Sobre Príncipes e Princesas escrita por Hanna Martins


Capítulo 30
Pequeno raio de sol


Notas iniciais do capítulo

Havia pensando em publicar um capítulo por semana, porém, digamos nesses últimos dias fui picada pelo bichinho da inspiração e pensei em uma nova fic... que pode ou não estar relacionada com esta... Bem, como quero trabalhar um pouco mais essa ideia, por enquanto, vou postar Sobre Príncipes e Princesas um final de semana sim outro não. Tudo bem?



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Um filho. Esse é o grande plano da família real para resolver a “grande” crise atual?  

Ando de um lado para outro pelo quarto, impaciente. Ainda não estou acreditando no que a rainha pediu. Eles estão pensando no quê?  

— Argh! 

Arremesso uma almofada na janela, frustrada. E depois mais outra e mais outra. Mas, isso não ajuda aliviar a raiva. Apanho o objeto mais próximo quando não me resta mais almofadas.  

— Ei, cuidado com isso — diz Leon, apanhado uma pequena escultura de um cisne de minhas mãos. — Você pode se machucar.  

— Eles querem que nós tenhamos um filho! — minha voz sai exaltada. — Um filho! — digo, indignada. 

— Eu sei, Emma, isso é inacreditável... — Segura meus ombros e me traz para ele.  

Deixo-me envolver por seus braços quentes.  

— Isso não está certo — digo, um pouco mais calma. — Não está!  

— Sim, não está — concorda, acariciando minhas costas.  

— Como eles podem utilizar uma vida assim? Estamos falando de uma vida! Nenhuma criança deve nascer para ser utilizada. Nenhuma.  

Me desvencilho dos braços de Leon e caminho até a janela.  

— E eu não estou preparada para ser mãe. Como poderia cuidar de uma criança se eu mal posso cuidar de mim mesma? Se estou completamente confusa? Como? Ter uma criança é uma grande responsabilidade. A maior de todas. É um ser humano que você está criando, que pode se tornar uma pessoa incrível ou uma pessoa cheia de dor e desespero, tudo depende de como você o criar... — pondero. — Nunca pensei seriamente sobre a questão de ser ou não uma mãe no futuro... pensei que tomaria essa decisão bem mais tarde. E agora... agora querem me obrigar a assumir um papel que não estou preparada... Querem utilizar uma criança para limpar suas sujeiras! Uma criança! — digo, indignada.  

— Eu também não estou preparado para ser pai — fala Leon, aproximando-se de mim. — Simplesmente não daria certo. Seria um desastre para a criança e para nós. Todos nós só nos feriríamos no final. Principalmente, a criança.  

Olho para Leon, que encosta a testa no vidro, cansado.    

— E esse ambiente não é o melhor para uma criança crescer. Eu cresci aqui. — Me olha, seus olhos estão cheios de dor.  

— O que vamos fazer? — minha voz sai fraca, frágil. 

Ele aproxima-se de mim e me abraça, descansando a cabeça em meu ombro.  

— Não sei — murmura. — Mas, vamos dar um jeito nisso... Vamos encontrar uma maneira... 

Deposita um beijo em meu pescoço e suspira. Ele parece tão cansado, e eu não posso fazer nada para aliviar o peso sobre seus ombros... 

— Agora precisamos resolver um outro assunto. Falei com o médico sobre o fato de você não ter bebido naquela exposição de arte... 

— E? 

— Ele disse que você pode ter sido dopada.  

— Dopada? — me espanto. Será que os acontecimentos desse dia nunca vão terminar?  

— Já que não podemos sair do palácio por enquanto ele vai enviar um enfermeiro para coletar material para fazer alguns testes. 

É tanta coisa que aconteceu nestas últimas horas que me sinto terrivelmente exausta. Não sei o que pensar sobre tudo o que está acontecendo. Estou em uma armadilha e parece que lutar contra ela só irá fazer com que eu fique ainda mais presa.  

Após coletarem materiais para os testes, vou dormir. Talvez, dormir me ajude a acordar desse dia.  

Dormir ajuda um pouco, mas quando acordo ainda paira sobre mim os mesmos problemas. Talvez, fosse bom voltar a dormir. Apenas nos sonhos nada pode me atingir.  

— Emma! — a voz energética de Charlie me tira da resolução anterior. 

— O que você está fazendo aqui? Como eles te deixaram entrar?  

— Tenho meus métodos. — Ela sorri travessamente. — E você, Emma, por que está nessa cama? Você não vai aproveitar as férias?! Isso é tipo um crime! 

