O Legado de Pontmerci escrita por Ana Barbieri


Capítulo 5
Olhos Negros


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura! Nos vemos lá em baixo...



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Capítulo 5

            Ao passo que viravam à esquina de Baker Street, a senhora Holmes se sentia cada vez menos como a famosa esposa do pomposo detetive e cada vez mais como a pobre jovem órfã desafortunada e sem família que batera àquela porta dez anos antes. Caminhava em uma espécie de modo automático em direção a sua porta, seus filhos em seu encalço, sem dizer uma única palavra. Sendo filhos de seus pais, John e Violet sabiam reconhecer os vários estados de humor de seus progenitores. Havia ocasiões em que, apenas ao adentrar um cômodo que estivessem dividindo, saberiam dizer se estiveram discutindo ou se estavam de bem.

            Sua mãe costumava se irritar com o mais variado conjunto de aspectos em relação ao seu pai que mesmo os gêmeos eram capazes de entender. E o estado de seus nervos durante aqueles períodos de irritação não era tão palpável quanto a raiva que parecia sentir naquele momento. Anne não costumava permanecer silenciosa durante uma caminhada de volta para casa, ainda mais depois de ter sido inquestionavelmente desobedecida por John. O habitual seria um sermão tão fervoroso quanto o de um clérigo pelo percurso inteiro; sem se importar com os ouvintes excepcionais.

            Já na porta, Violet e o irmão tiveram um entendimento silencioso e rumaram direto para as escadas, sem esperar que a mãe sequer abrisse a porta. A senhora Holmes passou pelo portal, apenas para tornar a bater a porta atrás de si, postando-se contra ela do lado de fora. “Eu sinto muito...” Josephine de Pontmerci poderia sentir o quanto quisesse, mas a clamada sobrinha não seria capaz de retribuir qualquer sentimento que não a raiva e a indignação. Há muitos anos, o passado de seu marido fora quem batera a sua porta e trazia consigo a imagem deturpada de Irene Norton née Adler. As consequências, o quão sofridas foram, apenas Anne seria capaz de dizer.

            Um dos lados positivos de seu casamento, a seu ver, fora a inexistência de contas a serem prestadas por qualquer uma das partes. Ela não precisara da aprovação dos pais de Sherlock e nem ele precisara da aprovação dos dela; muito embora já a tivesse, pois que sua guarda fora oferecida a ele uma vez que seus pais tivessem morrido, e tal condição só fora revelada a ela muito depois de seu casamento. O fato era que, não obstante a presença de Mycroft, ambos poderiam se considerar dois “sem-família” capazes de tomar as próprias decisões e se casarem por amor. Desejara que fosse diferente nos primeiros três meses desde o falecimento de Vladmir e Susanna. Que houvesse alguém com quem compartilhasse laços de sangue para confortá-la... No entanto, a senhora Hudson e John Watson haviam desempenhado tão bem o papel de anjos da guarda, fazendo-a se sentir tão querida e necessária, que ela não vira mais necessidade.

            E então, com o casamento, foi como se toda aquele período turvo não passasse de uma reles lembrança que ocasionalmente ressurgiria para assombrá-la. Não ocorrera, porém, até a chegada daquela mulher. Mirara-a várias vezes e não encontrara nenhum traço de sua mãe ali. Susanna fora austera, mas não da mesma maneira que Madam de Pontmerci. Não conseguia imaginar aquela fabulosa mulher, com suas peles e joias, envolvendo-a nos braços e depositando vários beijinhos em sua fronte como Susanna costumava fazer quando Anne tinha cinco anos. Era impossível que fosse sua parenta. Anne tinha um coração. Aquela grande dama? Quem saberia dizer?

            ─ Senhora Holmes? – chamou a voz meiga e conhecida de Martha Hudson, tocando seu ombro com carinho. Virando-se para encará-la, surpresa, deu-se conta de que havia chorado durante seus devaneios.

            ─ Oh, senhora Hudson. – respondeu fungando. – Onde estava? – indagou ao vê-la usando seu chapéu.

            ─ O senhor Holmes me mandou ir verificar os últimos anúncios de emprego que foram feitos nos últimos dias. – respondeu a senhoria, abrindo a porta para que ambas entrassem.

            ─ Anúncios de emprego? – repetiu Anne, secando seus olhos com as pontas dos dedos.

            ─ Sim, pedi que me fizessem uma cópia, poderia...? – falou a velha, entregando-lhe um pedaço de papel. – Está tudo bem, querida?

            ─ Está, senhora Hudson, eu lhe asseguro. Nada digno de alarme. – assegurou-lhe a senhora Holmes num tom de voz confiante. Convencida ou não, a senhoria acenou positivamente com a cabeça e saiu para seus aposentos para retirar o chapéu.

