A Garota do Lago escrita por Flora Medeiros


Capítulo 13
Por Você




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— Sophie você está bem? – Aiden perguntou segurando meu rosto entre suas mãos.

— Você conseguiu ler alguma coisa? – perguntou o médico.

— Não. – menti. – só me senti um pouco tonta, acho que foi o balanço do carro. – menti novamente. Eu não era e nem poderia ser um experimento... Não queria nem por um segundo que soubessem mais nada sobre mim. Me levantei e saí correndo sem  rumo. Havia uma praça em frente ao hospital então subi na casinha sem teto que tinha para as crianças brincarem e fiquei olhando para o céu. Escutei passos subindo na casinha, mas nem me esforcei para olhar. Se fosse uma criança provavelmente sairia.

Continuei a encarar o céu que pouco a pouco ficava escuro quando sinto alguém deitar ao meu lado. Não precisei olhar para saber quem era. Aquele perfume era impossível de ser encontrado em outra pessoa. Era algo próprio do Aiden.

— Você está bem? – perguntou também olhando para o céu.

— Eu não quero mais ser olhada como uma anomalia sabe? Estou cansada... – falei. – Não quero ser a garota do lago. Quero ser eu mesma de novo sabe? – desejei já sentindo meus olhos arderem.

— Você é muito mais que isso... Não se engane. Se não quiser, não voltaremos nunca mais, mas eu acho que o que faz você pensar desse jeito não são as pessoas. Acho que você precisa começar a se olhar como você realmente é.

— Eu nem sei quem eu sou. – senti uma de suas mãos passar por meus cabelos e logo em seguida pousar em meu braço me puxando para um abraço.

— Não tem nada de anormal em você. Se ser anormal significa ser assim como você é talvez não seja algo tão ruim assim. As garotas da escola  iriam querer ser anormal só para ter os olhos tão brilhantes quanto os seus. – falou e eu levantei o olhar para o encarar. Ele estava sendo mais do que gentil comigo. Pousei minha cabeça em seu peito.

— Obrigada. – falei sentindo lágrimas suaves escorrerem sobre meu rosto.

— Não chore! – falou ele. – Vem... Eu tenho uma ideia. – falou se levantando devagar e me puxando pela mão.

— Onde vamos? – perguntei ao descer da casinha.

— Você vai ver.

Entramos no carro e o Aiden estava com um sorriso estampado no rosto. Não conseguia fazer ideia de onde estávamos indo. Encostei a cabeça no vidro do carro e aquela palavra começou a ressoar em minha mente. “Liberte-se”. Engoli seco e levantei o olhar ao sentir o carro parando. Estávamos em algum tipo de ginásio.

— Fecha os olhos. – falou autoritário.

— Pra que isso? – perguntei e ele  levantou minhas mãos e cobriu meus olhos.

— Não vale espiar. – falou e pude sentir um tio de entusiasmo em sua voz.

Ele foi me conduzindo por um tempo até adentrarmos em um local que senti estar mais frio que o comum.

— Pisa no batente. Agora põe o pé devagar no chão. – falou fazendo meu coração acelerar. Eu não fazia ideia do que era aquilo.

Assim que coloquei o pé no chão senti a superfície lisa e escorregadia dificultando meu equilíbrio.  O Aiden me segurava pelos braços e  eu por um vislumbre senti meu corpo todo se arrepiar. Eu sabia onde estávamos.

— Pode abrir. – falou e abri os olhos confirmando minha suspeita.

— Não acredito. – falei observando a pista de gelo que antes era tão familiar.

— Você falou que não sabia quem você era, mas pra você se encontrar, antes você precisa perder seus medos.

— Como você sabia? – perguntei arregalando os olhos.

— Experiências traumáticas geram medos... Digamos que foi um bom palpite. – olhei pra ele que sorriu.

— Eu não sei se consigo. – falei lutando para ficar em pé e ainda sem os patins.

— Eu estou aqui. Posso não ser a melhor companhia no gelo, mas você não está sozinha. – falou pegando em minha mão.

