Spirit escrita por Hawtrey


Capítulo 4
Justo e necessário


Notas iniciais do capítulo

Eu confesso que estava tentando adiantar um pouco mais a fic e não ía postar esses dias, mas... RECEBI UMA RECOMENDAÇÃO. Tudo bem, eu queria mesmo uma, mas não esperava que fosse aparecer tão cedo, então surge a Gi! Gi sua linda, muito obrigada por essa recomendação, de coração ♥ A Gi encheu a recomendação dela de elogios e ainda disse "o enredo é um tanto diferente do que estamos acostumados"... sim! É exatamente o que quero, fazer um enredo um pouco diferente do que já li, mas só um pouco, não vou radicalizar também né! Mais uma vez, muito obrigada Gi!
Também quero agradecer muitissimo a todas que comentaram *-* Eu já gravei o nome de usuario de quase todos vocês e fico esperando aparecer cada um, ainda me animo quando vejo um nome novo surgir!
Meus sinceros agradecimentos a todos e aproveitem a leitura ;)

P.S. Eu vi agora que tem duas "Raquel", assim cês me confundem kkk



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Eu estava no meu quarto novamente, dessa vez só estava esperando a hora certa para sair. Enquanto isso eu tentava pensar da forma mais racional e clara que conseguia. Respirei fundo e preparei a tesoura novamente, fazendo mais um corte logo em seguida. Então fechei os olhos e me concentrei na dor e no ferimento, tentando lembrar das vezes em que eu estava na mente de Lissa e o que ela sentia quando curava alguém. A sensação de poder, paz e cansaço. Fechei minha mão ensanguentada com força e senti o poder fluindo, como se estivesse, literalmente, acelerando minha corrente sanguínea. Respirei fundo mais uma vez e abri os olhos, fitando minha mão com expectativa. Dessa vez não esperei mais do que alguns segundos antes de abri-la.

Estava bem. Sem corte ou cicatriz, se não fosse pelo sangue eu nem teria certeza de que realmente havia um corte ali. Eu consegui de novo.

Comecei a testar esse “novo poder de cura” depois de ser lançada na parede por causa de alguma força sobrenatural que me separou de Yuri. Dois dias atrás. Lembro de estar tonta e levar a mão a cabeça só para concluir que estava sangrando, provavelmente havia um corte ali, mas eu nunca saberei. Quando cheguei ao meu quarto e me olhei no espelho só havia sangue, sem cortes ou qualquer buraco por onde o sangue poderia sair. Naquela hora eu hesitei, poderia ser minha imaginação ou minha mente se recusava a ver um corte por ali, mas eu decidi arriscar e ver o que acontecia. Comecei com um corte na mão, era um pouco doloroso, mas com certeza não colocaria minha vida em risco. Então depois de algumas tentativas, funcionou. O corte havia se fechado.

Dhampirs e Morois se curavam muito mais rápido que humanos, mas era algo que demorava horas e não minutos, ou segundos como foi dessa vez. Só quem conseguia essa maravilha era os usuários do Espirito que podiam fazer isso em si mesmos ou nós outros. Isso só fazia minha expectativa aumentar sobre o que estava acontecendo e me peguei desejando urgentemente qualquer contato com Adrian.

Batidas na porta me acordaram do transe. Suspirei. Todos os dias alguém me procurava, já estava virando rotina. Sem outra escolha escondi a tesoura na gaveta, limpei o sangue da minha mão e fui abrir a porta.

Quando eu vi quem era, controlei a vontade de fechar a porta com toda força.

— Seja lá o que aconteceu, sou inocente — declarei cansada.

Dimitri manteve seu olhar frio e sua expressão de Guardião. Eu não estava mais com tanta raiva dele, talvez tudo o que eu fiz e disse na sala de Hans foi consequência da escuridão que me controlou. Só que nada disso apagaria o que eu disse e Dimitri não aceitaria essa desculpa.

— Rainha Tatiana está convocando você para uma reunião.

Deixei minha cabeça pender para baixo e bufei. Na última reunião eu supostamente ofendi a Rainha dizendo que ela só se importava com a própria bunda, mas acho que agora será um pouco mais delicado porque com certeza chegou aos ouvidos dela que eu agredi dois Guardiões e gritei com meu superior. Acho até que se ela não os visse, acreditaria que eu tinha matado todos eles.

— Tudo bem.

Peguei minha jaqueta, me certifiquei que minha estaca bem presa ali e sai.

— Como se sente?

