“I know I'll fall in love with you, baby

And that's just what I'll do

I hope you won't ever lie to me

(….)

Cry baby, cry baby

I need to cry, baby

Cry baby, cry baby

You need to cry, baby

Cry baby, cry baby”

The Neighbourhood

Na semana seguinte da visita de Allison, foi a volta as aulas e nem meu pai pareceu acreditar quando me encontrou vestido, na sala, com a mochila nas costas e bebendo café na minha xícara do Batman.

— Você vai para a escola? — Tentei sorrir para meu pai, percebendo a incredulidade na sua voz.

— Lydia voltaria dos mortos para me assombrar se eu faltasse o primeiro dia.

Ele entendeu minha tentativa de humor, que era a única maneira que eu tinha para tentar esconder a tristeza, para tentar ficar bem e me abraçou tão forte que achei que minhas costelas fossem quebrar.

Quando cheguei na escola, ignorei todos os olhares de pena, não falei com ninguém e fui direto para a primeira aula, sentando ao lado de Scott que arregalou os olhos quando me viu.

— Stiles?

— Seu novo melhor amigo não está nessa aula? — Agi como se não tivesse evitado Scott durante o último mês e usei o sarcasmo para impedir que ele perguntasse coisas do tipo: “Você está bem? Por que me ignorou? ”.

— Ele disse que deve faltar essa semana.

— Por quê? Vocês tiveram alguma briguinha de casal? — Sabia que Scott se irritava com a maneira que eu estava falando, mas também sabia, que por causa dos acontecimentos, ele não teria coragem de brigar comigo.

— Allison terminou o lance que eles tinham. — Ele fez aspas com as mãos ao dizer lance e revirou os olhos ao mesmo tempo. — Eu sei que está tentando puxar assunto só para evitar falar sobre você, Stiles.

— Agora que terminou esse lance, é sua oportunidade de tentar conquista-la de novo? Ou está firme com a oriental? — O imitei, fazendo aspas com as mãos ao dizer lance e fingi que não escutei sua última afirmação, o fazendo suspirar.

— Stiles, você não pode...

— Eu não estou bem, Scott. É isso que você quer ouvir? É óbvio que não estou bem. —Scott ia responder alguma coisa, mas o professor entrou na sala e eu aproveitei a oportunidade para adiar o assunto novamente.

Nós só falamos novamente na hora do intervalo.

— Só não quero falar sobre isso aqui, ok? Então me distraia, fala sobre seus problemas amorosos e depois vamos para minha casa, prometo que vou falar sobre todos meus sentimentos mais depressivos e suicidas com você. — Bastou eu dizer isso, para Scott concordar em esquecer temporariamente o assunto do meu luto.

— Eu meio que também terminei o que tinha com a Kira. — Ele confessou quando nos isolamos na escola, sentando na mesa mais afastada do refeitório.

— Achei que estava gostando dela.

— As coisas ficaram uma loucura nesses três meses.

— Então me atualize sobre as besteiras que você fez, sem ter a minha ajuda.

— Você se isolou do mundo e no início, eu era a única pessoa que você deixava se aproximar, depois nem isso. Ao mesmo tempo, Allison simplesmente enlouqueceu. — Ele começou a falar rápido e percebi que ele tinha tantas olheiras quanto eu. — Estava preocupado com vocês dois, mas achei que Isaac podia ajudar Allison para eu ficar com você, mas aí ela enlouqueceu com ele também, não aceitou ajuda e um dia o expulsou da casa dela gritando e dizendo que nunca mais queria o ver.

— E teve motivo para ela fazer isso? — Perguntei, feliz por ter um assunto para me distrair.

— Não, mas aparentemente a raiva foi o jeito que ela teve de reagir a morte da... — Provavelmente, eu fiz alguma expressão que o impediu de dizer o nome dela. — Como eu disse, ela enlouqueceu e eu tive que dividir a atenção entre você e ela, no meio disso tudo não tinha como eu ter tempo para a Kira, mas na medida do possível, estamos bem, ela entendeu o momento horrível que estamos passando.