— Porque esse local tá vazio? – perguntei olhando em volta do enorme ginásio.

— Bem... Digamos que essa hora não tem ninguém e ninguém sabe que estamos aqui.  – falou coçando a cabeça demonstrando preocupação.

— Estamos invadindo? – perguntei.

— É... – suspirou derrotado.

— Tudo bem. – falei sorrindo o que fez ele arregalar os olhos em espanto.

— Sério? Então vamos pôr os patins? – perguntou.

— C-Claro. – falei um pouco nervosa por estar no meu antigo lugar favorito no mundo.

Colocamos os patins e quando pisei novamente no gelo foi como se estivesse em casa pela primeira vez desde que acordei naquele hospital.

Um pé na frente do outro fui pelas bordas tentando arrumar uma posição de apoio. Parecia a primeira vez novamente, mas tudo voltava muito rápido. Comecei a pegar velocidade e dei um giro no ar parando perfeitamente.

— Parece que você não perdeu a prática. – falou o Aiden de boca aberta. – Nossa você é ótima.

— Você não vai entrar? – perguntei indo até ele que permanecia do lado de fora.

— Eu não tenho equilíbrio pra isso. – confessou.

— Mas você disse que não me deixaria sozinha. - fiz cara de manha.

— Tudo bem. – bufou entrando. Ele veio desengonçado até o meu encontro me fazendo rir. – Eu te disse que não sou bom. – falou rindo.

— Eu te ajudo. – falei ainda rindo da forma torta com a qual ele mantinha o equilíbrio. – Põe a mão em minha cintura. – falei.

— O QUÊ? – perguntou assustado com o que eu havia pedido.

— Vai logo. – falei revirando os olhos. Fiquei de costas e ele colocou a mão na minha cintura. – Certo. Observe apenas os meus pés. Lembre-se que o apoio é na frente. Se você apoiar seu peso na parte de trás você vai cair. – comecei a dar pequenos passos e ele parecia estar pegando o jeito.

— Assim? – perguntou ele ainda olhando para os meus pés.

— Isso. – sorri pegando nas mãos dele. – Agora você vai segurando apenas em uma de minhas mãos. – tirei as mãos dele do meu quadril e segurei apenas uma.

— Eu vou cair. – falou apavorado.

— Não vai não. – falei gargalhando da atitude de um cara daquele tamanho. – Equilíbrio na frente. Agora sem olhar para meus pés. Olhando pra frente. – ele saiu andando rapidamente para conseguir mais apoio. – Isso! Muito bem. – falei e nesse momento ele me olhou sorrindo o que fez ele escorregar me levando junto para o chão. – Outch! – exclamei de dor.

— Ai. – falou ele ainda no chão. – Isso doeu muito. – gargalhei me levantando.

— Vem! – puxei ele.

— Acho que quebrei duas costelas. – falou exagerado. – Não consigo nem respirar. – tossiu.

— Normal. Já passei muito por isso. Você vai sobreviver.- continuei rindo quando o celular dele voltou a tocar.

— É minha mãe. Ela deve estar preocupada... – falou devolvendo o celular ara o bolso.

— Então vamos. – saí ainda de mãos dadas com ele para apoio. Segurar a mão dele era uma sensação tão incomoda. Era bom, mas causava uma agonia na boca do estômago.

Caminhamos até o carro e Aiden entrou rápido. Pelo visto havíamos perdido a noção da hora mesmo.

— Obrigada. – falei observando  o ginásio ficar para trás. – Foi muito importante pra mim isso...

— Por nada. – sorriu. -  E sobre você se achar anormal, tira isso da mente por favor. Você é especial. E não há nada melhor que isso. – suas palavras soaram tão sinceras que as mágoas do meu coração foram esquecidas nem que seja por um momento. Por mais difícil que ele era, ele me fazia bem. E  eu estava adorando isso.


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Notas finais do capítulo

Oiii pessoal gostaram? Comentem pra eu saber o que estão achando :3



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