Por trás das lentes escrita por Megan Queen


Capítulo 46
Sorry


Notas iniciais do capítulo

E olha quem voltou dos mortos! kkkkkk
Novo cap, sem muito papo por aqui pq eu sei que vcs querem mesmo é ler, né?
Mil beijos em cada uma das fofas que comentou no último ep ~KaDuarte adorei seu novo tipo de review...kkkk~
Estou ralando para responder logo a todos!
Respirem fundo e ...
Boa Leitura!



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É muito tarde pra pedir desculpa?

Pois estou com saudades de você

E não é só do seu corpo

É muito tarde pra pedir desculpas agora?

Sim, eu sei que te decepcionei

Agora é muito tarde pra pedir desculpa?

Me desculpa

[...]

— Sorry (Justin Bieber)

Narradora

Ele soubera que tudo daria errado muito antes. Era uma sensação estranha, na verdade, quase uma premonição de que haveria um deslize... Um deslize que poderia custar sua vida... — suspirou, tentando concentrar-se em manter a respiração estável.

Se fosse parar para estabelecer o horário em que soube que estava condenado, seria o instante em que sua curiosidade o venceu e ele resolveu abrir o arquivo de Felicity.

Havia resistido um bom tempo ao seu lado cheio de perguntas, lembrando a si mesmo o quanto era errado investigá-la pelas suas costas, o quanto era jogar sujo.

Mas aquela vozinha insistente em sua cabeça, gritando-lhe que estava com todas as respostas em suas mãos, ao alcance de um toque, não o deixou sossegar.

Então, faltando 2 horas para o começo da missão, ele resolvera jogar tudo para o ar e dar ao menos uma olhada.

Flashback~Oliver~on

Afastei-me dos outros e caminhei silenciosamente para uma espécie de beco entre os escritórios e o laboratório, sentando-me encostado à parede.

Suspirei, olhando para a tela do tablet em minhas mãos como se fosse uma tentação irresistível.

Eu tinha de saber— minha curiosidade fazia minha cabeça latejar. Ao mesmo tempo, não queria dar razão a Amanda e, de certa forma, subentender que não confiava em Felicity.

Parte de mim sabia que deveria esperar até que a própria sweet me contasse o resto de sua história, mas a outra parte queria trapacear para matar de vez todas as minhas dúvidas, justificando tal curiosidade com o desejo de ajudá-la.

I know you know that I made those mistakes

Maybe once or twice

By once or twice I mean maybe

A couple a hundred times

— Sabe? Não acho que você devia... – me surpreendo ao ouvir essa declaração, mas minha surpresa maior é por esta vir dos lábios de Helena, que se aproxima hesitante.

— Como?! – ergo a sobrancelha, pressionando o tablet contra o peito de forma autodefensiva.

Ela caminha até parar à minha frente, sentando-se no chão diante de mim.

— Eu disse que não acho que você devia ver isso. – cruza os braços sobre o peito, esfregando os antebraços para espantar o frio.

— Por que não? – ergo o queixo, irritado por sua intromissão.

— Eu não vou te atacar nem nada do tipo, Oliver. – ela ergue as mãos, inclinando a cabeça para o lado. – E se estou dizendo que não deveria mexer nesse arquivo é porque acredito sinceramente que esteja certa sobre isso. – acrescenta, me fazendo semicerrar os olhos.

— Como você sabe? – pergunto, inspecionando-a. – Quero dizer, sobre o arquivo...

— Amanda me pediu para compilá-lo. – ela dá de ombros, me fazendo arregalar os olhos. – Não achei que ela fosse entregá-lo a você, de verdade. – confessa, seu olhar azul se mostrando sincero.

— Por que você compilou o arquivo de Felicity? – solto a questão que brilhou em minha mente assim que ela soltou a exclamação.

— Porque eu era a agente responsável pelo caso no qual ela estava envolvida. – ela conta, desviando o olhar por um segundo para o tablet como se ele lhe trouxesse lembranças. – E, sinceramente, me arrependo por não ter chegado um segundo antes àquele galpão para que ela não tivesse de tomar aquela decisão desesperada... – suspira.

 - Você... – eu arfo. – Você a viu matá-lo? – pergunto, engasgando com o ar.

— Nunca me esqueceria dessa cena. – ela franze os lábios. – Eu sei que você é consciente de que não sou fraca para ver a morte de perto, mas... Aquela foi realmente horrível de se presenciar. – ela me encara nostálgica. – E não, não foi horrível vê-lo morrer.

