Sobre Príncipes e Princesas escrita por Hanna Martins


Capítulo 18
Como um cubo de açúcar


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a linda da Cacau Leicam, que fez uma recomendação que me deixou sem palavras. Obrigada, Cacau!



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Após você encontrar uma pessoa com grama do cabelo, toda despenteada, cheirando a álcool, roupa suja e amarrotada, qual será a sua reação?

a) Perguntar o que aconteceu.

b) Perguntar se a pessoa está bem, precisa de ajuda e coisa e tal.

c) Convidar para um chá.

Se você for a princesa Sylvia, sem sombra de dúvida, a opção “c”.

É, a princesa Sylvia convidou eu e Leon para um chá, após nos flagrar naquela situação... inusitada.

Ela tem uma casa aqui também e veio passar alguns dias. E convidou Muriel e Lyane para passarem as férias.  

Minha ressaca vai muito bem. Charlie me deu várias dicas para fazer a ressaca passar. A princesa caçula é uma especialista neste departamento.

Para o chá, escolho um vestido floral, que me parece confortável e bonitinho, e jogo um blazer por cima. Até que estou apresentável. Pelo menos, estou melhor do que a figura matutina que a princesa Sylvia encontrou no jardim. Aquela grama no cabelo deve ter perturbado profundamente a impecável princesa. Até ganhei dela uma quase imperceptível levantada de sobrancelha.

— Já está pronta? — pergunta Charlie, entrando em meu quarto.

— Já... — respondo, deitando na cama. — Eu queria ficar aqui dormindo — bocejo.

— Claro, com a ressaca que você estava...

Lanço um olhar significativo para ela.

— E quem foi a responsável por minha ressaca?

— Eu não mandei ninguém perder o jogo — sorri.

Ela falando deste jeito parece ser a pessoa mais inocente do mundo.

— Leon! — ela chama-o, quando o vê passando no corredor.

— O que foi? — indaga ele, detendo-se no meio do caminho.

— Nada... nada... — Charlie fala em um tom travesso.

Leon a encara e entra en meu quarto.

— Charlie?!

— Interessante... — ela o analisa.

— O que é interessante, irmãzinha?

— Você andou se machucando — seu tom é malicioso. — Olha só, esta marca roxa enorme!

Involuntariamente, olho para o pescoço dele. Aquilo ainda está lá. A marca dos meus lábios ainda está em sua pele.

— Isso... — toca na marca e me olha.

Trato de desviar meu olhar e fingir que a coisa não é comigo. Vou até a janela e olho para o jardim.

— Foi um acidente — seu tom é um daqueles que usamos, quando queremos dizer outra coisa.

— Um acidente? — pergunta Charlie, demonstrando claramente que ela sabe bem mais do que mostra. 

— Charlie — interfiro —, você não tinha que... falar com o Sebastian? Acho que acabei de vê-lo — indico o jardim.

— Ah, claro, tinha me esquecido! — ela saia do quarto.

Leon olha para mim.

— Que momento mais conveniente para ver o Sebastian, não? — fala, com em um tom provocador.

Droga, droga, droga. Ele já não está mais no modo atordoado de hoje de manhã. Pegá-lo com a guarda baixa e o fator surpresa foram fundamentais para minha vitória. 

Será que vou conseguir vencer esta nova batalha? Eu preciso vencê-la. Preciso.

Encaro-o.

— Você deveria me agradecer — saio da janela e sento-me em minha cama — Se Charlie descobrisse o que aconteceu, não te deixaria mais em paz, sabia?

— Ela não me deixaria em paz ou não te deixaria em paz?

Finjo analisar os livros da cabeceira da minha cama.

— A autora da marca é você — senta-se na cama.

Ah, não! Ele está ganhando terreno.

— Mas... — olho-o. — Você não reclamou.

Emma Jones não vai perder este jogo, pode ir tirando este seu pônei branco da reta, Leon.

— Porque eu estava bêbado... — provoca.

Para vencer esta batalha, preciso continuar a usar a mesma arma que utilizei antes, ataque. Não posso parar no meio do caminho.  Eu comecei isso, não posso recuar agora.

— Hum... interessante... Você não vai mesmo admitir que gostou, não é?

Sabe que até estou gostando de inverter os papéis. Então, é assim que esse príncipe se sente quando fica esfregando na minha cara meus momentos deprimentes?

Me aproximo mais de Leon, deixando pouquíssimo espaço entre nós.

— Hein? Olha esta marca — coloco o dedo bem no local. — Quando ela foi feita, você nem ligou, até gostou.

