Sobre Príncipes e Princesas escrita por Hanna Martins


Capítulo 12
A irmã da Cinderela


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a linda da Tati Conche que me deixou aqui surtando de felicidade com sua recomendação. Obrigada, Tati, sua linda!!!! E como ela diz, mais uma capítulo de nosso conto de falhas!



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Por que eu não tenho tempo livre? E cadê esta bendita bota? Por que eu tenho que participar do clube de hipismo? É claro, tenho que fazer parte de algum clube e bláblá, mas eu nem sei montar! Eles não levam isso em consideração? Não, eles apenas avisam: “Emma, você agora faz parte do clube de hipismo, vai lá amanhã”, e depois acrescentam, “você também terá aulas de equitação, começam amanhã”.

— Argh! E esta maldita bota? Cadê esta maldita bota? — resmungo, enquanto tento encontrar alguma coisa no closet/loja de roupa.

— O que você está procurando? — pergunta Leon.

— Eu estou... — digo, me voltando para ele. — Estou...

— Está o quê?

Por que Leon está seminu?

Ele está usando apenas calças, seu torso está nu, plenamente nu... E (como meus olhos fazem questão de registrar), ele tem um abdômen muito bem definido. Mas não é musculoso como os ratos de academia. Não. Tudo nele é na proporção exata. Pequenas gotas de água escorrem de seu cabelo molhado e vão deslizar pelo torso. Uma pequenina gota cai do queixo, escorrega pelo pescoço, desliza pelo peitoral e vai se perder em seu abdômen tabletes de chocolate (sim, ele lembra um tablete de chocolate). Chocolate... eu estou com... Emma Jones, que pensamentos são estes?

Desvio os olhos dele e volto para minha antiga tarefa.

— Estou procurando um par de botas de montaria...  — falo depois de limpar a garganta. Preciso falar alguma coisa para não parecer uma estranha que fica comparando abdomens alheios com tabletes de chocolate.  

— Ah, isso? — ele aponta para uma prateleira alta.

— É...

Droga de altura! Esta prateleira é muito alta para mim.

— Será que você poderia...

Leon sorri e apanha o par de botas para mim.  O movimento realça suas costas. E que belas costas... Chega destes pensamentos inoportunos. Por que não consigo controlá-los? O que há de errado comigo hoje?

— Obrigada — pego o calçado. 

— Disponha.

Por que nós temos que dividir o closet/loja de roupa? Nossos quartos se comunicam por ele. E por que Leon tinha que vir aqui nestes trajes, ou melhor, falta de trajes, justamente agora?

— Você está indo para o clube de hipismo? — ele pergunta.

— É...

— Hum... também estou indo para lá...

— Legal.

“Legal”? Que raios estou falando?

Ei, não me culpem, tem um cara seminu em minha frente, sabia? E isso pode ser embaraçoso. Por que nunca se abre um buraco em nossa frente quando precisamos de um?

— Nós vemos depois... obrigada pelo par de botas — digo, enquanto saio do closet.

Hoje, com certeza, não é meu dia de sorte. Certo, como se eu tivesse um dia de sorte...

— Emma? — Sebastian me chama.

— Estou indo — falo, enquanto abro a porta do meu quarto. — Por que colocam as botas de montaria em um lugar tão alto? — resmungo.

— O quê foi? — indaga o gentil Sebastian.

— Nada... só não entendo certas coisas.

Ele sorri.  

— Vamos. Está quase na hora de sua aula.

— É, mais uma aula. Ultimamente, estou tendo muitas aulas!

— Deveres reais.

— Claro, deveres reais! — utilizo muita ironia. — Pelo menos, semana que vem, volto à faculdade! — digo, cheia de entusiasmo.

Meu guarda-costa solta uma risadinha.

— Você é a única pessoa que conheço que fica feliz  em voltar as aulas.

— Ei, eu não gosto de todas as aulas. Apenas as aulas da faculdade! — faço questão de ressaltar.

— Certo — ele sorri, formando covinhas adoráveis em sua bochecha.

