Sobre Príncipes e Princesas escrita por Hanna Martins


Capítulo 19
Matem as borboletas


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado à Paulinha, esta linda que fez uma recomendação que me deixou sem fôlego de tanto gritar de alegria. Obrigada, Paulinha!
E desculpem pelo atraso, eu queria ter postado este capítulo bem antes, mas não consegui...



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— A poesia pode estar em todos os lugares, pode estar na paisagem, em fatos cotidianos, quer coisa mais poética do que o sabor da maçã, o cheiro das rosas? — Adam olha para nós. — Nas pessoas, nas lágrimas, no sorriso — ele fala com uma voz agradável, forte, daquelas de declamadores de poemas. — A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. A poesia revela o mundo e cria outros.

E metade da classe suspira. Este suspiro não se deve apenas ao seu discurso primoroso. Adam com seus bonitos olhos castanhos escuros, com seus cabelos negros encaracolados, tem recebido muita atenção.

Ele ajeita os óculos e sorri.

— Muito bem — parabeniza a professora Florence. — O colega de vocês é um verdadeiro poeta!

Uma salva de palmas é destinada a Adam.

— Mandei bem? — ele sussurra para mim.

— Muito bem — sussurro também, aplaudindo.

Ele merece os aplausos. É incrivelmente inteligente e sua escrita... eu realmente gostaria de ter um pouquinho de seu talento.

— Com estas palavras maravilhosas de Adam, encerramos a aula por hoje — a professora Florence dispensa a turma.

Estou gostando das aulas de escrita criativa. São divertidas, tanto que nem sinto o tempo passar quando estou as assistindo. 

O lado ruim de participar deste curso nas férias é que o senhor Bradbury me abarrotou de coisas para fazer em troca de eu frequentar as aulas. Nada na realeza vem de graça. O tempo está mais raro para mim que a água no deserto do Saara.

— Emma, eu terminei meu conto — Adam diz.

— Ah... eu ainda não consegui terminar o meu — a verdade é que eu não consegui escrever nem as primeiras linhas direito.

— Tudo bem — ele sorri. 

Somos parceiros em um trabalho final do curso. Basicamente, cada um de nós desenvolve um conto, dá para o outro ler e este faz críticas e sugestões.

— Se você quiser, posso te ajudar a desenvolver o seu conto, sabe, somos parceiros e coisa e tal — oferece-se gentilmente. — Podemos ir na biblioteca, eu tenho a tarde livre...

Meu celular toca.

Leon. Meu querido marido.

Desde que voltamos das breves férias da família real (elas duraram exatamente 3 dias!), estamos ocupadíssimos, por isso, ultimamente, não temos nos cruzado muito. Isso até que é bom... E eu também não faço muita questão de cruzar com ele nos corredores do palácio. Não é que eu estou fugindo dele, sabe? Mas... bem, fui derrotada por um beijo (por que ainda estou pensando nisto? Isso foi há mais de duas semanas). Minha situação é crítica.

— Tenho que atender...

— Sem problemas.

Me afasto de Adam e atendo o celular.

— O que foi? — às vezes, a delicadeza não é minha melhor caraterística, e o fato de ter me lembrado do beijo não ajuda muito meu humor.

— Que ânimo é esse para atender seu maridinho? — provoca.

— O que você quer? — tento ignorar sua provocação.

— Nada... só lembrar que temos um almoço com Francis e Guinevere no clube de hipismo.

Tinha me esquecido disso completamente.

— Não vai me dizer que esqueceu?

— Não! — me apresso em responder.

— Eu...

— Ok, ok, obrigada por avisar — corto ele. — Tchau! — desligo o celular.

Olho para meu colega.

— Não vai dar para irmos à biblioteca hoje, tenho um compromisso — me desculpo.

— Tudo bem, deixamos para outro dia.

— Certo — concordo, enquanto apanho minhas coisas.

No corredor, Sebastian me espera.

— Como foi a aula?

— Boa, a professora Florence é ótima!

Sebastian sorri e o fã-clube dele, que faz questão de ficar no corredor todo o santo dia, quase desmaia.

Ele me escolta até o carro. Mas, não é o carro habitual. Este carro...

O vidro da janela desce.

— O que você...

