Spirit escrita por Hawtrey


Capítulo 5
Guardiã do Espírito


Notas iniciais do capítulo

Olá! Muito obrigada a todos que comentaram e me perdoem por demorar mais para postar esse, eu estou doente e só postei porque ele já estava pronto e a febre me abandonou um pouco.
Espero que gostem!
E ei! Uma recomendação sempre ajuda, pra quem está pensando nisso!
E... VOCÊ AÍ, que está torcendo para o Yuri ser gay e não atrapalhar o romance de Dimitri e Rose... esse capítulo vai acabar com sua teoria!!



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Meu coração batia freneticamente só com a expectativa de ouvir respostas. Não fazia nem uma semana que eu conhecia Yuri Orlov, um Guardião que mais parecia com um Moroi e que eu nunca tinha visto na Corte, mas que todos pareciam conhecer muito bem. E menos de uma semana foi necessária para que eu me aproximasse dele e pela primeira vez não era algo impensado ou para fins de “eu preciso beijar esse cara”. Certo, não somos amigos, mas por algum motivo eu não tinha problema em manter uma conversa com ele e nem para confiar nele. Eu sabia que Yuri tinha respostas para muitas dúvidas que Adrian plantou na minha mente e que ele estava disposto a me ajudar.

Foi pensando nisso que bati em sua porta pouco antes do sol nascer, ou seja, antes da noite Moroi começar oficialmente.

— Rose! Pode entrar! — ele gritou do outro lado da porta.

Eu maneei a cabeça e abri a porta. O quarto de Yuri era bem parecido com o meu, a diferença estava na organização. Parecia que fazia parte do povo russo ser bem organizado. Mas eu precisei de um pouco mais de tempo para notar que o moreno estava trocando de roupa. Exclamei surpresa e imediatamente voltei a fechar a porta.

— Ah meu Deus! Yuri!

— O que aconteceu? — perguntou uma voz urgente.

Ergui a cabeça ainda de olhos arregalados e encontrei um Dimitri totalmente em alerta na porta do próprio quarto, mas usando apenas uma toalha.

Tampei os olhos na mesma hora e virei para o lado.

— Pelo amor de Deus! — exclamei exasperada — Onde estão suas roupas Dimitri?

Ouvi a porta sendo aberta e arrisquei uma olhada. Yuri não estava mais nu, mas pelo menos usava uma calça. Lancei um olhar irritado para os dois.

— Por acaso os russos tem algum problema com roupas?

— Eu estava tomando banho — se defendeu Dimitri erguendo as mãos em sinal de redenção.

— Ei! Segura essa toalha camarada! — exclamei assustada.

Tudo o que eu menos queria é que aquela toalha caísse. Por Deus, eu não podia ter aquela visão... mesmo já tendo visto tudo aquilo.

— E você! — apontei para Yuri que apenas sorria — Disse que eu podia entrar!

— E podia — ele respondeu indiferente — Eu só estava trocando de roupa.

— Tá de sacanagem colega? Você estava nu!

— Eu sei que pareço um deus de tão lindo, querida — ele devolveu com um sorriso convencido — Mas não precisa ficar tão nervosa.

Bufei e o empurrei para entrar.

— Coloque uma blusa logo!

Yuri apenas riu e fechou a porta. Olhei o quarto mais uma vez. Sim, quase idêntico ao meu, só que mais organizado.

— Fique à vontade — ele pediu colocando uma blusa.

E fiquei à vontade mesmo. Tirei meus sapatos e sentei na cama, ficando o mais confortável possível.

— Tudo bem, pode começar.

Yuri suspirou e sentou a minha frente.

— O que quer saber, exatamente?

— Tudo — respondi rapidamente — O que foi aquilo na sala do Hans? Por que estou me curando tão rápido? E por que tive um sonho consciente com uma Strigoi?

Os olhos de Yuri cresceram.

— Teve um sonho consciente com uma Strigoi? Como fez isso?

— Eu esperava que você me dissesse.

Por um momento perdi qualquer esperança. Tudo indicava que aquele sonho consciente com Sonya estava diretamente ligado ao que estava acontecendo comigo, ao que Adrian me contou antes de partir. Se Yuri não sabia explica-lo, então talvez ele não tenha as respostas que eu tanto quero. Foi então que os olhos dele ganharam um brilho de compreensão.

— Alguém te despertou — disse de repente — É isso! Sou muito burro, devia ter pensado nisso antes.

— O quê?

