Guardião Celeste escrita por Larissa Irassochio


Capítulo 8
Capítulo 7 - Brilho Celestial




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Jamiel largou a bicicleta roubada na calçada a frente da Igreja. Parou por um breve momento encarando a casa de Deus. Sentiu um formigamento nas mãos, as asas estavam lá, mas ignorou. Não era tão importante isso no momento, mas algo dentro dele pulava como um peixe tentando escapar do predador.
Sentiu sua cabeça ser atingida por uma rajada de dor inesperada. Tonteou. Olhou para o céu e lá ele viu uma luz tão forte que podia ter queimado os olhos de qualquer humano. A luz entrou pela boca dele como água, percorreu todo o seu corpo de fora a dentro. As veias sendo imundadas por algo tão celestial que nenhum mortal entenderia.
Os olhos que tinham um tom escuro de cinza agora eram de um puro azul da cor do mar mais limpo.
Então, ele caiu de joelhos enquanto ria de felicidade.
Pulou as grades e correu para dentro do local sagrado.
Ele não sabia o que esperar, o que estava acontecendo.
Nem ao menos sabia se estava na Igreja certa, mesmo assim se recusou a voltar sem dar uma olhada primeiro.

Alycia rezava em espanhol. Pedia para que nada de ruim acontecesse, que sua alma fosse poupada de tanto mal mesmo ela sendo uma pecadora.
Ela sentia o corpo quente de Henry grudado ao seu, o bafo irritado nem ao menos chegava ao seu pescoço, mas as mãos matinham um punhal na garganta dela. Alycia já esperava pelo pior, já tinha se passado no mínimo uns vinte minutos desde que ela tentara o convencer de não mata-la, estava guardando tempo.
Pensou que estaria morrendo quando ouviu um estouro e uma luminosidade tão branca e pura entrou pelo céu, demorou até ela perceber que o estouro tinha sido as janelas quebrando e a luminosidade era... Jamiel.
Ele tinha asas que se estendiam por dois metros, eram tão... incríveis. Tinham o brilho mais bonito que ela já tinha visto, não se igualava a nada que ela já tinha presenciado. Ele estava radiante como se nunca tivesse estado tão bem. A camisa grudava no peitoral inchado e as asas estavam abertas quando ele desceu até o chão.
– Pensei que nunca chegaria - Henry disse sárcastico - Estava demorando muito.
Jamiel arregalou os olhos. Agora que ele possuia todas as suas qualidades celestes, ele percebeu que já conhecia Henry a tempos, ele só estava... mudado.
– Eu sei, eu sei - o loiro disse como se tivesse lido o que Jamiel pensava - Eu estou diferente, mas Ele me mudou. Fez um ótimo trabalho.
O anjo e Alycia demoraram até perceber que quando Henry disse "Ele" não estava falando do Senhor, e sim do Outro. Do Mal em si.
– Largue-a. Essa briga não é dela - Jamiel disse autoritário, o rosto fechado.
Henry riu, uma boa gargalhada que fez a faca raspar pela garganta dela e sangue escorrer. Henry encarou provocativo o outro, e beijou o lugar onde o sangue escorria. Alycia queria espernar e dizer o quanto se sentia suja quando ele fazia aquilo. Jamiel pareceu entediado e até mesmo nem pareceu se importar enquanto o Anjo fazia aquilo, mas por dentro a raiva queimava.
– Quero as asas - disse por fim, após lamber todo o sangue.
– Se não...? - Jamiel cruzou os braços já sabendo a resposta.
– Eu a mato.
A respiração de Alycia se alterou. Ela não duvidou que ele pudesse realmente fazer aquilo.
– Aly, tem algo que não te contei... - ele a fez virar o rosto para que ouvisse melhor - Sabe qual é a minha outra forma de garantir as asas? Matando o seu queridinho - sorriu para os dois.
Ela encarou Jamiel horrorizada. Preferia mil vezes a própria morte do que a dele.
– Não! - ela berrou.
– Eu aceito - o outro concordou com a proposta de briga até a morte.
– Não, não! Jamiel, não! - ela esperneava tentando sair dos braços do loiro como se pudesse fazer algo se fosse solta.
Henry abriu um largo sorriso branco e se aproximou de Jamiel com Alycia ainda nos braços, os dois apertaram as mãos e ele a jogou longe. Quando ela bateu em um dos bancos perdeu a consciência.
Tudo o que Jamiel quis fazer era correr até lá e salva-la, mas no momento, a forma mais racional de salvar ela era matando Henry.
