Sobre Príncipes e Princesas escrita por Hanna Martins


Capítulo 11
Sobre heroínas e heróis


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a linda da Hope Warner que presenteou a história com uma recomendação maravilhosa, que me deixou com um sorriso imenso aqui e cheia de ânimo para terminar de escrever o capítulo! Obrigada, Hope!



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— Emma? — os olhos de Leon não saem de mim.

Abro a porta de vidro, que dá acesso a piscina, e caminho até ela, sem olhar uma única vez para ele. Sento-me na borda da piscina e retiro as sandálias. Meus pés sentem uma imensa gratidão.

— Bem melhor, pensei que elas seriam confortáveis, mas elas me enganaram, não são lá muito confortáveis.

Mergulho meus pés na imensidão azul. A água não está fria, está morna, perfeita. A piscina deve ter algum aquecedor ou coisa do gênero.

Leon senta-se ao meu lado na borda da piscina.

Balanço meus pés na água. Ele bebe uma bebida, o mesmo tipo de drink que Will me deu. Aliás, ainda estou com o drink de Will intocado em minhas mãos.

Ficamos assim por um longo tempo, talvez sejam apenas alguns minutos, mas tenho a impressão que foi longo.

O teto é de vidro, por isso consigo observar o céu com exatidão. Observo as estrelas por um bom tempo. Sempre impassíveis, as estrelas não se preocupam com os problemas da Terra. Presumo que ser uma estrela seja bom. Nenhum um problema com o qual se incomodar.  

— O que você ouviu? — pergunta Leon, acabando com nosso silêncio.

— Nada...

— Emma! O que você ouviu? — insiste.

Observo meus pés brincarem na água.

— Você e Lyane... — lanço um furtivo olhar para Leon. — Vocês estão juntos?

— Não — ele me olha. Realmente estamos muito próximos, nossos corpos quase podem se tocar. Consigo até sentir seu aroma. Um toque cítrico, muito bom...  — Quer dizer, não mais. Como eu poderia estar com ela, casado?

Leon também retira os sapatos e coloca os pés na água. Ele parece um tanto abatido, me dou conta.

— Não seria justo com ninguém... — ele continua. — Eu e ela nunca poderemos estar juntos. Nunca. O que tínhamos acabou — suas palavras soam calmas, resignadas até. 

— Então, por que você não se casou com ela?

Os incríveis olhos verdes dele voltam-se para mim.  

— Porque eu não posso — responde em um sussurro.

— Por quê? — indago, olhando em seus olhos.

— Porque não posso — sua voz é baixinha e não me soa arrogante, mas a de um garoto que está sem saída, quase um apelo.

— Eu não poderia me opor a este casamento... Você sabe... sou uma plebeia, uma plebeia sem força alguma — falo. — Se eu não aceitasse... a família real tem seus meios para me fazer aceitar...

— É claro, a família real sempre consegue o quer, seja com presentes ou... ameaças em forma de presentes... Acontece que sou mais fraco do que você imagina. E para proteger aquilo que você gosta, às vezes, é preciso renunciar.

Novamente, ficamos em silêncio por algum tempo. Continuo a balançar meus pés na água.

— É engraçado... — digo.

— O quê?

— Isso... as pessoas podem acreditar que isso é um conto de fadas, plebeia se casa com um príncipe e coisa e tal. Mas não é verdade, isto está muito longe de ser um conto de fadas... Não há um belo príncipe que salva a princesa.

— Ei, eu sou um belo príncipe...

Olho para ele e rio. Leon, às vezes, pode falar coisas engraçadas em situações tensas.

— Ei, não seja tão narcisista! — o repreendo.

Ele ri também.

— Eu sou um belo príncipe. Você não pode negar isso. Até fui escolhido como o príncipe mais belo da atualidade.

— Você ficou empatado com Francis! — faço questão de ressaltar.

— Isso foi há dois anos, eu ainda era um adolescente de 16 anos... melhorei muito deste então.

Arqueio minha sobrancelha e o analiso.

— Não parece...

— Olhe para mim! — ele aproxima seu rosto do meu. Aproxima demasiadamente. — Perfeição! Séculos e séculos de bons genes!

— Aham.

Ele se aproxima ainda mais. Como se fosse possível ficar ainda mais perto.

— Você!

Sem pensar duas vezes, o empurro na piscina.

— Ei! — ele protesta.

Solto uma grande gargalhada. No entanto, minha gargalhada não dura muito tempo. As mãos fortes de Leon envolvem minha cintura e vou parar na água também. 

— Leon!

Uma gargalhada explode. Quando ele ri seu rosto fica muito jovem, como um de garotinho travesso.  

— Você vai pagar por isso!