— Eu estava aqui quebrando a cabeça tentando descobrir porque você já tinha reações tão fortes e como conseguia se curar sem ajuda — ele continuou parecendo animado com a própria descoberta — Mas é claro que alguém já te despertou.

— Ei colega! — pedi elevando a voz — Do que você tá falando?

Orlov sorriu largamente e eu soube que aquele sorriso só podia significar problema para mim.

— Você é uma Guardiã do Espírito.

Pisquei algumas vezes e inclinei minha cabeça para o lado, fitando-o ainda sem reação.

— Eu devia ter entendido o que você disse?

Para começar o que era uma Guardiã do Espirito? Eu nunca ouvi falar sobre isso enquanto estava em St. Vladimir e nem fora dali. E eu descobri muitas coisas durante minha viagem pela Rússia, incluindo a existência de Alquimistas.

— Guardiões do Espírito são Dhampirs — ele esclareceu — Dhampirs que por algum motivo são presenteados com o dom do Espírito.

Franzi o cenho completamente confusa.

— Dhampirs usuários do Espírito?

Yuri concordou ainda sorrindo, mas ali surgia um argumento que eu estava usando há dias. Só Morois podem ter algum dom.

— Não — neguei descrente — Dhampirs não podem ser usuários de nada, só Morois podem.

— Não se esqueça de que Dhampirs ainda são metade Moroi — Yuri argumentou — E não estamos falando de qualquer Dhampir — ele se inclinou até sua mesa de cabeceira e voltou com um livro em mãos, abriu na página marcada e me entregou, apontando uma imagem.

Não havia nada de novo na imagem, na verdade eu a conhecia muito bem. Era St. Vladmir com sua Guardiã, Anna. Yuri não precisou explicar, Anna era a única Dhampir ali.

— Uma Shadow-Kiss?

— Como você bem sabe, Shadow-Kiss são aqueles trazidos de volta a vida pelo espírito e é nesse processo que o Dhampir consegue a liberdade de ser um usuário do Espírito.

— Espera. Tá dizendo que eu sou mesmo uma usuária do Espírito?

— Claro, assim como todo Shadow-Kiss. O problema é que eles precisam despertar o lado vampírico deles, sem isso tudo o que tem é a ligação e a escuridão que vem através dela.

— Despertar — lembrei vagamente de Adrian dizendo que precisava me despertar — Como se... desperta?

— A maioria são despertados por usuários de Espirito, não sei o que eles fazem, mas é o método mais seguro. Outros são despertados por um surto por causa da escuridão.

— Eu fui despertada por um usuário do Espirito e não foi muito seguro.

— Foi o que ouvi, mas acidentes acontecem — Yuri disse indiferente.

— Tudo bem, então um Shadow-Kiss pode se tornar um usuário do Espírito já que foram salvos por um — resumi incerta — Certo?

— Certo, mas não param por ai — ele complementou passando algumas paginas do livro e me apontando outra imagem.

Nessa havia apenas Anna. Era apenas uma representação, mas dava para notar que o ar se movia ao redor de suas mãos, como se ela o comandasse.

— Podem usar o ar também? — perguntei surpresa.

— Ar, água, fogo, terra, todos são elementos naturais que podem ser influenciados pelo Espírito. Morois também tem acesso a todos eles, mas precisam se especializar em um e são mais fortes nesse. Nós não podemos nos especializar em um então temos acesso a todos, apesar de não sermos tão fortes nisso quanto os Morois.

— Você também é um Guardião do Espírito?

— Sim, mas faço parte do grupo mais comum, filho de uma Shadow-Kiss.

— Filhos de Shadow-Kiss também são Guardiões?

— Sim, herdam o Espírito dos pais, mas não possuem ligação com nenhum Moroi e nem com o mundo dos mortos. Nada de fantasmas.

Suspirei. Como eu queria ser livre pelo menos dos fantasmas.

— É muito mais fácil encontrar filhos de um Shadow-Kiss em nossa comunidade — Yuri completou — Shadow-Kiss costumam... enlouquecer antes mesmo de saberem sobre o Espírito.

Eu entendia. Em um Moroi a escuridão é a consequência do uso excessivo do Espírito e isso costuma enlouquece-los, o mesmo acontecia comigo e provavelmente com qualquer outro Shadow-Kiss espalhado por aí. Enlouquecer era bem fácil para nós.

— Sabe explicar porque tive um sonho consciente com uma Strigoi?

— Acho que não. Conhecia a Strigoi antes?

— Yeah, era minha professora em St. Vladimir, sra. Karp.

Os olhos dele se arregalaram de novo.

