Reverse Falls - When Gravity Falls escrita por Belle Cipher


Capítulo 3
Wolf in Sheep's Clothing




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Pacífica simplesmente não conseguia acreditar no que estava vendo. Ela deveria estar vendo coisas, o que o Bud colocou no chocolate quente dela essa manhã?

Na verdade, ninguém acreditaria na cena.

Gideon e Mabel conversando e rindo alegremente.

Aquilo não era real. Não poderia ser. O que seu primo estava fazendo com aquela criatura? Ou melhor...o que aquela criatura estava fazendo com seu primo?

A loira apertou o pingente de estrela cadente em seu colar tantas vezes que seus dedos doeram a ponto de quase quebrarem.

Dipper não demorou a chegar. Na verdade estava bem perto, na lojinha da tenda, vendo todas as bobeiras que eram vendidas lá. Percebeu uma grande quantidade de bonés nas prateleiras. Tinha alguns que eram bem coloridos e tinham o símbolo da tenda no meio. Outros eram iguais aos de Gideon. E tinham alguns que eram bem familiares para o garoto: azuis e brancos com um pinheiro azul no meio de cada um. Ele pegou um desses, colocou na cabeça e se olhou no espelho. Por um segundo, poderia jurar que viu, no lugar de seu reflexo, a imagem de um garotinho usando uma camisa laranja. Foi nesse momento que Pacífica começou a apertar o pingente desesperadamente.

O garoto deixou de lado o que viu, guardando o boné no lugar e saiu correndo até onde a garota que o chamara estava.

—Qual...o...pro...blema?-perguntou respirando ofegantemete.

Pacífica o agarrou pela gola da camisa, o que o fez ficar levemente surpreso, e o virou para que ele visse o que estava acontecendo.

—Mas...o que...-ele murmurou, ainda tentando recuperar o fôlego.

—Desde quando ele e a víbora são tão amiguinhos?

—Olha, sei que não está errada, mas poderia não chamar a minha irmã assim na minha frente?

—Tanto faz.

—Ah, então é isso que ela tem feito...

—Do que está falando?

—Ela tem saído muito de casa e sempre que pergunto o que vai fazer ela diz que vai "mexer com seus negócios".

Pacífica e Dipper se aproximaram, torcendo para não serem vistos.

Precisavam ter torcido mais.

Mabel e Gideon se viraram para eles e a surpresa em seus olhares logo se tornou desconfiança.

—Estavam nos espionando?-perguntou a Gleeful.

—Gid, o que está fazendo com essa aí?!-perguntou a prima dele.

—Ela não é "essa aí". Ela tem nome. Na verdade, eu sou quem deve perguntar o que faz com esse aí-retrucou o mais novo.

—Ele não é "esse aí". Ele tem nome-ela disse, imitando a voz dele.

Pacífica e Gideon começaram a brigar um com o outro, enquanto os gêmeos observavam, desconfortavelmente.

—Não quero mais ver você com ele!-falou o mais novo.

—Você não manda em mim!-a loira indignou-se.

—Não queria fazer isso, mas você não me dá outra escolha.

Ele tirou do bolso um sininho bem familiar para Pacífica.

—Você não se atreveri...

Antes que pudesse terminar, Gideon balançou o sininho e aquele barulho chato, agudo e perturbador ecoou pela mente da garota, fazendo-a se calar e ir, de cabeça baixa, até Gideon, parando ao lado dele.

—Mabel, o que está planejando? Enfeitiçou o Gideon, ou o quê?-perguntou Dipper.

—Ora, não estou planejando nada. Não posso me apaixonar?-respondeu a gêmea.

—E você lá sabe o que é gostar de alguém?

Agora foi a vez dos irmãos brigarem e os primos observarem com grande desconforto.

—Você é o pior!-gritou Mabel.

—HA! Olha quem fala!-retrucou Dipper.

—Ela está certa-interviu Gideon.

Todos os olhares foram para o garoto. A Gleeful e a prima do menino, surpresas. O outro, como sempre, impassível.

—Vai defender a minha irmã?-perguntou o Gleeful.

Ao mesmo tempo, Pacífica questionou:

—Vai defender a víbora?

Eles olharam um para o outro e depois desviaram o olhar, ambos corados, apesar da expressão de Dipper não demonstrar a vergonha que sentia.

—Paz, não fale assim dela. Ah, eu sabia que conviver com o Gleeful te afetaria, mas não achei que fosse tanto-disse Gideon-Não quero mais ver você andando com ele.

—O quê?!-exclamou a loira-Mas...

O primo dela balançou o sininho irritante novamente e ela se calou, com o rosto ainda mais vermelho.

—Ela me contou, Gleeful-falou Gideon, irritado-Tudo o que você fez com ela.

—Tudo que eu...do que está falando?-perguntou Dipper, confuso.

—De como você a fez sofrer. Você é cruel, sangue frio e mentiroso!

—Ah, quer saber? Acredite no que quiser! Eu não tenho que provar nada a ninguém! Minha irmã é uma mentirosa profissional. Mentir está em seu sangue. É uma pena que você caiu na dela.

O Gleeful se virou e saiu andando. Pacífica tentou chamá-lo, mas Gideon usou a droga do sininho de novo e ela se calou.

