Spirit escrita por Hawtrey


Capítulo 6
Yuri Orlov


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, me perdoem pela demora. Como já sabem eu estava doente, mas agora já estou me recuperando e tentando correr atrás do tempo perdido.
Espero que gostem!
Um ENORME agradecimento para quem comentou e um muitas boas vindas para os novos leitores ♥
P.S. Capítulo simples, porém necessário
P.S.² Vocês gostaram da cena do corredor huum? E olhem, eu pesquisei com um russo nativo e descobri que Camaradas Russos não gostam nem de imaginar suas damas confraternizando com o outro, pode isso?



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— Preciso perguntar de novo — insisti arrancando um pedaço da grama — Por que mesmo que ninguém pode saber que você é meu irmão?

Yuri revirou os olhos e se jogou na grama na minha frente.

— Porque iam fazer perguntas, exigir exames e papai não quer isso. Já estamos tendo problemas demais com a Corte, não acha?

— Não — respondi sinceramente — Quem está tendo problemas com a Corte sou eu, só eu que está quase sendo expulsa desse lugar.

— Para o seu conhecimento, se você for eu vou junto. E ele vai querer se meter também, com certeza. Então o problema é nosso e não vamos discutir isso Rose.

Resmunguei resignada. Não fazia nem uma semana que eu descobri que tenho um irmão e já tenho que aprender a lidar com a preocupação dele. Yuri agia como se me conhecesse e cuidasse de mim desde o segundo em que nasci.

— Você não tem um Moroi pra cuidar ou algo assim? — questionei curiosa — Tipo, você é velho não é?

Yuri me lançou um olhar feio antes de responder:

— Com licença, eu tenho vinte e três anos, não trinta. Mas é, eu tinha um Moroi. Pedi minha demissão praticamente.

— Abandonou seu Moroi? — perguntei arregalando os olhos.

— Pedi minha demissão — ele repetiu indiferente — Ele aceitou bem e sabe, ainda há a chance dele chamar outro Guardião. Talvez seja o fim do mundo pra mim, prejudica minha carreira e essas coisas, mas não afeta muito a vida dele.

Maneei a cabeça. Tudo bem, ele podia estar certo. Para muitos Moroi sempre havia a possibilidade de chamar mais um Guardião para sua segurança ou simplesmente trocá-los quando via necessidade, só precisava ter dinheiro. Mesmo assim, acho que nunca conseguiria abandonar Lissa, era mais fácil eu ser expulsa de sua vida... como estavam tentando fazer agora.

— Tudo bem, então você vai ficar por aqui, do meu lado — conclui a contragosto, me lembrando dos olhares que recebi na única vez que entrei no refeitório e ele estava do meu lado. Então insisti com um fio de esperança — Tem certeza que não há uma mínima chance de contar pra todo mundo?

Yuri suspirou parecendo cansado de discutir o assunto e se sentou, encarando-me:

— Por que quer tanto contar?

— Porque sou eu que estou recebendo olhares feios e desconfiados!

— E isso é culpa minha?

— Qual é Yuri! — exclamei revirando os olhos — Preciso mesmo dizer que você é ridiculamente lindo e charmoso, e que estar na sua companhia todos os dias, o tempo todo, chama uma atenção indesejada pra nós dois?

Yuri esboçou um sorriso de lado, completamente travesso:

— Pode repetir isso? A parte do lindo e charmoso.

— Nem morta — garanti lhe lançando um olhar letal.

Ele riu sonoramente e voltou a se jogar na grama.

— Somos irmãos Rose, não é como se a gente fosse começar a se pegar. Eu não curto incesto e aposto que você também não. Então o que eles estão dizendo? São só boatos. Por que se importa?

— Somos meio-irmãos.

— Não vê mesmo uma diferença nisso, né? — Yuri questionou a interrompendo.

— Não! — respondi rapidamente — E é por isso que me importo com o que eles dizem. Se fosse com qualquer outro homem eu não me importaria, já aguentei muito disso em St. Vladmir. Só que você é meu irmão, é estranho e nojento ouvir essas coisas.

— Não se preocupe maninha, logo você vai ser a melhor Guardiã do Espírito e os seus problemas com a Corte serão resolvidos — ele garantiu sorrindo — Então poderá até fazer um cartaz anunciando que somos irmãos, se quiser.

— Não vai ficar me chamando de maninha, né?

O sorriso travesso dele apareceu de novo. Eu estava começando a odiá-lo.

— Agora eu vou.

Revirei os olhos e me joguei ao seu lado. Certo dia, quando era mais nova, sonhei que tinha um irmão. Mas era um irmão consideravelmente mais novo, onde havia a possibilidade de eu implicar com ele sem ganhar respostas à altura. O pensamento que girava na minha cabeça é que Deus tinha visto meu sonho e gostado da ideia de frustrar minha implicância jogando um irmão mais velho no meu caminho.

Minha barriga roncou me lembrando do fato de ainda não ter comido nada.

