Na manhã seguinte Hermione acordou incomodada com a luz do sol. Somente quando todas as tentativas de se esconder da claridade extrema no rosto é que Hermione deu um pulo acordando assustada.

—Acorda, Ron! –ela falou tentando ficar de pé, o abuso do champanhe na noite anterior não a permitia. –Ronald! Vamos perder o avião!

—Não. –Ron disse sem se mover. –O jatinho é nosso, ele não vai embora sem nós.

—Levanta, Ron! –Hermione o chamou pela última vez.

Não estavam tão atrasados quanto imaginavam, mas tiveram que se apressar. Um rápido banho para despertar do efeito do álcool e já estavam na lancha a caminho do aeroporto onde o mesmo jatinho que os trouxera os levaria para Nova York.

—Hermione? –Ron a chamou enquanto conferia o celular que agora estava com sinal e começou a alertar com mensagens e recados. –Você também recebeu?

—Sim. –ela respondeu lendo as várias mensagens que recebera. –Meus pais, Ginny, Harry e seus pais.

—É, o que será que aconteceu? –ele perguntou preocupado. –Se fosse algo importante eles teriam ligado para o hotel, pois sabiam que estávamos sem sinal.

—James nasceu. –Hermione falou após ler a última mensagem. –Vou ligar para Ginny.

Ginny atendeu no segundo toque. James havia nascido no dia anterior, duas semanas antes do previsto. Foi um susto para todos, mas agora o bebê estava sendo mimado por toda a família.

—Que tipo de padrinhos nós somos que não estamos presentes no nascimento do nosso afilhado? –Hermione disse sentindo-se culpada.

—Ele não vai lembrar se o vimos agora ou daqui duas semanas. –Ron falou guardando o celular no bolso e pegando as malas para embarcarem.

—Você é um péssimo padrinho, Ronald! –ela disse brava.

—O que você quer que eu faça? –ele ficou assustado com o tom alterado de Hermione.

—Eu não sei. –disse Hermione triste.

—Espera aqui. –Ron deixou as malas na escada do jatinho e foi falar com o piloto.

Pronto. Ron conseguiu fazer com que o piloto mudasse o plano de voo. Eles iriam para Londres antes de Nova York. Dentro de algumas horas, James conheceria os padrinhos.

—Nós precisamos passar em casa. –Hermione lembrou quando estavam saindo do aeroporto a caminho da casa de Harry e Ginny. –Deixamos as malas e pegamos o presente de James.

—Achei que o berço fosse nosso presente. –Ron não entendia nada sobre bebês.

—Também foi, mas não poderíamos chegar para conhecer James sem nenhum presente. –ela explicou como se fosse obvio.

 Ginny e o bebê passavam bem e já receberam alta do hospital. James era a cópia de Harry, os mesmos cabelos pretos bagunçados e os olhos verdes. Porém, o bebê tinha o temperamento agitado e explosivo de Ginny, isso significava muito choro e poucas horas de sono para os novos pais.

—Como vocês conseguiram fazer uma coisinha tão linda? –Hermione estava encantada com James nos braços.

—Muita prática, Hermione. –Ginny respondeu divertida.

—Um dia vocês chegam lá. –Harry brincou. –Aposto que tiveram muito tempo para isso nesses dez dias sozinhos em uma ilha.

—Vamos parar de falar esse tipo de coisa na frente de James? –Ron estava com o rosto corado. –Agora é minha vez, Hermione.

—Deixa eu ficar com ele mais um pouco. –ela fez um bico tentando convence-lo a ficar com o bebê, mas foi em vão. –Cuidado!

—Meu deus, Ginny! –Ron falou quando segurou o sobrinho nos braços. –Ele não tem nada seu, tem certeza que não o trocaram na maternidade?

—Ronald! –Hermione o repreendeu rindo, pois James era totalmente igual ao pai.

—Só se for o filho de Harry com outra mulher. –ela respondeu o irmão sem se importar com a piada sem graça. –Voltou cheio de graça, acho que o sol te fez bem.

—Tão bem que ficou até com uma marca. –Harry brincou com o melhor amigo.

—Culpa da Hermione. –Ron tentou se defender, mas as risadas já estavam alta demais para escutarem a sua explicação. –Vocês vão acordar o bebê.

Foi apenas Ron terminar a frase que James abriu o berreiro. Sua pequena face ficou inteiramente vermelha e o choro cada vez mais alto.

—Foi o seu rosto feio que acordou o meu filho. –Ginny implicou com o irmão. –Gostou tanto do óculos que resolveu deixar a marca na sua cara?

—Cuida do seu filho que eu cuido da minha queimadura. –Ron mostrou a língua para a irmã a provocando.

