A Garota do Lago escrita por Flora Medeiros


Capítulo 2
Capítulo 2 -Without Ground...




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– Você se lembrou de algo? – Perguntou.

– Sim... Quer dizer, acho que sim. Não sei se foi um sonho ou algo assim, porque se o que eu lembro for verdade eu não teria como estar...

– Viva? – Perguntou ela.

– Sim... – Falei ficando cada vez mais assustada. – Eu lembrei que estava treinando no lago quando o gelo se quebrou e eu caí... – Fiz uma pequena pausa ainda atormentada pelas lembranças. – Mas o estranho é que não lembro de estar me afogando ou algo do tipo. Lembro apenas que senti meu corpo afundar e tudo ficou escuro.

– Foi isso mesmo que aconteceu. – Falou ela me encarando com pesar nos olhos. – Mas... Isso não é tudo.

– Não? Quem me encontrou? Preciso agradecer ao herói, pois se eu tivesse ficado por mais que alguns minutos eu já teria morrido de hipotermia.

– Essa é a questão. – A olhei com expressão de dúvida e ela prosseguiu. – Você não só ficou lá por minutos, como por anos. – Falou e senti um calafrio percorrer todo meu corpo.

– Como é que é? – Perguntei ainda incrédula.

– Naquele dia após a sua queda no lago semicongelado teve a menor temperatura em cerca de 120 anos. Como eu disse tudo que eu tenho pra te falar será muito difícil de acreditar, não só pra você como pra nós que somos dessa época.

– Dessa época? Como assim? Quanto tempo eu fiquei naquele lago? – Falei e por mais que metade de mim quisesse muito saber da resposta a outra sabia que não me agradaria nada.

– Cinquenta e cinco anos. – Senti por um momento minha respiração falhar e todo o meu corpo começou a tremer.

– Isso não pode ser possível! ISSO NÃO É POSSÍVEL! – Gritei chorando enquanto a enfermeira seguida pelo Doutor entraram na sala.

– Fique calma Sophie... Você não pode se exaltar desse jeito, seu organismo ainda está fraco. – Falou o Médico.

– Mas isso não é possível você não vê? Eu já teria morrido de hipotermia, ou afogada, ou sem comida... Cinquenta e cinco anos? Esse lago não descongelou?

– Aí é que está Sophie. Desde 1960 o lago Fieldsburg ficou conhecido mundialmente por nunca ter descongelado. Ninguém nunca conseguiu explicar esse fator.

– Não, não, não... – Falei nervosa. – Vocês só podem estar brincando comigo. Como você explica o fato de eu não ter envelhecido? – Falei olhando para minhas mãos que pareciam iguais.

– Sophie como já te dissemos, o seu caso ainda é inexplicável. Não sabemos como nem o porque de tudo isso. – Falou e eu continuava fazendo negativo com a cabeça.

– Quem me encontrou? Porque tanto tempo depois? – Perguntei tentando obter alguma resposta lógica pra todo esse absurdo.

– Aí é que está. Esse ano durante o inverno o Lago Fieldsburg descongelou. Enquanto cientistas de vários locais do país vieram estudar o porquê de justamente no inverno o lago estar descongelando a única coisa que conseguiram achar foi você.

– Isso não pode estar acontecendo. Não pode! – Falei sentindo lágrimas escorrerem pelo meu rosto. – Quer dizer que eu sou mais velha que vocês?

– Não literalmente... Só no registro. Os anos se passaram e nada do seu organismo envelheceu ou se adaptou. Você continua uma menina de dezesseis anos por fora e por dentro... – Explicou o Doutor.

– Mas e os cinquenta e cinco anos que eu passei congelada?

– Não sabemos ainda como, mas tudo seu se conservou como era... – Falou a enfermeira.

– E a minha mãe? – Perguntei sentindo um nó em minha garganta.

– Sua mãe faleceu treze anos atrás, sem nunca ter tido respostas para o que aconteceu com você. – Falou e as lágrimas que já corriam sobre meus olhos começaram a rolar grossas ensopando o lençol.

– Porque isso está acontecendo comigo? POR QUÊ? – Falei soluçando. – Além de ter passado minha vida num lago perdi a única pessoa que me amava de verdade. – Continuei limpando as lágrimas.

