Sobre Príncipes e Princesas escrita por Hanna Martins


Capítulo 2
Esporte predileto: chutar traseiros reais


Notas iniciais do capítulo

Fiquei mega feliz com os comentários que recebi! Obrigada suas lindas, estou super animada devido a vocês.



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Vou poupar vocês dos detalhes (como minhas constantes indagações de que aquilo era real ou se eu havia caído em uma pegadinha, procurei por câmeras escondidas o tempo todo, acredite, e os olhares aborrecidos do príncipe mimado, também conhecido como Leon. Vocês também iriam querer matá-lo.). Então, irei explicar resumidamente o porquê de eu ter me encontrado no gabinete real junto com a rainha Felipa, meus pais e Leon.

A história é digna de um roteirista sem vários parafusos na cabeça de Hollywood. Meu avô — um simples guarda do palácio — e o antigo rei Tomás III eram amigos. Como isso foi acontecer e acabar com minha vida? Meu avô salvou a vida do rei. Este ficou muito grato ao meu avô e os dois se tornaram amigos bem íntimos. O rei Tomás tinha meu avô como seu grande conselheiro, pois era uma das poucas pessoas que o tratava de igual para igual. Como presente a todos aqueles anos de amizade, quando meu avô estava no hospital, o rei o visitou e fez a promessa de que um dos príncipes se casaria com sua neta (eu). O testamento do rei só deveria ser aberto 10 anos após sua morte, o que ocorreu esse ano. Como Francis já está casado, só resta Leon para cumprir a promessa. Na verdade, há outros príncipes disponíveis, contudo, há uma cláusula bem específica que meu futuro marido deve ser um dos filhos do rei atual.

Por quê? Pessoas normais, se vão dar um presente para alguém não dão seu neto em casamento. Por que ele não deu um de seus castelos? Ou uma casa no campo? Ou... um pônei real? Até mesmo uma caixa de bombons com um cartão serviria. Havia tantas possibilidades de presentes! Porém, o rei Tomás III (aposto que já não estava batendo bem, tantos anos carregando aquela coroa pesada, feita de não sei quantos quilos de ouro e pedra preciosas, em sua cabeça deve ter danificado o seu cérebro), quis inovar no presente, ser criativo e tudo mais, deu de presente um neto! Belo presente. O que eu faço com um neto real? Se tivesse me dado uma caixa de chicletes teria mais utilidade.

E agora, eu, uma garota, que só quer terminar seu primeiro semestre na faculdade, vai ter que se casar com o principezinho mimado. Tem certeza que isso não é uma pegadinha?

— Irmãzinha...

— Agora, resolveu que sou sua irmã?

— É claro que você é — Andy tenta me adular. — Minha irmã mais querida.

— Por acaso você tem outra irmã? Eu sou sua única irmã! Por que nossos pais não tiveram outra filha? — olho para Andy.

— Se o príncipe Leon me aceitasse, eu me voluntariaria em seu lugar — garante meu irmão, dando tapinhas em minhas costas. — Bem que o avô poderia ter pegado a princesa Charlotte como presente. Eu seria agora um príncipe!

Acerto uma almofada bem na cara do pirralho, encerrando o assunto.

— Vou à biblioteca da universidade — falo para minha mãe e meu pai que assistem TV na sala.

— Oh, nossa princesa vai estudar! — diz meu pai.

Não, ninguém está do meu lado. Meus pais estão aceitando muito bem essa história maluca de casamento. Devo ser a única pessoa sensata dessa família.

— Cuide-se, princesa — fala minha mãe, acenando para mim.

— Parem de me chamar assim — peço irritada.

— Tudo bem, princesa — concorda minha mãe.

— Argh! — desisto, minha família não é normal.

Pego minha mochila e vou até o ponto de ônibus. Uma garota segura um jornal, cuja primeira página é uma foto enorme do príncipe Leon. “Quem será a misteriosa noiva do príncipe Leon?” está escrito em letras enormes que cobrem boa parte da página. Será que essas notícias nunca vão parar de sair? Da última vez, havia especulações que a futura esposa do príncipe era uma duquesa lá não sei de onde.

O fato do príncipe ter apenas 18 anos e se casar tão jovem, aparentemente não chocou nenhum um pouco nossa nação (só mesmo as garotas que ficaram em prantos por perderem seu amado príncipe). A família real tem um histórico de casamentos entre jovens. O atual rei, Carlos IV, também se casou aos 18 anos.

Não quero pensar em nada pelas próximas horas que não sejam minhas provas. Chega de pensar em coisas que tenham a ver com a família real.

Até que me saio bem nessa tarefa. Escolho o lugar mais silencioso da biblioteca, espalho meu material de estudo na mesa. Nem noto as horas passarem.

Já passa das oito horas da noite, quando saio da biblioteca.

O campus da universidade está agitado. Há algo estranho. Não sei o que é exatamente. Apenas sinto a agitação incomum pairando no ar, um fio que se estica cada vez mais, chegando ao seu limite, preste a se partir a qualquer instante. Há pessoas reunidas em pequenos grupos, olhando para os celulares, algumas com uma expressão de incredulidade, outras, com espanto. Uma moça detém seu olhar em mim, primeiro, com dúvida, depois seu rosto se ilumina, como se ela tivesse feito a descoberta do século.