James precisava ter a sua frauda trocada e Ginny e Hermione foram para o quarto do bebê troca-lo enquanto Harry e Ron ficaram na sala colocando a conversa em dia acompanhado de uma cerveja para comemorar o nascimento de James Potter. Ginny quis saber os detalhes da lua de mel e Hermione contou deixando algumas partes apenas para ela e Ron, o restante não precisava saber tudo o que fizeram na ilha.

Por mais que James fosse doce e incrivelmente adorável, Hermione e Ron precisavam ir embora. O bebê e a mãe precisavam descansar e Hermione e Ron tinham um voo para pegar na manhã seguinte.

—Eu preciso de férias. –Ron resmungou assim que o jatinho pousou em Nova York.

—Nós estávamos de férias até ontem. –Hermione o lembrou. –Ou foi antes de ontem?

—Eu não sei que horas são, muito menos o dia. –ele se espreguiçou ao levantar da poltrona. –Muitos fuso-horários nas últimas horas.

—Apenas essas duas semanas e estaremos em casa. –ela tentou anima-lo. –Vamos, Ron, vai ser legal!

—Você acha? –Ron não estava tão certo sobre. –Esses jornalistas não vão nos deixar em paz um minuto sequer. A essa altura já devem saber que nos casamos e estávamos em lua de mel.

—Provavelmente. Mas nós estaremos juntos. –Hermione o beijou e sorriu. –Não ficaremos com saudade pela distância.

—Tem razão. –ele pegou as bagagens para descerem do jatinho. –Vamos estar juntos nessa.

O casal teve apenas tempo para ir ao hotel para se arrumarem, pois já teriam que comparecer à festa de lançamento do filme. Passar pelo tapete vermelho, posar para os fotógrafos, responder perguntas de repórteres e participar da festa cheia de convidados que tentavam aparecer mais que os atores era ainda mais estressante quando se estava cansado, mas Ron e Hermione cumpriram seus papeis com maestria. Hermione atendeu os pedidos por fotos e entrevistas e Ron animou a festa cantando a sua música presente no filme e outros dos seus sucessos também.

E os dias foram passando, praticamente todos os dias Ron e Hermione estavam em algum programa de televisão ou dando entrevistas para a imprensa. Hermione tinha razão, era mais fácil estarem juntos, quando um demonstrava estar mais cansado, o outro assumia um pouco o comando e tentava anima-lo.

—Último dia! –comemorou Ron enquanto tomavam o café da manhã. –E depois finalmente nossa casa!

—Teremos uns dias na Alemanha, França e Espanha. –Hermione lembrou que os últimos dias seriam promovendo o lançamento do filme na Europa. –E antes de irmos eu vou te levar a um lugar.

—É onde eu estou pensando? –ele perguntou interessado.

—No caminho tem hambúrguer. –ela falou rindo da própria piada sobre a lanchonete que o marido adorava. –Aguarde e verá.

—Você não sabe fazer surpresas como eu, Hermione. –Ron a beijou antes de terminar o café. –Aprenda mais comigo.

A última entrevista foi dada. Assim como as outras, o casal foi indagado pela parceria profissional, mas também pela vida pessoal, o casamento e os planos para a pausa que ambos fariam na carreira. Todas as perguntas foram respondidas sem revelar nada demais, tudo o que foi dito já era de conhecimento do público. O grande segredo estava a salvo.

O carro os levou para a surpresa que não era tão surpresa assim. Hermione estava feliz por voltar ao lugar que tanto amava na companhia de Ron.

—Quero te levar a minha antiga escola. –ela falou animada ao passar pelas ruas que tanto conhecia. –Acredita que a professora de teatro ainda é a mesma?

—Vou conhecer o seu lado nerd. –Ron disse divertido. –Será que você mudou tanto?

—Engraçadinho. –Hermione mostrou a língua para ele.

A escola que Hermione frequentou era a única do bairro então todos se conheciam e muitos ainda moravam no mesmo lugar. Hermione conheceu filhos dos colegas de turma que agora estudavam na mesma escolha que os pais. O casal fez sucesso com os alunos, principalmente os adolescentes que escutavam a música de Ron e assistiam os filmes de Hermione. No final do dia, Hermione recebeu uma homenagem da diretora no mesmo palco em que tudo começou e em seguida Ron subiu no mesmo palco para cantar e entreter as crianças.

—Foi divertido para você? –Hermione estava feliz demais pelo dia vivido na antiga escola.

—Muito. –Ron respondeu tão feliz quanto a esposa. –Você é a estrela da cidade.

—Não vamos exagerar. –ela sentiu o seu celular vibrar no bolso da calça. Era o Alex.

—Então você está na cidade e não me avisou? —perguntou ele usando o seu melhor tom tristonho. ­–Não se faz isso com os amigos, Hermione.

—Nós chegamos de tarde e fomos direto para a escola. –Hermione falou tentando ignorar o olhar zangado de Ron. –E já vamos embora daqui a pouco.

—Ron também veio?—Alex fingiu não estar chateado.