Jogo água nele. Leon revida, jogando água em mim. E eu jogo mais água.

Nossa brincadeirinha se prolonga por bastante tempo. Somos dois teimosos e orgulhosos, não admitimos derrota.

—Trégua — pede ele com as mãos cobrindo seu rosto. — Se você parar, eu paro!

— Mas, você não ganhou — enfatizo.

— Você também não — me preparo para jogar outra porção de água nele. — Empatamos, ok?

Saio da piscina e me sento em uma das esteiras. Estou toda molhada, exausta e com frio.

Leon me estende algumas toalhas. Toalhas quentinhas e macias. Me enxugo e depois me embrulho em uma delas. Me estico na esteira e olho para o céu.

Ele deita-se na esteira que fica ao meu lado, também embrulhado em uma toalha. Uma pequena distância nos separa. Leon vira-se para meu lado. E eu acabo virando para o lado dele. Seus olhos estão nos meus.

— Você não deveria ter sido jogada no meio disso — diz baixinho.

— Eu sei. Sou quase como Buffy sendo obrigada a ser uma caçadora de vampiro, só que no meu caso não são vampiros...

— Buffy, que Buffy? — pergunta, enquanto faz uma expressão pensativa.

Como assim ele não conhece Buffy?!

— Você nunca assistiu Buffy, a caça-vampiros? De que planeta você veio? — arqueio a sobrancelha. — Buffy, a caça-vampiros é a melhor série de TV que existe! Buffy é a melhor chutadora de traseiros vampiresco do mundo!

— Chutadora de traseiros? Acho que sei porque você gosta dela — aponta o dedo indicador para mim.

— Claro, ninguém chuta um traseiro melhor do que ela. Buffy é minha heroína! Aprendi ótimas técnicas com ela. 

Leon me lança um olhar meio indignado, meio acusatório e meio “ah, te peguei!”.

— Vai dizer que não tem nenhum herói predileto, não?

— Bem... veja bem... — passa a mão pelos seus bastos cabelos que agora estão molhados.

— Anda, quero saber qual é?

Ele me olha por meio segundo, noto certa dúvida passando por seus olhos.

— Não... não tenho nenhum herói...

Cruzo meus braços e o encaro, lançando meu melhor olhar: “hum, é mesmo?”.

— Verdade, não tenho! Não me olhe assim!

— Assim como? — continuo o olhando.

— Você sabe irritar, sabia?

Continuo o encarando. É até bom perturbar o príncipe. Ah, quem estou tentando enganar? É muito bom perturbar o príncipe. Muito bom mesmo. Recomendo fortemente.

— Leon, qual seu herói predileto? — pergunto como se estivesse cantando.

Ele cruza os braços, e fica em silêncio e eu resolvo o perturbar mais um pouquinho. Me levanto da minha esteira e vou até a dele, na verdade, eu dou apenas um pequeno passo até chegar lá.

— O que você...

Sorrio, me curvo sobre ele e sussurro em seu ouvido, ou melhor, canto em seu ouvido com uma voz terrivelmente desafinada:

— Qual seu herói predileto?

Ele não sabe que também posso o superar quando quero no quesito irritação.

— Você! Pare com isso! — tenta se defender de meu ataque maléfico colocando as mãos nos ouvidos. Isso não me perturba e só me faz cantar ainda mais alto e ainda mais desafinado.

— Emma!

Leon utilizando um golpe muito rápido, eu nem sei como isso foi acontecer, me prende em seus braços. Me vejo, repentinamente, deitada na esteira ao seu lado. Muito perto, aliás.  No entanto, não me deixo intimidar e continuo a cantar. Ele tapa minha boca com a mão. Revido fazendo cosquinhas nele. E... ora esta, ele está se retorcendo todo.

Eu descobri seu ponto fraco, cosquinha. Revido com mais cosquinhas. Quem é que vai ganhar esta batalha agora? Quem?

No entanto, repentinamente, estou imobilizada. Leon me segura fortemente contra seu corpo. Seus braços e pernas estão me enlaçando. A única parte do que meu corpo que está livre é minha cabeça.

Olho para ele, que lança um sorriso vitorioso.

Mas, eu ainda tenho uma arma, abro minha boca e solto a cantoria. Ele tenta tapar minha boca, o que me deixa meio livre, e dá-lhe cosquinhas, portanto. A cena se repete por mais umas duas vezes. Se Leon tenta tapar minha boca, eu o torturo com cosquinhas, se ele tenta me impedir de lhe aplicar o velho golpe das cosquinhas, revido com minha cantoria.

— Certo... — ele respira ofegante com todo este esforço de tentar me conter. — Vou te soltar...

Neste momento, me encontro totalmente envolvida pelo corpo de Leon. Sou quase um enroladinho de salsicha.