– Nancy, acho que foi informação demais por hoje... Vamos deixa-la descansar. – Falou o Doutor e a psicóloga prontamente concordou.

– NÃO EU PRECISO SABER MAIS! – Falei quase gritando. Meu coração batia a mil e eu quase não conseguia respirar. Isso não era possível. Eu deveria estar em um sonho ruim... – POR FAVOR.

– Mary pegue o calmante. – Falou e a enfermeira tirou da bancada uma seringa.

– Não, por favor! Eu não quero dormir. Eu preciso de respostas. – Falei já sendo tarde demais quando senti a agulha entrando em contato com minha veia.

– É para o seu bem Sophie... Você está muito agitada. Isso não lhe fará bem. – Falou a enfermeira gentilmente.

– Por favor... Por favor... – Foram as únicas coisas que consegui sussurrar até o remédio fazer efeito totalmente.

Após algumas horas de sono profundo, escutei um barulho de porta abrindo e lutei para abrir meus olhos. Estava pedindo pra que tudo aquilo fosse um sonho, mas ao finalmente abrir a decepção veio. Não era um sonho. Mary a enfermeira me olhava anotando algumas coisas.

– Te acordei? Me desculpa... Ai droga! – Falou a repreendendo.

– Não tem problema. – Falei ainda calma, não sei se pelo efeito dos remédios ou pela sonolência.

– É que eu ainda sou nova sabe? Na verdade meu primeiro dia de trabalho foi o que te acharam... Tumultuado primeiro dia né? – Falou rindo. – Q-Que-Quer dizer... Sente-se melhor senhorita? – Falou fazendo uma voz séria.

– Me sinto melhor sim... Não precisa de formalidade comigo não! – Falei dando um sorriso fraco e ela respirou fundo aliviada.

– Obrigada.

– Não há de quê. – Falei e ela me olhou engraçado.

– Você fala algumas coisas muito engraçadas. Ontem você falou grilada. Tive que me segurar para não rir.

– Vocês não usam essa expressão? – Perguntei franzindo a testa.

– Não. – Falou rindo.

– Okay terei que me atualizar de algumas coisas... Na verdade de muitas. – Falei e ela já ia falar quando o Doutor entrou na sala com duas bolsas de pano.

– Bom dia Sophie. – Falou abrindo um sorriso gentil.

– Bom dia. – Falei retribuindo o sorriso.

– Vim aqui checar com a Mary se está tudo okay para assinar a autorização de sua saída. – Falou pegando a prancheta que estava na mão de Mary.

– Mas... O que eu vou fazer agora? Eu não tenho pra onde ir, nem ninguém da minha família vivo. Pra onde eu vou? – Perguntei sentindo o peso da responsabilidade cair sobre minhas costas.

– Tenha calma... Conversaremos em minha sala. Tem alguém esperando por você. – Falou e em meu rosto não poderia conter expressão de dúvida maior. – Vista-se e a Mary irá lhe acompanhar até a minha sala. Aqui estão roupas limpas e nesta outra bolsa estão as roupas que você estava no dia do acidente.

– Tudo bem. – Falei enquanto esperava a Mary terminar de tirar os fios que estavam em mim. Peguei a bolsa que estava meu traje de treino. Ele estava todo desgastado e o tecido estava muito frágil. Após olhar mais um pouco pra ele percebi algo que não parecia familiar pra mim. – Espere! Acho que vocês se confundiram... Esse colar não é meu. – Falei olhando pra a encantadora pedra que era de um azul tão claro quanto o gelo.

– Desculpe Sophie, mas isso é seu sim... Eu mesma o encontrei em seu pescoço. – Falou Mary e se possível a expressão de dúvida em meu rosto aumentou mais ainda.

Sem querer contrariar muito, entrei no banheiro com as duas bolsas e continuei a olhar pra aquele colar por um tempo. Apesar de lindo eu tinha certeza que nunca tinha o visto.

Parando com os devaneios peguei as roupas limpas e comecei a me arrumar. Eram roupas simples, mas eu estava muito grata por tê-las... Já estava cansada de usar aquele avental que deixava minha traseira toda de fora.

