“When you said your last goodbye
I died a little bit inside
I lay in tears in bed all night
Alone without you by my side

But if you loved me
Why did you leave me
Take my body, take my body
All I want is and all I need is
To find somebody
I'll find somebody like you”

Kodaline

— Desculpa por ter entrado sem bater. — Foi a primeira coisa que Allison falou, depois do que pareceu uma eternidade em que ficamos abraçados, chorando.

— Tudo bem, mas como você conseguiu entrar? — Perguntei e tossi, constrangido, pegando meu travesseiro e colocando no meu colo, tentando esconder minha cueca preta e o peito exposto.

Quando conseguimos parar de chorar, Allison sentou do meu lado, na cama, analisando a bagunça do meu quarto, repleta de roupa jogada e depois, percebeu que eu estava só com a boxer preta e me analisou com curiosidade por alguns segundos.

— Quando eu cheguei seu pai estava saindo para o trabalho e me deixou entrar. —Concordei com a cabeça, sem jeito e não a olhei por nenhum momento, apenas fixei os olhos no cigarro apagado.

Ela também ficou em silêncio, parecia não saber o que fazer e assim, um clima estranho de constrangimento pairou sobre nós.

— Você quer comer alguma coisa, ou... — Desisti da minha tentativa frustrada de puxar assunto antes de terminar a frase, minha voz estava falha e rouca.

— Só vim ver como você estava. — Ela confessou baixinho e eu finalmente a encarei. — Scott disse que você ainda estava muito mal e eu não te via desde...

— O enterro dela.

— É.

— Você não parece estar melhor do que eu. — Murmurei para impedir que o silêncio dominasse novamente.

— Não estou, nem sei como tive coragem de sair de casa. — Tentei pensar em uma resposta, mas ela falou novamente antes que eu abrisse a boca. — Na verdade, não vim aqui só para ver como você estava.

Esperei que ela continuasse a falar, mas Allison voltou sua atenção para uma pequena bolsa que não havia notado no seu colo. Ela remexeu ali por alguns instantes, até achar o que queria e me entregar.

Era um papel arrancado de algum caderno e uma fotografia. Arfei quando vi que a foto era do baile da escola, eu estava abraçando Lydia com um sorriso gigantesco e ela tinha a típica expressão convencida, linda com aquele vestido prata.

— O que? — Perguntei trêmulo, pois nunca tinha visto aquela foto do baile, que pareceu ter acontecido séculos antes.

— Lydia tinha revelado essa foto há pouco tempo e deixava escondida da gaveta na cômoda. Só eu sabia disso.

— Por quê?

— Lê o que está escrito nesse papel, Stiles.

Meus olhos se encheram de novas lágrimas quando reconheci a letra de Lydia e a de mais alguém. Quando comecei a ler, conclui que era Allison conversando com ela durante alguma aula.

“ Alguém está ficando apaixonada, Martin?

Para de ser infantil, Allison.

Só se você confessar.

Já disse que só quero uma distração, não estou apaixonada por Aiden.

E quem disse que é dele que estou falando?

Você não pode estar falando do. De quem é então?

Um certo filho do xerife. ”

Aquela era a última frase escrita. Engoli em seco e encarei Allison, ainda mais confuso.

— Por que você está me mostrando isso?

— Ela estava gostando de você, Stiles. Não sei se isso torna as coisas piores, mas achei que fosse melhor falar.

— E-ela nunca, quer dizer, ela não podia. Eu não... — Não consegui formular uma frase e Allison segurou minha mão com firmeza.

— Ela era orgulhosa demais para confessar, mas desde que me contou que o beijou por causa de um ataque de pânico, eu percebi que tinha algo diferente. — Neguei com a cabeça, sem acreditar, sem aceitar. — Nesse dia que conversamos pelo papel, ela acabou dizendo que há algum tempo se sentia atraída por você.

Minha respiração acelerou, senti meu estomago revirar e fiquei subitamente tonto. Percebi que Allison prendia o choro, me encarando, apertando minha mão com firmeza.

— Desculpa, eu só...

— Não, tem razão, foi melhor você falar. — Apesar da insegurança e o desespero que me preenchia, consegui falar. — Eu fui a última pessoa que ela se apaixonou.

Apesar de não ter nenhum motivo, eu ri, de puro nervosismo. Uma risada que soou sombria, como uma piada de humor negro.

— Eu consegui, meu plano deu certo, ela se apaixonou por mim. — Quando falei novamente, meu choro se tornou vergonhoso.

Allison levantou, tirou o travesseiro que escondia meu corpo e segurou minhas duas mãos com força, ela também chorava, mas discretamente, controlada.

— Stiles, olha para mim, você consegue ser forte.

— Não! Não, ela me deixou, ela me deixou! Eu disse que enlouqueceria se ela morresse, eu disse!

As mãos finas de Allison, de alguma forma, conseguiram me puxar, de tal forma que quando me dei conta estava em pé. Confuso, deixei que ela me guiasse e só entendi onde estava quando sentia a água fria na minha cabeça.

— Tenta se acalmar, por favor, fica aí até se acalmar.

Não respondi, não conseguia e Allison me deixou sozinho no chuveiro, ainda de cueca. Ela apareceu pouco depois, deixou uma toalha em cima da pia, fechou a porta e então, novamente fiquei sozinho.

Não sei quanto tempo fiquei ali, mas foi horrível. Quando meu choro diminuiu, consegui tirar minha boxer e tomar um banho de fato, tirando o suor acumulado, refrescando meu corpo fervente.

Sai do banheiro com a toalha enrolada na cintura, entrei no quarto e estava prestes a me despir, quando me surpreendi ao ver que Allison ainda estava lá, sentada na cama, me encarando com aqueles olhos chocolates.

Lembro como demorei para perceber que ela tinha arrumado meu quarto, aberto as janelas deixando a luz entrar e a fumaça do cigarro sair. Não tinha mais roupas jogadas no chão, nem papeis transbordando da lixeira, eu demorei tempo o suficiente no banho para ela arrumar tudo.

— Eu me livrei dos cigarros, Stiles. Não tenta fumar de novo, por favor.

— Obrigado. — Foi a única coisa que eu disse.

— Vou deixa-lo em paz. — Ela levantou assim que eu sentei na cama. — E deixa as pessoas o visitarem, Stiles. Scott vem todo dia para minha casa e só fica falando o quanto está preocupado porque você parou de atender as ligações e não deixa ele ficar aqui.

Concordei em silêncio e recebi um beijo estalado na testa.

Ela saiu do quarto, mas o cheiro doce de seu cabelo continuou impregnando em minhas narinas.