Acordei assustada naquela manhã, já achando que tinha perdido o horário por ter dormido demais. Vi a hora no despertador, meio-dia ainda. Suspirei aliviada e me levantei, dias como ontem nunca aconteceram em minha vida, por isso fiquei pensando tanto, lembrando de tudo que fizemos. Fui direto a um banho, demorei mais do que o normal nele. Desliguei o chuveiro e sai enrolada da toalha, ouvi alguém me chamando pelo nome repetidamente. Vejo ou Não? Olhei pela janela do meu quarto e vi Laura gritando em frente ao portão. Puta merda, ela chegou cedo demais.
— Espera cinco minutos! - berrei -
Coloquei o uniforme correndo, calcei um tênis cano alto, por não ter achado outro. Deixei meu cabelo amarrado em forma de um coque mal feito, pois cabelo estava bagunçado demais pra ir solto, me olhei no espelho e sorri, não por estar bonita, mas por estar me olhando no espelho pra saber se uma garota ia gostar. Peguei a mochila e fui arrastando até a sala de estar, me deparei com Laura sentada no sofá, olhei para os lados e observei minha mãe sorrindo no balcão.
— Sua mãe abriu o portão para mim. - Laura sussurrou -
— Ah, entendi. Obrigado mãe.
Peguei meu óculos em cima da mesa de centro e coloquei, estava com uma pequena dor de cabeça e achei que era por causa das vistas. Andei até a cozinha e peguei duas maçãs, voltei para sala, e Laura se levantou, entreguei uma maçã para ela e ela me agradeceu com um sorriso, o melhor agradecimento. Fui em direção ao portão, enquanto dava pequenas mordidas na maçã.
— Me diga que sua alimentação não é só maçã e suco, por favor. - Laura falou -
— Tem uns biscoitos também.
Abri o portão e fiquei na calçada, fixei meu olhar na Laura, e percebi que ela estava diferente. Não na aparência, mas no jeito dela. Ela falava com calma, paciente e tranquila, parecia estar mais carinhosa, tirei aquilo rapidamente do pensamento, porque só podia ser coisa de momento.
— O que eu fiz ontem? - falei olhando para Laura - Não me lembro de nada.
— Você ficou soltinha, - ela riu - e fez birra quando te levei embora pra casa.
Comecei a rir baixo, não acreditava que eu tinha feito uma coisa dessas, ajeitei meu óculos e olhei para frente, andando junto com Laura em direção a escola.
— E me chamou de Lala, igual uma criança de quatro anos.
Suspirei, o tempo estava completamente nublado, parecia que ia chover a qualquer minuto. Parei na calçada e abri minha mochila, tirando uma blusa de frio. Enquanto eu vestia a mesma, percebi o olhar de Laura em mim.
— Eu gostei do seu penteado hoje, loirinha.
Voltei a andar, eu ignorei o que a Laura tinha falado porque eu estava com vergonha, ajeitei o blusão e mim e fiquei olhando para os carros em movimento. Não demos se quer uma palavra enquanto andávamos, mesmo eu tendo vários assuntos em minha cabeça, resolvi não falar nada. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas eu não queria ficar perto de Laura, porque eu estava começando me apegar a ela, passei a língua nos lábios, por estarem ressecados.
— Tá pensando no que? - Laura falou e sorriu maliciosamente -
— Hã? Em nada não, só no que vai ter hoje.
Sério que ela pensou que eu estava tendo aqueles pensamentos eróticos? Chegamos na porta da escola, fui correndo até o corredor, hoje eu iria fazer diferente, sem Laura no meu pé, não iria pra sala de informatica, nem intervalo ou palestra. Entrei na sala de aula e me tomei decidida, me sentei perto de Thiago, que usava um óculos escuros.
— Ressaca demais. - falou Thiago, após me sentar - To com uma dor de cabeça horrível.
— Por que não ficou em casa? - questionei -
— Minha mãe me obrigou a ir pra escola.
O professor de artes entrou na sala pedindo silêncio total. Joguei os cadernos na mesa e fiquei de cabeça baixa, a luz da sala estava muito clara, para mim. Na sala poucos alunos, olhei para a janela da sala. Estava chovendo, para minha infelicidade. O professor passou uma lição para copiar, duas páginas inteiras para copiar? Ah cara, não estava afim. Estava com meu corpo doendo, meus olhos latejando para ser fechado, um sono terrível. Olhei para o lado e Thiago estava com sua cabeça baixa, devia estar dormindo, pois ouvia algumas respirações profundas, como um ronco. Consegui copiar apenas dois exercícios. O professor não pediu para corrigir, guardei os matérias na minha mochila e fiquei olhando para a parede, com meus olhos se fechando aos poucos. Bocejava a cada minuto que se passava, realmente, estava com sono. Deitei minha cabeça na mesa e relaxei. Acordei assustada com Thiago me cutucando, levantei a cabeça e olhei tudo em volta.
— Você dormiu em duas aulas, loira. Melhor acordar, já vai dar o intervalo. - disse Thiago com calma -
— Ahn? - falei sonolenta -
— E você perdeu a aula de informatica. Laura deve estar ner.. - ele riu -
— Cala boca Thiago. - falei interrompendo-o -
A sala estava com apenas nove alunos, e sem o professor. Me levantei, sai da sala e andei até o pátio, onde encontrei todos os alunos no mesmo. Devia ser o intervalo, fui em direção a cantina, pegando um copo de suco e tomando rapidamente. Deixei o copo no balcão e voltei ao corredor, em passos rápidos. Não queria encontrar Laura, porque sou muito confusa, eu estava confusa. Ela é uma pessoa legal demais para mim, não queria me apegar mais. Entrei na sala e vi Laura sentada do lado do Thiago.