— Como assim? – franzo a testa, confuso com suas palavras. – Por que foi horrível, então?

— Eu mesma teria matado aquele crápula. – ela conta, tornando aquela situação ainda mais surreal. De todas as pessoas no mundo, não achei que Helena seria aquela com quem conversaria sobre Felicity e Cooper. – O que me atingiu em cheio foi o horror no rosto da garota ao ter de matá-lo, a forma como ela parecia ter perdido a própria humanidade ao fazê-lo e a forma como ela simplesmente surtou quando ele caiu sem vida aos seus pés... Com toda sinceridade, pensei que ela fosse se matar depois. – conta e fecho os olhos, tentando não pensar nisso. – E acho que ela o teria feito se não tivesse ficado inconsciente logo depois.

— Eu preciso ver isso, Helena! – abro os olhos, que ardiam.

— Não, você não precisa. – ela rebate prontamente. – Isso não vai mudar nada. E não acho que assistir à garota que você ama tendo de atirar na cabeça do homem que ela amava vá lhe fazer algum bem. – acrescenta duramente, fazendo meu estômago dar voltas. Mas me concentro em uma coisa que ela disse.

— Então você sabe...?

— Que você a ama? – vejo seus olhos sorrirem pela primeira vez. – Não insulte minha inteligência, Ollie. – estala os lábios, me arrancando um pequeno sorriso. – E é por saber isso, que acho que você devia confiar mais nela. – acrescenta, voltando a ficar séria.

— Eu confiei em você. – não consigo evitar soltar a acusação e ela me oferece um sorriso triste.

So let me, oh let me redeem, oh redeem

Oh myself tonight

Cause I just need one more shot

At second chances

— Isso apenas prova o meu ponto. – ela afirma, respirando fundo. – Percebe que confiou em mim mesmo quando eu lhe dava motivos para não fazê-lo, quando todos tentavam lhe abrir os olhos e havia milhares de provas de que eu não merecia sua confiança? – lembra e eu cerro o maxilar ao lembrar-me de como fui cego. – Não me orgulho disso, Ollie, mas é a verdade. – dá de ombros com nostalgia.

— E como isso prova seu ponto? – pergunto.

— Por mais irritante que seja, compare as situações: ela, ao contrário de mim, apesar de ter um segredo, faz de tudo para contá-lo a você, mesmo que seja por partes. Ela compartilhou seus demônios com você, ainda que isso a assombrasse como o inferno, enquanto eu preferia me esconder em mim mesma. – ela encolhe os ombros. – Além do mais, qualquer um com olhos na cara é capaz de ver que ela o consertou como eu infelizmente não fui capaz de fazer.

— Como você sabe disso tudo? – estreito os olhos.

— Dig. – ela sorri suavemente. – Vamos dizer que ele me contou resumidamente a história de vocês e deixou claro que eu não a atrapalhasse. E eu realmente não quero. – ela levanta o olhar para o meu. – Atrapalhar a história de vocês. – esclarece.

Eu apenas entreabro os lábios surpreso por estar sendo aconselhado quanto ao meu novo relacionamento pela minha ex-noiva.

— Você não foi o único a amadurecer por aqui, Ollie. – ela ri de maneira sapeca, pondo o cabelo atrás da orelha.

— Eu só estou... assimilando. – murmuro.

— Você me daria alguns minutos para dizer tudo o que acho sobre tudo isso? – ela me encara de maneira intrigante.

— Vá em frente. – assinto e ela toma fôlego.

— Eu amei você. – ela fala, sem tirar os olhos dos meus. – Sei que estraguei tudo, mas não estou mentindo quando digo que realmente te amei, Ollie. E, por mais que tenha amado você com todo o meu coração não pude impedir que terminássemos por... nos destruirmos. – suspira, desviando o olhar. – Não estou dizendo que fiz certo ao me envolver com Simon. – acrescenta rapidamente. – Mas a verdade é que você merecia mais do que eu podia te dar e era mais do que o que eu podia lidar na época. Isso me assustava. – dá de ombros. – Eu sabia que você não queria ser sombrio assim para sempre, que queria luz, que estava tentando sair da Argus e tocar sua vida. – conta, e eu me surpreendo com essa informação. – E eu também sabia que o motivo de você continuar na Argus era eu. – continua e abro minha boca, mais surpreso ainda. – Digamos que você não era muito sutil quanto a querer sair, então não exigia muitos neurônios para deduzir que continuava apenas para se assegurar de me manter na linha e viva. – ri baixinho e eu reviro os olhos, divertido pela forma como ela colocou as coisas. – E nunca tive a oportunidade de te dizer o quanto sou grata por ter tentado arrancar luz de mim quando eu só podia te oferecer mais da minha escuridão. – sorri de maneira doce como há muito tempo não via.

