Guardião Celeste escrita por Larissa Irassochio


Capítulo 7
Capítulo 6 - O mal sempre esteve junto




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Alycia acordou antes do sol nascer. Não tomou café, não comeu nada. Simplesmente vestiu uma roupa e saiu o mais cedo possível antes que Jamiel estivesse na sua cola. Ela o amava de mais, tinha certeza disso e por causa desse pequeno fato que ela estava fugindo aquela manhã. Iria fazer algo que se ele soubesse, não teria deixa ela sair de casa: resgatar suas asas.
Alycia sabia perfeitamente onde elas estavam.
O metrô estava calmo. A cada degrau que ela descia nas escadas um "toc toc" ecoava até o subterrâneo. Havia alguns homens engravatados esperando o trem, jovens com garrafas de bebidas e alguns mendigos dormindo. O vagão estava quase completamente vazio tirando o fato que alguns homens dormiam segurando-se nos ferros.
Ela já sentia impaciente a muitas estações quando chegou na qual esperava. Desceu o mais rápido possível, encolhendo-se dentro do casaco ela saiu correndo pelas ruas. Alycia tinha certeza que elas estavam em uma igreja no suburbio, onde ela tinha sido batizada. Por um breve momento ela pensou como a vida era um jogo onde o destino já tinha deixado tudo escrito, bastava você saber jogar.

Jamiel acordou em um balcão de bar. Estava vazio, a única pessoa ali era o bar-men que o encarava com reprovação.
– Você não bebeu nada e ainda dormiu a noite toda. Agora vai querer o que? Leitinho? - perguntou com um forte tom de sárcasmo. Jamiel apenas ignorou e levantou desorientado, seguindo para o único lugar onde tinha luz.
Já não fazia tanto frio assim, o inverno estava no fim. Quando a luz atingiu os olhos dele doeu, mas nada que ele não pudesse suportar. Era mais fácil de suportar do que a falta de Alycia.
Ele a via todos os dias, seguia e a observava de longe. Era o seu trabalho. Muitas vezes seus olhares desconfortáveis se encontravam e eles fingiam que não se conheciam. Era muito mais fácil dessa forma, mas era tão difícil ver ela de mãos dadas com Henry todos os dias.
Só conseguiu espantar esses sentimentos quando percebeu que o sinal tinha sido aberto e os poucos pedestres passavam. Antes que o sinal fosse aberto ele passou, ao meio quando faltava poucos passos para a calçada um carro o atingiu.
Ele fechou os olhos com força ao ser lançado longe e encontrar o chão. O ombro e as costelas bateram com força, pensou ter quebrado algo.
– Ei, tudo bem? - uma mão tocou nele, apertando de leve.
Jamiel abriu os olhos mirando diretamente no homem. Abriu um sorriso de canto e disse em meio a um ataque de risinhos:
– Casper, seu maldito!

– Então, Jamiel, como tem sido o seu trabalho? - ele perguntou entregando o gelo para o amigo que colocou na testa. Ele sabia que a dor passaria rápido já que ainda era um anjo, ainda era celestial porém sem asas.
Jamiel soltou o ar dos pulmões e tentou sorrir. O simples nome da amada já tirava todo o ar do rapaz, o fazia querer abraçá-la até seus corpos se fundirem.
– Complicado... nós... nós estamos em meio a uma briga e eu só a vejo de longe. A observo - respondeu voltando a colocar o gelo na testa. Estava desconfortável com a situação mesmo sabendo que o amigo não o julgaria.
Casper sorriu de volta. Ele de certa forma, entendia o que o amigo estava passando já que antes de ser um Guerreiro ele tinha tido o mesmo trabalho de Guardião, mas Casper não suportava a ideia de cuidar de alguém, de ter a vida de alguém em suas mãos. Para ele era mais fácil tirar a vida de alguém que não a merecia do que se responsabilizar por uma que tinha o próprio destino.
– É difícil, eu sei, mas você tem que tentar e... - ele parou, os olhos claros vidrados no nada e a boca aberta.
– Casper? Casper? - o outro perguntou preocupado. Ele não se mexeu, não tocou no amigo com medo do que podia acontecer.
Casper lançou um olhar preocupado para Jamiel. O que ele tinha visto era pior do que esperava.
– Você tem que ir atrás dela. Agora. Jamiel, agora - disse frio e ríspido, quase que gritando enquanto ordenava.
– Porque? O que... ? - o outro foi cortado logo em seguida.
– Tive uma visão. Ela está mal, precisa de você. Igreja do leste, no suburbio.
Jamiel não disse nada. Apenas saiu correndo contra o vento cortante. Correndo como se não houvesse um amanhã, a vida dela e a vida dele dependiam daquilo.
Alycia era vida de Jamiel. Tudo o que ele tinha.

