Por trás das lentes escrita por Megan Queen


Capítulo 45
I Run To You


Notas iniciais do capítulo

E tem alguém com uma reza muito boa por aí, viu? Eu atualizando em 7 dias? Obra de Deus! kkkkkk
Então, depois de muito fazer e refazer eu cheguei a este cap, e realmente estou preocupada com minha integridade física desde o último cap de MM então... sem comentários...haha
Queria agradecer do fundo do coração aos comentários de cada uma de vcs que tomaram do seu tempo para me dizer o que acharam , apesar de dizer que estou ficando um pouco triste com o quanto o número de reviews diminuiu... mas, enfim...
Boa Leitura!



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Eu fujo do ódio [...]

Mas eu fujo tarde demais

Eu controlo minha vida

Ou é ela que me controla

Fujo do meu passado

Eu fujo muito rápido

Ou devagar demais, me parece

Quando as mentiras se tornam verdades

É quando eu corro para você

— I Run To You (Lady Antebellum)

Felicity Smoak

Desperto com um leve beliscão em meu braço e solto um grunhido de dor antes de abrir os olhos e dar de cara com o rosto de Thea Queen a centímetros do meu.

Bufo.

— Eu poderia te dizer uma pequena lista de palavrões agora, mas prefiro saber o mais importante... – resmungo, esfregando os olhos, mal-humorada. – Como diabos você entrou?! – ponho uma almofada sobre minhas coxas ao sentar.

— “Como diabos...?” também conta como palavrão... – ela provoca, fazendo aspas e eu reviro os olhos. – Com a chave de Sara. – ela dá de ombros, respondendo minha pergunta. – E nem adianta tentar cobrir as marcas em suas pernas porque seu decote e pescoço não estão muito melhores e o lóbulo da sua orelha direita está... Roxo? – ela ergue uma sobrancelha, sorrindo maliciosa quando minhas bochechas avermelham, antes que eu me levante e corra para meu quarto. – Caramba! Oliver fez um belo estrago nessa pele de porcelana... Noite agitada? – ela continua, me seguindo, à medida que prendo meu cabelo num coque alto analisando o estrago que seu irmão fez em meu colo e pescoço, além das marcas evidentes de seus dedos e... dentes(?)... em minhas coxas.

— Eu vou matá-lo... – suspiro, indo para o quarto e ajeitando os lençóis revirados da cama para me sentar.

— Me deixa adivinhar... Sexo de reconciliação? – pergunta indiscreta, e eu arregalo os olhos. – Acontece de vez em quando comigo e Roy... – dá de ombros e sinto que meu olhar cresceu ainda mais, meu rosto esquentando.

— Thea, juro que minha vida sexual... sua vida sexual... – acrescento, chacoalhando a cabeça de leve. – Não estão no topo da lista de assuntos sobre os quais gostaria de conversar com você. – fecho os olhos, erguendo uma mão.

— Tudo bem. – ela ri visivelmente divertida por me atazanar. – Apenas lembre-me de não deixá-lo vir para cá na véspera do casamento de Cait. – continua zombeteira. – Acho que a doutora surtaria ao ver uma de suas damas de honra toda marcada. – faz um gesto exagerado simulando um infarto da parte de Caitlin e eu não consigo evitar uma risada ao imaginar a cena.

— Okay. Chega! – ergo as mãos, pedindo um tempo, e ela assente, se jogando na cama ao meu lado para logo depois levantar-se num pulo. – O que foi? – pergunto confusa.

— Me recuso a deitar ou sentar nessa cama até que esses lençóis sejam esterilizados! – torce o nariz, apontando o amontoado do edredom ao meu redor. – Sinto o cheiro da fornicação de longe... – acrescenta, fingindo repreensão ao cruzar os braços e eu reviro os olhos.

— Ninguém merece começar o dia com você... – levanto-me, empurrando-a para fora de meu quarto, sua gargalhada soando alta. – Sinceramente, quanto mais o tempo passa, maior é a minha admiração pelo Harper... – suspiro teatralmente, alfinetando-a, e ela faz um bico engraçado antes de desabar de uma vez em meu sofá.