— Eu via a luz que você escondia do resto do mundo e pensei que, talvez, pudesse fazer com que você a assumisse. – dou de ombros, deixando as lembranças passearem por minha cabeça, agora parecendo mais um filme em preto e branco do que uma antiga realidade.

I’ll take every single piece of the blame

If you want me to

But you know that there is no innocent one

— Mas você não podia. – ela fala de forma brusca. – Oliver, ninguém traz luz para a vida de outra pessoa se não encontrar primeiro a sua própria luz, ou sem que a outra pessoa queira ser iluminada! – fala, intensamente. – E por maior que fosse aquilo que sentíamos um pelo outro, a verdade é que nos poluíamos. Como você poderia emanar luz se eu desligava seus interruptores? E como por Deus, poderia me dar algo que não possuía?

— Acho que eu só me recusava a abrir mão disso, a abrir mão da gente. – falo, a mágoa da traição me fazendo apertar os lábios.

— Eu sei. – ela assente com pesar. – E é por isso que eu te forcei a isso. – ela confessa. – Sim, foi covarde e sim, eu realmente sinto muito por ter feito tanto mal a você, mas eu não conseguia dormir a noite sabendo que estava atrasando sua vida, porque, Ollie, eu não estava pronta para sair da Argus e, na verdade, nem sei se algum dia estarei. – fala atropeladamente numa tentativa de me fazer entender. – Não percebe que nosso relacionamento ficou recheado de culpa? Eu me culpava por te manter em algo que claramente te fazia mal e você se culpava por querer me deixar abraçar minha escuridão sozinha.

— Onde quer chegar?

— Eu não te traí porque me apaixonei pelo Simon. – ela conta, me surpreendendo novamente.

— E por que, Helena? – questiono, atordoado.

— Fiz isso porque não era corajosa o bastante para abrir mão de você e precisava que você abrisse mão de mim, que encontrasse sua luz. – ela baixa o olhar. – E eu não fiz tudo isso pra te ver afundando outra vez nessa escuridão e arrastando essa garota com você. – volta a me encarar de forma magnética.

In this game for two

I’ll go, I’ll go and you go, you go out

And spill the truth

Can we both say the words and forget this?

— Eu não estou querendo voltar e nem muito menos trazer Felicity para minhas sombras. – digo, na defensiva.

— Então confie em mim quando digo que você não deve ler este arquivo. – ela sentencia, apontando o tablet ainda em minhas mãos. – Felicity não merece sua desconfiança e você não merece saber a verdade sobre o passado dela por alguém que não ela mesma. Nem eu e nem Amanda temos o direito de te dar essas informações. – afirma da maneira segura como eu me lembrava que tinha costume de fazer.

— Porque está fazendo isso? – faço um gesto entre nós.

— Em primeiro porque acho que nos devíamos essa conversa depois de tudo. – ela me estende um sorriso sincero.

Concordo com a cabeça.

— Posso te dar um abraço? – me pergunta, torcendo os dedos.

— Claro. – digo, me erguendo e ajudando a levantá-la, para logo depois puxá-la para meus braços com familiaridade.

— Você sempre terá seu lugar dentro de mim, Ollie. – diz, sua voz abafada contra meu peito.

— Você também, Lena. – murmuro, beijando o topo de sua cabeça e afagando seus cabelos compridos antes de me afastar. – E qual o segundo motivo?

— Como sua amiga e parceira nesta missão, sei exatamente o que esse arquivo faria com a sua mente! – ela me olha de forma profunda. – Amanda pode não dar muito valor ao sentimentalismo, e houve uma época em que nós dois também não daríamos... mas não agora. E garanto que você não saberá lidar com o que descobrir, não com tudo isto ao mesmo tempo. – adverte.

— Do que está falando? – semicerro os olhos, a encarando com desconfiança.