– Você lembra de quando ainda éramos irmãos? - o loiro perguntou andando em roda enquanto o outro fazia o mesmo, encaravam-se como leões lutando por um pedaço de carne.
– Gabriel sempre o adorou - sorriu fraco, mantinha a concentração no outro.
O mais racional seria que a luta fosse ganha por Jamiel já que ele tinha o poder celestial, mas Henry era aliado do outro lado que fornecia um poder que quem sabe, poderia ser superior.
– Quando eu ganhar essa luta, eu terei suas asas e sua namorada. E ah, não posso me esquecer, terei sua cabeça conservada em um pote - sorriu novamente ao pensar naquela ideia. Era uma boa ideia.
– Você sempre soube, não é mesmo? Sobre tudo... Que eu seria o Guardião de Alycia, que nós caíriamos... Você... sempre foi um aliado Dele, não é? - Jamiel foi quem deu o primeiro soco que atingiu o ar, logo foi golpeado nas costas, abaixo das asas.
Os momentos seguintes foram de socos errados e alguns certos. Então, Jamiel envolveu a cabeça de Henry com as mãos e o levou ao chão, batendo inúmeras vezes e apertando logo abaixo dos olhos. Causaria uma dor alucinante. O loiro chutou o estomâgo do adversário e o viu urrar para o lado, caindo de dor e se aproveitou, chutando-o tantas vezes na costela que pode ouvir uma delas quebrando. Jamiel foi rápido e o puxou para o chão novamente, socando o seu rosto, mas quando a costela foi pressionada ele se afastou.
Henry levantou e cuspiu vermelho no chão. Limpou o rosto deixando uma mancha de sangue e riu ao ver a coloração em suas mãos.
– Você nunca foi um mal Guerreiro, Jamiel... - elogiou - Até acho que seja um melhor lutador que Guardião...
Jamiel pareceu confuso por um momento. Então, ele se viu preso em um círculo de fogo. Se ele tentasse atravessar, morreria.
Não podia fazer nada além de observar Henry pegando o corpo de Alycia e o levando até o altar. Os braços dela caíram para os lados, a boca um pouco aberta e alguns machucados. Henry tocou o rosto ferido dela e a olhou com amor, a mão passeou pelo corpo da jovem e ele deixou um último beijo.
– Quero suas asas, Jamiel - disse no fim, segurava a mão dela.
– Você as terá se me matar.
– Não, as asas ou a vida dela - disse com o punhal em mãos.
– Não! Não pode, fizemos um acordo! - berrou querendo se atirar para fora do círculo.
– Você não aprendeu que demônios sabem trapacear? Burro, burro - riu da desgraça do ex-irmão.
Jamiel se jogou contra as chamas e sentiu o braço ser queimado, recuou rápido. Ouviu Henry chama-lo de burro novamente e encarou os braços machucados. Cicatrizes permanentes.
Ele sacrificaria todo o seu corpo, passaria pela pior das dores por Alycia, mas se morresse nada adiantaria.
Voltou a prestar atenção a sua volta quando viu Henry entoar um canto do Inferno. Era o canto dos sacrificios. Ele tinha uma certa dor na palavras, como se matar Alycia fosse dificil.
– Henry! Henry! - Jamiel voltou a berrar com seus pulmões a toda força. Queria fazer Henry prestar atenção nele.
O loiro parou com a canção e voltou seu olhar para o antigo irmão. O anjo pode ver um leve sorriso nos lábios dele.
– Pode ficar com minhas asas - disse e sentiu uma forte dor no peito.
Henry nunca pareceu tão feliz quanto aquele momento. Saltitou até o circulo de fogo e o fez sumir. Jamiel estava ajoelhado encarando o chão desenhado e sujo apenas esperando com uma das piores dores emocionais da sua vida.
Henry puxou o punhal limpo e sorriu, via o próprio reflexo na lâmina afiada. Era linda, toda desenhada com traços que pareciam cicatrizes.
Jamiel fechou os olhos. Sentiu a primeira facada nas asas. A dor era horrível, uma parte dele se separando do corpo. Viu o sangue pingar ao seu lado.
Tudo girava.
Um berro. Não era o dele.
Viu quando Henry caiu da poça de sangue das asas. Um rasgo na bochecha.
Piscou várias vezes até perceber que era realidade. Então, olhou para trás e viu Alycia segurando um pedaço quebrado de algum banco. Ela largou no chão e pressionou a própria barriga.
Henry a tinha ferido.
Ela sangrava como nunca.
A visão dela escureceu. Era o fim.


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