Após colocar as roupas fui até o espelho ver como eu estava e ao me olhar dei um grito tão alto que chegou a doer meus ouvidos. Meus olhos... Estavam... Azul claro. Estavam... Da cor daquele maldito colar que eu não sei de onde veio.

– Sophie você está bem? – Perguntou Mary preocupada abrindo a porta do banheiro.

– Meus olhos... O que houve com eles? Eles eram castanhos... Por que essa cor? – Perguntei sentindo minha respiração ficar ofegante novamente.

– Como dissemos... Você agora é nosso novo mistério. Não sabemos ainda como ou o porque de quase tudo. – Falou e eu não parava de encarar meus olhos no espelho. – Você vai ficar bem? – Eu assenti com a cabeça e ela saiu.

Porque isso tudo está acontecendo? Porque meus olhos estão assim? Perguntas enchiam minha mente e se esvaiam pelos meus olhos em forma de lágrimas.

Terminei de me vestir e peguei novamente o colar. Ele era exatamente igual à cor dos meus olhos. Fiquei olhando por alguns minutos desviando o olhar do espelho para o colar. Meus olhos estavam diferentes de tudo que eu já havia visto. Estavam bonitos, mas mesmo assim... Pareciam inumanos.

Peguei as duas bolsas e me retirei do banheiro. Mary me olhava com uma expressão de: "Vai dar tudo certo".

Saí finalmente daquele quarto e minhas pernas doíam um pouco depois de tanto tempo deitada naquela cama. Fui seguindo a Mary até a sala do Doutor e quando entrei na sala tinha uma mulher sentada de costas. Logo reconheci que era a Nancy.

– Sophie! Como está se sentindo? – Me perguntou abrindo um largo sorriso.

– Me sinto bem... Só um pouco chocada ainda com todas as informações. – Retribuí o sorriso.

– Levamos o seu caso ao Conselho e recebemos uma ordem oficial para mantermos o seu caso em sigilo. Como não temos nenhuma explicação para o seu caso isso seria um choque para todo o mundo e onde quer que você esteja nunca conseguiria ter uma vida normal, por isso decidimos que você mudará de identidade. Você continuará sendo chamada de Sophie, mas a partir de agora seu sobrenome deixará de ser Bennet para ser Styles. – Falou o Doutor

– Styles? – Perguntei olhando para a Nancy que me retribuiu com um sorriso.

– Como você ainda não é maior de idade precisaria de um tutor até a maioridade. A Nancy se ofereceu para lhe adotar e nós achamos a melhor opção para todos, mas precisamos do seu consentimento. – Falou e eu apenas assenti com a cabeça.

– Não se preocupe Sophie... Poderá ficar comigo por quanto tempo quiser e após a sua maioridade poderá assumir sua herança e refazer sua vida. – Falou e eu novamente confirmei silenciosamente.

Colocaram uma papelada em minha frente e comecei a assinar os pontos indicados e essa realmente parecia a melhor opção para mim. Não queria passar minha vida inteira sendo experimentos e a Nancy parecia legal. Terminei de assinar e o Doutor Machado recolheu os papéis e apertou minha mão.

– Estamos torcendo por você Sophie. – Falou dando um sorriso gentil.

– Venha me visitar para sabermos se continua tudo bem e pra eu saber como as coisas estão indo. – Falou Mary e eu a abracei.

– Pode deixar. – Falei sorrindo verdadeiramente e olhei para Nancy que me deu um abraço também.

– Vai dar tudo certo querida. Pode contar conosco pra o que precisar... – Falou Nancy.

– Tudo bem... Vamos? – Perguntei com os olhos cheios de lágrimas. Não sabia o que ia acontecer... Tudo parecia tão estranho.


Ao sair do hospital finalmente vi vários carros que pareciam surreais... Nunca havia visto nada como aquilo em toda a minha vida.

Em um dos carros havia um menino de cabelos castanhos encostado.

– Sophie esse é o Aiden, meu filho. – Falou fazendo o menino levantar o olhar em nossa direção e seus olhos eram verdes bem intensos. – Ainden, essa é a Sophie.

– Olá. – Falou o menino que aparentava ter uns dezessete anos abrindo um pequeno sorriso.


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Notas finais do capítulo

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