— Felicity, querida, já disse isso muitas vezes, mas sempre é bom repetir: Me ame menos! – joga um beijo no ar, e mordo o lábio para não rir de sua arrogância.

— Thea, o que está fazendo aqui? – pergunto, analisando seu encolher de ombros e notando que, apesar de estar tão refrescante quanto antes, algo a incomoda.

— Isso é uma expulsão? – ela provoca e eu reviro os olhos. – Porque se for, saiba que não estarei saindo tão cedo... – avisa, me fazendo rir de leve, antes de me aproximar e tomar suas mãos nas minhas, olhando fundo em seus olhos, o que parece deixá-la desconfortável.

— Sério. – digo. – Theresa Dearden Queen... O que houve? – questiono lentamente.

— Mamãe... E Oliver... – solta os nomes com cuidado, se remexendo no sofá e desviando o olhar.

— O que quer dizer? – pergunto, alarmada com a menção de Oliver.

— Estou sentindo de novo. – diz, soltando o ar pesadamente e franzindo a testa ao procurar palavras. – Eles estão escondendo algo de mim, Fel. – seus olhos encontram os meus angustiados, me preocupando. – De novo. – bufa.

— De novo? – murmuro, querendo pegar seu ponto.

— Sim. Eu vejo isso, vejo nos olhos dos dois, eles pensam que eu sou tola, mas não sou! – vejo mágoa em seus olhos. – Está acontecendo exatamente da mesma forma... – aperta minhas mãos e fico em silêncio esperando que ela continue. – Do mesmo jeito que 5 anos atrás. – conclui, meu coração gelando no mesmo instante, ao entender.

This world keeps spinning faster

Into a new desaster so

I run to you

I run to you, baby

— Thea, por que você diz isso? – minha voz sai trêmula, mas limpo a garganta tentando lhe passar segurança.

— Sabe... Eu não costumo pensar muito nisto, entende? Mas, quando Oliver e papai... Robert... – ela corrige, passando as mãos pelos cabelos lisos, meu coração doendo ao imaginar o inferno que a tragédia do Gambit trouxe à vida dela. – Bom, de qualquer forma, quando eles estavam para viajar... Eu senti. – diz, seu olhar ganhando um brilho estranho, e ela o desvia para outro canto da sala. – Era muito nova para entender, mas senti que algo estava errado. – afirma, veementemente. – E eu sei que mamãe também sentiu. Céus, Felicity! Faz ideia do quanto ela pediu para pap-... Robert... – corrige novamente, sua voz soando triste.

— Hey! – chamo, fazendo-a me encarar. – Não tem problema chamá-lo de pai, okay? O fato de Malcolm ser seu pai biológico não muda o fato de que Robert a amou como um, assim como você o amou de volta. – digo e vejo a gratidão em seu olhar por minha compreensão. – Quisera eu ter tido pelo menos um pai. – brinco, satisfeita por conseguir arrancar um pequeno sorriso dela. – Continue... – incentivo e ela torna a apertar minhas mãos.

— Ela pediu, Felicity. – fala novamente. – Praticamente implorou para que eles não fossem. – conta com tristeza. – Acho que no fundo sabíamos que estávamos prestes a perdê-los. – dá de ombros. – E estávamos certas. Porque, com o inferno, perdemos. Perdemos Robert... – seus olhos enchem de lágrimas. – Meu papai. – soluça, e eu a abraço, ainda assimilando a dor que Thea guardou por tanto tempo. – Eu... estava tão furiosa com essa viagem que... Eu não me despedi, entende? – seu choro aumenta, enquanto afago suas costas, deixando-a desabafar. – E e-eu... Eu não consigo mais me lembrar. Não consigo mais me lembrar de qual era a exata sensação de quando ele me puxava para seus braços, ou de qual o cheiro de sua camisa quando me deixava dormir em seu colo... Seu rosto, aos poucos está se tornando um borrão e sua voz, não consigo me lembrar de seu timbre. – sussurra de forma extremamente magoada. – E tudo que consigo pensar é que na última vez em que o vi, não lhe dei nem mesmo a droga de um abraço ou lhe disse o quanto... – ela funga, tentando recuperar a voz. – O quanto o amava, de forma absurda, e queria que voltasse logo.

