Guardião Celeste escrita por Larissa Irassochio


Capítulo 9
Capítulo 8 - Juntos algum dia




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Alycia acordou em um quarto com pouca iluminação.
Então, ela estava viva?
Se sentou na cama até estar confortável e sentiu uma do forte na barriga. Deixou as cobertas de lado e viu o grande curativo que rodeava toda a cintura. Em uma parte estava manchado de vermelho. Suspirou tentando manter a calma até ver que estava atada a vários aparelhos que monitoravam seu desempenho de saúde.
Quando arrancou boa parte dos fios que estavam em seu braço o aparelho começou a apitar, ela sentiu uma forte dor de cabeça com o barulho e tudo seguiu muito rápido: uma enfermeira entrou com uma planilha, ajeitou novamentes os fios e começou a fazer perguntas enquanto sorria de forma robótica para Alycia.
Quando a mulher saiu, a garota deitou a cabeça no travesseiro e ficou a se perguntar o que tinha acontecido. Não se lembrava de nada, nem ao menos o porque de estar ali.
Só lembrava de um brilho muito bonito e de Jamiel. Jamiel. Sentia falta dele.
A porta se abriu com um clique e uma luz foi acesa. Tudo o que ela via era uma pessoa usando um moletom de capuz. Nada mais.
– Olá? - Alycia perguntou sentindo o medo de ver a pessoa como uma estátua na porta.
Ele se aproximou em passos lentos. Quando já estava perto o bastante viu o rosto dele e sorriu, queria chorar e dizer o quanto o amava.
– Jamiel - as primeiras lágrimas de emoção começaram a escorrer.
– Aly - ele disse por fim entrelaçando os dedos dela com os dele.
Ela foi para o lado e ele deitou no canto, a cabeça no peito dela abraçando suas pernas. Ela nunca se sentiu tão segura.
– Eu... - ele tentou começar, mas travava a cada vez que tentava dizer o motivo de estar ali - Eu vim me despedir - no fim, preferiu ser frio.
Enquanto ela digeria a informação ele levantou e ficou ao lado dela na cama, de pé. As mangas do moletom iam até o cotovelo deixando a mostra cicatrizes brancas.
– Pensei que... que anjos pudessem se curar sem deixar marcas - ela disse tocando o braço dele, analisando as marcas.
– Nós podemos - sorriu tristonho - Mas essas são marcas demoníacas. Somos incapazes de cura-las.
Ela deixou que a própria mão caísse no colo. Encarando os dedos calejados de tanto segurar um lápis ou píncel.
– Porque você está indo embora? Pensei que me amasse - disse.
– Eu te amo, Alycia. Amo muito - ele se ajoelhou e deitou a cabeça no colo dela - Mas eu fracassei. Não pude proteger você.
Ela viu ele chorar como nunca. Como uma criança que tinha perdido o seu brinquedo favorito. Ele soluçava inconsolávelmente.
– Eu não quero te perder - sussurou encarando-a com olhos vermelhos e inchados.
– Mas... você pode ficar comigo, na minha casa, nós podemos morar juntos... Não é?
– Não... não - ele esfregou o rosto e se sentou na cadeira ao lado dela - Eu falhei em proteger você... isso significa que sou destinado ir ao Inferno por um ano celestial - fechou a mão em punho enquanto encarava o nada.
– Um ano? Você... você pode aguentar isso, né? Nós ainda podemos ficar juntos... - Alycia disse com a voz cheia de esperança.
– Não - disse frio, então ela repetiu em tom de pergunta - Não podemos, Alycia. Um ano celestial equivale a um século humano.
– Então, devolva as asas!
– Não posso. As asas são meros aderessos do meu corpo, como membros. Perde-las não irá fazer meu preço ser pago. Sinto muito.
Alycia deixou que as lágrimas de emoção fossem substituidas por de tristeza.
Ele saiu.
Não se despediram.