Assim que chegamos ao carro, avisto Leon vindo em nossa direção com seus guarda-costas. Me recordo daquele infame: “Nós vemos depois... obrigada pelo par de botas” e de coisas das quais não gostaria de lembrar. Entro imediatamente no carro. Hoje não é meu dia.

Leon se instala ao meu lado. Há uma certa distância entre nós, e não estamos sozinhos, Sebastian e o motorista também estão aqui. Mas mesmo assim... depois de certa cena, ter um encontro com Sua Alteza Real não é a melhor coisa do mundo. Abro minha bolsa e pego um livro, Os miseráveis – Volume III. Livros são os únicos amigos com os quais você pode contar sempre. Ele coloca os fones de ouvido e fecha os olhos.

Passo o trajeto inteiro lendo, que desta vez foi curto, apenas li duas páginas e meia. Pensei que era mais longo... Certo, eu passei parte do tempo relendo o mesmo parágrafo. Mas, isso foi porque achei o parágrafo muito complexo e precisava lê-lo várias vezes para entender a profundidade das palavras. Não tem nada a ver com certos pensamentos e a presença de um certo príncipe, que fique registrado. 

Saio do carro e nem espero por Leon. Vou para o vestiário e visto minha roupa para a aula de equitação.

Minha instrutora, Helga, é uma daquelas mulheres que você nunca sabe a idade, tanto pode ter 30, quanto 40 ou 50 anos. Alta, bastante magra, com os cabelos curtos pintados de um vermelho intenso. Ela tem um ar meio rude. No entanto, é uma pessoa legal, percebo logo. Pelo menos, ela não fica me passando inúmeras orientações como uma Daphné da vida.

Estou montando uma égua com um reluzente pelo marrom, um animal forte e bonito. 

— Morango é uma égua muito doce — garante Helga.

— Verdade? — falo, tentando me equilibrar no animal. Montar não é tão fácil assim.

— O príncipe Leon a escolheu especialmente para você...

— O Leon escolheu para mim? — não posso evitar o espanto em minha voz. Será que os fins dos tempos estão próximos?

— É — diz, segurando as rédeas da égua. — Ontem, ele veio aqui para escolher um animal para você. Morango é a melhor para alguém que está aprendendo a montar.

Acaricio a pelagem macia e brilhante da égua.

— O príncipe Leon é um dos melhores cavaleiros de nosso clube e entente muito de cavalos — completa ela.

Helga dá um pequeno tapinha na égua.

Leon, às vezes, me surpreende, com certeza, não esperava que ele escolhesse pessoalmente um cavalo para mim. Não mesmo. Estou desconfiada que o príncipe anda ficando maluco, igual ao avô dele. Talvez, minha teoria de que a loucura esteja nos genes da família real seja certa. 

A aula passa rapidamente. Helga até permite que eu dê um pouco de comida para Morango.

— É um belo animal! — diz alguém atrás de mim.

Me volto e encontro o belíssimo Francis. A única vez que nos encontramos foi em meu casamento há quatro dias.

— É — apanho uma cenoura e dou para Morango.

Francis se aproxima e acaricia o animal.

— Este é um dos animais favoritos de Leon. Ele não costuma dividir seus cavalos com ninguém...

— Mesmo? — olho para Morango.

Francis assente.

— Leon desde garotinho é assim. Um tanto egoísta com as coisas que gosta — sorri. 

Os genes da família real são de uma ótima qualidade. Que qualidade!

— Como vai, Emma? — indaga.

— Eu estou bem...

Ele me olha, ou melhor, lança um daqueles olhares analíticos.

— O palácio é um lugar... um tanto difícil. Nem mesmo quem vive lá por anos consegue se acostumar totalmente — ele continua a acariciar Morango.

Francis como príncipe herdeiro deve sofrer ainda mais pressão. Nos últimos meses, tenho descoberto o quanto a vida de um membro da realeza não é tão cor de rosa assim como a mídia gostar de pintar.

Ele ainda conversa mais alguns minutinhos comigo. O príncipe herdeiro é bem diferente dos irmãos. Não tem o mesmo jeito petulante e irritante de Leon, nem a mesma energia arrebatadora do furacão Charlie. Ele é calmo e gentil, alguém com quem você gostaria de passar horas e horas conversando. Inteligente, sensível... a lista de qualidades dele é interminável. Por que os irmãos são tão diferentes?