And when it all starts coming undone

Baby, you’re the only one

I run to you

I run to you

— Ele sabia. – digo com simplicidade e ela se afasta para me encarar com seu rosto molhado e vermelho. – Sabia, Thea. – repito.

— Como tem tanta certeza? – pergunta insegura.

— Os pais sempre amarão seus filhos e sempre, sempre, saberão quanto eles os amam, mesmo quando gritamos a plenos pulmões que os detestamos. – sorrio, suavemente, secando as lágrimas que descem por suas bochechas. – Aprendi isso com alguém que entende do assunto. – asseguro, lembrando-me duma conversa que tive há muito, muito tempo atrás.

Flashback~on

— Cooper! – consigo chamar apesar da dor em minha garganta seca e ele vira-se parcialmente para mim, da porta.

— Sim?- ele se volta, com um sorriso satisfeito ao ver minha expressão derrotada.

— Eu faço. – cuspo as palavras.

— Sabia o quanto você era inteligente, meu amor! – ele volta para mim empolgado, enchendo meu rosto de beijos nojentos.

— Eu posso vê-la? – murmuro, me esforçando para não recuar e irritá-lo. – Mamma. – esclareço e ele me olha em dúvida. – Só por um pouco, e depois farei o seu serviço, Coop... – suplico, chamando-o pelo apelido apenas para garantir que ele me atenda.

— Tudo bem. – ele beija meus lábios com sua boca gelada e franzo a testa, tentando não vomitar. – Não poderei deixar vocês juntas muito tempo, mas posso conseguir alguns minutos. – diz, acariciando minha bochecha.

— Eu... – me manifesto quando ele faz menção de se afastar. – Poderia soltar minhas mãos? – peço com cuidado e ele ergue uma sobrancelha. – Juro que não irei fugir nem tentar nada. – acrescento rapidamente. – Se quiser, pode deixar Freddie como guarda na porta. – sugiro e ele começa a considerar a ideia. – Eu só... Eu só quero abraçá-la, entende? – murmuro, meu coração batendo insanamente à espera de sua resposta.

— Okay. – ele decide por fim, me dirigindo um sorriso que provavelmente pretendeu ser carinhoso, mas que embrulha meu estômago. – Apenas porque amo você, Lissy. – pisca e eu grunho internamente com este absurdo que ele persiste em repetir apesar de tudo, com vontade real de matá-lo.

— Obrigada, Coop. – forço meus lábios a dizer, no entanto, ganhando um sorriso satisfeito dele.

— Só um minuto. – ele beija minha boca novamente, se levantando e saindo da sala.

Cuspo freneticamente tentando me livrar do sabor de seus lábios assim que ele sai.

Não demora muito e ele retorna com minha mãe, a agarrando pelo braço de modo rude e a jogando dentro da sala com alguma violência, meus dentes rangendo com sua atitude animalesca.

— Solte as mãos dela. – ordena para o robusto Freddie, que o olha incrédulo, provavelmente pensando nos milhares de vezes que tentei escapar. – Agora! – Cooper sibila, e ele obedece, meus pulsos latejando em alívio quando finalmente corta as cordas. – Fique aqui na porta até pelo menos 5 minutos. – meu ex orienta. – Depois a leve de volta. – dá de ombros.

Em alguns instantes, Freddie se retira, resmungando algumas coisas ininteligíveis e parando na frente da porta.

— Bonequinha... – mamãe se aproxima rapidamente de mim, me abraçando com força e eu gemo de dor por causa de meus machucados. – Desculpe, desculpe, desculpe. – ela repete de maneira atrapalhada me soltando e assistindo à minha careta de dor.

— Tudo bem. – suspiro sofregamente sentindo o incômodo se dispersar aos poucos e a puxando novamente para um abraço cuidadoso. – Por favor, só... Só me abrace, tudo bem? Preciso de você. – choramingo, fungando contra seu ombro e posso sentir pelo tremor em seu corpo que ela também está chorando.