— Você não deixou eu te avisar — Leon finge-se de magoado. — E eu vim aqui só para te levar ao clube.

— Claro, claro — olho para ele.

— Entra logo. Hoje à tarde ainda tenho um monte de coisas para fazer.

— Senhor apressadinho — resmungo, entrando no carro.

Ele coloca os fones de ouvido.

Pego o notebook e abro o word. Preciso aproveitar cada segundo de folga. Olho para as duas miseras linhas que escrevi. As palavras simplesmente não vêm e se, por um grande acaso, vêm, logo percebo que elas não saem do modo que desejo.

Lutar com as palavras é uma luta desigual. Elas são mais fortes do que eu, mais numerosas, e parecem imunes aos meus apelos, ao meu chamado.

Suspiro.

— Hum... o que você está escrevendo? — indaga Leon.

Ele inclina-se sobre mim, sua face fica a poucos centímetros da minha. Posso sentir seu aroma.

— É só um trabalho para meu curso — falo, sem me mover um único centímetro.

— Interessante... — ele continua inclinado sobre mim.

— É... — se ele saísse desta posição... incomoda, seria bom. — É...

Calma, Emma, ele só está tentando te desestabilizar. Não o deixe vencer esta batalha. Calma. Você é mais forte do que isso. Repito várias vezes essas palavras para mim mesma. 

Volto meu rosto para ele. E o danado não recua. Ele fica me olhando. Arqueio a sobrancelha. Nos encaramos. Recuar é algo que parece não estar em nosso dicionário neste exato momento.

O carro para.

— Chegamos — anuncia Sebastian.

Nos olhares vão parar em Sebastian no mesmo instante. Um empate. Melhor do que uma derrota.

Fecho o notebook e saio do carro.

Guinevere e Francis já estão no restaurante do clube. Eles são um belo casal para ocupar o trono, perfeitos. Guinevere será uma rainha notável. E Francis nasceu para ocupar o lugar de rei. Os dois são carismáticos e o povo os adora. 

— Como estão as coisas, Emma? — indaga Guinevere de um modo amável e doce. 

— Estão indo... — respondo, apreciando um bom bocado de meu prato, camarão com um molho delicioso.

Guinevere sorri docilmente.

— No começo, é meio difícil...

Meio difícil? Ela está utilizando muito eufemismo nesta frase.

— Mas... as coisas ficarão melhor.

Olho para ela tentando soar não muito incrédula.

— Acredite em mim, não é mesmo, Francis?

— Se você diz, minha querida...

— Ei — ela sorri para ele.

Eles são tão apaixonados. Sabe aqueles casais de filme água com muito açúcar? Então, estes dois são a imagem perfeita destes casais na vida real.

— Está tendo aulas com Daphné? — pergunta ela.

— É, estou...

— Daphné pode ser muito... rigorosa — eufemismo definitivamente é a figura de linguagem predileta dela. — Claro que ela é uma ótima profissional. Mas, eu posso ajudar você com algumas coisas, se estiver tendo dificuldade.

— Eu adoraria.

— Ótimo — sorri amavelmente, parecendo feliz em eu ter aceitado seu auxílio. — Vai ser um prazer ajudá-la, Emma.

Embora Guinevere sempre soubesse que iria se casar com o príncipe Francis, eu e ela temos algo em comum. Os dois foram prometidos um para o outro deste que eram crianças, apesar da ideia que foi vendida de que eles cresceram juntos, depois se apaixonaram etc. E Guinevere tenha nascido em uma família nobre e desde pequena conheça este mundo. Mesmo assim, nós duas ainda temos algo em comum, tivemos que nós casar com uma pessoa da realeza.

— Emma, Guinevere é uma ótima professora, e eu não falo isso porque ela é minha esposa — diz Francis, sorrindo para ela.

Guinevere arqueia a sobrancelha.

— Você está querendo alguma coisa...

— Não...

Ela o encara.

— Francis, Francis...

— É sério que vocês vão me deixar com diabetes? — Leon interrompe o casal.

— Meu irmãozinho é tão dramático — Francis bagunça os cabelos do irmão.

— Francis! — protesta Leon, enquanto tenta se desviar do ataque do príncipe herdeiro. 

Francis solta uma gostosa da gargalhada da cara do irmão mais novo. 