— Você vai me dizer quem é seu herói? — pergunto, enquanto ele começa a retirar seus membros de cima de mim.

— Já disse que eu não...

— Ah, é assim?

Ataco com todas as minhas forças. Mais cosquinhas. Muitas cosquinhas. Desta vez, ele tem mais dificuldade para me conter.

Oh, sim, somos duas pessoas muito maduras! Resolvemos as coisas de maneira totalmente civilizada.

Quando me vejo novamente envolvida por seu corpo, abro minha boca e início a cantoria. Porém, não vou muito longe. Minha garganta está completamente seca. Um verdadeiro deserto do Saara. Aliás, mais seca do que o deserto do Saara, lá eles têm oásis, e eu, nem isso.

Um imenso sorriso surge no rosto de Leon.

— Me solta!

— Para que? Você vai tentar me fazer cosquinhas...

— Não, não vou não! — tento parecer inocente.

— Claro. Não estou muito certo disso.

— Argh! — expresso minha frustração tentando me movimentar. Mas, é inútil.

A situação começa a me soar um tanto... perturbadora. O corpo dele envolve completamente o meu. Seus braços fortes, suas pernas muito longas... Seu aroma, que nem a água consegue levar... O calor do seu corpo... Eu sou uma garota de 18 anos, tenho olhos, tato, olfato... e Leon... ninguém pode negar que o príncipe é um verdadeiro deus grego descido do monte Olimpo para tentar as meras mortais... Não, eu não pensei isso (cadê a tecla delete do cérebro, quando mais precisamos? Ela está lá na prova de matemática, mas não está quando mais você precisa dela). Certo. Vamos fingir que não pensei isso, ok? (Trato feito?).

— Me solta! — exclamo já em um tom que não está para brincadeiras.   

— Ok.

Leon finalmente me solta e eu me levanto imediatamente da esteira dele. Volto para a minha. Me deito na esteira, me embrulhando novamente na toalha.

— Então, você não vai... — ele começa.

— Não, não vou mais te perturbar... pelo menos por enquanto... — sorrio.

Leon bufa, o que só faz meu sorriso aumentar. Olho para as estrelas, que continuam impassíveis nos observando. 

— Mais cedo... — digo depois de um tempo, me virando em a direção de Leon. — Você e Lyane estavam discutindo...

— É, estávamos... — ele diz baixinho, voltando-se para mim. — Não foi nada... Estamos tentando seguir em frente, mas, ainda temos algumas coisas que acertar... ser amigo da sua ex-namorada não é uma tarefa tão fácil assim...

Balanço a cabeça, já que não sei o que fazer, o que falar. Volto minha atenção para as estrelas.

— Sinto que... isso é estranho... mas, sei lá, é como se eu fosse a garota má da história, aquela que se intrometeu no meio de uma história de amor... — ele não diz nada. — Claro que não foi intencionalmente... sabe, eu não teria escolhido você como marido... você é... um cara que não.. se encaixa muito bem no perfil de um marido  — o que estou falando? Cala a boca, Emma! — Não estou afirmando que você não é um cara legal... — sabe quando você está dizendo besteira e vê isso, mas mesmo assim continua, tentando consertar a idiotice que acabou de falar e só piora tudo? Então, esta é a minha situação neste exato instante. — Você... bem lá fundo deve ser um cara legal... Não que eu ache... — ai, a coisa só piora, cala a maldita boca, Emma!

Se um buraco se abrisse agora em minha frente e me engolisse, eu ficaria feliz.

Me volto para Leon e solto um suspiro de alívio (e quase soltos fogos de artifício junto), ele está dormindo.

Sua expressão é tão serena. Realmente, ele é bom em enganar as pessoas. Até dormindo, consegue ludibriar. 

Volto novamente meu olhar para as estrelas. Estou cansada. Minhas pálpebras, sem o meu comando, se fecham.

Uma luz forte e a voz de alguém ao fundo fazem eu sair do mundo dos sonhos.

— Não acorde eles! Vou tirar uma foto antes — essa voz...

— Charlotte, pensa que não sei que seu celular está cheio de fotos deles? Eu vi você as tirando!

— Bash, larga de ser chato!

Abro os olhos e me ergo rapidamente da esteira.

— Ah, você acordou — diz uma inocente Charlie.

Olho para meu lado e vejo Leon acordando, ou melhor, ele tenta.

Charlie sorri maliciosamente. E Bash nos olha, tentando compreender a cena.

Que maneira mais sensacional de acordar.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Até que neste capítulo estes dois não se provocaram tanto, né? rsrsrs E Emma teve alguns momentos... embaraçosos nesta noite rsrsrs