Guardião Celeste escrita por Larissa Irassochio


Capítulo 6
Capítulo 5 - Apresentando o passado




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– Me fale, me fale sobre ela.
Alycia pediu tocando na mão de Jamiel. Eles estavam tão próximos e tudo o que ele queria era o contrário, queria tanto se afastar.
Jamiel tinha gritado por Cecily desesperadamente até acordar a si mesmo e a Alycia. Seu cabelo pingava suor e a respiração estava pesada. Nem tinha amanhecido ainda.
Ele suspirou e passou a mão pelo peito nu. Em alguma outra situação se sentiria desconfortável com isso, mas nesse momento estava mais nervoso em falar sobre Cecily do que se esconder com uma camisa.
– Me conte sobre sua história com ela - ela pediu se aproximando, as pernas cruzadas como uma índia.
Jamiel estava tenso. Hesitou muito até concordar em falar. Começou gaguejando, então, soltou o ar de seus pulmões e recomeçou:

"Eu era um Arcanjo. Proteger os humanos de demônios e forças do mal, nunca tive que cuidar apenas de UM só humano, sempre agi em guerras... Então, ganhei o papel de cuidar de apenas uma humana.
Eu devia agir sem interferir na vida dela, sem me mostrar ou ela notar minha presença. Nós devemos zelar por nossos humanos, mas foi muito mais que isso. Eu... eu a amei. Era muito mais do que uma vida que eu devia cuidar, eu queria que ela me amasse também. Contudo, eu já sabia as regras, as Leis dos Céus, então me manti no meu canto. Sempre fui muito disciplinado.
Um dia, na verdade, em uma noite, já estava tarde e ela tinha acabado de sair de uma festa. Alguns caras com más intenções a cercaram, apontaram uma arma e pediram todo o dinheiro. Ela o fez, deu tudo o que tinha de valor, mesmo assim eles atiraram e eu fiz o que não devia. Eu a salvei: hospital, visitas, cuidados.
Ela sabia o que eu era e aceitou. Eu estava apaixonado, me rendi ao amor e aos prazeres da vida carnal, da vida de um de vocês.
Eu a amei, dei tudo de mim, mas ela não.
Ficamos algum tempo juntos, porém ela encontrou outro alguém."

Ele suspirou e apertou os olhos com as mãos. Sentia a cabeça latejar e queria chorar. Isso mesmo: queria chorar. Lembrar daquilo fazia o peito dele doer muito. E com tantos anos convivendo com humanos, ele ainda não entendia como essa dor conseguia ser tão escura.
Jamiel olhou para Alycia. Ela tinha os olhos marejados.
– Você ainda a ama, não é? - ela perguntou, mas não recebeu resposta.
Fechou os olhos, a cabeça em direção ao teto, mordia boca.
– Droga, Jamiel, droga - disse deixando os olhos falar por si, ela chorava - Porra, Jamiel - as mãos puxavam os cabelos.
Ela levantou sem encara-lo. Andava de um lado para o outro perdida.
– Alycia... - ele tentou começar.
– Eu amo você, Jamiel. Eu amo você.
– Não é tão fácil... - ele tentou dizer, explicar que um anjo como ele não podia ter sentimentos, mas ela se trancou no quarto antes de tentar ouvi-lo.

Jamiel não pode fazer muito a respeito disso, mas se esforçou para manter a calma. Preparou o jantar: sopa de legumes com um caldo grosso e quente. Ajudaria a se esquentar naquele frio que estava.
A tigela em uma das mãos, com a outra ele bateu na porta do quarto de Alycia. Ela não respondeu, então ele bateu novamente e uma fresta se abriu.
Ela tinha os olhos inchados e parecia cansada. Olhou para a tigela e tentou fechar a porta novamente, mas antes disso ele colocou o pé impedindo-a. Ela lançou um olhar de reprovação quando ele implorou que ela pegasse a tigela com a sopa, ela o fez e colocou na mesa do quarto. Ele entrou e fechou a porta atrás de si.
– Eu não quero você aqui, Jamiel - ela disse.
Jamiel não pensou antes de agir, mas sabia que de certa forma, era o que ele devia ter feito.
Os lábios dele encontraram os dela, colidiram. O começou foi estranho, os dentes batendo um no outro, até tudo se acalmou. Estavam em sintônia, tocando-se calmamente. Ele percebeu que a boca dela tinha gosto de camomila.
Ela afastou as bocas, mas os corpos continuavam grudados. A mão dele acariciando o rosto dela que naquela posição deixava os olhos muito maiores.
– Fica comigo. Por favor - ela pediu como se aquilo dependesse a vida dela.
Ele selou os lábios dela, abraçando a cintura dela. Corpo com corpo, juntos.

