriso do irmão. –Por quê?

—George e eu vamos para a Espanha e antes que você diga qualquer coisa, vamos a trabalho. –ele explicou. –Mas você é um cara solteiro, pode curtir por nós.

—Eu gostaria de não estar solteiro. –Ron murmurou. –Obrigado pelo convite, mas vovó Helen me convidou para passar um tempo com ela e acho a melhor opção.

— Prefere jogar bingo ao invés de curtir Ibiza. –Fred bagunçou o cabelo do irmão mais novo antes de deixa-lo sozinho novamente. – Você que sabe.

Aos poucos sua família foi indo embora, primeiro seus pais e avó, David e Jane Granger e depois os irmãos. Ron foi o último a ir embora, apenas quando os seguranças informaram que precisavam fechar o estádio. Antes de sair, Ron olhou o seu camarim e pegou o buque que recebera de Hermione junto com o cartão e saiu.

A casa estava do jeito que Hermione deixou quando saiu, um pouco mais bagunçada devido Ron ter ficado sozinho sem ninguém o mandando lavar a louça ou arrumando a cama, mas a mesma sensação e aconchego de lar permaneciam. Enquanto o esperava, Hermione ocupou o seu tempo colocando as coisas em ordem e ensaiava na sua cabeça as palavras que diria a Ron. Foi arrumando a bagunça que ela encontrou novos objetos na decoração. Vários porta-retratos estavam espalhados pela casa. As fotos eram deles, Hermione não lembrava de terem tiradas tantas fotos juntos, também tinham fotos da família no natal, Molly deve ter dado ao filho. Cada foto a fez lembrar dos momentos vividos ao lado de Ron. Se conheciam há pouco tempo, menos de um ano, Hermione contou, e Ron mudara a sua vida completamente. Seria muito difícil voltar a viver a vida que tinha antes dele.

As horas foram passando, a casa estava em completa ordem novamente, mas Ron ainda não tinha voltado para casa. Hermione se deixou distrair com as fotos que encontrou em cima da lareira ainda sem serem colocadas em porta-retratos e acabou dormindo no sofá enquanto o esperava.

Ron deixou o Wembley a pé e ficou andando pela cidade. Não tinha rumo, apenas não queria voltar para casa e encontra-la vazia, não tinha motivos para retornar. Hermione não o procurou como ele pensou. Seus pais foram ao show, mas não ela. No fundo do seu coração, Ron acreditou que Hermione iria. Se ela o amasse do jeito que falava, deveria ter ido. Quando a magoa começou a tornar-se raiva, Ron achou melhor parar e ir para a casa dos pais. Vovó Helen estava em casa e na manhã seguinte ela e o neto iriam para Brighton. Ron precisava de um tempo afastado e nada melhor do que seu lugar favorito para se recuperar.

—Chegou cedo. –Helen tomava café na cozinha quando viu o neto entrar pela porta. –Ou tarde. Está com a mesma roupa de ontem.

—Vim direto do show. –Ron sentou-se ao lado da avó e serviu uma xicara de café. –Só vou tomar banho e podemos sair.

—Não quer dormir um pouco, você vai dirigindo, querido. –falou ela preocupada com o semblante cansado do neto. –Não precisa ter pressa.

—Eu estou bem, vovó. –ele respondeu terminando o café. –Vou subir tomar banho e depois podemos sair.

O banho teve um efeito relaxador, a tensão e o cansaço dos shows foram aliviados com o contato da água quente nos músculos tensos. O sono não dormido nas últimas noites pesou e Ron não resistiu a sua velha cama. Dormiu e só acordou porque a claridade do sol alto estava no seu rosto e o cheiro da comida da sua mãe despertou a sua fome.

—Por que não ficam mais alguns dias? –Molly tentou insistir.

—Mãe, eu estou de férias. –Ron a lembrou. –Só preciso ficar alguns dias longe e esquecer tudo o que aconteceu. Depois, prometo, eu volto ficar alguns dias com você.

—Você sabe que pode ir para o fim do mundo, mas não vai conseguir esquecer. –Arthur não precisou mencionar o nome de Hermione para o filho entender sobre quem ele se referia. –Uma chance, filho. Apenas dê a ela uma chance de explicar.

—Pai. –Ron viu a sua mãe e vó entrarem novamente na cozinha deixando-os mais à vontade para conversarem. –Eu dei uma chance! Quer dizer, eu acho que dei. Quando Hermione me ligou eu falei que o seu nome estava na lista do show então se ela queria tanto uma chance de falar comigo porque não foi?

—E você queria conversar onde? No palco ou com toda a família no seu camarim?

—Bom, eu... –ele ficou confuso. –Merda, pai! Por que Hermione fez isso?

—Ela errou, filho. –Arthur continuou. –Hermione não viu a maldade ou qualquer intensão que Alex tinha. Pessoas com bom coração não costumam ver. Mas ela está arrependida e sabe que te machucou.