            Fazendo o mesmo, Anne começou a subir as escadas para seu apartamento. Tudo estava demasiado silencioso, até que a conhecida melodia de “Olhos Negros”, uma conhecida canção folclórica russa e sua favorita, preencheu o corredor até o 221-B. O som do violino de seu marido acertou-a em cheio e fê-la parar no meio do caminho, enquanto ouvia a suave voz de barítono entoando os primeiros versos da canção. Sherlock nunca cantava ao tocar, a não ser que Violet lhe pedisse. E aquela música em particular fora a que ambas as crianças escutaram durante seus primeiros anos de vida antes de dormir, desde que os pais descobriram como era capaz de acalmá-los e fazê-los pregarem os olhos por uma noite inteira.

            ─ Olhos negros teus, são dois sóis para mim. – cantarolou Anne baixinho postando-se bem perto da fresta da porta para observar a cena. Violet sentada em sua poltrona. Seu marido de pé entretendo-a e Nikolai sorrindo de lado.

            ─ Sempre junto aos meus, sem ter fim. – concluiu Holmes, tocando as últimas notas. Só então sua esposa revelou sua presença, abrindo a porta e postando-se sob o vão. Outra vez os gêmeos se entreolharam e saíram sem dizer uma palavra, porém John tocou levemente o cotovelo de seu pai antes de deixar o cômodo. Sherlock limitou-se a guardar o instrumento de volta na caixa, enquanto sua esposa observava-os subindo as escadas.

            ─ É bom chegar em casa e encontrar um pouco de normalidade. – confidenciou ela quando ficaram sozinhos, fechando a porta atrás de si.

            ─ Eu pensei que nunca viveria para ver o dia em que você usaria a palavra normalidade para nos descrever. – comentou Sherlock, sorrindo de lado. – Está amolecendo, Bergerac? – indagou terminando de fechar a caixa, virando-se para encará-la ainda com o sorriso intacto.

            ─ Quem sabe eu não esteja. – concordou com um simples dar de ombros. – No entanto, se estiver, você também não poderá ser totalmente inocentado de não fazer o mesmo, mon detéctive pompeux. Houve um tempo em que eu duvidei quando John me contou sobre sua perfeita voz de barítono. Agora chego em casa e o vejo subindo e descendo tons para seus filhos. – acrescentou cruzando os braços.

            ─ Exato, Bergerac. – assentiu ele. – Eles são meus filhos.

            ─ E eu mereço menos consideração e acesso aos seus dons do que Violet e Nikolai? – indagou a senhora Holmes arqueando as sobrancelhas.

            ─ Au contraire, ouso dizer que tem acesso a mais dos meus dons do que eles. – rebateu ele, se aproximando dela com um sorriso malicioso.

            ─ Já tivemos essa conversa uma vez, querido. Não combina com você ser perverso. – rebateu ela, abraçando-o pela cintura.

            ─ No que concerne a você, Bergerac, eu me vejo no direito de decidir o que combina ou não comigo. – replicou Holmes, também com as mãos em sua cintura.

            Em qualquer outra ocasião, ela teria rebatido outra vez e acabado com o clima romântico e íntimo que seu marido raramente criava ao invés de investir num debate. Entretanto, ainda encontrava-se abalada pela conversa com Josephine, como tão fervorosamente fizera-a reavivar sua crença acerca do conceito de família; e ali estava a sua. Mirando-a de um jeito que Anne conhecia bem, com um sorriso indecente de superioridade e adoração que a divertia e encantava ao mesmo tempo. Talvez o último par de românticos em Londres.

            Na ponta dos pés, ela inclinou-se para beijá-lo de leve nos lábios, tomando-o num abraço saudoso em seguida. Depois de anos, parecia que o sentimento de perda e o vazio trazido pela morte de seus pais tornavam a invadi-la e, mais do que nunca, Sherlock Holmes era seu porto seguro.

            ─ Está tudo bem, Anne? – ele perguntou sem soltá-la.

            ─ Com licença, senhor Holmes. – interpôs a senhora Hudson, corando um pouco ao pensar que estava interrompendo. – Perdão, mas, há um jovem aqui para vê-lo.

            ─ Mande-o entrar, senhora Hudson. – respondeu Sherlock ainda com as mãos na cintura da esposa.

            ─ Conto mais tarde. – murmurou, recebendo um aperto carinhoso em sua mão em retorno, enquanto a senhora Hudson conduzia o visitante para dentro da sala.