Mabel sorriu maléficamente. Algo que passou despercebido pelo mais novo, mas a loira viu e imaginou o que a outra garota estaria aprontando.

Plano conluído. Meu irmãozinho está sozinho agora. Daqui a pouco virá rastejando para mim!, pensava a mais velha.

—------------

Dipper caminhava pela floresta com as mãos nos bolsos. A imagem que vira refletida no espelho mais cedo não saia de sua cabeça. Lembranças de sua infância o invadiam, mesmo sem ele querer.

As memórias passavam como slides em sua mente.

Viu a si mesmo, um garotinho de três anos todo sorridente usando uma camisa laranja, shorts, meias brancas, tênis pretos e um boné azul e branco com um pinheiro azul no meio. Ele tinha um desenho na mão e estava correndo até a sua irmã.

Depois, viu Mabel queimando o desenho com aquele fogo esverdeado. Em seguida, ela estava com o boné dele em uma mão e jogava as cinzas do papel dentro do mesmo. Logo depois, ela colocando meio violentanente o boné na cabeça do menino, sujando seus cabelos e seu rosto com as cinzas.

Dipper balançou a cabeça, afastando essas imagens. Mas não demorou a virem outras.

Novamente via o garotinho. Agora com quatro anos. Ele estava com uma expressão meio assustada e triste no rosto. Ainda usava as mesmas roupas.

Então, viu a irmã rindo de forma maligna, seguida pela imagem dela e seus tios avôs gargalhando e apontando para o garotinho.

Agora ele não estava com as mesmas roupas de antes. Sem o boné na cabeça, usava sapatos formais pretos, calças e uma capa de mesma cor, uma blusa de manga comprida verde e no pescoço havia um amuleto esverdeado. Estava de costas para o trio, caminhando para fora da sala com uma expressão impassível no rosto.

Para terminar, viu a mão do garotinho segurando o boné, que brilhava, envolvido pelo fogo verde. Mesmo sem ver a imagem, Dipper conseguia imaginar o caminho percorrido pelo menino, marcado pelas cinzas do boné.

—Lembrando passado, huh? Não é algo que costuma fazer. Gosta de deixar as memórias trancadas-ouviu a voz de Will Cipher-O que aconteceu?

—Como se você não soubesse-respondeu, se virando para encarar o garoto de cabelos azuis, que o observava com um pouco de pena.

Will não usava roupas formais dessa vez. Vestia um suéter azul, tênis marrons e bermudas.

—É, eu sei. Sua irmã é uma criatura desprezível.

—Você diz isso a mim? Sei melhor do que ninguém como ela é cruel. Agora, até Gideon caiu em sua lábia.

—Há pessoas que não são o que parecem. Há pessoas que não são pessoas.

—Gosta de soltar enigmas aleatoriamente, huh?-perguntou Dipper, erguendo as sobrancelhas.

Will deu de ombros e sorriu.

—Um dia você entenderá.

—Normalmente esqueço que você não é um garotinho de 12 anos.

O de cabelos azuis riu.

—Às vezes eu também esqueço.

As semanas se passaram assim. Dipper passava o dia todo na floresta conversando com Will e o ajudando a controlar seus poderes. Isso era meio perigoso, já que agora o Gleeful estava sem o amuleto e não poderia desfazer alguma bobagem que Cipher fizesse.

Gideon passou dia e noite na mansão Gleeful com Mabel. Ninguém sabia no que eles estavam trabalhando.

Durante o dia, Pacífica ajudava o tio na tenda e de vez em quando visitava a floresta escondida para ficar com Dipper e Will. Falando nesses dois, durante as noites eles ficavam na casa da loira. O Gleeful, dormindo na cama que Gideon abandonara. O Cipher, bem, ele não dormia. Ele é um demônio, afinal, mesmo não parecendo nada com um.

Certo dia, Dipper estava caminhando pela floresta sem o de cabelos azuis, que ficara na tenda para ajudar Pacífica e Bud. O garoto estava pensando em fazer um monte de nada. Até que ouviu gritos.

Ele seguiu os sons e chegou em uma parte escura da floresta, onde Mabel brigava com um grupo de homens-touros furiosos. Um deles a ergueu no ar e o arquinho da garota, onde estava o amuleto, caiu no chão. Um dos caras pisou no mesmo, fazendo-o se quebrar. Não foi intencionalmente, já que ele não vira o objeto.

Ao ver Dipper, Mabel gritou:

—HEY, ME AJUDE! DÊ UM JEITO NESSES CARAS!

O garoto quase sorriu ao se lembrar das palavras que Will dissera durante a semana: "Não se preocupe com Mabel. No Universo há algo chamado carma. E o carma sempre vem".

—Você sempre quis que eu fosse como você-disse Dipper-Sempre quis que eu fosse cruel, manipulador e impiedoso. Eu nunca quis ser assim, mas você sempre convenceu as pessoas de que eu era. Bem, talvez eu passe a ser.

Dito isso, ele se virou e saiu andando para fora da floresta, ignorando os gritos da irmã. Ignorou até mesmo quando ela disse, em um tom ameaçador:

—ISSO AINDA NÃO ACABOU, CRIANÇA!

Ele quase conseguiu imaginar o sorriso maligno da irmã ao dizer aquilo.

Mas ignorou.

Continuou andando para fora da floresta.

E não olhou para trás.


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