Pulei de susto. Não tinha notado que Yuri também estava ali.

— Completamente curada — respondi lhe lançando um olhar significativo — E você?

— Nem precisei de muito esforço.

Yuri se aproximou e caminhou lado a lado comigo, deixando Dimitri para trás, nos acompanhando um pouco mais distante.

— Acho que você precisa explicar algumas coisas — Yuri lembrou sem tirar os olhos do caminho.

Eu lancei um olhar rápido e irritado para ele.

— Eu? Aparentemente quem sabe o que está acontecendo aqui é você.

— Eu só sei da minha parte. Quero saber a sua.

— Talvez a minha seja um exemplo da sua. De qualquer forma você sabe de algo e eu não.

Yuri decidiu ficar calado, então o resto do caminho foi silencioso e torturante para mim. Eu senti o olhar de Dimitri queimar em mim e eu queria mais que tudo parar no meio do caminho, arrastá-lo para uma sala e tentar consertar as coisas. Pedir desculpas e esperar ele voltar atrás sobre o que disse. Mas será que ele se arrependia? Todas as suas ações diziam que não.

Quando finalmente chegamos ao Salão onde Tatiana estava me esperando, eles entraram comigo e nos curvamos em reverência. A Rainha estava sentada com uma xicara de chá nas mãos e um olhar irritado.

— Sente-se comigo, Rosemarie — pediu indicando a poltrona a sua frente.

Ainda em alerta eu obedeci e vi ela me servir com o seu chá.

— Esperem lá fora — ela ordenou para Dimitri e Yuri.

Yuri hesitou um pouco, claramente estava preocupado com a chance do meu surto se repetir. Dimitri o fulminou com o olhar e esperou na porta.

— Vai — pedi forçando um sorriso.

— Eu vou esperar do outro lado da porta — ele garantiu sério — Qualquer movimentação anormal e eu entro.

Quando ele finalmente saiu e Dimitri fechou a porta, eu me permitir respirar aliviada.

— O Guardião Orlov parece bem preocupado com você — Tatiana notou depois de tomar mais um gole de seu chá.

— Na verdade ele tá mais preocupado com a sua segurança, majestade — respondi inexpressiva.

— Ah sim, seu descontrole na sala do seu superior. É sobre isso que quero conversar com você.

Eu comecei a encher minhas reservas de autocontrole. Eu sempre preciso quando estou na digníssima presença da Rainha.

— Você está consciente — ela começou em tom grave — De que atacou dois Guardiões e desrespeitou seu Superior, senhorita Hathaway?

— Sim, majestade.

— E o que tem a falar sobre isso?

— Eu não me arrependo.

Tatiana me lançou um olhar repreensor e abandonou seu chá. Eu não fui grossa, nem ríspida. Apenas fui sincera!

— Posso ao menos saber seus motivos?

Era impressão minha ou ela também estava se controlando?

— Você me cortou da lista de Guardiões de Lissa — respondi como se fosse o obvio.

Um brilho de compreensão passou pelos olhos dela, mas foi só.

— Foi uma decisão justa e necessária.

— Justa e necessária? — rosnei entre dentes — Para quem?

— Para Vasilisa e para o Guardião Belikov — ela respondeu secamente.

Eu paralisei. Era mesmo tudo isso para eles ou Tatiana estava apenas inventando desculpas?

— Eu não entendo como afastar Lissa da melhor amiga pode ser justo e necessário — rebati no mesmo tom — Temos uma ligação!

— Ser Guardiã sempre foi fácil para você — Tatiana comentou indiferente — A ligação sempre beneficiou você, Rosemarie, saber onde ela estava e como se sentia deve ter ajudado bastante. Mas já pensou como seria o seu trabalho sem esse beneficio?

— Eu já me sai muito bem protegendo outras pessoas — rebati veementemente.

Tenho outra pessoa me chamando de incapaz ou era impressão minha?

— Nenhum deles era a Princesa Dragomir.

É, acho que ela estava me chamando de incapaz mesmo.

— Está dizendo que não sou capaz de proteger Lissa? — me certifiquei desconfiada.