— Sempre estarei aqui, por você, meu amor. – ela afaga meus cabelos, seus dedos passeando pelos fios agora ásperos e quebradiços. – Sempre. – repete, beijando o topo de minha cabeça.

— Eu te amo, mamma. – digo baixinho contra seu pescoço. – Me desculpe por ter passado tanto tempo sem lhe dizer o quanto te amo do fundo do meu coração. – acrescento sofregamente num soluço.

— Shiuss... – ela pede, segurando meu rosto entre suas mãos e beijando minha testa. – Sem desculpas, okay?

— Mas eu... – começo, me lembrando dos milhares de vezes em que ela me advertira sobre Cooper e eu fora estúpida de mais para ouvi-la. Lembrando-me da última vez em que a tinha visto, na qual discutimos como nunca e eu a disse para ir ao inferno e deixar-me viver minha vida. Culpa. Culpa rasga meu peito e enche meus olhos mais ainda.

— Hey. – ela segura meu queixo, nivelando nossos olhares. – Pais de verdade sempre amarão seus filhos e sempre, sempre, saberão quanto eles os amam, mesmo quando gritam a plenos pulmões que nos detestam. – afirma, seu olhar azul cintilando graças às lágrimas não derramadas. – Eu te amo, Felicity.

— Eu também te amo! – me apresso em dizer com certa urgência ao ver Freddie entrar novamente.

— Eu sei disso, querida, eu sei disso. – ela beija minha testa devagar, mas logo um frio toma seu lugar quando ela é levantada pelo homem robusto.

— Mãe... – soluço, ao vê-la sair, sua cabeça loira se virando em minha direção e me dirigindo um olhar cheio de significado antes de desaparecer pela porta.

Um ou dois minutos se passam até que a porta é novamente aberta, dessa vez por Cooper.

— Já dei o que você queria. – diz, me estendendo um notebook. – Podemos começar isso de uma vez? – lança um sorrisinho de canto prepotente que me faz ter náuseas.

— Claro. – falo com voz morna, aceitando o aparelho e me sentando no chão duro sem pestanejar.

— Boa garota. – ele sorri, beijando minha testa antes de sair e me trancar ali outra vez.

Flashback~off

— Obrigada. – a voz de Thea me traz de volta à realidade e foco meu olhar em seu rosto abatido. – Por me dizer isso. – esclarece com um encolher de ombros.

— Não foi nada. – limpo suas lágrimas. – Agora me esclareça o que disse antes. Sobre Oliver e sua mãe estarem lhe escondendo algo, quero dizer. – explico e ela suspira.

— Bom... Antes da maldita viagem que levou nosso pai e Oliver, por um ano, eu percebia que ele, Robert, estava preocupado com algo. O casamento dos nossos pais estava indo de mal a pior e ele chegava cada dia mais estressado do trabalho, então surgiu à oportunidade dessa viagem e papai resolveu levar Oliver numa esperança de botar juízo em sua cabeça. – ela ri tristemente. – Sei que Ollie se culpa pelo que aconteceu, sei que acha que papai viajou apenas por sua causa, mas eu também sei que ele está errado. – me encara fixamente. – Ele teria ido, entende? Com ou sem Ollie.

— Porque diz isso? – franzo a testa.