            ─ Bom dia, senhor Holmes e, ahn, senhora Holmes, creio. – adiantou-se o cavalheiro de sotaque francês carregado, correndo para apertar a mão de Holmes. – Meu nome é Louis de Pontmerci. – apresentou-se.

            ─ De fato, já tivemos o prazer de falar com a distinta senhora sua mãe. – comentou o detetive, fazendo sinal para que o homem se sentasse.

            ─ Mon dieu, então o gerente do hotel estava certo em mandar-me vir vê-lo, senhor. – disse Louis, soltando um suspiro aliviado. – Com que então ela passou por aqui? Meu caro senhor Holmes, sabe me dizer onde pode ter ido após essa visita? Ela não está no Hotel e me vejo incapaz de contatá-la no presente momento.

            ─ Acabei de deixá-la no St. James Park. – respondeu Anne, recebendo um discreto olhar de soslaio do marido. – Ela deverá estar de volta ao hotel dentro de alguns minutos. – acrescentou tentando acalmá-lo.

            ─ St. James Park?! – exasperou-se Louis, como se ideia lhe parecesse bastante absurda. – Muito estranho. Quando saí esta manhã, ela me disse que visitaria um amigo. – explicou lançando um olhar desconfiado para a senhora Holmes.

            ─ Permita-me, senhor de Pontmerci. – interrompeu Sherlock. – De fato, sua mãe visitou um amigo esta manhã. Meu irmão, Mycroft Holmes, e que a trouxe até mim logo em seguida para que me colocasse a par da sua peculiar situação. – elucidou ele. Louis respirou fundo, passando a mão pelos cabelos perfeitamente penteados num gesto que deveria conter sua frustração. Em seguida, ergueu o olhar para o casal Holmes, seus olhos estavam fundos como se não tivesse dormido há dias.

            ─ Queira me perdoar, senhor Holmes, senhora Holmes. – começou ele, girando a cartola entre as mãos. – Vim aqui apenas na intenção de descobrir sobre o paradeiro de minha mãe, mas vejo que estão bem mais inteirados do que isso. Devo presumir que ela tenha lhes contado tudo?

            ─ Todo o motivo que os trouxe até aqui. – confirmou Sherlock, com um polido aceno positivo de cabeça. – No entanto, - continuou ele jogando seu corpo para frente na poltrona – eu também ficaria bastante satisfeito se me contasse como correu a sua audiência com Charles Milverton.

            Louis arqueou as sobrancelhas mais uma vez, mais uma vez desconfiado. Olhava de Holmes para Anne como se um dos dois fosse começar a rir dele e dizer-lhe que tudo não passava de um grande jogo de ilusões. O pomposo detetive continha sua risada. Há muito se esquecera como os marinheiros de primeira viagem reagiam às suas deduções. Ultimamente, sua fama se espalhara por toda a Londres e muitos de seus conterrâneos – para não dizer todos – já consideravam a demonstração de seus poderes um tipo de piada interna.

            ─ Devo presumir que nunca tenha ouvido falar de meu marido? – interpôs Anne, delicadamente.

            ─ Agora que paro para pensar, devo ter lido algo a respeito durante o sumiço do quadro de Mona Lisa. – refletiu o jovem de Pontmerci. – O governo enalteceu demasiadamente as suas habilidades investigativas, senhor. No entanto, nunca mencionaram a mim que também era propenso a adivinhas. – comentou ele, recebendo um olhar de censura da parte da senhora.

            ─ Meu marido nunca adivinha, senhor de Pontmerci. – disse ela, orgulhosa.

            ─ Como pode...?

            ─ Mantenho um arquivo bastante detalhado a respeito dos piores tipos a habitarem a Europa. – tornou a intervir Sherlock. – Charles Milverton entre eles. Assim sendo, sei que ele possui uma propriedade no campo, Appledore Towers, na qual costuma permanecer a maior parte do ano. Isso levado em consideração, observo que as pontas de seus sapatos encontram-se um pouco desgastadas e também um pouco manchadas; esse desgaste por vezes provém do contato do couro com areia grossa, usada nas entradas de propriedades campestres para delimitar a área lisa e a área gramada, danificando um belo par novinho em folha; perceba, Anne, o lustre dos cadarços ainda mal usados. Em resumo, o senhor acaba de chegar a Londres com um belo par novo de sapatos italianos e de repente eles já parecem menos lustrosos nas pontas e nas laterais – nada que uma boa ida a um sapateiro não ajeite – além disso, está com um dilema. Um chantagista ameaça o senhor e sua mãe. O que mais valeria o risco do dano do que fazer-lhe uma visita?