—Eu ainda a amo. Muito. –Ron confessou. –Não consegui voltar para casa ontem porque só de lembrar que ela não estará lá me esperando eu... O que eu faço, pai?

—Você nunca amou ninguém como a ama, não é?

—Eu acho que nunca irei amar alguém como a amo. –ele girou a aliança ainda no dedo. –Não consegui tirar.

—A história é muito boa para acabar sem um final feliz. –Arthur abraçou o filho. –Aceite o conselho do seu velho pai. Hermione também está sofrendo, talvez até mais do que você. Uma chance, Ron.

—Obrigado, pai. –Ron sorriu agradecendo o pai pelas palavras. –Sabe, agora que eu estou de férias nós podemos ir pescar, o que acha? Eu e você.

—Apenas me diga quando que eu vou preparar o barco. –Arthur sorriu ao lado de Molly. –Boa viagem, dirija com cuidado!

—Pode deixar! –Ron abriu a porta do carro para vovó Helen entrar. –Nós ligamos quando chegarmos.

Hermione acordou apenas na manhã seguinte, ainda estava no sofá e Ron ainda não havia voltado para casa. A raiva deu lugar a preocupação. E se alguma coisa tivesse acontecido com ele? Ligou para Ginny e nem ela ou Harry falaram ou sabiam de Ron, o casal deixou o estádio e Ron não disse para onde iria. Hermione ligou para os demais irmãos e nenhum deles sabiam o paradeiro do irmão. Aflita, Hermione entrou em contato com o senhor e a senhora Weasley.

—Alô.—Arthur atendeu o telefone com o tom de voz sereno de sempre.

—Oi, sou eu. Hermione. –ela o cumprimentou tentando não alarma-lo.

—Oi, Hermione!—ele a saudou feliz. –Estávamos falando de você agora mesmo, como você está?

—Estou bem. –Hermione não entendeu, por que era um assunto na conversa? –Como?

—Ron e eu. Nós estávamos falando sobre você agora pouco.

—Ron? O Ron está com o senhor? –ela provavelmente gritou as palavras no telefone.

—Sim, quer dizer ele saiu faz alguns minutos. –Arthur riu da reação dela. –Por que, querida?

—Bem, eu o esperei voltar para casa depois do show e fiquei preocupada, pois ele não apareceu até agora.

—Bom, Ron não quis ir para casa porque não queria encontrar a casa vazia.—ele voltou a rir. –Ironia, não?

—Muito. –Hermione riu aliviada em saber que Ron estava bem. –O senhor sabe para onde ele foi? Eu preciso encontra-lo e me desculpar.

—Hermione, você ama o meu filho, certo?—Arthur perguntou sério.

—Sim, como nunca amei alguém e provavelmente nunca irei amar. –ela respondeu com toda a sinceridade e amor. –Por que a pergunta, senhor?

—Brighton. Ron foi para Brighton com a vovó Helen.—ele contou. –Desculpa a pergunta, por que você não foi ao show?

—Eu fui! –Hermione afirmou rapidamente. –Fiquei em um canto, escutei as músicas que ele fez para mim e é por isso que eu preciso me desculpar! Só achei que no estádio não seria o melhor lugar para conversarmos então fui para casa espera-lo.

—Foi o que eu disse a ele!—Arthur disse como se tivesse ganho a disputa. –Bom, então vá encontra-lo!

—Obrigada, senhor Weasley. –ela agradeceu ansiosa.

—Arthur, querida. Não precisamos de formalidade com a família. –ele se despediu. –Boa sorte!

A conversa com Arthur encheu Hermione de esperança. Agora precisava ir para Brighton e torcer que a raiva e ressentimento tivessem passado e Ron a perdoasse.

—Hermione! –David se surpreendeu ao ver a filha ao abrir a porta. –Aconteceu alguma coisa?

—Eu preciso do seu carro emprestado! –Hermione passou apressada pelo pai. –E eu vou levar o Bowie junto.

—Para onde você vai? –David quis saber preocupado.

—Atrás do Ron.

—Já era hora! –ele entregou a chave e o documento do carro. –Consegue dirigir? Eu posso te levar.

—Pai, eu estou grávida, mas ainda posso viver normalmente. –ela sorriu pela preocupação. –É uma viagem curta, eu ligo quando chegar.

—Vai dar tudo certo, filha. –David acompanhou a filha até o carro na garagem.

—Espero que sim. –Hermione tentou soar mais confiante do que aparentava.

A estrada estava tranquila e em pouco mais de uma hora Ron chegou ao destino. Helen foi descansar e Ron foi para as pedras da praia. A solidão e o barulho do mar fizeram seus pensamentos o levarem para longe com as lembranças que compartilhou com Hermione e mais do que nunca Ron desejou que Hermione estivesse ao seu lado. O latido de um cachorro o trouxe para a realidade, não foi qualquer latido, era o Bowie correndo em sua direção sendo seguido por Hermione.