— Eu só quero a sua felicidade, Oliver. – ela dá de ombros. – E se esta felicidade está com Felicity, não posso permitir que arruíne tudo. – conclui, dando um beijinho em minha bochecha e se afastando.

Is it too late now to say sorry?

Yeah, I know that I let you down

Is it too late to say sorry now?

Sorry, yeah, sorry

Passo um bom tempo remoendo as informações dadas por Helena e, sinceramente, não saberia dizer em que momento meus dedos ignoraram o que ela disse e abriram o estúpido arquivo no tablet, mas de alguma forma foi isso que aconteceu.

Eu não cheguei a lê-lo por completo, mas o único fragmento que atraiu meus olhos foi a minha derrocada, foi o que me fez entender o motivo de Helena não querer que eu mexesse nele.

Estava mais para o final do relatório simples que ela sempre fazia do caso na primeira página do arquivo, que resumia a missão e dizia exatamente nessas palavras:

O assassinato frustrado de Donna Smoak e de sua filha Felicity Megan Smoak, que estava sendo mantida em cativeiro pelos meliantes já por 5 meses e 3 dias, foi, segundo consta nos depoimentos dos sobreviventes, ordenado pelo líder da organização criminosa: Damien Darhk. Tal crime, porém, foi impedido por esta agente (Helena Bertinelli, vulgo Caçadora) não antes que a mencionada srt.ª Smoak assassinasse Cooper Seldon com um tiro à queima roupa, na testa, num ato de legítima defesa e de pouca ou nenhuma sanidade ativa.

Infelizmente, porém, esta agente não poderá sustentar as acusações contra o referido Sr. Darhk, já que, misteriosamente, as únicas testemunhas de tal barbárie foram assassinadas alguns dias após a captura dos mesmos, e a Sr.ª Smoak e sua filha negaram-se veementemente a depor contra ele, pedindo imunidade total ao governo federal e completo sigilo sobre suas respectivas identidades, uma vez que para todos os efeitos, a srt.ª Smoak é conhecida no mundo criminoso como “Bitch with Wi-Fi”.

Seguem, anexos a esse arquivo, o relatório completo da missão, além das fichas criminais de todos os integrantes da gangue, incluindo a própria srt.ª Smoak. Acrescentando-se a estes, vídeos interceptados do galpão referentes ao dia da emboscada, cujas imagens atestam a inocência de Felicity Smoak, apesar de provarem que a referida realmente assassinou Cooper Seldon, explicitando o caráter dramático que levou a mesma a cometer tal crime.

Este relatório é fiel aos fatos o máximo que a minha interpretação e as evidências permitem, sendo isento de qualquer alegação de má fé e estando restrito aos integrantes do meu departamento, submissos às ordens da superiora, Amanda Waller,

Helena Bertinelli

A bem da verdade, depois de ler o nome “Damien Darhk” logo após referir-se ao mesmo como mandante do frustrado assassinato de Felicity, todas as demais informações, embora assimiladas com o mesmo interesse, passaram como um borrão turvo e manchado por minha visão vermelha.

Alguém havia tentado machucar a pessoa que eu mais amo, havia tentado matá-la, e talvez ainda fosse tentar fazê-lo! Como eu poderia tolerar isso? Como poderia permitir que acontecesse?

A resposta era simples: Não poderia!

Tinha de dar um fim àquilo! Precisava fazer alguma coisa!

Chegara a hora de agir.

Flashback~Oliver~off

Oliver concentrou-se em manter a respiração rítmica apesar da ardência em seus pulmões toda vez que o fazia graças à posição em que se encontrava, o oxigênio queimando seu peito e se espalhando como lava por seu tórax.

Sabia que era tarde para arrependimentos, mas não conseguia evitar. Desejava no fundo de seu coração que Dig, Helena e especialmente Felicity o perdoassem por ter sido tão inconsequente e cego.

Is it too late now to say sorry

Cause I’m missing more than just your body

Is it too late now to say sorry?

Yeah I know that I let you down

Era evidente que se tratara de uma armadilha, uma a que ele poderia ter escapado se seu bom senso não estivesse tão nublado pelo ódio que corroia suas entranhas.

Agora, e só agora, ele percebia que tudo não passava de mais um dos planos completa e irracionalmente egoístas de Amanda, e que ele e sua equipe foram apenas peças em um tabuleiro muito maior. Um tabuleiro no qual ele era o rei.