— Eu... – ela morde o lábio, pensando em suas próximas palavras. – Eu lembro que ele estava discutindo com Malcolm um dia... – diz, parecendo puxar da memória a conversa, e não deixo de notar que ela não chama Malcolm de pai. – E ele disse, disse que precisava sair da cidade por um tempo, que estava se sentindo ameaçado por um homem... Não me lembro do nome dele direito, mas ele era um dos investidores da QC, na época... E Malcolm lhe disse que seria o melhor a fazer, até este homem esquecer o que ele lhe devia e ir embora de vez. – ela coça um olho, encarando o chão. – Eu era muito nova, não entendi muita coisa e contei à mamãe o que tinha ouvido, mas ela não me deu crédito, apenas disse que não era para bisbilhotar as conversas dos outros. – suspira. – Acho que na verdade, ela só estava assustada demais com a possibilidade de eu ouvir suas conversas com Malcolm e descobrir sobre minha paternidade, mas enfim... Águas passadas não movem moinhos. – diz, chacoalhando a cabeça. – De qualquer forma, eu acredito que ela sabia do que estava acontecendo, quero dizer, sobre as ameaças. E acho também que foi por isso que ela insistiu tanto para que não fossem. – me encara novamente, com tristeza. – Mas eles foram. – ela suga o lábio inferior, tentando não chorar e continua. – Foram e não voltaram. – seus olhos lacrimejam. – Foi um inferno, Felicity! Tudo virou um furacão, de repente minha mãe era uma viúva e eu uma órfã, e ambas havíamos perdido também um único irmão e filho mais velho. – suas mãos tremem e ela esfrega mais uma vez os olhos, tentando engolir as lágrimas. – E então depois de um ano que passou como um borrão, eles o encontraram. Oliver. Em uma ilha. Esfarrapado e cheio de cicatrizes, além de milhares de traumas dos quais não faço ideia... mas Oliver. – sorri, parecendo recordar o alívio que sentira quando ele voltou para casa.

We run on fumes

Your life and mine

Like the sands of time

— Deve ter sido uma loucura. – sorrio, contagiada por ela.

— E foi! – ela assente, nostálgica. – Eu estava tão, tão contente, só não mais do que mamãe, é claro. Ela parecia ligada na tomada pelos próximos dias, sempre tentando fazer com que Ollie se sentisse o melhor possível. – ri, parando bruscamente depois. – Mas ele não era ele, compreende? – me olha de maneira profunda. – A psicóloga nos alertou de que o Oliver que encontramos poderia não ser o mesmo que perdemos e, por mais que não quiséssemos acreditar nisso, era verdade. Ele tinha pesadelos constantes e acordava gritando no meio da noite. Era horrível. – ela se encolhe. – Eu me lembro de uma noite em especial em que ele gritava pavorosamente e nós entramos no quarto para acordá-lo e ele... – ela franze os lábios antes de soltar tudo rapidamente. – Ele a agarrou pelo pescoço... Mamãe... Quero dizer. Ele a agarrou pelo pescoço como se fosse matá-la. – diz e eu arregalo os olhos, incrédula. – Nunca me esquecerei do quanto seu olhar parecia ferido e atormentado quando ele acordou e percebeu o que fazia, quase como se sua alma doesse. – acrescenta, se encolhendo visivelmente ao lembrar.

— Deus! Thea, que horror! – murmuro, cobrindo a boca com a mão e tentando não chorar por Oliver e seu sofrimento.

— E então ele começou a sumir. Por dias, ele saía e simplesmente não voltava. No começo, mamãe não quis contrariá-lo, mas depois de muitas vezes em que ele voltava bêbado ou machucado, até de madrugada em algumas delas, ela não pôde mais admitir isso. – diz e eu concordo com a cabeça pensando no quanto Oliver arriscou sua vida se expondo desse jeito. – E então conhecemos Diggle. – ela sorri, sua voz alcançando uma ternura insondável ao falar do segurança. – Apesar de Ollie não aceitá-lo como guarda-costas por um bom tempo, eles se tornaram amigos e assim, mesmo quando Oliver insistia em fazer suas saídas misteriosas, John fazia questão de acompanhá-lo, garantindo que voltasse para casa sempre a salvo.

— Nem posso imaginar a gratidão de Oliver por tudo que Dig, você e sua mãe fizeram por ele. – suspiro.

— Eu posso. – ela dá um pequeno sorriso divertido e me alivio ao ver seu humor melhorando um pouco. – Com o passar do tempo, ele foi voltando ao normal, foi quando conheceu Helena e começou a namorá-la... – diz me lançando um olhar de desculpas ao mencionar a ex dele, mas dou de ombros, nem um pouco incomodada, já que confio na palavra dele de que Helena não passa de um capítulo já encerrado de sua vida. – E, embora em relação a todo o tempo desde que voltara da ilha ele estivesse bem melhor, ainda assim, não era ele. Era mais como se fosse uma sombra do antigo Oliver Queen e sei que não fui a única a notar isso. Tommy percebeu e ele também, mas só o fato de ter melhorado já era um prêmio de consolação. – ri novamente de maneira quebrada. – E daí aconteceu tudo aquilo que você já sabe e ele voltou a ser um pegador inveterado, mas não o verdadeiro Oliver que se fora há tanto tempo atrás.