Vou para o vestiário, trocar de roupa. Me tranco em uma das cabines. Tomo uma ducha rápida e troco de roupa, já estou quase terminando, quando percebo que não sou a única no vestiário. Ouço vozes, bem familiares. Lyane e Muriel, reconheço imediatamente. Eu nem sabia que elas estavam aqui. Parece que todo mundo resolveu vir ao clube de hipismo hoje.

Coloco a mão na maçaneta para sair. Porém, hesito. Depois que descobri sobre Lyane e Leon, é difícil encará-la. Sei que não sou culpada pelo o que ocorreu. Mas, fico imaginando se fosse eu ali. Repentinamente, tenho que romper com meu namorado porque ele vai se casar com uma completa desconhecida. Por isso, é um tanto difícil falar com Lyane. Porém, tenho que fazer isso, respiro fundo e... retiro a mão da maçaneta imediatamente, porque o assunto que elas estão conversando diz respeito a minha pessoa, e seria constrangedor se eu aparecesse neste momento. Constrangedor o suficiente para eu cavar um buraco em minha frente.

— O que a família real e Leon estão fazendo com você é uma injustiça! — diz Muriel, indignada.

— Você sabe que a culpa não é dele — objeta Lyane. — Leon apenas...  quis me proteger.

— Proteger? Você chama isso de proteger, Lyane? Ele se casou com outra! E agora sai como o príncipe encantado da história. Todo mundo o ama. E você... olha, pelo que você está passando, Lyane! Você está sofrendo! — Muriel fala, exaltada.

— Não... eu não...

— Eu te conheço, Lyane, você é minha melhor amiga, mais do que minha melhor amiga, você é minha irmã! Não minta para mim.

— Muriel, já conversamos sobre isso. O que eu e Leon tínhamos terminou. Eu vou seguir em frente. Eu estou seguindo em frente.

— Mesmo? — duvida Muriel. — Então, por que eu vejo você triste deste jeito?

— Eu só preciso de um tempo, só isso... Mas, eu vou seguir em frente... — silêncio.

Ouço passos se afastarem. Desejaria não ter escutado esta conversa.

A culpa não é minha. Sei disso. Porém, não posso deixar de me comparar a garota má da história, a irmã da Cinderela, que separa o príncipe da princesa. Isto aqui realmente não é um conto de fadas. 

Saio do vestiário após me certificar de que não há mais ninguém por perto. Entretanto, a conversa que presenciei não sai da minha mente.

E por que esta história toda de proteção? Leon também mencionou isso de proteger? O que Lyane fez de errado? Ou quem quer fazer alguma coisa com ela? Por que este mundo é tão cheio de regras e de proibições? Por que eu vim parar nele?

Não noto quando me aproximei de Leon. Inesperadamente, me vejo diante dele. Ele me olha, deve estar tentando compreender o que estou fazendo aqui, eu também gostaria de saber.

— Sua aula já terminou? — indaga, segurando a rédea de seu cavalo.

— É, terminou — respondo evasivamente. — Obrigada pela égua...

— Gostou dela?

— Ela é bonita e doce.

Observo-o acariciar o cavalo. Leon também deve estar sofrendo com tudo isso. A cena que presenciei na festa é a prova disso. Apesar de tudo, um coração deve bater naquele peito.

— O que foi? — ele me olha, curioso.

— Nada... — me aproximo e deslizo minha mão pela macia pelagem negra do cavalo. Faço isso para desviar minha atenção de certo assunto. — Seu cavalo é bonito.

— Rui não é tão doce quanto Morango, mas ele é um bom cavalo. Foi um presente de Francis no meu aniversário de 13 anos.

Continuo a acariciar a pelagem de Rui. Ficamos calados por alguns instantes.

Caminhamos até o estábulo. Leon pede para um dos empregados guardar seu cavalo e eu fico observando os outros animais. Me entretenho com uma bela égua de brilhante pelo caramelo.