Não posso dar espaço para meu adversário. Tenho que atacar. Se der qualquer espaço para ele, por mais mínimo que seja, Leon vai se apossar de todo o território. É preciso atacar.

— Leon — soletro cada letra de seu nome. — Admita!

— Emma, não me provoque.

— Ah, não posso provocar você, é? Já sei o motivo — o encaro. — É porque estou certa e você não quer admitir!

— Emma...

— E o que você vai fazer? Vou começar a gritar para todo mundo ouvir que o príncipe adorou a noite de ontem — começo a elevar minha voz.

Às vezes, quando você começa algo não há como parar.

— Ficou com medinho, hein! — desafio-o como uma pirralha irritante. — Ficou com medinho, Leon, ficou com medinho — começo a cantarolar.

Sorrio. Me aproximo ainda mais. Ele demonstra não ter gostado nenhum pouco de minha musiquinha.

— O que você vai fazer para me calar? — continuo a provocação. 

Leon como uma flecha, uma flecha rápida e certeira, apanha meus lábios com os seus.

Os lábios dele se apossam dos meus com intensidade, e os meus, pegos completamente desprevenidos, deixam-se ser aprisionados pelos dele.

Minha mente, como por encanto, um encanto provocado pelo toque dos lábios de Leon, é esvaziada de qualquer pensamento. Tudo o que há são sensações.

Sinto todo o meu ser se derretendo como um cubo de açúcar. Um pequeno cubo jogado em um café muito quente.

O braço de Leon enlaça minha cintura, me trazendo para mais perto, enquanto sua mão vai parar em meu pescoço.

O pequeno cubo de açúcar, que sou, é totalmente dissolvido pelo calor que os lábios dele provocam. Seus lábios fazem com eu me dissolva toda.

Ele afasta seus lábios dos meus.

— Quem foi mesmo que adorou a situação — fala triunfante. — Admita, Emma, você gosta dos meus beijos! — lança um daqueles sorrisos presunçosos. — E fica querendo mais...

Ele se levanta da cama e sai do quarto.

Droga de beijo.

Emma Jones foi derrotada por um beijo.

Por um beijo!

Em minha defesa, argumento que Leon é muito bom com os lábios. Por que ele precisa beijar tão bem? Isso é uma clara desvantagem. 

— Argh! — grito, frustrada.

Não posso deixar ele ganhar esta guerra. Ah, não mesmo. Posso ter perdido a batalha, mas eu vou ganhar a guerra! Tenho que ganhar.

Respiro fundo e vou a procura de Charlie para irmos ao chá.

Nada aconteceu. Está tudo bem. Agora repita isso por umas cem vezes, até você acreditar, Emma!

Vamos ao tal chá.  

Se tratando da realeza, um simples chá nunca é um simples chá. A princesa Sylvia convidou várias pessoas, reconheço algumas, normalmente são pessoas com quem eu esbarro, durante aqueles eventos muito empolgantes (ironia) da realeza que sou obrigada a participar.

A figura da princesa Sylvia se destaca em um grupo de pessoas. Ela é toda meiguice e sorrisos. Os olhos sagazes da princesa captam nossa presença. Ela vem em nossa direção, um senhor, que me parece familiar, a acompanha.

— Sejam bem-vindas — sorri. — E nosso príncipe? — indaga ao não ver Leon.

— Ele já está vindo — informa Charlie.

— Ah.

— Como vai, Sua Alteza Real? — cumprimenta o senhor, inclinando a cabeça levemente.

— Muito bem, Lorde Faber — Charlie sorri amavelmente como uma autêntica garota adorável.

Lorde Faber, como eu não o reconheci antes? Lorde Faber é um dos membros mais influente da Câmera dos Lordes. Em nosso país a Câmera dos Lordes tem uma importância muito grande. Ela é formada por membros da realeza. A cada cinco anos acontece uma eleição entre os membros da realeza e eles escolhem seus representantes. Eles têm poderes executivos e legislativos.

— Sua Alteza Real — ele me cumprimenta com uma pequena reverência.

— Lorde Faber — inclino a cabeça, retribuindo o gesto.

Lorde Faber apoia-se em sua bengala e sorri para mim.

 — Eu conheci seu avô.

— Conheceu? — digo, surpresa.

— Ele era um homem muito honrado — sorri gentilmente. — Um homem mais nobre do que muitos que têm o título.