Custava-lhe acreditar que Amanda pudesse ser tão desnaturada, mas agora não restavam muitas alternativas.

Sentia a cabeça latejar, amarrado de cabeça para baixo, com as veias do rosto e pescoço inchadas pelo fluxo irregular de sangue nessa direção. Ao mesmo tempo, refletia que aqueles momentos, provavelmente os últimos de sua vida, não poderiam ser mais humilhantes.

Tratado como uma reles moeda de troca... — a constatação o irritava desde quando se dera conta de que fora entregue de bandeja pela Waller nas mãos de um sádico, que ansiava por pendurar sua cabeça na parede, em troca de informações que a ajudassem a prender um criminoso conhecido como o Exterminador, um dos mais procurados pela Argus, Interpol e Cia.

Aos poucos as ideias iam se encaixando em sua mente, formando um perfeito quebra-cabeça, ainda que completamente maligno.

Sempre soube que o casamento dos pais nunca fora um mar de rosas, mas não imaginava que, no fim deste, os problemas não se resumissem a Robert e Moira... que incluíssem Damien Darhk.

Ex-noivo psicopata de sua mãe. — torceu o rosto com desgosto, cuspindo um pouco de sangue, o corpo dolorido pelas repetidas sessões de espancamentos e tortura a que havia sido submetido nas últimas horas.

Muitos acontecimentos passaram a fazer sentido em sua mente.

Malcolm havia tido um caso com sua mãe quando ele e Tommy eram crianças, gerando Thea.

Poucos meses depois, Rebecca, a mãe de Tommy, fora assassinada brutalmente sem que jamais se encontrasse o culpado do crime e Malcolm sumira do mapa por um bom tempo.

Agora ele sabia que tudo isso fora causado pela obsessão doentia de Damien por Moira, que o levara a “punir” Malcolm por usufruir de algo que ele mesmo não podia, matando Rebecca e ameaçando-o.

Mas a verdadeira vingança ele reservara para Robert, o homem que “roubara” sua noiva.

Por isso o medo estampado no olhar de seus pais quando descobriram que o mais novo investidor da QC era Damien Darhk. Por isso as discussões intermináveis e por isso a viagem para a China, que, é claro, foi sabotada e resultou na morte de seu pai, na sua própria quase morte.

E agora Damien voltara para terminar o serviço.

Temia por Thea, tinha medo de que ela fosse o próximo alvo da vingança doentia do homem.

Temia por sua mãe, tinha medo de que ela jamais conseguisse se perdoar por acrescentar a morte dele às de Rebecca e Robert em sua consciência.

Mas, acima de tudo, temia por Felicity, se odiava por não ter lhe dado a chance de se despedir, por não ter confiado nela e lhe contado o que estava acontecendo e por abandoná-la ainda que sem a intenção.

I’m just not trying to get you back on me

Cause I’m missing more than your body

Is it too late now to say sorry?

Sentiu os olhos molharem, não por uma dor física, mas por uma dor excruciante e emocional de ser consciente de tudo que perdera.

Ouviu a porta da sala branca em que estava confinado ser aberta e assistiu à entrada de Damien no local, sabendo que o mesmo só sairia dali quando ele estivesse inconsciente e que repetiria o ritual até que ele não tornasse a abrir os olhos outra vez.

Cerrou os dentes tentando não agonizar por antecipação, os olhos ardendo e a boca tremendo quando o olhar gélido do mais velho encontrou o dele, reduzindo-o a uma pobre criança apavorada apesar de obstinada.

— Pronto pra morrer... De novo? – o homem gargalhou de sua própria piada sádica e começou a baixar a corda que o prendia de modo a mergulhá-lo outra vez no grande tanque de água.

Oliver sabia que ele ainda não o deixaria morrer. Sabia que depois que ele se afogasse Damien o traria de volta, somente para afogá-lo outra vez. Também sabia que esse jogo só acabaria quando ele dissesse. Mesmo que tudo o que dissesse fosse um pedido desesperado pela morte.

E antes de deixar a água queimar por seus pulmões outra vez, teve um único pensamento, tão azul quanto o próprio líquido que entrava por suas narinas: Os olhos de Felicity, magoados, tristes... e vazios.

Yeah, I know that I let you down

Is it too late to say sorry now?