— Entendo. – anuo com a cabeça, esperando que ela conclua.

Slippin’ right on through

And our love’s the only truth

That’s why I run to you

— E então... Você chegou. – ela me lança um olhar tão agradecido que enche meus olhos. – E foi como se, em muito tempo, ele finalmente tivesse se agarrado a um fio de luz e aos poucos você o puxasse totalmente para fora de toda a sombra em que havia se escondido. – fala, sorrindo de maneira doce. – E eu a amei, Felicity, amei você antes mesmo que estivessem juntos ou que nos tornássemos amigas, amei você pelo simples fato de que você estava me devolvendo meu irmão devagar. Todos os dias, eu via mais dele se manifestando e, como se não bastasse isso, você o transformou em alguém até melhor do que jamais fora. – aperta minhas mãos e eu sorrio, deixando uma lágrima escorregar por minha bochecha. – E em cada um dos dias em que o vi desde que você voltou de Coast City vi tanta luz em seus olhos como nunca antes.

— E por quê... – engulo minhas lágrimas, tentando recuperar minha voz. – Por que você acha que algo está errado? Por que acha que ele está escondendo algo?

— Por que eu vi seus olhos ontem à noite, Fel. Na entrega do prêmio. – franze a testa, desgostosa. – E tudo que vi foi... nada. – ela engasga. – Não vi nada, entende? Nem uma única emoção, boa ou ruim, só... um grande nada.

Respiro profundamente, me lembrando das fotos que vira e da impressão que tive ao olhá-las, não gostando da tradução que Thea fizera daquele olhar tão apático nas imagens pelo simples fato de doer a ideia de que a única emoção que ele havia sentido naqueles momentos fora... nenhuma.

This world keeps spinning faster

Into a new desaster so

I run to you

I run to you, baby

— E, o que isso quer dizer? – pergunto com cuidado, temendo sua resposta.

— Eu acho... – ela desvia o olhar para nossas mãos e morde novamente o lábio antes de me encarar. – Eu acho que ele encontrou outro poço no qual se afogar. – solta, desgostosa. – E por mais que eu queira desesperadamente que você o ajude a voltar para a superfície outra vez, também quero avisá-la que não deixe que ele a afogue junto. – seus olhos brilham, molhados, como se estivesse fazendo um esforço supremo para dizer isso.

— P-Por que está me avisando disso?

— Felicity... – ela respira fundo antes de continuar. – eu admito que Helena tem seus pecados, e que ela pague por eles, mas preciso que saiba que o relacionamento dela com Ollie foi completamente tóxico... E não só para Oliver. – diz, séria, me fazendo segurar o ar nos pulmões por um momento. – Acredito que ele a fez tão mal quanto ela fez a ele e, por mais insano que seja, também acredito que eles se prejudicaram mutuamente sem que nenhum dos dois quisesse isso. Do seu modo, eles se amavam, por mais que não seja como o que você tem com ele, eles se amavam, e mesmo assim, um destruiu o outro... Pelo simples fato de que era a única coisa que sabiam fazer. – conclui, um gosto amargo alcançando meus lábios. – E ainda que Oliver tenha mudado drasticamente e eu acredite que ele jamais faria nada para machucar você, se ele voltar à própria escuridão... – ela para momentaneamente pesando sua próxima declaração. – O único conselho que posso dar a você é que não permita que ele destrua o que construíram, que ele destrua você. – diz, lentamente. – Há muitas coisas pelas quais Oliver seria capaz de se perdoar, muitas com as quais ele conseguiria conviver, mas... Ferir você não está entre elas. – conclui.