— Férias? Que Férias, Charlie? Eles me proibiram de sair, cancelaram até mesmo a visita a casa dos meus pais. Eu nem posso falar com eles! Eles enviaram meus pais para... bem, sei lá para onde, enquanto não resolvem essa... crise.  

— Ah, Emma, você está muito resmungona! Até parece um daqueles velhos que reclamam de tudo! Você tem o palácio de verão só para você. E o mais importante, tem a mim! A garota que sabe se divertir! — Faz a pose de uma diva.  

Rio. Essa princesa pode conseguir mesmo o impossível, me fazer rir.  

— Levanta dessa cama! Vá tomar um banho! — Me empurra para o banheiro.  

Charlie tem lá sua razão, o banho me faz muito bem, deixa meus pensamentos mais nítidos e leves.   

Depois ela me arrasta até o jardim e consegue capturar Leon e Sebastian também. Para ela nada é impossível.  

— Vamos aproveitar nossas férias! — diz, repleta de entusiasmo.  

— Contanto que nada seja incendiado... e não tenhamos problemas com a polícia mais tarde — enfatiza Leon.  

— E que meu emprego não corra nenhum risco — adverte Sebastian. 

— Ah, vocês dois são muito medrosos! Nada disso, ninguém vai escapar — sua voz tem um tom autoritário, que ninguém ousa questionar. Vejo que alguém herdou certos genes da rainha Felipa.  

Charlie apanha um saco de bexigas.  

— Vocês — aponta para nós — me ajudem.  

Enchemos os balões com água conforme nos ordena a nossa autoritária princesa.  

— Para que isso? — indaga um Sebastian desconfiado. 

Olho para balão cheio de água. Sei exatamente quais são os planos de Charlie.  

— Para isso! — Jogo uma bexiga em Leon, o molhando inteiro.  

— Emma! — Ele me responde, jogando outro balão em minha blusa. — Eu deveria estar na sua equipe! 

— Nada disso — intervém Charlie. — Emma está na minha equipe! Você e Bash que se virem sozinhos aí.  

É verão, a água está fria, deliciosa. Atiro balões em Sebastian e Leon. Em um piscar de olhos, o jardim se transformou em um verdadeiro campo de batalha de bexigas e de risos. 

No final, caiamos na grama, totalmente molhados, exaustos e felizes. Sorrio para Charlie, agradecida por ter salvado esse final de dia.  

A princesa fica para o jantar e também para dormir. É ela quem expulsa Leon do quarto: 

— Ela é a minha esposa — protesta ele. 

— E ela é minha melhor amiga!  

Melhor amiga. Eu não sabia que ela me considerava tanto. Sem que eu percebesse, Charlie se converteu em uma pessoa muito especial para mim.   

— Hoje é a noite das garotas, ouviu? — diz ela, enquanto empurra Leon até a porta.  

— Posso ao menos me despedir de minha esposa?   

— Não quero ficar com excesso de açúcar no sangue! Hoje, eu já consumi minha cota. — Fecha a porta em suas fuças, encerrando o assunto.  

Ela volta-se para mim. 

— E agora vamos a nossa festinha do pijama!  

Charlie pede um balde imenso de pipoca e escolhe um filme de terror, apesar dos meus protestos. Filmes de terror não são lá a minha praia. Entretanto, a princesa é persuasiva e acabo concordando em assistir ao filme.  

Não demora muito para me arrepender da decisão. 

— Charlie! — grito, abraçando uma almofada que foi promovida a escudo. — Como você gosta disso? 

— Aí vem a melhor parte — fala, divertida.  

E eu me encolho, esperando o filme terminar. Sangue, gritos, sustos, definitivamente não são para mim. 

— Foi um filme muito bom, não é? — Desliga a TV. 

— Se você diz... — Ainda me encontro abraçada com minha fiel almofada.  

— Sabe, Emma, a vida é muito curta para não a vivermos. — Senta-se ao meu lado. — Eu posso ter que fazer algumas coisas, sim, mas elas sempre serão minhas escolhas. Nunca vou deixar que ninguém tire o direito de escolha de mim.  

Charlie com seu jeito enérgico, com sua determinação, sempre arrastando todos em seu furacão, é alguém bem mais maduro do que parece. Afinal, ela é uma princesa. Ela foi obrigada a crescer antes do tempo.  

— Obrigada. — Sorrio. — Sabe, Charlie, você tem um jeito peculiar de ajudar as pessoas. Obrigada por me ajudar, por estar comigo nesse momento. Se não fosse você as coisas seriam bem mais complicadas e mais obscuras. Você é como um pequeno raio de sol. 