            Finalizado seu pequeno discurso, Holmes tornou a se recostar em sua cadeira, as pontas dos dedos unidas contra seu queixo. Anne reprimiu um risinho e mirou Louis, que permanecia num estado de estranha perplexidade, como se dissesse “eu lhe avisei”. Em alguns milésimos de segundo, o cavalheiro manteve-se em silêncio até soltar um riso abafado.

            ─ Agora entendo porque o convidaram para achar a pintura, senhor Holmes. – disse ele, sorrindo. – Impressionante. Minha mãe, suponho, não deve ter se impressionado... presumindo que esse seja um dom de família e ela já conhecesse seu irmão...? – indagou curioso.

            ─ De fato, seu semblante não sofreu qualquer alteração quando soube que ela era francesa antes mesmo que me contasse. – admitiu Sherlock, dando de ombros. Louis riu alto dessa vez e anuiu com a cabeça, como se já esperasse por aquela reação e finalmente baixou a guarda frente ao casal, também recostando-se no sofá em que sentara, cruzando as pernas.

            ─ Se tem um arquivo, eu imagino que deva suspeitar como a audiência correu. – disse com desdém. – Veja, senhor Holmes, eu sou católico, mas não sou um santo. Na posição que ocupo dentro do governo francês e na que deverei ocupar agora que... que meu pai se foi, bem, era de se esperar que conhecesse vários tipos. No entanto, nenhum dos chantagistas ou golpistas de mesa com os quais já tive o desprazer de cruzar demonstrou a frieza de sangue que vi hoje.

            ─ O senhor foi vê-lo para tentar chegar a um melhor acordo, imagino. – deduziu Holmes.

            ─ Exatamente. – assentiu Louis. – Também para traçar seu perfil. Como disse, senhor, não sou um santo. Apesar de sempre tentar agir da melhor forma possível para um cavalheiro da minha estirpe, possuo minha quota de jogos de mesa ganhos e perdidos. Parti da premissa de que, se você já viu um tipo de chantagista, já viu todos, quero dizer, a base da profissão é extrair o melhor benefício para si próprio. No caso de Milverton, achei que fosse simplesmente pelo dinheiro... e que qualquer valor acima do que um agiota geralmente recebe fosse satisfazê-lo. Ele não é um velho inimigo da família, nunca o vimos, mas ainda assim o prazer para ele parece ser mais do que apenas... limpar a mesa. Por mais que não tenha motivos pessoais para tal, ele quer nos ver sendo destruídos.

            ─ Algum tipo de jogo de poder com tendências masoquistas? – indagou Anne virando-se para encarar o marido. – Ele gosta de ver suas vítimas de quatro implorando pela sua misericórdia?

            ─ Senhora! – surpreendeu-se Louis com a escolha de palavras dela.

            ─ Já vi muitas coisas trabalhando lado a lado com meu marido, senhor. – retrucou a senhora Holmes com o semblante duro. – E se há algo que aprendi é que não é um crime ter um coração frio e nenhuma gota de compaixão. Os piores tipos se vestem de forma tão distinta quanto o senhor.

            A mão de Sherlock alcançou instintivamente a mão livre dela, segurando-a fortemente em forma de reafirmação. Pontmerci considerou o reflexo, vindo do cavalheiro silencioso, no mínimo, peculiar. No entanto, a esposa sorriu de lado e tornou a se recompor, os olhos mais brandos do que quando lhe dirigira a palavra. Mal sabia Louis que tais reflexos serviam-lhe de alento para vivências próprias de anos antes. Vivências relacionadas a sua quase morte e os dias que se seguiram, quando sentia-se incapaz de fechar os olhos para dormir sem sonhar que estava sendo enterrada viva outra vez.

            ─ Ele mencionou um prazo para receber a quantia combinada. – ponderou Sherlock, lançando um olhar indagador na direção de Louis. Este confirmou.

            ─ Uma semana.

            ─ Isto não nos dá muito tempo. – murmurou o detetive. – Bem, aconselho-o a aproveitar sua estadia em Londres nesse ínterim, se ele tentar contatá-lo, avise-me. Espero ter boas notícias na próxima segunda-feira. – disse, dispensando Pontmerci com seu tom.

            ─ Agradeço, senhor. Voltarei para o hotel agora e espero realmente que mamãe esteja lá. Tenham um bom dia. – despediu-se. Holmes esperou que ele virasse para descer as escadas e só então fechou a porta, voltando sua atenção mais uma vez para sua esposa.

            ─ Onde estávamos?

            ─ Em meio a uma crise de humor. – respondeu ela, sorrindo de lado. – E obrigada por intervir, antes que eu dissesse alguma coisa realmente rude... – acrescentou.