And when it all starts coming undone

Baby, you’re the only one

I run to you

I run to you

— Eu sei. – é tudo que digo, tentando entender o porquê de achar que estamos prestes a entrar em colapso.

~*~

Rolo na cama várias vezes sem, no entanto, conseguir pregar os olhos.

Já passam das duas da madrugada segundo meu relógio, mas ainda assim, sinto como se tivessem injetado adrenalina líquida em minhas veias desde minha conversa com Thea.

Ela passara o resto da manhã comigo, mas depois do almoço decidira ir fazer uma visita à Sara e partira, levando meu sossego junto. Sei que ela estava tentando apenas me proteger e serei eternamente grata por sua preocupação, mas depois do que conversamos, não consigo mais me livrar daquela mesma sensação que tivera ao ver as fotos do evento de premiação, da sensação que tivera ao ver Oliver sair anteontem de forma afobada de casa após aquela ligação misteriosa: a de que algo está terrivelmente errado.

O que não melhorou nem um pouco quando comecei a ligar para ele e ele simplesmente não atendia de jeito nenhum durante o resto do dia. Por fim, o seu celular foi dado como fora da área de cobertura pouco antes das 21 h. E, enquanto eu repetia para mim mesma que provavelmente ele havia precisado fazer uma viagem de emergência e me ligaria assim que possível, Thea me telefonara perguntando-me se sabia onde encontrá-lo, acrescentando que ninguém tinha notícias nem suas nem de Diggle desde as 6 da tarde e que ela e sua mãe estavam começando a se preocupar.

Depois disso, meu sossego fora embora de vez e eu não conseguira relaxar um único segundo.

Agora, mais uma vez, mudava de posição na cama, apesar de saber que o que eu procurava não era exatamente uma posição, mas Oliver, meu peito se apertando com seu sumiço.

Ouço um barulho de passos e arregalo meus olhos, gelando de pavor no escuro com a simples ideia de um intruso. Movo minha mão lentamente para agarrar o abajur antes de me erguer de uma vez, acendendo-o e ao mesmo tempo pretendendo usá-lo como arma contra quem quer que seja, mas não vejo ninguém. Ouço um rangido e me viro automaticamente na direção dele, soltando um grito ao observar a figura feminina, vestida de couro preto e usando uma meia máscara, seu liso cabelo escuro e seus olhos azuis me parecendo estranhamente familiares.

 

— Q-Quem é v-você? – pergunto, ofegantemente, ainda segurando o abajur com toda a força.

— Relaxe, Felicity... – a voz rouca da mulher soa delicada.

— C-como você s-sabe meu nom-me? – gaguejo, me retraindo mais ainda quando ela dá um passo em minha direção.

Ela para por um momento parecendo pensar e suspira alto antes de desamarrar sua máscara. Puxo o ar com força para dentro dos pulmões ao ver seu rosto descoberto.

— Assim como você sabe o meu. – ela responde minha pergunta, suavemente, sem nem um pingo de ameaça na voz.

— Helena?! – engasgo ainda perplexa. – O que... O que você está fazendo aqui, na minha casa, no meu quarto, há essa hora e vestida desse jeito? – pergunto atropeladamente, ainda indecisa sobre largar o abajur.

— Eu preciso da sua ajuda, Felicity... – ela diz e percebo que seu pedido está sendo sincero, o que não me deixa menos surpresa.

— Por que você precisaria da minha ajuda? – franzo o cenho, mais confusa do que nunca.

— Me expressei mal... – ela suspira de forma que me parece triste. – Oliver precisa de sua ajuda. – diz, e suas palavras me atingem como uma bomba.

O que, pelo amor de Deus o quê, Oliver fez?

Este mundo continua a girar mais rápido

Em um novo desastre, então

Eu corro para você, baby

E quando tudo começa a surgir inacabado

Baby, você é o único a quem eu corro

Eu corro para você

— I Run To You (Lady Antebellum)

 

 


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Notas finais do capítulo

Acho que o colete a prova de bala não vai ser suficiente dessa vez...haha
~Duda fugindo para as colinas por tempo indeterminado! kkk
Surtem nos reviews e tentem não me odiar muito!
Xero ♥



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