~*~

Felicity Smoak

Desço da garupa da moto de Helena, completamente tonta e descabelada, praguejando desenfreadamente por ter aceitado vir com ela, ainda que os motivos fossem completamente válidos.

Holly shit! – apoio as mãos nos joelhos, sentindo uma conhecida sensação de náusea se espalhar segundos antes que vomite tudo o que estava no estômago num jato ininterrupto e nojento.

— Felicity, você está bem? – ouço a voz de Helena soar levemente preocupada antes que ela me alcance e segure meus cabelos para que eu não os suje, à medida que ponho as entranhas para fora.

— Estou ótima, Helena. – retruco com sarcasmo após terminar, limpando a boca com o dorso da mão trêmula. – Apenas quase botei meu filho pela boca. – acrescento antes que possa me frear e assisto os olhos azuis acinzentados da morena arregalarem.

— Você está grávida? – ela questiona, me ajudando a firmar as pernas.

— Não que você devesse ser a primeira a saber disso, mas sim. – retruco, torcendo os lábios e ainda incomodada pelo mal-estar.

— Oh, Deus! É de Oliver? – pergunta, após um instante, enquanto me apoia com seu braço e me ajuda a caminhar na direção do que parece ser uma garagem.

— Não, é do Papai Noel! – resmungo azeda a encarando com vontade de arrancar seus cabelos. – É lógico que é de Oliver! – reviro os olhos e ela solta uma risadinha.

— Estamos irritadas hoje, não é mesmo? – meneia a cabeça quando eu paro um pouco para recuperar o fôlego.

— Não, nós não estamos! – bufo. – São esses malditos hormônios que estão me transformando numa troglodita. – choramingo. – Juro que, depois de salvarmos o idiota do seu ex, meu namorado, eu o matarei! – volto a bufar e ela me lança um olhar de certa forma encantado.

— Você o ama, não é mesmo? – pergunta baixinho, parando à minha frente.

— Acha que eu estaria aqui se não o amasse? – a encaro com uma expressão incrédula e ela sorri novamente, negando. – Oliver pode ser um imbecil às vezes, mas é claro que eu o amo com todas as minhas forças.

— Estou sendo sincera quando digo que fico feliz por ele ter o seu amor. – ela afirma, seu olhar quase translúcido devido a escuridão.

Havíamos tido uma conversa nenhum pouco agradável para qualquer uma de nós em meu apartamento, onde Helena me contou que por acaso Oliver havia sido um agente secreto por 3 anos há um par de anos atrás. Até aí tudo bem, apesar de eu quase ter caído dura de surpresa ao saber.

No entanto, ele havia aceitado mais uma última missão, essa semana, na qual capturaria o assassino do seu pai.
Claro que magoava um pouco saber que ele não contara nada para mim, nem mesmo cogitara fazê-lo. Ele teria que se esforçar muito para se redimir por ter me excluído de algo tão importante quanto entrar em uma missão praticamente suicida ao lado de sua ex-noiva, mas isso era algo que eu pudesse entender e que nós podíamos superar.

O que realmente me preocupava era o nome do homem: Damien Darhk.

É evidente que eu jamais me esqueceria desse maldito nome, e também é óbvio que a última coisa que eu queria era revirar essa merda que era o meu passado, mas envolvia a vida de Oliver. Então, obviamente, eu sequer pensei duas vezes antes de aceitar a proposta de Helena e oferecer meus serviços como hacker para ajudar a resgatá-lo das garras dele.

Havia outro problema, porém. Segundo Helena, estaríamos nessa apenas eu, ela e Dig, pois é, outra surpresa, apesar de não ser difícil imaginá-lo neste meio. Não teríamos apoio externo, uma vez que Amanda Waller, a superior deles, fora a magnífica mulher responsável por entregar Oliver nas mãos de Damien. Nota mental para odiá-la eternamente por ser tão traiçoeira.

Resumidamente, estaríamos burlando o sistema para tentar libertar um agente renegado do poder de um criminoso altamente protegido e que escapara por décadas de todas as instituições governamentais.

— Onde estamos? – pergunto para Helena quando ela levanta o portão de alumínio, entrando comigo após verificar o perímetro e ter certeza de que não fomos seguidas.

— Na minha casa secreta, gravidinha... – cutuca minha costela, provocativa, quando entro, fechando a entrada novamente.

Ouço passos no andar de cima e deduzo se tratarem dos de Diggle, meus olhos arregalando-se ao me dar conta de algo.