— É ela! — grita e aponta para mim.

Paro ou, melhor, estaco sem qualquer reação, surpreendida demais para mover um músculo sequer, pois, após o grito da garota, pessoas olham em minha direção e me cercam.

— Você é a futura princesa, não é? — um rapaz pergunta, me analisando como se eu fosse uma espécime rara.

— Não... — tento me esquivar.

— É ela, sim — uma mulher mostra o celular com minha foto. — É ela! Diz aqui no site! — garante.

Mais pessoas me cercam, gritando, perguntando coisas que não consigo distinguir. Tudo é um caos ao meu redor. Tenho vontade de sair correndo, porém, até mesmo isso é impossível no momento. A coisa está ficando cada vez mais assustadora. Preciso sair daqui, preciso escapar. Mas, não consigo dar um passo sequer. As pessoas parecem se multiplicar na velocidade da luz, impedindo meus movimentos. Sinto um flash em minha cara. Depois outro, mais outro... flashes e mais flashes são disparados em minha direção. Sou cegada pelos flashes. Os gritos são ensurdecedores. Fechos meus olhos. Preciso sair daqui... preciso...

Algo quente me envolve, só depois de um tempo, noto que se trata de uma jaqueta. Sinto um par de braços me cercar. Braços fortes e acolhedores. Gentilmente alguém me conduz no meio da multidão, abre espaço para que eu passe. Abro meus olhos, mas tudo o que consigo ver são pares de pernas, braços, mãos... tudo é tão confuso.

Sou colocada em um carro.

— Vamos! — ordena uma voz suave e ao mesmo tempo cheia de determinação.

Olho para quem está sentado ao meu lado, um rapaz que parece ter saído de algum filme de Hollywood. Ele deve ter entre 20 e 22 anos. Seus cabelos louros caem em desordem pelo rosto gentil e belo. Seus olhos azuis vão parar em mim. Sorri (que sorriso!).

— Desculpe por isso, Emma. Você está bem?

— Estou... — balbucio. — Você é...

— Sebastian. Sou seu guarda-costas a partir de hoje.

Minha cara de interrogação deve ter sido muito engraçada, pois ele solta uma risadinha.

— Eles não devem ter te informado, não é mesmo? Todos os membros da família real têm um guarda-costas. E você mais do que ninguém precisa de um.

— É, preciso — concordo, porque é impossível discordar dele.

Sebastian sorri mais uma vez. Ele deve saber o quanto seu sorriso pode deixar os hormônios das garotas completamente insanos.

Como será que o palácio seleciona seus funcionários? Desconfio que seja por meio de um concurso de beleza. Porque nenhum outro lugar tem caras tão bonitos trabalhando quanto lá.

— Como essas pessoas descobriram sobre mim?

— Alguém vazou a informação antes da hora. Tudo está uma loucura... Por enquanto, é melhor você ficar no palácio para sua segurança.

— E minha família?

— Já cuidamos disso. A rainha pediu que eles fossem para a casa de campo da família real. Lá, eles poderão ficar sem serem importunados pela imprensa.

Encosto minha cabeça no banco. Como minha vida foi se tornar essa completa loucura? E, eu que pensei que a maior loucura da minha vida seria enfrentar as próximas provas da faculdade.

Chegamos ao palácio. Sebastian me conduz até um quarto. Ele abre a porta e faz sinal para que eu entre.

— Você ficará instalada aqui, por enquanto. É a ala dos hospedeis. Suas coisas foram trazidas para cá. Você as encontrará no closet. Se precisar de alguma coisa, há um telefone ao lado da cama, basta digitar o número do serviço que você deseja, há uma lista perto do telefone — explica. — Vou deixar que se instale — sorri (como ele pode ter um sorriso deste?). — Você deve estar bastante cansada. Descanse. Precisa de alguma coisa?

— Não, obrigada.

— Você deve estar com fome...

Assinto. Minha barriga quase responde por mim com um sonoro ronco.

Sebastian lança mais um de seus sorrisos devastadores.

— Vou pedir que tragam algo para você comer.

Ele se retira, me deixando sozinha no quarto. Eu não chamaria isso de quarto. É enorme. Sinto que vou precisar de um mapa para não me perder aqui.

A cama é imensa e deve estar coberta por lençóis egípcios. Não resisto a me jogar nela. Deitar numa cama destas é como flutuar em nuvens macias.

Estou cansada demais. Ser perseguida por uma multidão de pessoas curiosas cansa.

Com algum esforço, encontro minhas coisas. Tomo um banho. Obviamente, que um banheiro do palácio também seria diferente de um banheiro comum. Tem até banheira! Uma banheira que parece uma piscina. E as torneiras são douradas (ouro?).

— Pessoas da realeza não são humanas! — resmungo.

Encontro um prato de sopa quentinho e pãezinhos quando retorno do banho. Devoro tudo em instantes. 

