Por mais que Ron tentasse esconder, o resultado da sua teimosia foi sério. Mesmo com todo o cuidado e zelo de Hermione para aplicar constantemente os cremes e pomadas para queimadura, algumas bolhas surgiram, além da pele começar a descascar nos dias seguintes.

—Foi apenas um acidente de percurso. –ele tentava convencê-la que já estava recuperado.

—Tem certeza? –Hermione perguntou preocupada.

—Sim. –Ron a tranquilizou estampando seu melhor sorriso no rosto. –Estou pronto para a próxima!

—Não haverá uma próxima, senhor Weasley! –ela falou séria. –Não enquanto eu estiver de olho em você.

—Essa Hermione mandona está me dando medo. –ele disse meio brincalhão. –Coitado dos nossos filhos.

Não era primeira vez que um dos dois mencionava o tema filhos, porém desta vez deixou Hermione meio desnorteada. Filhos com Ron parecia estar mais perto e real do que imaginava.

—Hermione! –Ron a chamou trazendo a para o presente. –Para onde seus pensamentos te levaram?

—Eu... –ela achou melhor falar o que a afligia. –Você quer ter filhos?

—Sim, achei que já tivéssemos conversado sobre isso. –ele não entendeu o que a esposa estava tentando dizer. –Continua.

—Você quer ter filhos comigo? –Hermione refez a pergunta.

—Qual seria o sentido me casar com você se não quisesse um futuro juntos? –Ron a incentivou a continuar a conversa. –E você, quer ter filhos comigo?

—Quero. –ela respondeu segura do que dizia, mas logo em seguida a sua voz vacilou. –Eu nunca tive contado com crianças. Você tem seus irmãos e sobrinhos, eu sou filha única.

—Sobrinha, apenas Vic. –Ron entendeu onde ela queria chegar, Hermione era tão insegura quanto ele. –James está chegando e nós seremos os padrinhos. Acho que será um ótimo teste.

—Tem razão. –Hermione concordou. –O que mais você quer?

—Sobre o que?

—A vida.

—Eu quero definitivamente eu e você assim. –ele respondeu enquanto estavam deitados na areia olhando o céu estrelado. –Nossa família, vários pequenos ruivinhos correndo pela nossa casa. E continuar fazendo minha música até alguém me parar.

—Parece uma boa vida.

—E será. –Ron a beijou como modo de confirmar o que ela dissera. –E a sua vida, senhora Granger-Weasley?

—Eu, você, Bowie e não mais que três ruivinhos correndo pela casa. –ela respondeu sorrindo. –E trabalhando com o que eu amo.

—Nós teremos uma incrível vida pela frente. –ele afirmou sorrindo. –Agora pensando em curto prazo, o que faremos amanhã?

—Estava pensando sobre isso. Talvez conhecer os outros lugares, acho que nossos pais e amigos não terão tanto interesse em saber sobre como a cama era confortável.

—Tem razão, principalmente o seu pai. –Ron riu com vontade ao imaginar a expressão do sogro ao saber o que ele fez com a doce Hermione.

A cabana em que estavam hospedados não tinha sinal de celular e internet, por todos esses dias o casal estava incomunicável. Se fosse algo urgente, os familiares tinham o telefone do hotel e poderiam deixar recado.

—Podemos passar o dia conhecendo o centro e os pontos turísticos. –sugeriu Ron enquanto se arrumavam para sair após o café da manhã.

—Eu quero ir à praia que tem porcos! –Hermione falou animada. –Vamos?

—Qual a sua obsessão por nadar com animais? –ele perguntou levando um tapa no braço como forma de repreensão de Hermione.

A lancha logo os levou para as Bahamas, a maior ilha comparada as demais que formam o país. O casal se juntou aos outros tantos turistas e foram poucas vezes reconhecidos, mas os pedidos por fotos e autógrafos não atrapalharam o passeio, pelo contrário, tanto Ron quanto Hermione ficaram felizes e surpresos ao saber que seus trabalhos eram conhecidos até mesmo na pequena ilha.

Depois de muito explorar a ilha e seus pontos turísticos, principalmente a praia onde Hermione finalmente nadou com os porcos e conseguiu convencer Ron a se juntar a ela e os suínos no mar, o casal aproveitou o pôr-do-sol para desfrutar o jantar em um restaurante com comidas locais.

—Essa foto ficou incrível! –Ron não conseguia parar de rir olhando as fotos tiradas durante o passeio. –O mundo precisa saber dessa sua obsessão por nadar com golfinhos e porcos.

—Eu quero ver! –Hermione pediu curiosa. –E você não vai postar nenhuma sem a minha aprovação!

—Preciso da sua aprovação? –ele perguntou entregando o celular.