— Estou dizendo que você não sabe se é ou não capaz — o olhar dela foi letal, mas ela decidiu continuar — Ser oficialmente um Guardião é diferente, Rosemarie. Guardiões e Morois possuem uma relação fragilmente equilibrada entre o profissional e o pessoal. A partir do momento em que essa relação se torna pessoal demais, então o Moroi está em risco — ela se levantou e começou a andar em passos lentos ao meu redor, colocando poder em suas palavras — Pense comigo, Vasilisa está casada e tem filhos, então há um ataque e qualquer outro Guardião está ocupado com um possível inimigo. Só resta você para ela e as crianças. Então Vasilisa, sendo como é, imploraria para que você salvasse os filhos. Seja sincera com você mesma, o que faria? Qualquer outro Guardião a salvaria, porque esse é o trabalho dele, o pedido dela não importa em uma situação de risco. Mas e você Rose, o que faria? Faria seu trabalho e a salvaria ou respeitaria a decisão de uma amiga e salvaria sua família?

— Eu encontraria um jeito — respondi trêmula. Seja firme Rosemarie!

— Não duvido que encontraria — Tatiana rebateu parando a minha frente — Mas o seu erro não estará na escolha e sim na hesitação. Você hesitará Rose Hathaway e é nesse tipo de erro, nessa hesitação, que as pessoas costumam morrer.

Fechei os olhos com força, lamentando aquelas palavras. Eu odiava admitir, mas Tatiana estava certa. Não tenho duvidas de que eu encontraria um modo de salvar toda a família de Lissa se fosse necessário, eu tentaria até meu último minuto de vida, mas diante de uma situação daquela, não posso negar que hesitaria. E hesitar sempre foi um dos meus maiores erros, Dimitri era uma prova viva disso, tanto por insistir em todos os treinamentos para que eu não hesitasse quanto por ainda estar vivo, se eu não tivesse hesitado diante dele, ele com certeza estaria morto.

Mas nem sempre hesitar vai me ajudar, na maioria das vezes só vai me ferrar.

Quando voltei a abrir os olhos Tatiana já tinha voltado a sentar em sua poltrona e me fitava com olhos firmes, porém livres de irritação. E isso me pegou de surpresa.

— Há algumas semanas você deixou bem claro que devíamos dar uma segunda chance ao Guardião Belikov — ela lembrou em tom neutro — Insistiu que ele não era perigoso, que ainda era o mesmo e excepcional Guardião de sempre. Fiz o que queria, dei uma segunda chance a ele. Justo e necessário, acho que você concorda comigo.

Eu maneei a cabeça. Justo e necessário, sim. Mas tinha que dar o meu lugar a ele?

— Precisava dar o meu cargo a ele? — questionei em voz alta.

— Você já estava afastada, eu apenas ofereci a ele um cargo que já estava desocupado.

Bufei, talvez ela estivesse sendo sincera.

— Como vou saber se sou capaz ou não se você não me deixa tentar?

Tatiana riu.

— Não quer testar sua capacidade com Vasilisa, não é? O que pode acontecer se falhar?

— Talvez eu não falhe — insisti teimosa.

— Talvez, só talvez você seja a Guardiã certa para Vasilisa — admitiu Tatiana se inclinando na minha direção — E talvez seja um erro meu afastar você oficialmente. Mas para eu mudar de decisão precisaria confiar em você Rose, confiar no seu trabalho e ter certeza de que não falhará. No entanto, como pode me pedir isso se nem você acredita nisso?

Eu a fuzilei com olhar. Qual é o problema daquela mulher hoje? Se tornou a sabe tudo de um dia para o outro? De repente ela sabia tudo sobre mim, sobre como trabalho e já fazia profecias sobre o meu futuro. E pior! Eu não conseguia negar nada! Não tinha argumentos! Claro que não tinha, porque eu achava que ela estava certa!

Então ela voltou a encostar suas costas na poltrona e suspirou, terminando:

— Não hesite em me procurar quando conseguir se controlar Rosemarie e só peça seu cargo de volta quando não tiver duvidas de que é capaz de cumprir seu trabalho, isso se ainda o quiser de volta no final de tudo. Está dispensada.

Engoli minhas respostas mal criadas e sem sentido e me levantei em silêncio, saindo do Salão logo em seguida.

— Sem gritos dessa vez? — implicou Dimitri assim que eu fechei a porta.

Ignorei-o com sucesso, continuando a andar como se nada tivesse sido falado.

— Algum problema Rose? — perguntou Yuri se aproximando.

Também fiz questão de ignorá-lo. Se eu respondesse qualquer coisa logo as perguntas começariam e não estava com cabeça, nem paciência, para explicar o que tinha acontecido dentro daquela sala.