— Ah, Emma, pare com isso!  

— Mas é a verdade. 

— Bem, na verdade, foi você que trouxe diversão a tudo isso. — Encolhe os ombros. — Até mesmo deu um jeito naquele chato do meu irmão! Eu devo muito a você.  

Rimos.  

— Emma, só quero que você saiba que não está sozinha — afirma em um tom mais sério.  

— Obrigada.  

— E você está parecendo Bash após assistir um filme dramático, meloso que só ele! 

— E por falar nele, por que você gosta de o provocar tanto? 

Ela solta uma gargalhada. 

— Bash é ótimo para ser provocado — responde de um modo travesso.  

— Sei... 

Charlie sorri e abraça as pernas.  

— Leon te contou sobre nossa estranha família, não é? 

Balanço a cabeça.  

— Há muitos segredos que minha família esconde — a voz fica baixinha. — Francis e Leon sempre tentaram não me envolver nesses assuntos, protegendo a irmãzinha e blabla. Mas, eu sei de muita coisa... 

— Você sabe da Mia Coulter? 

— Sei... 

— Mas, naquele dia, na competição de hipismo, você agiu como não soubesse, como sequer a conhecesse, quando fomos apresentadas a ela.  

— Porque eu precisava. Às vezes, é melhor fingir que não sei de nada... — fala em tom sério. — E eu sou uma ótima atriz, não sou? — muda subitamente de tom, assumindo um tom brincalhão. —  Poderia enganar qualquer um! Sei lá, poderia até me passar por outra pessoa! Aposto que ninguém me reconheceria.  

Olho para ela.   

— Nem Sebastian?  

— Principalmente ele — afirma, rindo.  

— Claro — duvido.  

— Vamos dormir, Emma! — Atira-se em minha cama. — Amanhã tenho que voltar cedo para o palácio!  

E ela realmente se vai bem cedo.  

Procuro por Leon, após a partida de Charlie. Não preciso fazer muito esforço, basta seguir o som do piano que vem da sala de música. O som é vibrante hoje, mas há algo de perturbador na melodia. Identifico o problema, ela é rápida demais, frenética, desesperada.  

Me aproximo dele e envolvo suas costas em meus braços.  

— Emma... — Ele para subitamente de tocar, porém não se move, permitindo-se ficar em meus braços. — O médico ligou, saiu o resultado dos testes. 

Noto que sua voz é preocupada, embora ele tente soar calmo. 

— Fui dopada? — Algo me diz que já sei a resposta.  

— Sim... — Leon acaricia minha mão. — Alguém te dopou.  

Solto-o e começo a andar de um lado por outro. Ele me observa em silêncio por um momento.  

— Você tem um suspeito? — ele pergunta.  

— Não sei... Não lembro muita coisa...  

— Você disse que apenas bebeu um gole de champagne... Não lembra se bebeu algo mais?  

— Tenho certeza que só tomei um pouco de champagne. — Faço um esforço para trazer minhas memórias.  

— Provavelmente colocaram a droga na taça de champagne... Você deixou ela com alguém?  

— Não... — tento reconstruir meus passos. — Adam pegou a bebida para mim, depois eu e ele conversamos com Will por um certo tempo. Estávamos discutindo sobre uma pintura.... Adam foi conversar com alguém, me deixando sozinha com Will... foi quando eu passei mal.  

Leon me escuta atentamente, vejo que ele está formulando algo.  

— Então, temos dois suspeitos... 

— Adam e Will? — completo seu pensamento. — Meu colega da faculdade e seu primo?  

Ele assente.  

— Mas o que eles ganhariam me dopando? Will até foi vítima dos rumores tanto quanto eu. E Adam? Ele é meu colega, me ajudou com a escrita, foi por causa dele que pude publicar meus contos! O que ele ganharia me dopando e me metendo nesse problema? 

— Emma, você pode se surpreender com as pessoas! Eu conheço meu primo! Conheço-o muito bem, aliás. E esse seu colega...  

— Não, eles não poderiam... — tento negar os fatos.  

— Só há um jeito de descobrir.  

A coisa toda me parece estranha demais. Não posso acreditar que um deles tenha me traído. Will? Bem, ele tem aquele jeito dele, mas em várias ocasiões foi legal comigo. E Adam... eu devo muita coisa a ele. Não acredito que ele possa ser alguém capaz disso.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Agora sabemos que Emma foi realmente dopada. Quem será que está por trás disso? E a rainha vai levar adiante essa ideia do filho?



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