— Olha ela aí. - Thiago falou -
Corei as bochechas e me sentei no meu lugar, Laura chegou perto de mim, se sentou na mesa e ficou me encarando, desta vez, com um sorriso aberto, o que me fez ficar ainda mais caidinha por ela.
— Thiago me contou que você dormiu nas aulas, que menina má. - Laura sussurrou, com uma certa malícia na ultima palavra -
— Estava com sono, não tenho culpa.
— Pode ir no meu prédio hoje?
Aquela pergunta me fez congelar, mil pensamentos maliciosos passaram pela minha cabeça enquanto encarava Laura. O que ela queria comigo? Como sou curiosa, aceitei a ideia.
— Aham.
Pronto, foi só soltar aquela palavra que observei o sorriso malicioso de Laura se formar. Eu tinha até esquecido de que eu iria evitar ela hoje.. Mas dá pra ver que é impossível, já que ela tinha a formula secreta de me fazer ficar caidinha por ela, o sorriso. Laura se levantou da mesa e saiu da sala, o intervalo tinha acabado. Ás vezes eu queria saber o que ela fica fazendo na sala dela, será que é o mesmo que ela faz comigo? Pega uma garota e fica seguindo. Será que ela faz isso com cada sala diferente? É uma merda ter esse pensamento. Eu precisava marcar território, como os cachorros. Mas não vou mijar nela, nem pensar. Espera, o que ela quis dizer com "vou fazer o seu jogo"? Será que ela tá na minha ou apenas quer jogar comigo?
— Amy? O que tá pensando? - falou Thiago -
— No que estou pensando? Em nada, em nada. - retruquei -
— Tá pensando na Laura né. O que ela te disse?
— Eu não sei exatamente. - olhei pra Thiago - Me faz um favor?
— É pra Laura né? Safadinha.
Empurrei Thiago de leve com um sorriso estampando nos lábios.
— De qual sala ela é?
— A Laura? Andar de cima, segundo corredor e sala 20.
— Como sabe de tudo isso? - falei rindo -
— Tenho meus contatos.
Me arrumei na cadeira, ficando de frente. Olhei para a porta com um certo sorriso. Não aquele sorriso do tipo tô apaixonadinha, mas aquele tipo estou feliz por ter você. Com aquele pensamento eu soltei um riso baixo, Thiago me observava de lado. Peguei meu celular junto com os fones de ouvido. Coloquei no ouvido e conectei no celular, escolhi uma música bem melosa, Heart Like Your. A calma que o cantor cantava, me fazia relaxar, e ao mesmo tempo ter vários pensamentos sobre Laura. Faltava apenas quinze minutos para a palestra começar. Eu sei que falei que não iria ver Laura, mas eu quero. Eu estava começando a me levar pela tentação, pela tentação dela e daquele sorriso. Abaixei o volume da música e virei meu rosto para o professor, que dizia alguma coisa sobre espécies raras de pássaros. Desliguei meu celular e o guardei no bolso do blusão, juntos com os fones. Me dei muito desinteressada naquele assunto de biologia, então peguei minha mochila e já deixei em minhas costas, preparada para sair. Enquanto os minutos se passavam, eu refleti sobre o que estava acontecendo comigo. Eu não estava mais interessada quanto antes nos estudos, eu queria me divertir mais, como ontem. Sei que só tenho quinze anos, só que quero aproveitar minha adolescência, que não seja enfiada em uma sala de aula ou em um quarto, apenas estudando e tendo a rotina besta que tenho. Laura abriu meus olhos, ou será que ela me meteu em uma confusão? Me levantei da cadeira e sai da sala, andando confiante até o final do corredor, encontrando o pátio onde acontece as palestras. Já tinha várias pessoas sentadas nas cadeiras, em frente ao palco, senti uma mão em meu braço, me puxando para o lado da pessoa. Quando levantei o rosto para xingar, me deparei com Laura, sorrindo, o que me aliviou.
— Tá doida? Já ia atacar minha mão na sua cara. - falei, em um tom baixo. -
— Calma esquentadinha. - disse Laura, soltando um riso breve. - A gente não vai esperar até a palestra acabar, quero sair logo daqui.
A mão de Laura saiu do meu braço e desceu até minha mão, me senti mais confortável com isso. Tenho certeza que ela sacou que eu tinha gostado e soltou um sorriso aberto, fiquei fitando Laura por alguns instantes, o que me fez abrir um sorriso também.
— Tá, vamos ser criminosas.
— Que mané crimosas, é só ir pro portão e pronto, saímos. - Laura falou, em um tom de brincadeira. -
Não falei nada, apenas segui ela até o portão de saída da escola, ouvi a palestra se iniciar. Fiquei um pouco ansiosa, eu queria ir logo, pra saber o que ia acontecer, o que ela iria me falar, o que íamos fazer. Percebi Laura ser puxada para um "abraço-surpresa" por uma de suas amigas, fiquei parada, um pouco distante das duas, que conversavam e riam com só segundos de conversas. Observara a garota dando alguns apertos no corpo de Laura, o que me deixou meio frustada. Invés de ficar olhando pra tudo aquilo, me virei e saí da escola. Deveria ter ido para o apartamento da Laura, mas segui em direção a minha casa, com certa raiva em meus passos. Frustrada pelo meu ciúme, me assustei com o puxão que recebi.