— Temos que ir — diz ele, olhando em seu relógio. — O senhor Bradbury vai ficar furioso se nos atrasarmos para a reunião com o comitê de esportes aquáticos e depois ainda temos uma reunião com os Médicos Sem Fronteiras...

Francis e Guinevere se despendem de nós e se vão com a promessa de que em breve iremos ter outro almoço. Foi bom passar um tempo com o casal herdeiro. Guinevere é educada, inteligente e gentil, e não faz eu me sentir desconfortável em sua presença. E Francis, bem, além de ser uma pessoa muito simpática, é sempre muito divertido vê-lo provocando o irmão mais novo. 

— Então? — Leon me olha.

— Então o quê? — desconverso, e começo a andar.

— Sabe, você anda fugindo de mim...

— Eu não estou fugindo de você — paro no meio do caminho.

— Eu mal te vi nestas últimas semanas, se isso não se chama fugir...

Me volto para Leon. Ignorá-lo não é a melhor estratégia agora. Tenho que revidar. Tenho que ser mais impertinente do que ele. Preciso arriscar.

Ele senta-se em um dos bancos que ficam espelhados pelo clube. Senta-se todo imponente, como se fosse o rei do pedaço. Esse aí está mesmo acreditando que tem uma vitória pela frente.

— Ah, você estava com saudades? — falo sarcasticamente.

— O quê? — por um momento Leon perde a postura de “o príncipe da cocada preta”.

Sento-me perto dele.

— Realmente, você sentiu saudades.

Ele lança um olhar desdenhoso.

Me aproximo ainda mais. Recuar agora é um atestado de derrota.

— Hum — olho para ele. — Interessante!

— O que é interessante?

— O fato de você nunca admitir o que sente? — zombo.

Estou cada vez melhor neste jogo. Aposto que o senhor príncipe aí não esperava por isso.

Leon me lança um olhar intrigante. Seus lábios começam a formar uma palavra, mas não chegam a emitir qualquer som, ele muda de ideia.

Sorrio. A vitória é minha.

Olho para o imenso céu azul. A vitória é doce.

— E se eu admitir que senti sua falta? — sussurra em meu ouvido.

Volto-me para ele quase instantaneamente. 

Por um instante, sinto que meu estômago foi infestado por dezenas de borboletas. As borboletas malditas me deixam desconcertada. Elas me fazem perder o foco.

— Hein? — insiste Leon.

— É... não... — balbucio como uma completa idiota.

Borboletas malditas. Desapareçam! Por que elas tinham que aparecer agora? Por que elas tinham que surgir quando ele está aqui?

Leon aproxima-se ainda mais de mim. É só um jogo. Ele está jogando. Eu sei disso. Ele está colocando o queijo na armadilha, é especialista em criar armadilhas perfeitas. Armadilhas perigosas demais.

Me levanto do banco e tento rir. Rir como se ele acabasse de contar uma piada.

— Boa tentativa — falo sem me voltar para ele. — Muito boa, quase acreditei — solto uma risadinha.

— É, eu não consigo te enganar! — ri. — Você venceu, Emma, mas foi só desta vez.

— Ei — volto-me para ele. — Você realmente é ruim em admitir as coisas! Eu venci você várias vezes.

— Ah, é? — levanta-se do banco.

— Tsc, tsc, tsc, você precisa aprender a admitir a derrota.

— Não sou apenas eu que preciso admitir a derrota — ele bagunça meus cabelos.

— Engraçadinho! — dou um cutucão em sua barriga.

Leon continuar a bagunçar meus cabelos.

Mas, eu também tenho minhas armas, começo a provocar cosquinhas nele.

Ele sai correndo, tentado evitar meu ataque. 

— Você não me escapa! Volta aqui!

Tento alcançá-lo. Porém, ainda sinto as borboletas voando em meu estômago. É preciso matar as borboletas, porque se elas não morrerem, eu estarei em uma grande enrascada. O rato não pode se deixar apanhar pelo queijo na armadilha.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Temos personagem novo! O que acharam do Adam, o novo colega da Emma? E Emma e Leon estão travando guerras cada vez mais catastróficas. Quem ganhará a guerra?
E se preparem para o próximo capítulo, ele mudará completamente o rumo de tudo! O próximo capítulo será tenso!