— Helena. – chamo, segurando seu braço e fazendo-a me encarar.

— Sim?

— Não conte para ninguém sobre a minha gravidez, para ninguém mesmo. Quero contar a Oliver quando achar ser o momento certo e, pra ser sincera, você só descobriu porque eu não estava em um dos meus melhores momentos ali fora. – murmuro apressadamente e ela me encara de maneira profunda antes de assentir.

Um segundo depois, vemos um Dig cheio de olheiras e um curativo no braço se aproximar.

— Tem certeza de que é seguro trazê-la aqui? – ele dispara, se aproximando e agarrando meus braços para me inspecionar como se eu fosse explodir a qualquer momento.

— Relaxe, não fomos vistas... – a morena revira os olhos.

— Não havia muito além de um vulto para ver, de qualquer forma. – a fuzilo com o olhar e ela ergue as mãos, alegando inocência. – Como pode estar tão calma? – esboço a pergunta que vem passando pela minha cabeça há bastante tempo.

— É Oliver. – ela dá de ombros, como se isso respondesse tudo. – Ele sempre se safa. – esclarece e uma pequena parte minha murcha por ela conhecer esse lado dele como eu jamais conhecerei.

— Precisamos de pressa. – Dig corta nosso interlúdio, com um olhar mais que preocupado. – Oliver é resistente, mas não acho que temos mais do que algumas horas antes que Damien o despedace. – meus ombros encolhem visivelmente de horror com a simples ideia. Cooper era ótimo com tortura... Não quero nem pensar no que seu mentor é capaz de fazer.

— Onde estão as informações que pedi? – questiono, caminhando sem demora para a mesa onde os computadores de Helena foram instalados.

— Aqui. – Dig me estende uma mochila. – São alguns equipamentos de Oliver. – explica, quando retiro um tablet da bolsa. – Acho que o que tem aí vai ser bastante útil para você apesar de não ter dado muito certo no meu caso... – ele dá de ombros.

Deslizo o indicador pela tela, tentando me manter racional enquanto testo combinações aleatórias para desbloqueá-lo, mas qualquer racionalidade se vai quando digito “FMSSWEET” e desbloqueio o aparelho num passe de mágica, finas lágrimas deslizando por minha bochecha com o pequeno gesto afetuoso de Oliver, que significa tanto para mim apesar disso.

— Oh, Deus, eu havia me esquecido! – Helena me encara alarmada, no mesmo instante em que seleciono para abrir o arquivo mais recente, mas mal tenho tempo de assimilar isso ou seus passos rápidos na minha direção quando meu olhar recai sobre os detalhes da página digital aberta.

Relatório completo sobre o caso de Felicity Megan Smoak

Conteúdo criado: 29/12/2013

Autor: HelenaCBertinelli

Anexos: Fichas criminais, vídeo referente ao dia da emboscada e fotos dos referidos.

Acessado pela última vez: Ontem, às 23:54h

— Por favor, diga que ele não fez isso... – Helena murmura, culpada e decepcionada, enquanto eu pisco repetidas vezes com os olhos lacrimejando entre ela e o tablet, Diggle nos encarando receoso.

— Seja qual for a merda a que você está se referindo... – suspiro, fechando o arquivo rapidamente e enxugando minhas lágrimas. – Sim, vocês fizeram! – a encaro de forma acusativa, me sentindo traída por Oliver, traída por todos. – Como você pôde? Como ele pôde? – me ergo de maneira imperiosa apontando o dedo em riste na direção dela, que dá um passo para trás. – Sequer tinham o direito! – esbravejo, fora de mim.

— Felicity, eu preciso que você se acalme. – ela ergue uma mão e eu respiro tão profundamente que temo acabar com todo o ar do ambiente, Dig se colocando cautelosamente entre nós duas. – Eu posso explicar... – ela diz e reviro os olhos pela afirmação clichê.

— Então explique! – exijo.

 

Sei que você sabe que cometi aqueles erros

Talvez uma ou duas vezes

Por uma ou duas vezes quero dizer talvez milhares

Então permita eu me redimir hoje à noite

Pois eu só preciso de mais uma tentativa

Com segundas chances

É muito tarde pra pedir desculpa agora?

Sorry (Justin Bieber)

 


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Notas finais do capítulo

E então?
Deixem-me saber o que acharam nos reviews! ;)
Xero ♥



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