— Ei... — Leon se aproxima de mim. — Por que meu traseiro ainda não recebeu nenhuma ameaça hoje? — seus olhos me analisam. — Você nem quis aplicar nenhum golpe que aprendeu com aquela sua heroína Buffy... Já sei o que está acontecendo... — um sorrisinho malicioso surge no canto de seus lábios. — Isso é efeito do meu... — a frase fica suspensa em sua boca, repleta de sugestão

— O quê?

— Pode admitir!

— O que eu tenho que admitir? — indago, sem saber ao certo onde ele quer chegar com essa conversa.

Leon cruza os braços e continua a me lançar um olhar extremamente sugestivo. Sugestivo demais. 

— Não! Você não está insinuando que eu... —  falo, indignada.

— Que você o quê? — provoca. 

— Que eu... esteva pensando naquilo que vi de manhã.

— Meu Deus, Emma! — finge estar em choque. — Que pensamentos são esses?! Não esperava de você tantos pensamentos impuros! Tsc, tsc! 

Ah, não, maldito príncipe! Sinto meu rosto fervendo de raiva e embaraço. Ele sabe levar a provocação a outro nível. 

— Te entendo. Fazer o que se nasci assim?

— Seu... — não encontro a palavra adequada para usar neste momento. — Você fez de propósito!

— O que fiz de propósito? — diz com uma voz inocente.

— Você sabe muito bem!

— Não. Juro que não sei — continua a bancar o inocente.

— Argh! — resmungo. — Para de se fingir de sonso!

— Eu disse que não sei — continua a provocar. — Diga, Emma, o que eu fiz? — fala isso com um sorriso entre diabólico e angelical. O lado negro e o lado da luz da força convivem perfeitamente nele. 

— Você sabe, sim!

— Diga, Emma — seu tom é malicioso e provocante.

— Aparecer diante de mim portanto trajes indecentes! 

Ele ri. Droga, cai, novamente, em sua provocação.

— Trajes indecentes? — arqueia a sobrancelha, divertido. — Hum... E você gostou de apreciar uma bela visão pela manhã. Aposto que ficou querendo mais. Talvez, na próxima vez, eu deva aparecer... sem qualquer traje indecente.

A frase de duplo sentido me pega de jeito, sinto minha cara ficar ainda  mais quente, devo estar mais vermelha que o vestido da Lyanne, e também estou sem palavras. 

— Problemas, jovem casal? — Francis se aproxima de nós e dá um tapinha nas costas de Leon. Sinto alívio por sua chegada. Aquela conversa foi longe demais. — Ouvi dizer que você tem uma ótima técnica para calar meu irmão, Emma. 

— Ei! — protesta Leon.

— Continue assim — sorri. — Meu irmãozinho precisa de alguns belos chutes no traseiro — diz baixinho como se fosse um segredo, colocando a mão em concha na boca.

Leon lhe dá uma cotovelada, que Francis revida com uma chave de pescoço. Retiro o que disse sobre Francis ser calmo. No final de tudo, estes dois ainda são irmãos.

— Você está precisando de forças, irmãozinho — diz Francis, segurando Leon, sem que este possa se soltar, apesar do esforço. — Vamos almoçar!

Francis praticamente arrasta o irmão, que não consegue se livrar da chave de pescoço. Já disse que gosto cada vez mais do príncipe herdeiro?

Nosso almoço é agradável, por causa de Francis. Ele nos conta história de suas viagens. No entanto, a refeição é interrompida por uma chamada feita a Leon. Ele vai atender ao celular e volta, depois de dois minutos, todo resmungão.

— Temos que ir — diz, olhando para mim.

— O que foi?

— Mudança de planos. Vamos, estão nos esperando no palácio.

Me despeço do gentil Francis e acompanho Leon.

— O que aconteceu?

— Temos uma nova missão.

— Missão? Que missão?

— Sermos um casal feliz.

Franzo o cenho, esperando por uma explicação.

— Arquitetaram um jantar romântico para nós — responde.

Jantar romântico? Jura? Com este aí? Emma Jones é uma garota ferrada.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Emma passando sempre por momentos vergonhosos que incluem Leon rsrsrs, a saga continua rsrsrsrs