— Eu ouvi isso — Yuri comentando rindo.

Eu ri e esmurrei seu braço.

— Eu só estou com fome. Vai aprender que posso comer por três, às vezes.

— É normal, sabe? Essa sua fome avassaladora e desesperada. Eu também tenho.

Eu o fitei confusa.

— Como assim?

— Nossos genes vampiros estão muito mais ativos do que nos outros Dhampirs, então há tipo uma briga interna no nosso organismo. Uma parte quer sangue, mas a parte humana não deixa, então nos resta comer mais.

— Droga, pensei que isso de comer muito me fizesse especial.

— Sua personalidade te faz especial Rose.

— Isso é um elogio? — questionei sorrindo.

— Depende de como você vê — ele respondeu no mesmo tom — Você é leal, corajosa, essas coisas que não vou ficar ditando pra não aumentar seu ego. Mas você também é impulsiva, teimosa, impaciente, explosiva, problemática...

— Eu já entendi — o cortei irritada.

— Viu só?

— Você é um péssimo irmão.

— Eu sou o melhor irmão do mundo, só que você ainda não sabe disso.

Bufei e voltei a fitar o céu um pouco cinza demais para uma noite que tinha tudo para ser estrelada.

— Não estávamos treinando?

Ele saltou da grama e me puxou para ficar em pé também.

— Ei!

— Você tem razão. E precisamos voltar a treinar.

Yuri ofereceu ajuda com esse negocio de Espirito e claro que eu aceitei na hora. Não lembrei, nem por um momento, que sair do quarto dele tão tarde e ficar na companhia daquele... Deus Grego (que ele não escute isso!) todos os dias desde estão chamaria atenção e criaria boatos. Confesso, fui ingênua. Eu, mais do que qualquer outro, tinha que prever e estar preparada para esse tipo de situação.

Mas conclui que aguentar tudo isso vale a pena. Em questão de controle, escuridão ou espírito eu não tinha evoluído absolutamente nada. Mas pelo menos agora eu sabia mais sobre o buraco onde estava prestes a me jogar.

— Você anda treinando sozinha como pedi?

— Eu tento — respondi sincera — Mas se concentrar é mais difícil do que parece.

— Tem que continuar tentando. Precisa mesmo aprender isso Rose — Yuri insistiu me lançando um olhar sério — Concentração é essencial na nossa vida, sem ela tudo fica muita mais difícil.

Bufei. Algo que eu já tinha percebido em Yuri é que ele conseguia misturar preocupação e autoridade, como um verdadeiro pai. Ele adorava mandar em mim no que fosse possível, mas para minha sorte eu sou orgulhosa demais para ceder a isso. Raramente obedeço minha própria mãe, por que isso seria diferente com ele?

De repente ele parou e acenou com a cabeça, olhei-o confusa e segui seu olhar. E ali estava ele, Dimitri, de novo. Parecia que o destino estava brincando com as minhas emoções, porque sempre que eu estava com Yuri, Dimitri aparecia. Até comecei a imaginar que ele tinha um radar para nos localizar e depois simplesmente brotava do chão a alguns metros de distancia de onde estávamos.

Só que dessa vez ele se aproximava e parecia furioso.

Antes que qualquer palavra fosse dita Dimitri se preparou para acertar o olho de Yuri com um soco. Yuri impediu o movimento bem a tempo, mas não esperava uma reação de Dimitri, que apenas usou a outra mão para socá-lo no queixo.

Eu arfei, tanto pelo ato inesperado quanto pelo o que senti. Parecia que um punho invisível tinha me acertado no queixo. Com certeza não foi tão forte quanto o soco que Yuri tinha levado, mas latejava e com certeza era uma novidade.

Quando pensei em reagir Yuri tinha sido mais rápido e agora ambos trocavam socos no chão como garotos que brigavam no portão da escola. Eu fazia questão de ignorar os detalhes, só queria separá-los.

— Yuri!

Ninguém me ouviu. Senti uma fisgada no braço e percebi que Yuri tinha acabado de cair sobre o próprio braço quando Dimitri o empurrou para longe de si. Assim que vi um espaço considerável entre eles eu me coloquei no meio.

— Yuri para! — gritou erguendo as mãos para contê-lo.

— Eu? Foi ele que começou! — ele devolveu furioso.

— Mas eu estou pedindo para você parar — insisti com veemência.

Fiquei parada esperando que ele olhasse direito para mim e notasse que havia algo errado, foi o que ele fez. O lábio inferior de Yuri estava inchado e havia um corte em sua sobrancelha. Por que em toda briga masculina querem acertar a boca e os olhos?

Yuri me analisou com atenção e se aproximou quando seu olhar parou em meu queixo. Mas eu tinha que perguntar depois, rapidamente me virei para Dimitri e o empurrei para longe com toda força que consegui.

— Qual é a merda do seu problema? — gritei furiosa — Não pode vim aqui e atacar ele sem motivo!

