–Então, deixe-me ver se entendi. Vocês viraram amigos porque a Mabel pegou o seu boné-perguntou Pacífica.

–Não, não é isso. Vou explicar de novo. Pela a última vez-falou Dipper-Eu estava bravo com a minha irmã porque ela roubou meu boné. Então, eu ouvi o som de alguém chorando vindo de dentro de um quarto. Eu entrei e vi o Will, que estava na sua forma de triângulo, chorando porque a Mabel...

–Por que ele não era humano?-ela interrompeu.

–Porque eu ainda não tinha ensinado a ele como fazer isso. O ponto é: ficamos conversando até ele parar de chorar. Foi quando viramos amigos.

–O lance de ter enganado a irmã dele foi depois. Eu peguei o boné sem Mabel ver e o devolvi ao Pine Tree-concluiu Will.

–Então vocês viraram amigos porque o Dipper te fez parar de chorar?

–Ah, eu desisto!-Dipper se jogou na grama.

–Não foi isso, Shooting Star!-Will riu.

–Então foi o quê? Ainda não entendi!

–Digamos que o ódio em comum da Mabel nos uniu.

–Ah, obrigada por falar minha língua, Will.

–O problema é que você é lerda-disse Dipper.

Apesar de ele estar com a típica expressão e o típico tom de voz, Pacífica viu um brilho de divertimento em seu olhar.

–Mas você me adora mesmo assim-ela riu.

–Pfft. Tanto faz-ele revirou os olhos e, por um momento, quase sorriu.

Notando isso, Pacífica e Will trocaram olhares surpresos e sorriram. Dipper não entendeu a razão disso.

–O que foi?-perguntou.

–Isso que vimos foi a sombra de um sorriso?-a loira perguntou.

Ele corou e desviou o olhar.

–Não.

–Ah, vai, sorria-ela pediu.

–Não.

–Sorria, sorria, sorria...-disseram Will e Pacífica em coro.

–Não!

–Você pediu por isso-disse a garota.

–O que você vai...

Antes que ele terminasse a frase, a loira começou a fazer cócegas nele e todos os três gargalharam. Um tempo depois, ela parou. Eles continuaram rindo por alguns segundos antes de se acalmarem. Dipper ainda estava com um sorriso no rosto após recuperarem o fôlego.

–Você tem um belo sorriso-comentou Pacífica com uma inocência que só ela e Will têm.

O garoto corou violentamente, desviou o olhar e voltou a sua expressão normal.

–É...não se acostume com isso.

–Hey, do que vão se fantasiar no Hallowinter?-perguntou Will.

–Ugh, é mesmo, esse troço é amanhã-lembrou Dipper.

–O quê? Isso é tipo Halloween?-perguntou a loira.

–Não exatamente. Você se fantasia e acaba se tornando o que está fantasiado. Por exemplo, se usa a fantasia de ovelha, você vira uma ovelha.

–O quê?! Eu vou ser uma ovelha para sempre se eu usar essa fantasia amanhã?

–Não é bem isso. Você continua na sua forma. Uma garota com fantasia de ovelha. Mas adquire características do animal, como por exemplo comer capim.

–E vou ficar fazendo "béé" ao invés de falar como uma pessoa normal?

–Não. Claro, vai falar isso algumas vezes, mas ainda vai ter a capacidade de falar como um ser humano. Não se preocupe, isso só dura um dia.

–Se a Mabel estivesse aqui eu teria que me fantasiar de chapéuzinho vermelho-disse Will com uma careta.

–Se você se fantasiasse disso, eu me fantasiaria de lobo-Dipper disse, ameaçando atacar Will, que riu.

–E eu seria a vovózinha!-Pacífica falou.

–Hã...mas o lobo não come a vovózinha?-perguntou Will, inocentemente.

Dipper corou violentamente com o duplo sentido da frase, mas os outros dois não entenderam.

–É, imagine se o instinto de lobo falasse mais alto e ele tentasse me comer?-falou Pacífica, fazendo o garoto ficar quase roxo de vergonha, apesar de sua expressão não mostrar o quanto estava constrangido-Melhor eu escolher outra fantasia.

–Que tal você ser a chapéuzinho e eu o lenhador?-sugeriu Will.

–Que tal sairmos do tema "chapéuzinho vermelho", huh?-Dipper pediu, já sem saber onde enfiar a cara.

–Certo. Vou me fantasiar de fada!-Pacífica decidiu.

–E eu vou de...hã...-Will pensou um pouco-ELFO!

–Vou de bruxo-falou Dipper.

–Bruxo?-perguntou a loira.

–Aham. É só colocar um chapéu e pronto. Além disso, terei poderes. Sinto falta de fazer magia desde que aquele robô psicótico destruiu meu amuleto.

A garota sorriu.

–Estou ansiosa em relação a amanhã.

–-----------------------

O dia seguinte chegou mais rápido do que esperavam. Todos passaram a manhã a enfeitar as casas com os tons de roxo e azul claro, quase branco do Hallowinter. Além disso, estava nevando. Não era todo ano que nevava nesse dia.