Alycia entrou no pátio da igreja por uma entrada de drogados no canto. O pátio estava sujo e a grama não era cortada a tempos. Caminhou com cuidado até a porta semi-derrubada da Igreja, se esquivando ela se abaixou e passou. O odor era fétido, podre, alguns bancos quebrados outros derrubados. As paredes sujas e o altar um pandmônio de tanta bagunça, assim como todo o resto. Então, ficou a se perguntar onde estava as asas.
Com passos curtos e tímidos ela seguiu a frente olhando todos os cantos. Então, percebeu que todos os anjos estavam destruídos.
Um calafrio passou pela espinha de Alycia.
– Aly, Aly, meu amor - uma voz ecoou do fundo claro da casa de Deus. Uma sombra escura saía em passos vagarosos.
Ela apertou a vista até se acostumar com a luz e soltou uma exclamação ao ver quem era. Henry. Ele estava a poucos metros no altar. Um sorriso largo estampava os lábios e marcava as covinhas.
– Olá, Henry - ela disse tímida - Hã, bem... O que faz aqui? - perguntou se aproximando.
Ele sorriu ainda mais e puxou-a pela braço, apertando sua mão enquanto encarava o profundo dos olhos dela.
– Estou aqui pelo mesmo motivo que você, meu amor.
Ela riu baixinho e a mão escorreu pelos cabelos. O sorriso se fechou ao ver que ele estava falando sério.
– Ah, eu não acho que você... - tentou começar, contudo o loiro a cortou.
– Você é tão tolinha - riu enquanto fazia gestos com a mão que não segurava a dela - Você tinha um anjo caído ao seu lado, juntos, mas é você tão burra em não reconhecer outro. Eu sempre soube... Jamiel é tão burro também! Não me reconheceu, o maldito. Nós eramos irmãos, irmãos de Céu, mas nós caímos por motivos diferentes... não vem ao caso. Porém, ele sempre teve a chance de recuperar suas asas, já eu... Sou um caso perdido, nunca as terei novamente.
Ela semi-cerrou os olhos para ele. Não estava entendendo aonde ele queria chegar. Ele sorriu como se soubesse que ela não iria entender.
– Eu quero as asas de Jamiel - passou a mão livre pelo rosto dela - Mas, eu não posso encontrá-las, toca-las. Eu morreria. Eu preciso que alguém faça isso por mim. Alguém que eu ame - os olhos dele estavam no fundo dos dela, como se estivesse lendo sua alma - Eu te amo tanto, Alycia... mas porque você tem que amar Jamiel? - berrou fechando o próprio punho com raiva.
Ela tentou se afastar. As mãos se deixaram, deixou que a dela caísse contra o próprio corpo.
– Você também é um anjo? - ela não queria deixar o pavor lhe subir a cabeça.
Ele concordou como se já estivesse cansado disso.
– Eu... eu não vou recuperar as asas para você - ela sussurou.
Alycia viu as veias do pescoço de Henry saltarem, o rosto adquiriu uma cor avermelhada e um berro saiu da garganta dele. Ela mal teve tempo de reagir quando ele veio para cima dela, as mãos agarram a cabeça da garota que bateu contra o chão. Ele a soltou com relutância.
Enquanto ele caminhava em direção ao altar ela se sentou. Olhou para o chão e tinha uma pequena poça de sangue, levantou a mão a boca e ao nariz e pressionou.
– Hoje... Hoje você vai recuperar as asas para mim e nós vamos nos casar - ele disse com a raiva de um touro, enquanto andava de um lado para o outro - Você vai se casar comigo, Alycia, porque você me ama. Não é, Alycia?
Ela sentia medo, estava trancada. Ele se sentou ao lado dela, as mãos apertando os braços com força e a sacudindo a espera de uma resposta. Ela moveu a cabeça em sinal negativo. Ele apertou o rosto dela com uma mão, suas bocas a poucos centímetros.
– Sim, sim. Você irá.


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