— Sem motivo? — Dimitri rebateu parecendo indignado — Ouviu os boatos que ele espalhou sobre vocês dois?

Revirei os olhos. Então era isso. Dimitri queria bancar o ex-namorado preocupado com boatos?

— Yuri não criou aqueles boatos — respondi entre dentes, tentando me conter — E por que essa reação agora? Boatos assim me seguem desde St. Vladmir, não é agora que tenho que me importar com eles.

Era uma meia verdade.

Dimitri bufou e se aproximou em passos largos, no mesmo instante Yuri apareceu ao meu lado.

— Nem pense em chegar mais perto.

— Você não o conhece Rose! — Dimitri continuou o ignorando — Não sabe nem de onde ele veio!

— Eu sei mais do que imagina! — gritei em resposta — Agora que fique bem claro que se encostar nele mais uma vez quem vai acabar com sua raça sou eu!

***

 Yuri chutou a porta do quarto e foi pisando duro até a cama, onde se jogou com toda força.

— Aquele filho da puta!

— Não xingue a mãe dele, é como uma mãe pra mim — pedi cansada — Mas pode xingar o pai a vontade.

— Filho de corno tá bom?

— Ainda está xingando a mãe dele...

— Acéfalo recalcado?

— Perfeito.

Soltei uma risada e sentei na cama ao lado dele.

— Sabe que precisamos conversar, não é?

Yuri bufou e se sentou para me encarar:

— Tá falando sobre a reação ciumenta do seu namorado?

— Ex-namorado — corrigi, fazendo-o revirar os olhos — E não é sobre isso. Quero que me explique porque eu senti a dor que era pra ser só sua.

Recebi o silêncio em resposta e não gostei disso.

— Yuri?

— Não foi minha intenção, tá legal? Eu não sabia dessa reação do Espírito.

— Que reação? — perguntei franzindo o cenho.

— Pense um pouco Rose. Sei que consegue a resposta sozinha.

Revirei os olhos, mas não reclamei. Tudo bem, pense Rose. O que pode ser uma reação do Espírito? Um novo poder? Mais visões de fantasmas? Não, tenho que pensar em algo que envolve duas pessoas, especificamente dois irmãos usuários do Espírito. Uma reação que me faça sentir o que só ele deveria sentir.

Droga.

— Só pode ser brincadeira... — lancei um olhar descrente a ele — Uma ligação?

Yuri me respondeu com um sorriso amarelo e deu de ombros.

— Qual é Yuri — insisti me levantando — Como isso pode ter acontecido? Você não me salvou da morte, eu não te salvei da morte. Acabamos de nos conhecer praticamente!

— Não é tão difícil de acreditar e sabe disse — ele retorquiu — Por favor, somos usuários do Espírito, irmãos e ainda treinamos juntos. Ter uma ligação era só o que faltava na nossa vida, só não lembrei disso antes porque somos os únicos.

— Os únicos com essa ligação?

— Os únicos irmãos Guardiões do Espírito.

Eu paralisei. Somos os únicos irmãos nisso tudo? Como podia ser possível?

— Eu já disse que temos mais facilidade em enlouquecer, lembra? — Yuri esclareceu parecendo cansado do assunto — Às vezes um dos pais enlouquece antes de gerar um segundo filho, às vezes o irmão enlouquece e se mata ou qualquer outra coisa. O que importa é somos os únicos atualmente, a ligação é como um mecanismo de defesa, saber quando há algo errado com seu irmão... essas coisas.

— E vai ser assim pra sempre? — questionei levemente irritada — Vou sentir até quando bater o dedo do pé na cama?

Yuri riu, mas concordou com um aceno.

— Sim maninha, algumas vezes são mais fortes que as outras... mas é imprevisível. Simplesmente vamos sentir.

Bufei e levantei, começando a andar de um lado para o outro. Tudo aquilo era loucura. Como a vida podia brincar tanto comigo? Já não bastava a ligação com Lissa e a escuridão que vinha dela? Agora também teria que lidar com minha própria escuridão e uma ligação com um recém-conhecido irmão! O que mais iria acontecer? Os Strigoi declararem guerra e eu ser a única com a cura no sangue?

— Não é tão ruim quanto parece — Yuri declarou compreendendo a minha irritação.

— Sozinha não — argumentei — Mas juntando com toda a carga que eu já tenho de Lissa...

— Eu ajudarei você.

Batidas insistentes vieram da porta. Lancei um último olhar a Yuri e a abri sem muita enrolação. Um Guardião mantinha uma expressão profissional e uma pose ereta, tentando impor algum tipo de intimidação. Eu poderia rir com a cena.

— Algum problema?

— A princesa Dragomir pede sua presença em seu quarto.

Estreitei os olhos em desconfiança. Lissa nem parecia lembrar minha existência nesses últimos dias e me bloqueava com sucesso, o que a faria me chamar agora?

— Tudo bem, já estou indo.


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Notas finais do capítulo

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