—Ei, Bowie! –Ron acariciou o cão feliz em revê-lo. –Senti a sua falta!

—Alguém não sabe fazer surpresa. –Hermione finalmente os alcançou na praia. –Nós combinamos tudo no carro.

Bowie deixou seus donos e foi correr atrás dos pássaros na areia. Ron voltou a sentar na pedra e Hermione sentou-se ao seu lado. Ninguém falou nada, eles apenas olhavam Bowie se divertir enquanto tomavam coragem para conversar.

—Eu sinto muito. –começou Hermione sem conseguir encara-lo.

—Então tudo o que está nos jornais e revistas é verdade? –Ron também preferia olhar o mar.

—Não! Claro que não, porque você não me deixa explicar e...

—Se não é verdade porque sente muito? –ele finalmente virou-se para olhar para o rosto dela.

—Porque eu te machuquei. –ela não conseguiu segurar as lágrimas. –Você estava certo sobre o Alex e eu estraguei tudo! Alex armou tudo isso para nos separar porque segundo ele, seria melhor para a minha carreira se eu tivesse alguém como ele ao meu lado.

—Você concorda com ele? –Ron perguntou inseguro.

—Nem por um minuto. Você é a melhor pessoa que eu poderia ter ao meu lado, Ron. –Hermione não se importava das lágrimas que marcavam seu rosto. –Eu te amo. Provavelmente desde o dia em que nos conhecemos.

Ron ficou em silencio. Precisava pensar antes de dizer qualquer coisa ou essa poderia ser a última vez que veria Hermione. Queria dizer que a amava também, mas a dor que sentia o fazia ser mais cauteloso.

—Eu tentei seguir a minha vida sem você. –ele admitiu. –Mas você é impossível, Hermione. Quanto mais eu tentava, mais eu sabia que nunca mais conseguiria viver sem você.

Hermione estava na sua frente chorando e arrependida por algo que foi tão vitima quanto ele. A raiva e amargura deram lugar a compaixão. Ambos se amavam, ninguém poderia duvidar disso, era hora de acabar com todo esse sofrimento.

 -Eu te amo, Ronald Weasley. Desculpa por ter magoado você. –sussurrou ela.

—Eu te amo, Hermione Granger. –Ron limpou as lágrimas do rosto dela com carinho. Não suportava vê-la chorando, principalmente depois que tudo estava bem entre eles.

—Weasley. –Hermione o corrigiu.

—Certo, Weasley. –ele deu um longo beijo nela antes de se afastar. –Se eu não tivesse você aqui nos baços eu iria nadando até Nova York e daria um soco na cara do Alex.

—Não se preocupe. –ela riu ao lembrar do tapa que deu em Alex. –Ele já teve o que merece, um tapa bem dado na cara.

—Como eu queria ter visto essa cena. –Ron gargalhou só de imaginar Hermione acertando um tapa na cara do babaca. –Essa é a minha garota!

—Podemos virar a página e encontrar um novo final? –Hermione repetiu a frase presente na música feita por Ron.

—Você escutou a música? –ele perguntou surpreso.

—Sim, eu estava lá. –ela contou. –O show foi incrível, Ron. Eu não perderia por nada no mundo.

O casal ficou na praia até o sol dar lugar a um lindo céu estrelado. O tempo passou rápido demais, eles tinham tanta coisa para conversar que foi somente quando o estomago de Hermione reclamou de fome que se despediram da praia.

—Onde você vai? –perguntou Hermione ao ver Ron seguir a direção oposta à casa de Helen.

—O certo é onde nós vamos. –ele pegou a mão dela e a guiou para o caminho oposto à casa da avó.

Ron a levou para a casa vizinha a casa da avó. Hermione não estava entendendo nada até ele explicar que havia comprado a casa na última vez que estiveram na cidade.

—Eu sei que deveria ter falado com você antes, mas a casa estava à venda e tinha outros interessados, eu tive que ser rápido. –Ron se explicou após deixar que Hermione conhecesse a casa. –Tudo bem?

—Está tudo bem, Ron. –ela o beijou para mostrar que estava feliz com a compra. –É uma linda casa e teremos muitos dias felizes aqui.

—Podemos começar agora com uma pizza? –ele escutou o riso que tanto sentiu falta. Hermione era o amor da sua vida, isso era tão certo como pizza.

—Hoje a pizza será por minha conta.

—Você acha que irá me conquistar tão fácil assim, Hermione? –Ron brincou e ganhou um beijo como resposta. –Pois está certa. Não há nada que eu queira mais do que você e pizza.

—Será que a pizza consegue te satisfazer tão bem? –Hermione piscou e Ron entendeu onde ela queria chegar.

—É por isso que você vai pedir duas pizzas, assim terei muita disposição para a noite toda. –Ron a escutou rir antes de ligar para a pizzaria e pedir as duas pizzas.