—Claro! –ela respondeu passando foto por foto na tela do celular. –Você tem uma mania terrível de escolher as minhas piores fotos e jogar na internet.

—Não é verdade. –Ron tentou contestar, mas Hermione foi mais rápida e começou a mostrar todas as fotos classificadas como constrangedoras por ela. –Em todas essas fotos tudo que eu consigo ver é o seu mais lindo sorriso, por isso eu achei que o mundo precisava conhecer esse sorriso que eu tanto amo.

—Bela tentativa, Weasley. –Hermione devolveu o celular para ele e sorriu ao ter uma ideia. –Então eu vou mostrar ao mundo o seu lindo bronzeado.

—Não! Hermione, não! –ele pediu em pânico. –Você não seria malvada assim.

—Não é maldade. –ela falou segurando o riso enquanto digitava algo no celular. –Pronto.

Ron imediatamente pegou o seu celular e foi atrás da foto que Hermione tinha postado. Ele não aguentou e gargalhou ao ver o estado em que se encontrava. Hermione deveria ter tirado aquela foto no dia seguinte ao seu acidente. Na foto Ron estava sentado em frente ao espelho olhando desolado para a vermelhidão em que se encontrava o seu corpo. Ele estava tão absorto que não percebeu Hermione atrás com o celular em mãos tirando uma foto dele que graças ao espelho dava para ver com clareza o contraste entre suas costas branca e seu rosto, peito e barriga vermelhos.

—O pior de tudo será aguentar Fred, George, Ginny e Harry tirando sarro da minha cara. –ele disse recuperando o folego depois de tanto rir.

—Talvez assim você nunca mais vá ao sol sem protetor solar.

O clima alegre e divertido seguiu pela noite quando o casal voltou para casa apenas quando o dia começava a amanhecer, pois após o jantar e alguns drinks coloridos e exóticos, Ron assumiu o microfone e fez um show para todos os presentes no restaurante.

—Quando foi a primeira? –perguntou Hermione com a cabeça apoiada no peito despido de Ron enquanto ele mexia carinhosamente no cabelo dela.

—Tatuagem? –Ron apenas entendeu a pergunta, pois Hermione passava os dedos pelas tatuagens presentes no seu braço. –Foi essa aqui. –ele apontou para o violão tatuado no braço direito. –Acho que eu tinha uns 15 anos, minha mãe quase me matou.

—Eu imagino. –ela riu imaginado a reação de Molly. –Você fez escondido dela?

—Mais ou menos. –ele relembrou com saudades do tempo em que era apenas um garoto tocando violão. –Eu queria largar a escola para sair por aí cantando e tocando o meu violão, mas é claro que a senhora Weasley não deixou. Então Gui me fez prometer que se ele me levasse para fazer a tatuagem que eu tanto queria, eu terminaria meus estudos.

—Corrigindo, então sua mãe queria matar os dois. –Hermione achava incrível Ron gravar momentos, pessoas e coisas que ele amava em sua pele. –Sua favorita?

—Difícil escolher entre o Woody, a fatia de pizza e o suéter laranja e marrom que a minha mãe me dá todos os natais. –Ron respondeu bagunçando o cabelo, claro sinal que ele fazia quando estava indeciso. –Mas também tem o violão, a praia da vovó e o ingresso do show do Paul McCartney que meu pai me levou quando eu tinha 14 anos.

—Brighton é o seu lugar favorito?

—É. –ele respondeu com os olhos marejados ao olhar para a tatuagem que praticamente fechava todo o seu braço direito desde o punho com a areia e as rochas presente na praia até o ombro com os tons de azul do mar. –Quando eu era criança meu sonho era morar na praia e trabalhar no mar assim como meu avô.

—Acho que eu entendo você. –Hermione falou sabendo o significado do lugar para ele. –Eu sinto o mesmo por Boston.

—Alex foi realmente importante para você. –Ron falou com desdém o nome do rival.

—Não tem nada a ver com o Alex. –ela respirou fundo ou acabariam brigando na lua de mel. Precisava o quanto antes aprender a conviver com o ciúme excessivo de Ron. –Eu amo Londres, é a minha cidade, mas eu e meus pais fomos muito felizes em Boston. E foi lá que tudo começou para mim com o teatro da escola.

—Você nunca me levou lá. –ele reclamou.

—Quando formos para os Estados Unidos semana que vem eu te levo. –Hermione o beijou desfazendo o enorme bico que ele fez com os lábios. –Você vai ficar apenas nos braços? –perguntou ela voltando ao assunto anterior.

—Não sei, por enquanto eu vou fazendo nos braços. –ele deu de ombros, nunca tinha pensando sobre, apenas ia fazendo as tatuagens quando tinha vontade. –Você não gosta?