—Sim, por causa do filme. –ela explicou. –É apenas uma passagem rápida.

—Será que nessa passagem rápida vocês tem tempo para um jantar? Antes que você negue lembre-se que você está me devendo depois da minha viagem até Londres.

Hermione consultou Ron, afinal ele também estaria presente no jantar, antes de dar a resposta.

—Claro, nós adoraríamos jantar com você. –respondeu ela por fim. –Vamos passar em mais um lugar e depois nos encontramos, pode ser?

—Eu passo o endereço do restaurante por mensagem. Até daqui a pouco.

Ron foi convencido por Hermione que devia este jantar ao Alex, afinal ele foi a Londres para o casamento mesmo sendo convidado tão em cima da hora. Ron rebateu dizendo que a presença dele no casamento foi indiferente, pois Alex passou mais tempo no avião do que no casamento. Uma pequena discussão começava, mas logo foi encerrada, pois chegaram no restaurante em que Alex fizera reservas.

Durante todo o jantar, Alex tentava manter Ron fora da conversa ao relembrar dos tempos em que Hermione era sua vizinha e melhor amiga. Ron estava se segurando para não acertar uns bons socos na cara do infeliz, a cada exclusão ou alfinetada, Ron respirava fundo e lembrava que era apenas um jantar estupido e que logo estariam de volta a Londres longe desse babaca que Hermione insistia em chamar de amigo.

—Eu vou ao banheiro. –Hermione anunciou antes da sobremesa chegar. –Não comecem sem mim.

—Não se preocupe. –Alex respondeu sorrindo. –Sua sobremesa estará intacta.

Foi apenas Hermione sair da mesa para o clima ficar ainda mais pesado. Alex olhava para Ron sem esconder o quanto a presença dele não era bem-vinda. E Ron devolvia o mesmo olhar nada amigável.

—Escuta aqui... –Ron começou a falar quando não aguentou mais aquele ar superior de Alex.

—Não, você vai escutar, Weasley. –Alex o interrompeu e falou baixo o suficiente apenas para que Ron escutasse. –Eu não sei o que aconteceu com Hermione, mas esses seus dias de sorte estão contados.

—É mesmo? –Ron não iria deixar barato o desaforo. –E o que o melhor amigo pretende fazer?

—Hermione quase o largou no altar. Tenho certeza que não precisarei de muito para faze-la ver o erro que cometeu ao casar-se com você.

—Você tentou sabotar o meu casamento? –Ron aumentou o tom de voz, chamando a atenção das pessoas nas mesas próximas a deles. –Você não presta, Alex.

—Você ainda não viu nada, Weasley. –Alex viu Hermione se aproximar e encerrou o assunto.

O restante do jantar, Ron não fez questão nenhuma de mostrar como estava odiando estar na presença de Alex. Hermione tentou cutuca-lo e melhorar o clima, porém foi em vão e antes que ficasse pior achou melhor encerrar o jantar.

—Por que essa cara tão emburrada? –Hermione quis saber assim que entraram no carro que os levaria para o aeroporto.

—Nada. –ele murmurou.

—Você é um péssimo mentiroso e muito mal educado. –ela o repreendeu. –Não precisava tratar o Alex tão grosseiramente.

—Eu machuquei os sentimentos do seu amiguinho? –Ron não demonstrou nem um pouco de arrependimento.

—Francamente, Ronald. –Hermione preferiu olhar para a janela do que a cara fechada do marido.

—Você ainda o ama? –ele perguntou, mas ela não o respondeu e muito menos o olhou. –Hermione, eu te perguntei se...

—Eu escutei. –ela falou finalmente o encarando. –Você acha que eu estaria casada com você se amasse o Alex ou qualquer outro homem?

—Eu... –Ron não sabia o que responder.

—Não, Ron. –Hermione disse séria passando as mãos no cabelo ruivo do marido. –Não há nenhum outro homem que eu ame além de você. Talvez James, mas nós estamos ainda nos conhecendo. –ela por fim sorriu, aquele sorriso que Ron aprendera a amar nos últimos meses.

—Acho que eu posso dividir um pouco da minha atenção com o pequeno Potter. –ele falou passando o braço sobre o ombro dela a trazendo para perto. –Eu só não quero te perder.

—E você não vai. –ela encerrou o assuntou com um demorado beijo. –Estamos indo para casa, vai ficar tudo bem.

Hermione tinha razão. Estavam indo para casa e com muita sorte, Ron não teria que reencontrar Alex tão cedo.

Alex viu Hermione ir embora mais vez. Ela o trocou pelo ruivo. Já era hora de fazer alguma coisa para tirar Ron do seu caminho. Hermione era a estrela dos filmes e precisava de alguém a sua altura e nada melhor que Alex o quase jogador de futebol americano e médico do principal hospital de Boston para assumir este posto.