Jamiel encarou o retrato em aquarela idêntico a ele. Sorriu ao perceber que até os menores traços estavam ali. Desde o cabelo rebelde até o brilho azul dos olhos.
Ele estava sentado em uma campina já fazia algum tempo. As pernas cruzadas como um índio e as asas tocando o chão e os joelhos dele. O sol batia diretamente no seu rosto fazendo-o fechar as palpebras e encarar o chão.
Aquela manhã Alycia tinha saído cedo, o que era estranho já que estavam na casa de férias dos seus pais. No primeiro momento pensou que ela fosse busca-los no aeroporto ou algo parecido, mas um bilhete dizia que não. As únicas quatro palavras escritas eram:
"Me encontre na campina"
Ele estava nervoso e balançava os joelhos, as asas brilhavam ainda mais no sol e a grama parecia intensamente verde. Jamiel apenas via grandes morros densos de árvores e um lago muito a frente, sem contar os cavalos da família que pastavam ao longe também.
Jamiel sentiu o toque de mãos geladas nos ombros e quando foi se virar, elas tamparam os olhos dele. Sorriu, mas não se mexeu até que ela estivesse na frente dele. Teve medo das asas derrubarem-a.
– Bom dia - Alycia disse puxando-o pela gola da blusa e beijando os lábios com gosto de mel dele.
Ela se deitou sobre o peito dele e deixou ser envolvida pelas asas que tanto já tinha desenhado, mas nenhum desenho mostrava a real beleza delas.
– Gostou do meu desenho? - perguntou apreensiva.
– Eu amei - ele respondeu beijando a testa dela.
Era tudo o que eles queriam: ficar abraçados pela eternidade. Ele podia envolve-la para sempre, adorava ter ela junto de si, os corpos grudados e procurando pelo contato do outro. Apaixonados como nunca.
Alycia o amava. Não por ele ser perfeito, mas por quem ele era. Por seu caráter e personalidade, por tudo. Não havia explicações para o verdadeiro amor.
Você não ama alguém pela forma que essa pessoa arruma o cabelo ou pelo jeito que ela fala, ou até mesmo se ela é bonita ou não. Você ama essa pessoa porque é natural, porque ela parece ser o melhor para você, porque o certo a se fazer nesse ponto é apenas amar. Amar, amar, amar até estar bêbado de amor. Porque o destino tem o seu jogo pronto, ele apenas distribui as cartas e você joga, você caí nessa doce emboscada que é amar.
Simplesmente acontece.
Talvez, você consiga ser mais frio e calculista e tentar esquecer essa pessoa, mas as chances de você se magoar e magoar o outro são grandes.
Paixão significa sofrer e suportar.
E Jamiel passaria por mil provas de dor para provar o quanto estava apaixonado por Alycia, e ela desenharia até que seus pulsos quebrassem e seus dedos sangrassem por ele.
Estavam eternamente nesse ciclo que se chama amor, e nada nem ninguém tinha o direito de poder de interferir nisso.
Eles ficariam juntos até o fim da vida dela, teriam dois filhos Nephilim. Gêmeos, ela seria extremamente temperamental enquanto ele gostaria de adrenalina. Ela sabia como induzir sentimentos e ele seria um bom estrategista. Ao longo da vida de Alycia, ela ficaria famosa e seus desenhos seriam expostos no Louvre, perto de Da Vinci. E Jamiel viveria para ama-la até o fim, e quando ela morresse, ele estaria todas as semanas no túmulo com flores. Então, ele seguiria em frente com o mesmo pensamento de que nenhum amor seria tão forte quanto o dela.