— Sonya Karp?

— É...

— Todo Guardião do Espírito precisa ter equilíbrio externo e interno, para não enlouquecer ou surtar e matar alguém. Você pode conseguir o equilíbrio externo com outro usuário do Espírito ou qualquer outra pessoa que você confie plenamente. Seu Espírito vai reconhecer essa pessoa antes de você.

— E o interno?

Ele se levantou e começou a mexer em um armário pequeno que estava perto da porta do banheiro enquanto respondia:

— É aí que entra Sonya. Alguns usuários de Espíritos que sabem sobre nós se oferecem para nos ajudar com o controle, a escuridão. Dão aulas, fazem amuletos, dão dicas. Sonya era uma dessas pessoas, nossa melhor mentora — ele finalmente encontrou o que queria no armário e voltou a se sentar na minha frente — Mas ser mentora e professora ao mesmo tempo acabou sendo demais pra ela, então enlouqueceu.

— E se tornou uma Strigoi — completei com uma careta.

Yuri acenou, concordando e continuou:

— Se ela conseguiu passar por cima da personalidade Strigoi dela e ter força o suficiente para uma audiência particular na sua mente, então eu acho que você tá com problemas sérios. Lembra o que ela disse?

Eu nem precisei pensar na resposta, as palavras de Sonya rondavam minha mente todos os dias desde sonho, eram elas que formavam meu plano.

— Ela quer que eu a encontre. Que eu a transforme de volta, como Lissa fez com Dimitri.

Ele se inclinou na minha direção com expectativa.

— Acha que consegue fazer isso?

Fitei-o ansiosa. Por algum motivo eu queria saber a opinião dele, queria saber se ele confiava na minha capacidade de ser útil nisso. Mas por quê? Eu mal o conhecia!

Você acha que eu consigo? — devolvi.

Ele sorriu e balançou a cabeça.

— Acredito que sim. Você é a verdadeira responsável por Belikov estar tão vivo quanto nós. Se tem alguém que pode conseguir isso é você.

— Então não é loucura? — me certifiquei — Posso ir atrás dela?

— Não acho que seja tão simples quanto pensa — Yuri respondeu hesitante.

— Por que não?

Era só arrumar uma mala e sair correndo dali, como um dia já fiz por Dimitri.

— Entenda Rose, já estava perdendo o controle só com a influência do Espírito de Lissa, como acha que vai ser com sua própria Escuridão? É claro que você vai atrás da Sonya justamente para pedir ajuda, mas precisa pelo menos do básico para conseguir chegar lá.

Bufei. Problemas atrás de problemas! Eu nem tinha escolhido aquilo!

— Por que Adrian me despertou sabendo que minha sanidade ficaria ainda mais bagunçada?

— Provavelmente porque sentiu que essa é a única solução.

— Solução? Só vi problemas até agora!

Yuri suspirou e abandonou o pacote de biscoito que havia pegado do armário.

— Muitos como você, Shadow-Kiss puros, optam por isso Rose. É um equilíbrio. Porque a partir do momento em que se torna uma usuária do Espirito pode influenciar sua parceira de laço. Então a ligação que é de mão única passa a ser mútua.

Arregalei os olhos e prendi a respiração. Então é isso? Minha ligação com Lissa era de mão única porque só ela é uma usuária do Espirito, só ela podia influenciar o laço e se tornar sensível à minha mente. Mas se eu fosse como ela conseguiria o mesmo, não é?

— Isso é possível? Uma ligação de mão dupla?

— Com essas condições, claro — ele concordou — Um Guardião do Espirito e um Moroi usuário do Espirito. Mesmo que um Guardião ainda sinta a escuridão do parceiro, o Moroi também vai sentir a do Guardião. É assim que o equilíbrio surge.

— Então eu tenho que contar a Lissa! — conclui animada — Ela pode me ajudar!

— Não, não — Yuri me impediu rapidamente — Não pode jogar essa bagunça da sua aura em cima dela agora, não assim. Tudo ainda está muito confuso na sua mente e no seu espirito Rose. Vocês duas podem enlouquecer por causa da escuridão. O equilíbrio tem que começar em você e isso requer tempo, treino e principalmente paciência.

Eu podia me dar muito bem com o tempo e o treino, mas sentia que meu problema está na paciência. Yuri estava me mostrando problemas e soluções para eles ao mesmo tempo, no entanto, eu não podia nem colocar essa solução em pratica porque tudo ia desandar. Tudo tinha que começar em mim, aos poucos. Como se eu precisasse crescer antes de enfrentar o mundo.