Dipper estava caminhando pela cidade, já com a fantasia. Bem, era apenas uma roupa no estilo que estava acostumado a usar, apenas com cores diferentes, exceto as calças que eram pretas como sempre. Ele achara uma réplica do seu amuleto. Claro, em um dia normal, uma réplica não teria poderes, mas no Hallowinter, sim. O "bruxo" do visual vinha de um chapéu branco de bruxo com uma faixa azul. O garoto conseguira encontrar um par de botas de mesma cor branca que tinha uma faixa, também azul, em cada uma, na parte de cima. Bem, era isso o que ele chamara de fantasia.

Dipper sentiu alguém cutucando-o e se virou, mas não viu ninguém. Sentiu de novo, mais uma vez se virou e...nada.

–Que tal olhar mais para cima?-ouviu uma voz familiar.

Ao erguer o olhar, viu Pacífica voando. Ela estava com um laço rosa na cabeça, vestido, saltos e asas de mesma cor. Ela tinha uma varinha na mão. Ela era de um tom rosa claro com uma estrela cadente ao invés da simples estrelinha no topo.

–Alguém está aproveitando o Hallowinter, huh?

–Pois é. Voar é tudo de bom-falou a garota, animadamente-O que acha de uma guerra de bolas de neve?

–To dentro!-ouviram uma voz atrás deles e se viraram.

Will estava com um chapéuzinho e roupas de elfo, todos verdes. Seus sapatinhos de elfo eram marrons e usava orelhinhas pontudas.

Ele fez uma bola de neve e jogou em Dipper, que revidou. Pacífica repetiu a ação de Will e o bruxo bufou.

–Ah, é assim? Todos contra o Dipper?

Ele ergueu as mãos e várias bolas de neve se formaram. Ao estalar os dedos, elas foram arremessadas para qualquer lado, sem nenhuma mira, acertando Pacífica e Will por sorte.

Eles passaram a tarde fazendo guerras de bolas de neve em certos momentos, tomando chocolate quente em outros e até jogando neve em pessoas aleatórias.

Quando faltava quinze minutos para a meia noite, Pacífica suspirou.

–Daqui a pouco volto a ser humana. É uma pena. Ser fada por um dia foi legal.

–Você só ficou voando o dia inteiro-falou Dipper.

–É, mas voando, posso fazer isso.

Ela pegou o chapéu do garoto e balançou o mesmo no ar.

–Vem pegar!-a loira riu, voando alto com o chapéu na mão.

Dipper estalou os dedos e o chapéu desapareceu da mão dela, reaparecendo na cabeça do garoto, que sorriu com um ar presunçoso.

–Pfft. Você tira a graça de tudo.

–Eu achei muito engraçado-falou, rindo.

–OPORTUNIDADE PARA O ÁLBUM DE RECORTES!-gritou Pacífica, tirando uma foto do garoto.

–Para que é isso?

–Não é todo dia que vemos você rir. Essa foto vai para o álbum, não importa o quanto você proteste.

Ainda com um pequeno sorriso, ele revirou os olhos, voltando a sua expressão normal em seguida.

De repente, tudo ao redor deles começou a flutuar. Dipper colocou a mão no chapéu em sua cabeça, para o mesmo não sair voando, e olhou ao redor.

–O QUE ESTÁ ACONTECENDO?!-gritou mais alto que o barulho do vento.

O trio olhou na direção da mansão Gleeful, no topo da montanha. Luzes azuis brilhavam dentro da construção, iluminando o terreno ao redor da mesma.

–NÃO SEI!-Will gritou de volta, agarrando-se à calha de uma casa-VOCÊS NÃO ACHAM QUE GIDEON...

Antes que ele pudesse terminar, a gravidade voltou. O elfo ficou pendurado no ar, segurando na calha, Pacífica continuou no mesmo lugar, voando, e Dipper caiu no chão.

O garoto ajeitou o chapéu de bruxo, o qual tombara sobre seu rosto, e se levantou.

–O que foi isso?-perguntou.

Pacífica olhou um relógio dentro de uma casa pela janela e aterrissou ao ver que faltava um minuto para a meia noite.

–Não sei. E acho que nem quero saber. Isso foi estranho.

Will soltou a calha e caiu em pé no chão, indo até os dois em seguida. Eles ouviram o som de "beep" do relógio de pulso de um cara que passava por ali. Era meia noite.

–Meia noite? O que...isso é impossível! Quando a gravidade caiu eu vi naquele relógio-apontou para a mesma casa onde Pacífica olhou pela janela para verificar as horas-que era dez para a meia noite. Eu contei mentalmente, ficamos no ar por 10 segundos, não 10 minutos!

–Tem algo muito estranho acontecendo...-murmurou Will.

–É, mas vão pensar nisso depois, é hora de dormir!-disse Bud atrás deles.

Por não terem visto o tio de Pacífica se aproximar, o trio gritou de susto.

–Yeeesh, crianças, calma. Vem, vamos para casa.

Bud saiu andando. Sua sobrinha e Will o acompanharam sem demora.

Antes de seguí-los, Dipper olhou para a mansão, mais uma vez, por cima do ombro.

Algo estava acontecendo em Reverse Falls, não teria como negar isso.

Algo grande e perigoso.

Mas o trio não precisaria se preocupar com isso.

Por enquanto.