O que tinha acontecido? Bem, Tatiana havia pegado o meu orgulho e dançado tango majestosamente sobre ele, foi isso o que aconteceu. Eu sempre pensei que estava fazendo um bom trabalho como Guardiã, que sempre que Lissa precisasse eu estaria lá, protegendo-a com minha vida como sempre fiz, mas era só o que eu via, era o único lado que eu conhecia.

Eu nunca pensei naquele lado, naquele futuro onde eu não tinha mais uma ligação com ela, onde eu poderia ter que escolher entre a própria Lissa e sua família. Não queria, mas lembrei da visão que tive diante de Adrian onde Lissa, sendo uma Strigoi, carregava o filho morto e me acusava por isso.

— Rose? — Yuri chamou mais uma vez.

Eu virei para fita-lo, encontrei ele e Dimitri parados, me encarando. Eu lhes lancei um olhar confuso. Será que eles não tinham reparado que eu estava no meio de uma linha de pensamento importante?

— Por que vocês dois estão me seguindo mesmo? — perguntei.

— Eu sou sua sombra, lembra? — respondeu Yuri erguendo as sobrancelhas.

— E eu estou indo para o meu quarto — respondeu Dimitri indiferente.

— O seu quarto não fica na ala dos Moroi, junto com sua nova protegida? — devolvi sarcástica.

— Hans achou melhor eu ficar de olho em vocês dois.

— O quê? — eu e Yuri perguntamos.

— Eu não quero mais ninguém me vigiando! — exclamei irritada.

— Por que eu preciso de vigilância? — questionou Yuri parecendo ofendido

— Até que alguém explique o que aconteceu na sala do Hans, vão continuar sendo vigiados — respondeu Dimitri profissionalmente — Ordens da Rainha.

Bufei tentando me controlar. Ótimo! Agora estou sendo oficialmente vigiada. Eu já estava tentando me acostumar com Yuri, talvez eu pudesse trazê-lo para o meu lado, talvez ele pudesse me ajudar. Mas era impossível fazer isso com Dimitri, no mínimo ele contaria a Lissa. E o objetivo é que ninguém mais saiba.

De repente Yuri se aproximou e me abraçou pelos ombros. Eu lhe lancei um olhar questionador, tanto pela atitude quanto pela expectativa de sentir dor apenas com seu toque.

— O que está fazendo?

— Tentando chamar uma garota pra sair — ele respondeu esboçando um sorriso torto.

Eu só não continuei parada porque ele começou a puxar, forçando-me a andar junto com ele.

— Por acaso enlouqueceu?

Será que ele era assim mesmo ou só minha presença que influenciava as pessoas a fazerem esse tipo de coisa idiota? E será que ele não podia ao menos esperar Dimitri estar longe?

— É uma boa chance para conversarmos — Yuri insistiu.

Finalmente entendi o que ele queria. E talvez aquela fosse a melhor chance de arrancar respostas dele.

— Tudo bem — concordei — Onde quer ir?

— Como não podemos sair por aí sem um guarda-costas — ele lançou um olhar irritado para Dimitri que já o fuzilava do mesmo modo — Eu apareço no seu quarto antes do sol nascer.

Neguei rapidamente:

— Você não vai entrar no meu quarto.

Lembrei-me dos papeis ensanguentados jogados no lixo e da bagunça sobre minha cama. Só por cima do meu cadáver que ele permaneceria dentro do meu quarto por mais de dois minutos.

— Por que não? — Yuri questionou arqueando a sobrancelha esquerda, do mesmo modo que Dimitri fazia.

— O quê? Como vocês conseguem fazer isso com a sobrancelha? — questionei exaltada enquanto me separava de Yuri e encarava os dois — É alguma coisa de russo? Só russos conseguem fazer isso?

Ambos riram como se fossem velhos amigos zombando discretamente da irmã menor.

— Talvez um dia você consiga — disse Dimitri convencido.

Revirei os olhos e cruzei os braços, irritada.

— Olha só que biquinho lindo você faz quando tá com raiva — comentou Yuri rindo.

Imediatamente Dimitri parou de rir e voltou a fuzilá-lo com os olhos, enquanto eu me afastava.

— Eu apareço no seu quarto — avisei de repente.

Só queria mudar de assunto, oras.

— Vai amanhã — Yuri pediu sem deixar de sorrir.

— Por que não hoje?

— Tenho um compromisso.

Lancei um olhar desconfiado, mesmo assim concordei. Era justo e muito necessário aceitar esperar por respostas quando se tem uma única fonte.


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Notas finais do capítulo

O que acharam gente? Comentem hein, espero todos vocês



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