Suspirei e me joguei na cama.

— Você me disse um monte de coisa, mas ainda não sei o que fazer Yuri.

— Não é obvio? É hora de treinar seu Espirito. Deixa de preguiça e senta.

Engoli uma resposta mal-humorada e voltei a sentar de pernas cruzadas. Yuri me encarou durantes alguns segundos e respirou fundo antes de sentar como eu e estender as mãos na minha direção. Franzi o cenho.

— Vamos, segure na minha mão, eu não mordo.

Revirei os olhos e obedeci cautelosamente. Assim que nossas mãos se encontraram senti uma onda energia passar por todo o meu corpo, me causando arrepios. Eu arfei com a sensação.

— Sentiu isso?

Yuri sorriu genuinamente.

— Você confia em mim. Assim como eu confio em você.

Uma nova onda de energia passou por mim, fazendo-me sorrir.

— Por que isso acontece?

O sorriso dele vacilou e senti ele segurar minha mão com mais firmeza.

— Promete que não vai me espancar?

Franzi o cenho e tentei puxar minhas mãos, mas ele as manteve no lugar. Qual era o problema agora?

— Você fez algo contra mim antes? — questionei começando a listar possíveis motivos que me fariam bater em um recém conhecido.

— Não! Eu jamais machucaria você.

— Então por que eu bateria em você? — perguntei desconfiada — Te conheço há pouco tempo Yuri.

— Por não ter contado a você — ele respondeu fazendo uma careta.

— Contado o quê?

— Que somos irmãos.

Continuei olhando para ele, esperando que sorrisse daquele modo sexy e travesso como fazia frequentemente. Por que ele só podia estar brincando, não é?

Com certeza uma brincadeira.

— Certo — ri um pouquinho nervosa — Irmão. Isso é algum tipo de expressão amigável no seu mundo do Espírito? Porque no meu geralmente significa problemas e com certeza envolve brigas.

Mas Yuri continuou me encarando com a expressão variando entre neutra e cautela. Ele estava com medo da minha reação.

— Droga! — exclamei soltando nossas mãos e saindo de cima da cama — Você não tá brincando!

— Por favor Rose, me deixa explicar! — ele pediu se aproximando.

Eu o olhei, olhei de verdade. Os cabelos de Yuri eram um tom mais escuro que o meu, mas seus olhos eram exatamente como os meus. Droga! Se Orlov tivesse a pele mais bronzeada e usasse roupas extravagantes seria uma cópia perfeita de Abe Mazur, por isso eu o achei levemente familiar quando o vi pela primeira vez.

— Eu quero matar aquele velhote!

— Não! — Yuri exclamou me impedindo — Ele não tem culpa.

— Não tem culpa? — questionei descrente — Será que eu tenho que te lembrar que sua mãe precisou transar com ele pra você nascer?

Porque Abe Mazur não deixaria seu material espalhado por aí!

Yuri respirou fundo. Eu não tinha percebido que ele estava tomando fôlego até se jogar na cama e começar a vomitar um monte de palavras:

— Minha mãe já estava louca, perdeu completamente o juízo depois que eu nasci. Estava tendo alguma festa em algum lugar da Rússia que eu não quis perguntar, mamãe usou a compulsão nele. Abe Mazur nem sabia que tinha um filho até eu contar alguns dias atrás.

Pisquei perplexa.

— Por favor, não me diga que é um homem traumatizado por saber disso.

Yuri riu. É... talvez ele seja um pouco mais parecido comigo do que eu gostaria.

— Você está brincando? — ele voltou a se sentar na cama — Eu não tenho nada contra Mazur, mas sei que não ia ter muita diferença ele saber ou não do filho. Sou um Dhampir, não me importo com isso. E minha mãe... não tenho mais ligações com ela. Vou visita-la às vezes como agradecimento por ter me colocado no mundo e por não ter me matado logo em seguida, mas é só.

Ele continuou me olhando e eu estranhei minha familiaridade com aquele olhar. Lissa costumava me olhar assim às vezes, como se eu fosse alguém importante e fosse me proteger até fim da vida.

— Só que eu tenho uma irmã — Yuri continuou, chamando minha atenção — E eu não ia deixar algo assim passar.

É, parece que agora é oficial: eu tenho um irmão. E morando no mesmo lugar que eu, só para constar. Bem no quarto que fica de frente com o meu, só pra ser clara.

E droga! Ele é lindo! Que grande desperdício!


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Notas finais do capítulo

O que acharam?