— E Malia? — Arrisquei perguntar, inseguro.

— Ela tem alguns problemas de controle e não confia em ninguém, mas Isaac está me ajudando com isso. O estranho é que ela parece se sentir bem com você, sempre perguntando como você está.

— Deve ser porque a gente meio que transou.

— Você não é mais virgem?

Eu definitivamente, amava Scott. Apesar de tudo, apesar da dor excruciante em meu peito, a sua expressão incrédula, os olhos arregalados, me fizeram sorrir. A primeira vez que dei um sorriso sincero depois que ela se foi.

— Acabei não contando, mas tivemos nossa primeira vez juntos, na Eichen House.

Scott demorou para acreditar que eu de fato, tinha perdido minha virgindade. Nós dois estávamos cansados, acabados emocionalmente e aproveitamos aquele assunto para agirmos como adolescentes normais por um momento.

Ele me fez perguntas constrangedoras, nós demos risadas secas e sem graças, eu me gabei, provocando e Scott implicou, encarnando em mim. Assim, no resto do dia, na escola, falamos coisas leves, humanas, e nem chegamos perto de outra pessoa, até porque todos da alcateia tinham faltado e ninguém mais entenderia nossos problemas.

Lembra quando eu disse que ninguém entendia minha dor? E que descobri que Allison era a única que sentia aquela dor horrível na mesma intensidade que eu? Então, esse foi meu problema com Scott, pois ele fazia parte do grupo que não compreendia.

Sim, Scott era amigo de Lydia, mas não sentia por ela o que eu sentia, o que ainda sinto mesmo após sua morte e por isso, ele conseguia manter a sanidade, pensar em outras coisas, conseguia superar o luto, enquanto eu, apesar de conseguir pequenos momentos de normalidade, acabava afundando novamente, tentando impedir que aquela dor me matasse.

Depois do primeiro dia de aula, Scott foi para minha casa como eu mesmo sugeri e tivemos a conversa pesada que precisávamos ter. Eu disse como estava, contei que Allison me visitou e o que ela falou para mim, confessei minha tentativa estupida de beber e fumar. Não escondi nada, afinal, ele sempre foi meu melhor amigo.

O problema era que Scott não sentia o mesmo que eu, não na mesma intensidade e por isso, era incapaz de sequer entender. Ele não tinha culpa por isso e eu não fiquei bravo, não briguei, mas também não conseguia me sentir nem minimamente melhor, não ao desabafar, com ele era bom apenas tentar esquecer, mas eu sabia que estava na hora de enfrentar, parar de fingir que nada tinha acontecido.

Foi aí, que quando Scott foi embora, resolvi ligar para Allison, pensando naquele maldito abraço que fez com que, pela primeira vez, eu sentisse que alguém entendia e que eu conseguisse finalmente, expulsar um pouco daquela dor, diminuir o peso em minha mente.

— Stiles?

— Ei, você faltou hoje. — Foi a única coisa que pensei em dizer quando ela atendeu a ligação.

— Você foi para a aula?

— Fui. — Respondi a sua pergunta surpresa e não soube mais o que falar. Apesar de conviver com Allison, nunca tivemos muita intimidade, então aquele silêncio constrangedor reinou, como quando ela veio à minha casa.

— Você quer vir para cá? Meu pai não está em casa, então, não sei. A gente podia conversar. — Ela parecia tão constrangida como eu.

— Chego em dez minutos.

Acho que agora já dá para começar a entender como eu acabei me envolvendo com ela, mas foi algo completamente impensado, sem querer.  Fui aquela primeira vez para sua casa com toda inocência que alguém pode ter e ela estava da mesma forma.

Depois de um tempo que as visitas se tornaram completamente indecentes, promiscuas e prazerosas, mas vou falar aos poucos como eu cheguei a esse ponto.

Primeiro, foram as visitas inocentes, depois começou o desejo devastador, seguido por nossas atitudes carnais, até chegar ao último ponto: A paixão desesperadora que sinto por ela.