Lorde Faber é uma pessoa muito afável, com sua silhueta rechonchuda, seus cabelos brancos e seu sorriso gentil, lembra aqueles avôs brincalhões que amam presentear os netos.

— Obrigada.

— Sua Alteza Real — Lorde Faber cumprimenta alguém atrás de mim.

Sei que é Leon. Meu radar de príncipe irritante hoje está potente.

— Lorde Faber — ele retribui o cumprimento.

Tento ignorar a presença dele, sei que se me voltar para ele, vai me lançar um de seus sorrisos vitoriosos, e eu vou olhar para seus lábios, aqueles lábios apet... ignorem esta parte. Enfim, vamos ter o início da próxima guerra mundial. Para evitar esta calamidade, preciso me retirar. Esta também é uma boa estratégia de batalha, a retirada.

Dou uma desculpa qualquer e saio de perto de Leon.

Resolvo dar uma pequena volta no jardim. Quem sabe eu não tenho uma ideia para uma pequena vingancinha? Aquele príncipe só me dá trabalho, viu? 

A residência da princesa Sylvia tem um jardim belíssimo. Me entretenho observando algumas plantas, por isso levo um pequeno susto ao ouvir vozes perto de uma árvore.

Lyane conversa com um rapaz. Certo, melhor ir para outro lugar.

— Me solta, Nate — diz Lyane com uma voz cheia de raiva.

Volto no meio do caminho e observo melhor a cena.

— O que você vai fazer? — pergunta o rapaz. — Você que era toda metidinha porque era a namoradinha do príncipe — ri. — Lembra aquela vez, quando eu confessei que estava a fim de você? E você nem ligou para mim porque era a namoradinha do príncipe?

Ele não solta seu pulso, ignorando o pedido de Lyane. Este cara é um babaca.

— Como se sente, após ser trocada por uma plebeia qualquer? Aquela garota! — diz em um tom depreciativo.

Que sujeito escroto! Sim, sou plebeia, e daí?

— Uma garota tão...  — faz um gesto desdenhoso. — Fico me perguntando como você se sente, Lyane? Você, que é uma das garotas mais belas do país, ser trocada por aquela qualquer!

“Aquela qualquer”? Com licença, preciso socar um babaca!

— Você que sempre foi disputada por todos e sempre os esnobou. Agora — ele ri — você é alguém que ninguém quer. Seu pobre pai está sendo acusado e até foi preso! O nome da família Orlins está manchado para sempre. Ninguém quer você, ninguém! Você agora está manchada. Nem mesmo o seu namoradinho quer você. Todos viraram as costas para vocês, Orlins! Como se sente, sendo ninguém?  

— Me solta! — Lyane pede.

— Solta ela! — falo alto. — Você é surdo? Ela pediu para você a soltar! Se alguém fala para você a soltar, então você solta, ou você é muito burro para entender o significado das palavras?

Ele me olha com desprezo.

— Vai soltar ou não vai? Sabe que com um grito meu,  este jardim vai se encher de seguranças? — ameaço, cheia de raiva. — Agora, seja educado e solte ela... ou será que teremos que usar outros meios para você fazer isso?

Nate solta, relutante, o pulso de Lyane.

Olho para ela.

— Vamos, Lyane. Este escroto não merece nossa atenção.  

Lyane está apavorada e em pânico, preciso pegar em seu braço para ela se mover.

Começamos a caminhar e deixamos para trás um dos caras mais nojentos que já conheci em minha vida.

— Tudo bem? — pergunto, quando já estamos bem longe daquele escroto.

— Tudo...

— Aquele infeliz — resmungo.

— Obrigada, Emma... Eu não...

— Não foi nada. Garotas devem ajudar umas às outras.  

No meio do caminho, encontrarmos Muriel.

— Estava ficando preocupada! — ela olha para Lyane. — O que aconteceu?

— Nada... — ela responde, me olhando.

— Lyane, você não engana! Emma, o que aconteceu?

Olho para Lyane que me lança um olhar suplicante.

— Não foi... nada — respondo um tanto relutante.

Se Lyane não quer contar sobre o encontro com aquele sujeito escroto, ela deve ter seus motivos.

Deixo Lyane, depois de me certificar que ela está bem.

Este encontro, além de me deixar cheia de raiva, me provocou várias perguntas e algumas suposições. Algumas peças começam a se encaixar, mesmo que elas não pareçam fazer muito sentido no momento.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? E esta guerra que nunca tem fim? Leon não aceita derrotas rsrsrsrs, pobre Emma... mas, ela também não se dá bem com derrotas rsrsrsrs