Jamiel usava apenas uma camisa social e calças quando sentou em uma mesa na frente de um bar no centro da cidade. Sabia porque eles tinham escolhido o local tão movimentado, era para se misturar. Sentia-se nervoso, já sabia o seu destino.
O primeiro a chegar foi Casper, logo após, Gabriel. Os três se entre-olharam e depois encararam os braços do amigo.
– Luta difícil? - Gabriel perguntou abrindo um fraco sorriso.
– Nem tanto - respondeu Jamiel lançando um breve olhar para Casper.
Gabriel suspirou e colocou a pasta encima da mesa. Lançou um olhar preocupado para Casper também que fez Jamiel tremer.
– Você foi aceito. Jamiel, você está conosco - Gabriel sorriu quebrando o clima de tensão.
– Como? - o outro parecia confuso.
– Você foi aceito no Céu. Você agora é um de nós novamente.
Jamiel sentiu que iria vomitar.
– Como? Eu... eu falhei em proteger ela... deu tudo errado...
Casper colocou umas das mãos sobre a do amigo, tentaria tranquiliza-lo.
– Não... Jamiel... Aquilo já estava previsto, você não teria como interferir... Ela está viva e bem. Você cumpriu sua missão. Parabéns.
Os dois anjos do céu bateram palminhas de aprovação fazendo Jamiel se sentir ainda mais confuso.
Mas...
Ele não queria o Céu... Queria Alycia.
– Eu não posso aceitar, Gabriel - disse colocando a mala na frente do amigo novamente.
– Mas era isso o que você queria! - o anjo arregalou os olhos como se o outro estivesse ficando louco.
– Eu quero Alycia. Só isso - disse já parecendo cansado. E estava.
Gabriel bufou. Queria surrar o irmão, mas nada estava ao seu alcance. Ele só podia aceitar a decisão do tal e deixa-lo seguir em frente.
– Tudo bem... A escolha é sua, mas... - um longo silêncio se fez, Gabriel se manteve quieto e pensativo - Mas você não poderá voltar para o Céu, não mais.
Jamiel sentiu o choque. Tinha duas decisões: ou voltava para o Céu ao lado de seus irmãos ou ficava na Terra pela eternidade vivendo alguns anos com Alycia.
– Obrigada, Gabriel e Casper, mas eu ficarei - sorriu.
Gabriel se debruçou sobre a mesa e sussurou:
– Vá atrás dela.

Alycia se arrastou até a porta. A noite já estava chegando e ela tinha acabado de acordar. Devia estar pior que um zumbi.
Alguém batia na porta incansavelmente. Ela abriu e soltou uma exclamção, Jamiel invadiu e a pegou no colo. Devorando-a num beijo, ela apertou suas mãos na nunca dele. Ele sussurou enquanto ainda a beijava.
– Eu amo você. Seja minha.
Ele a pressionou contra a porta que tinha acabado de fechar. Os beijos desciam pelo seu pescoço, bochechas e terminavam nos lábios. Ele fez o que sempre quis fazer com ela. Então, se afastaram para tentar puxar o folêgo.
– Porque você está aqui? - ela perguntou alisando o rosto dele.
– Vim ficar com você. Para sempre - sorriu e selou os lábios dela - Agora, venha comigo - disse puxando ela até a porta.
Alycia não discordou mas ficou a perguntar tentando entender o que estava acontecendo. No elevador, ele a beijou novamente até chegar no último andar. Correu arrastando-a até alguns metros da beirrada do prédio e beijou ela com um amor que nunca sentiu antes.
Então, se afastou. Deixou que as longas asas se abrissem e ela soltasse uma exclamação. Era tão lindo! Alycia correu até os braços do amado e foi recebida com um abraço, as asas dele a envolveram e ela sentiu que eram macias e quentes. Acolhedoras.
Jamiel a pegou no colo segurando-a com certa facilidade, beijou o topo da testa dela e tomou impulso. Alycia pensou que chegariam as estrelas quando ele parou, mostrou como a cidade era linda a noite com todas aquelas luzes.
Para Alycia, a única coisa bonita ali era ele.
Então, como um susto ele parou de bater as asas e se deixou cair. Caíram de cabeça, faltava poucos metros para atingir o chão quando ele manteve o controle e subiu novamente, parando na varanda dela. Alycia sentada nas grades e ele voando com graciosidade, segurando a cintura dela enquanto olhava com aqueles olhos azuis puros e um sorriso nos lábios.


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