Guardião Celeste escrita por Larissa Irassochio


Capítulo 5
Capítulo 4 - Descoberta




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Alycia tinha os olhos vidrados na tv, as mãos agarravam a almofada que estava no colo. Jamiel a observava da cozinha, então, quando já estava cansado de ver ela exalando tristeza, seguiu até lá. Ela não moveu o olhar para o garoto, mas sentiu o corpo dele próximo ao dela.
– Ly - ele chamou ao pé do ouvido dela, ela sentiu o bafo quente dele no pescoço.
– O que é? - ela continuou estática para a tv. Ela imaginou que ele fosse falar algo sobre ela ter que ir a polícia ou ao hospital relatar os acontecimentos de algumas semanas atrás, mas ela não queria isso.
Ele não disse, esperou que ela lançasse um olhar nervoso. Jamiel mantinha uma das mãos na bochecha de Alycia, "prendendo" ela ao sofá e a mão dela na cintura dele. Sentia as costelas dele. Jamiel fechou os olhos, os lábios dele roçando nos dela.
Era tudo o que ela queria. Senti-lo, tê-lo. Amar a ele.
– Desculpe - ele se afastou fazendo sinais negativos com a cabeça e saiu sem se despedir.
Atrasada e sem saber o que tinha acontecido, ela apenas deixou um sussuro de "volte".

Jamiel voltou para o apartamento quando já era noite. Se obrigou a voltar, tinha saído sem nenhum casaco e o frio era intenso na rua. Preferiu subir pelas escadas achando que se esquentaria, mas não adiantou muita coisa.
Bateu na porta e teve uma grande surpresa. Foi recebido por Alycia, porém isso não era estranho. O estranho era que ela usava um bonito vestido vermelho que ia até a metade das coxas, um bonito decote e o cabelo preso em um coque desarrumado. A maquiagem era marcante, os lábios em um tom de vinho muito bonito que a deixavam mais linda.
Ele sorriu, mas ela parecia assustada.
– Não pensei que você fosse voltar... - ela disse abrindo a porta por completo, então ele percebeu que ela segurava uma taça de vinho e tocava uma música calma ao fundo.
Ele entrou e na cozinha deu de frente com um homem mais alto. Ele era loiro com uma barba da mesma coloração, ele usava uma roupa social e tinha uma faca na mão. Preparava o jantar.
– Olá - ele disse com um sorriso simpático, virou-se para Alycia e disse - Não sabia que morava com alguém... um homem...
Ela sorriu constrangida.
– Jamiel, este é Henry. Ele é um dos meus principais clientes. Henry, este é Jamiel. Meu... meu primo... amigo... - ela disse e os dois apertaram as mãos.
Enquanto Henry sorria simpático, Jamiel lançava olhares desconfiados e ciumentos.
– Eu só vim buscar um casaco - ele disse por fim, mas era mentira. Ele tinha voltado porque planejava contar seus sentimentos à Alycia, queria o conforto dela.
– Não, não! - ela levantou as mãos em protesto - Você pode ficar, jantar conosco. Esse é um jantar de negócios, não é mesmo, Henry?
O loiro concordou e voltou a picar o frango.
Quando estava tudo pronto, os três sentaram na mesa. Serviram-se e beberam vinho, menos Jamiel que protestou dizendo que era algo de religião. Uma boa mentira.
A menina e o convidado passaram um bom tempo discutindo sobre o trabalho, Jamiel preferiu ignorar. Logo após veio a sobremesa que estava deliciosa, então, por último, Jamiel fez questão de recolher a louça e lavar. Achava justo dar um tempo para os dois sozinhos.
Enquanto secava as mãos em um pano, seguiu para a sala e deixou o queixo cair ao ver a cena: Henry beijava Alycia, mas não um simples beijo, era um beijo de filme francês.
– Nossa... - sussurou com um um sorriso triste nos lábios. Ela virou o rosto rápido ao ouvir, tinha um expressão assustada.
Henry a encarou ainda segurando seus braços, sem saber o que falar ele apenas acenou com a cabeça e saiu fechando a porta.
Ela ainda tinha uma expressão assustada e ele um sorriso triste nos lábios.
– Você sabe... Não era isso o que eu queria - ela tentou começar, mas Jamiel interrompeu.
– Tudo bem - não, não estava tudo - Tudo bem, Alycia. É sua vida, você namora quem você quiser. Eu sou apenas... um anjo que cuida de você - ele fechou os olhos com força e passou as mãos pelo cabelo. Seu peito estava dolorido, a cabeça latejava, a boca seca. Sentia-se horrível. Já tinha passado por isso antes.
Ser rejeitado. Ter o seu amor rejeitado parecia a pior coisa do mundo naquele momento, mas decidiu que isso seria melhor. Ele não podia se envolver com uma humana novamente.
– Eu sinto muito, Jamiel - ela se aproximou. Iria abraçar ele.
Jamiel se esquivou.
– Não toque em mim - disse por fim, magoando-a.
– Eu... - ela levantou os braços ao alto, uma expressão de raiva - Eu deixo você, um estranho dormir na minha casa, acredito em algo impossível e você ainda tem ciúmes de um homem que não é nada seu e rejeita meus pedidos de desculpas? É assim que você me agradece?
– Você que devia me agradecer, Alycia.
Então, ele jogou o pano que tinha em mãos no chão e passou por ela, batendo a porta.
Sentia cada milímetro do seu corpo sendo preenchido por uma raiva que consumia sua dor. Sentia-se um idiota por completo. Ele a amava, amava mais que tudo, mais que o Céu e ainda por cima conseguia magoar a ela e a si mesmo. Sentia-se a pior pessoa do mundo.
Aquela noite ele não quis dormir. Decidiu que vagaria até que suas pernas doessem e ele cedesse, dormindo no primeiro beco a frente junto com algum outro mendigo. Merecia um castigo pior que aquele.

Alycia se sentou no chão. Puxando os cabelos enquanto se deixava chorar.
Pensou em Jamiel. Pensou como deviam ser suas asas. Será que eram douradas como um anel? Quem sabe transparentes e brilhosas, ou brancas e grandes? Imaginou elas saindo sobre as costas do anjo, crescendo como uma cascata brilhosa e volumosa, quase dois metros maior que ele.
Então, percebeu o quanto era óbvio. Ele era um anjo do Senhor, um anjo de Deus. Qual o melhor lugar para divindades do que a Casa do Senhor? Uma igreja, as asas estavam em uma igreja.
Correu para o quarto limpando as lágrimas. O celular devia estar em algum lugar, em algum de suas bolsas. Com as mãos trêmulas ela discou o número.
– Alô? - a senhora do outro lado da linha atendeu com certo receio.
– Mãe, mãe? - ela se sentia extasiada depois de tanto tempo ligar para a sua mãe, mas naquele momento em que vários sentimentos a flor da pele vazavam, a única coisa que conseguiu falar foi: - Onde eu fui batizada?


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