Há uma TV enorme em um canto mais escondido do quarto. Ligo-a. No entanto, assim que começo a passar pelos canais, sinto que minhas pálpebras estão prestes a se fecharem sozinhas. Desligo a TV e me deito na cama. Caio imediatamente no sono, em um sono sem sonhos.

Acordo apavorada e perdida. Demora alguns segundos para me recordar onde estou e porquê me encontro nessa situação. Mas, não tenho tempo a perder com meus questionamentos, tenho aula e vou chegar atrasada, caso não me apresse.

Visto minhas roupas rapidamente. Meus cabelos estão... bem, estão como sempre, uma bagunça completa. Parece mais um ninho de passarinho. Eles são negros, mas não se decidiram quanto à forma, se são lisos ou ondulados. Não tenho tempo para me preocupar com meus cabelos rebeldes.

Já estou preparada para sair, quando ouço batidas na porta.

— Entre! — grito, pegando minha mochila.

O rosto de Sebastian surge na porta. Ele me olha intrigado.

— Tenho que ir para minha aula.

— Emma, infelizmente, você não poderá frequentar a universidade pelos próximos dias...

— Como? Eu não vou poder assistir as aulas?

— É para sua segurança. Há muitas pessoas interessadas em você. Se você for a universidade, só causará mais comoção — tenta explicar. — Não será seguro nem para você, nem para seus colegas. Pedimos a sua compreensão... Será melhor para todos que você fique no palácio, no momento.

Me sento na cama com os braços cruzados. Reconhecendo a contragosto que ele tem razão.

Eu não pedi para viver isso. Eu não pedi para me tornar uma futura princesa. Eu não pedi para ser vítima de um rei louco que decide presentear seu súdito mais leal com um casamento.

— Eu sinto muito — lamenta Sebastian.

Ele me olha e parece realmente se lamentar pelo que está acontecendo comigo.

— O café da manhã será trazido daqui a pouco para você... — tenta me dar um pouco de conforto. — Eu estarei aqui perto, se precisar de algo, pode me chamar... Com licença — ele se retira do quarto.

Perfeito, estou presa em um palácio. Serei eu uma espécie de Rapunzel trancafiada em sua torre? Se bem que não estou em uma torre, aliás o quarto que me foi designado fica no térreo.

Há uma porta de vidro que dá para um pequeno e belo jardim, que eu não havia notado antes. Abro a porta e vou até ele.

O jardim tem um ar meio rústico, cheio das mais diversas plantas. No meio, há um pequeno laguinho, ornamentado com pedras, que formam uma espécie de passarela sobre ele.

— Uau! — exclamo, totalmente admirada.

— Surpresa, plebeia? — uma voz me tira do meu momento de contemplação.

Ah, essa não! Com certeza, eu devo ter feito coisas lamentáveis em minha vida passada para ter que encarar, logo de manhã, esse... ser. E eu nem tomei meu café da manhã ainda. Se há algo que me deixa mais irritada do que o normal é: estar de barriga vazia.

Me viro e encaro o principezinho petulante.

— Aposto que não tinha isso de onde você veio — sorri sarcasticamente.

Esse cara passa dos limites da cota de babaquice.

— Por que será que meu dia fica cada vez pior? — resmungo, o encarando. — Qual é o seu problema? — carrego minha voz de sarcasmo. — Você acha que eu queria estar aqui, prometida para um príncipe mimadinho? — lanço um olhar significativo para ele.

Leon apenas sorri presunçosamente. Dou os ombros e caminho sobre as pedras do lago.

— Oh, a plebeia gosta de insultar! — finge surpresa.

Me viro para ele. 

— Estou morrendo de medo por causa dos seus insultos — ele passa a mão por seus cabelos perfeitos, os desalinhando harmoniosamente. Será que ele pensa que estamos gravando um comercial de shampoo?

A Sua Idiota Alteza dá um passo em minha direção. Agora estamos os dois em cima das pedras.

Minha paciência não está muito grande hoje, principalmente, quando se trata de certo príncipe.

— Ah, é? — também falo cheia de sarcasmo. — Será que Sua Alteza Real nasceu idiota assim ou fez um curso para isso?

Ele sorri como se eu fosse algo insignificante. Eu odeio esse sorriso. A Sua Idiota Alteza sabe como chatear as pessoas e ser um completo babaca.

Leon dá as costas para mim. Ele nem tem tempo de ver de onde veio o chute que acerta seu traseiro real.

Leon se debate no laguinho, tentando sair de lá. Está todo encharcado e com uma expressão frustrada, raivosa, como se tivesse acabado de comer algo muito azedo.

— Aconteceu alguma coisa? — Sebastian corre em minha direção.

— Não, Sua Alteza Real estava com calor e resolveu se refrescar — respondo.

Sebastian olha atônito para Leon, tentando compreender a situação.

Acabo de descobrir que chutar traseiros reais é meu esporte predileto.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Por favor, me digam. Temos personagem novo nesse capítulo, Sebastian, um guarda-costas irresistível. O que acharam dele? E Emma descobriu um novo esporte. Como será que ficará as coisas entre esses dois?