Na manhã seguinte ao acontecido Alycia acordou tarde. Saiu da cama as pressas já que estava atrasada. Tinha um encontro marcado com Henry, eles iriam tomar café.
Beijou a bochecha de Jamiel que ainda dormia e deixou um bilhete dizendo onde iria.
Alycia não queria sair com Henry, mas ele era um bom cliente e conseguia novos clientes para ela, mas não tinha interesse além disso. Não queria dormir com ele, muito menos namorar.
Chegando na vitrine do café ela se viu. O cabelo despenteado, a maquiagem borrada e a roupa um tanto torta, mas não se importou com isso. Só iria tomar um café e voltar para o apartamento, para os braços de Jamiel.
Sentando-se na mesa recebeu um grande sorriso de Henry. Ela ainda lembrava de como ele a tinha beijado. Ele queria algo mais, com certeza.
– Oi - ela disse mexendo na bolsa a procura de dinheiro, encontrou o papel em que estava anotado a igreja onde ela tinha sido batizada.
– Não se preocupe, Alycia - ele disse tocando o ombro dela - Eu pago.
Ela sorriu forçado para Henry. Não queria que ele pagasse, nem ao menos queria estar ali. Queria estar com Jamiel.
– E como vai o seu primo? - ele perguntou despejando todo o sachê de açúcar no café. Ela lançou um olhar desconfiado até perceber que ele falava de Jamiel.

Jamiel acordou assustado após tatear as cobertas ao seu lado e não encontrar Alycia.
– Aly? - perguntou dando um salto da cama. Seguiu até a sala e a cozinha, ao banheiro e não a encontrou.
Após passar mentalmente que devia manter a calma, ele decidiu que tomaria um café da manhã e esperaria ela voltar. Chegando na geladeira ele encontrou o bilhete.
"Fui tomar café na padaria com o Henry. Volto para o almoço."
Apenas isso estava escrito. Nada mais.
Socou a mesa e mordeu os lábios com raiva. Ele já dito para ela sobre a má impressão que tinha de Henry, mas ela teimou em continuar a vê-lo. E Jamiel sabia, tinha certeza, o que ele estava sentindo não era ciúmes. Henry não era uma boa pessoa.
O frio não tinha parado, mas o clima era melhor. Quando o elevador abriu, Jamiel correu até a padaria mais próxima. Parou na grande vitrine e encontrou Alycia. É, era ela beijando Henry.
Sentiu as lágrimas subindo pela garganta e a raiva aquecendo todo o corpo dele. Continuou a observar.
Alycia se afastou com um meio sorriso nos lábios e voltou a tomar o café, quando olhou para a rua seus olhos se arregalaram ao se encontrarem com os de Jamiel. Ela sorriu para Henry e se levantou. Jamiel apenas esperou que ela o puxasse para o beco ao lado da padaria.
– O que você está fazendo aqui? - ela perguntou como se ele estivesse ocupando o seu espaço.
– Hããã - Jamiel fez sua melhor cara de pensador e respondeu grosso - Protegendo você. É isso o que eu faço.
Ela bufou e apertou ainda mais o braço dele que se afastou do toque dela. Por mais que o ato de se afastar dela doesse, era o certo. Ele nunca devia ter se envolvido com outra humana novamente.
– Porque você está agindo assim? - ela perguntou tentando se aproximar.
– Porque sou seu Guardião - respondeu friamente.
Ela se aproximou tentando beijá-lo, mas não obteve sucesso.
– Você está sendo tão.. frio, Jamiel - ela pareceu desapontada, e devia estar mesmo.
– PORQUE VOCÊ ACABOU DE BEIJAR OUTRO CARA, ENTENDE? PENSEI QUE ESTIVÉSSEMOS JUNTOS... ALYCIA! - ele berrou deixando as lágrimas caírem - ELE NÃO É UMA BOA PESSOA.
Ela balançou a cabeça em sinal negativo. Queria socar a cara de Jamiel e dizer o quanto o amava, mas ele estava sendo estúpido.
– Vá embora da minha casa. Não quero ver rastros de você quando eu voltar - ela disse por fim e voltou para a paradaria.
Jamiel a deixou ir.

Alycia se sentou na mesa e recebeu um olhar preocupado de Henry.
– Está tudo bem? Aconteceu algo com sua família?
Ela saiu de seus pensamentos negros. Suicidio, amor, dor, morte.
– Ah, sim... Ele apenas veio me avisar que... vai passar um tempo longe - fingiu um sorriso que foi bem aceito pelo rapaz.
Então, ela viu um olhar que só tinha visto uma vez na vida. O mesmo olhar de Casper e Jamiel.


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