            ─ Sempre ao seu dispor, minha cara. – disse simplesmente. – Nunca a vi ser tão ácida na presença de um cliente. E, pelas recentes descobertas, creio tudo isso ter sido causado pelo encontro com Madam de Pontmerci no St. James Park. – completou ele, brandamente.

            ─ Acabei de ouvi-lo dizer que seu tempo está escasso. – cortou Anne. – Podemos falar sobre isso...

            ─ Eu sou capaz de reservar alguns minutos do meu escasso tempo para falar com a minha esposa. – rebateu Sherlock, sentando-se na poltrona de frente à dela.

            ─ Pois bem. Encontrei-me com Madam de Pontmerci e ela me revelou que seu nome é Josephine Bergerac de Pontmerci, e que, logo, é irmã de minha mãe. – respondeu Anne, calmamente, esperando pela reação de seu marido. Sherlock a fitava intensamente, sem dizer uma palavra por longos segundos.

            ─ Deveras! Isso é muito esclarecedor. – disse por fim, como se fosse tudo muito óbvio, o que fez com que a senhora Holmes solta-se uma risada nervosa.

            ─ Não me diga que...

            ─ Você também percebeu que algo nela lembrava Susanna, não negue. Pensar que eu notaria mais a semelhança de narizes e de orelhas e não você é absurdo. E a forma como saiu às pressas ao descobrir que seus pais estavam mortos... – pontuou Holmes.

            ─ Às vezes, eu gostaria que não fosse tão perspicaz. – retrucou Anne, levando as pontas dos dedos às têmporas, afoita por sentir que já ouvira as palavras “pais” e “mortos” o suficiente por um dia. Sherlock sentiu, repousando uma das mãos em seus ombros. – Em todo caso, isso não muda nada... – disse despertando do transe ao mero toque da mão dele.

            ─ Não, não muda. E eu nunca fui capaz de lhe dizer o que fazer, e os onze anos que se passaram desde que nos conhecemos não irão mudar isso. – assentiu Sherlock indiferentemente, embora seus olhos brilhassem de forma desafiadora.

            ─ Mas acha que eu devo falar com ela. – ponderou sua esposa ao perceber aquele brilho.

            ─ Estou prestes a deixá-la sozinha para fazer trabalho de campo, a última coisa que quero é irritá-la com o que eu acho ou não. – rebateu Holmes, tornando a dar de ombros.

            ─ E acredito que envolva isso. – disse erguendo-se para lhe entregar os anúncios coletados pela senhora Hudson.

            ─ Certamente. Meu objetivo é recuperar a carta de Sebastian de Pontmerci antes do fim do prazo, para isso, precisarei estar infiltrado em Appledore Towers. – assentiu o pomposo detetive, analisando o conteúdo dos pequenos papéis.

            ─ Trabalhando para ele. – disse ela completando a linha de seu raciocínio em voz alta. – E eu não posso ir com você. – acrescentou com um sorriso tristonho.  

            ─ A menos que ele esteja precisando de uma copeira, não, minha querida. – sentenciou Holmes, erguendo-se, compassivo, para tomar as mãos dela entre as suas. – Além disso, sinto que você tem o seu próprio caso para resolver. – ponderou acariciando uma de suas bochechas.

            ─ Você sente ou você sabe? – desdenhou a senhora Holmes, rindo com amargor, também levando-o ao riso abafado.

            ─ Estes olhos negros já viram o bastante de mim para saber. – brincou serenamente. – Prometo voltar para jantar sempre que possível. – assegurou ele, beijando-lhe a testa e pondo-se em direção ao quarto a fim de alcançar seu estojo de maquiagem.  


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Notas finais do capítulo

Primeiramente, gostaria de me desculpar por ter saído do prazo. Deveria ter postado ontem, mas, como minhas aulas voltaram, acabei perdendo a noção do tempo. Não se repetirá! Prometo!

Segundo, devo dizer que a cada dia que passa, até para mim que os escrevo, Holmes e Anne se superam como casal... E algo que nunca fiz antes, eu fiz semana passada. Eu pensei neles ao ouvir uma música. Sim. Tem música de Ship. Caso queiram saber, é uma bem antiga da Kelly Clarkson "My Life would suck without you". Eu costumava ouvi-la pensando em Elizabeth e Darcy... agora só me vem Anne x Sherlock na cabeça. É oficial. kkkkk

No mais, espero que gostem do capítulo. E no próximo, teremos todos os holofotes nos gêmeos mais amados da nação (humildade = nada). Um excelente carnaval a todos! Reviews para eu saber o que acharam e um bjo nas almas de vocês, queridos leitores!



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