—Eu definitivamente não faria, mas acho legal. –ela respondeu politicamente. –Não são besteiras, cada uma representa um momento da sua vida então desde que você não faça nada idiota como tatuar o rosto eu não terei problemas.

—Anotado. –Ron não pode deixar de rir. –Não tatuar o rosto.

Hermione continuou a olhar as tatuagens, já conhecia todas, mas uma nova no antebraço esquerdo chamou a sua atenção. –Eu não conheço essa.

—Essa? –Ron olhou para confirmar a qual tatuagem ela se referia. –Foi a última que eu fiz.

—Por que um dado? –quis saber ela curiosa.

—Porque o dado representa Las Vegas e os números de cada lado formam a data em que nos conhecemos. –ele respondeu sorrindo. –Dia três de março de 2013. Precisei modificar um pouco o dado para colocar o treze.

—Eu te amo, Ron. –Hermione retribuiu o sorriso e o beijou.

A lua de mel chegou ao fim e para se despedirem do lugar paradisíaco que ficaram nos últimos dez dias, Ron preparou um jantar especial na varanda com direito a champanhe e velas.

—Eu poderia ficar aqui para sempre. –Hermione suspirou relaxando após uma deliciosa refeição.

—É, eu também. –ele concordou bebendo o restante da taça. –Mesmo com o acidente do sol.

—Você achou que chegaríamos aqui? –perguntou ela deixando a sua cadeira e indo sentar-se no colo do marido.

—Não. –Ron respondeu. –Sinceramente eu achei que não te aguentaria mais que dois meses.

—O que mudou?

—Não sei. –ele tentou lembrar o exato momento que sentiu seu coração bater mais forte. –Foi como mágica, um dia eu te olhei e soube que queria você na minha vida por mais que aquela mentira. Mas você se fez de difícil, teve momentos que eu precisei ser forte para aguentar você e a sua chatice.

—Eu era tão chata? –Hermione brincou.

—Era. –nem mesmo o tapa que levou no braço o fez parar de rir. –Você sabe que eu estou falando a verdade. Todo aquele gelo que você me deu nos primeiros meses não foram fáceis.

—Então você estava completamente apaixonado por mim. –ela disse convencida. –Só assim para você me aguentar.

—É, eu deveria estar. –ele concordou com um sorriso bobo. –E você?

—Eu o que? –a bebida já dificultava o seu raciocínio.

—Quando você ficou caidinha por este lindo e incrível ruivo? –Ron falou totalmente convencido o que fez Hermione rir.

—Provavelmente quando você me apresentou a pizza. –ela tentou não rir, mas não conseguiu ao escutar a risada alta de Ron.

—Hermione, você é tão fácil de se conquistar. –ele falou divertido. –Então eu posso dispensar a surpresa que eu preparei, pois eu já tenho um lugar na sua cama.

—Convencido. –Hermione lhe deu um selinho. –Quero a minha surpresa!

Ron a levou para a praia que estava iluminada apenas pelo luar e velas na areia. Uma toalha com várias pétalas de rosas estava estendida na areia com uma cesta os convidando para sentar e aproveitar a companhia um do outro.

—São pétalas mesmo? –Hermione observou as pétalas de rosas vermelhas na toalha.

—Um toque romântico para a nossa última noite no paraíso. –Ron tirou da cesta outra garrafa de champanhe e serviu duas taças para um novo brinde. –Um brinde a este lugar incrível onde vivemos momentos igualmente incríveis.

—Essa é a última. –ela falou usando o seu tom responsável. –Precisamos estar bem para voar amanhã de manhã.

A garrafa foi bebida em um piscar de olhos, apenas com pausas para alguns beijos e risadas quando Ron ou Hermione lembravam de algum momento engraçado vivido nos últimos dias. Quando chegaram ao final, Hermione estava se sentindo mais leve, mas ainda tinha consciência.

—Mais uma? –Ron ofereceu com aquele sorriso que era impossível resistir.

—Não, aquela era a última.

—Mas é tão bom.

—Não podemos acordar de ressaca amanhã.

—Eu não estou bêbado para acordar com ressaca. –ele falou confiante. –Você é muito fraca para bebidas, já mostrou isso em Vegas.

—Abra logo essa garrafa, Weasley! –Hermione ordenou. –Talvez se a gente comer mais desse mousse de chocolate o efeito do álcool diminua.

—Boa ideia. –Ron abriu a garrafa com certa dificuldade, claramente era o efeito da bebida.

Após a terceira garrafa, eles permaneceram abraçados em silencio apenas contemplando o luar, aproveitando a moleza de ter tomado champanhe demais. O sono foi ganhando força e o casal acabou dormindo na praia.