Enquanto meus olhos forem negros escrita por Zaringer


Capítulo 2
Ventos de mudança




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Naquele salão escuro, iluminado pela luz de poucas velas, o silêncio perdurava. Sete senhores destacavam-se no altar ao fundo do salão. Três anciões sentavam-se à esquerda e outros três sentavam-se à direita daquele no meio dos seis: Hyuuga Inari, líder do clã e representante do principal Ramo da família, a Soke (宗家). Na frente do altar onde esses senhores sentavam-se, estavam um grupo de indivíduos sentados lado a lado, os outros membros integrantes da Soke, entre eles, o filho mais velho de Hyuuga Inari e herdeiro do clã, Hyuuga Hiashi.

Atrás destes, o restante do clã Hyuuga aguardava ajoelhado sobre o assoalho de madeira do salão: os integrantes da Bunke (分家 ), o Ramo secundário do clã Hyuuga. Na primeira fileira dos Bunke estava Hyuuga Nagari, irmão do cabeça do clã e representante principal da família secundária. Ao seu lado, o segundo filho do líder do clã e irmão gêmeo de Hiashi, Hyuuga Hizashi.

O ar naquele âmbito estava pesado, como se uma neblina de tensão preenchesse o ambiente e perturbasse os corações ansiosos pelo resultado daquela reunião. A guerra estava finalmente chegando às partes mais interiores do País do Fogo e a vila necessitava de soldados para a batalha. Não era comum solicitar integrantes do Clã Hyuuga – desde os tempos antigos, estes shinobis nunca tiveram grande apreço por lutas sanguinárias sem sentido (ainda que por valiosas recompensas). Ao contrário de outros clãs, os Hyuuga sempre permaneceram quietos em seus domínios. Os poucos tolos que ousavam desafiar suas fronteiras eram facilmente silenciados. Por essa razão se tornaram respeitados e temidos.

Entretanto, Konoha passava por uma situação complicada. Grande parte dos soldados estavam em nações aliadas ou em vilas menores lutando contra antagonistas de outras nações. Naquele momento, outros clãs nobres como o Senju, o Uchiha e Sarutobi já estavam intimamente atrelados na batalha.

O poder dos Hyuuga era então um bem necessário para defender o coração do País do Fogo e as fronteiras de Konohagakure.

A criticidade do momento era tanta que o próprio Hokage preparava-se junto de sua força tarefa, os ANBU, para adentrar à linha de frente. Ao mesmo tempo, uma tropa de soldados seria enviada para as áreas de principal acesso para o interior do País do Fogo onde os inimigos estavam frequentemente tentando invadir. Tropa esta que seria liderada por pelotões do clã Hyuuga.

– O Hokage pede a ajuda do nosso clã. Devemos honrá-lo com nossa força no campo de batalha. – comentou um ancião que sentava-se à direita de Inari.

– Não há dúvidas em relação a nossa participação ou não na Guerra. Isso foi uma convocação oficial de Senju Tobirama, como integrantes de Konoha entraremos nessa batalha. A questão é quantos e quem enviaremos a essa batalha. – discutiu outro ancião à esquerda.

Alguém levantou-se em meio aos Soke e com o consentimento dos anciões pôs-se a falar:

– Entendo que Konoha tenha solicitado nossa ajuda e concordo plenamente em ajudarmos na batalha... as flâmulas da guerra logo chegarão às nossas portas se não fizermos nada. Mas há um empecilho nisso tudo: nosso Kekkei Genkai, protegido arduamente através de gerações por nosso sistema de castas. E.. – murmúrios começaram a espalhar-se entre a Bunke quando o membro do ramo principal pausou seu discurso e olhou fixamente para o líder do clã, no centro do altar. – por essa razão, acredito que a participação de qualquer membro da Soke na batalha deva ser definitivamente restrito à defesa no interior da Vila enquanto que a Bunke participaria efetivamente da batalha.

Tal como esperado, uma discussão tomou início e perturbou a ordem no interior do salão. Se a relação entre os Ramos do clã sempre foi aturdida, o cenário atual não ajudava nem um pouco para um atenuar de ânimos. A Soke detêm apenas os primogênitos dos primogênitos já membros do principal Ramo da família e através destes, mantêm os Hijutsus mais poderosos. Enquanto isso, a Bunke detêm os outros membros do clã, nascidos para o propósito da defesa e servidão ao Ramo principal.

Um sistema como esse, apesar de rude, dura entre as gerações pela sua eficácia em proteger um dos Três Grandes Doujutsus, o Byakugan, que apesar de um poder passado pelo sangue pode ser roubado por um ninja.

Por essa razão, aqueles que geralmente entram em contato direto com inimigos e sofrem baixas são os membros da Bunke, portadores de um poderoso Juinjutsu marcado em suas testas pela Soke, que tem seus Doujutsus selados para sempre após suas mortes. Esse selo amaldiçoado tem então um segundo efeito que permite a família principal do clã controlar os membros da família secundária: a dor. Com apenas um selo de mão, um membro da Soke pode facilmente destruir as células cerebrais de um membro da Bunke e assim mata-lo. O selo torna-se assim um cadeado: um selador que prende para sempre o destino daqueles nascidos no Ramo secundário do clã.

– Silêncio. – levantou-se Hyuuga Inari junto de sua voz. Não foi preciso que ele dissesse mais nada. O respeito retornou com o silêncio tão rápido quanto este havia desaparecido. – Essa discussão, ainda que incômoda, não pode ser ignorada. Mas não será com conversas dispersas que uma decisão será tomada.

– A respeito disso, Inari-sama – ergueu-se o ancião à esquerda de Inari – tenho que concordar com Hayate-san: o Byakugan estará livre para ser tomado daqueles que caírem na batalha. Não creio que devamos arriscar nossa linhagem nessa Guerra enviando a Soke e portanto –

– Esse pensamento será completamente rejeitado por mim, não importa quantos anciões o desejem. – a voz de Inari foi fria e ininterrupta. A família principal ficou em silêncio enquanto que o Ramo secundário fazia comentários em baixa voz – Somos um total de setenta e sete dentro do clã. Destes, vinte e cinco são da Soke e os outros cinquenta e dois da Bunke. De vinte e cinco da Soke, quinze são passíveis de combate e trinta e nove da Bunke podem participar diretamente da batalha. Desta forma, cinquenta e quatro de nós está disponível para juntarmo-nos as tropas da folha e as liderarmos.

– Inari-sama, Senju Tobirama pede por quarenta e cinco soldados. Dez para cada uma das frontes e cinco para a proteção da central de estratégia. O que significa que catorze de nós pode ser deixado no clã, defendendo-o caso necessário. – o líder do clã não virou sua cabeça para observar o ancião ao seu lado direito falar. Suas intenções eram óbvias. – Por que então arriscar o extravio do Byakugan se praticamente todos da Soke podem ficar?

Desta vez não houveram murmúrios. O clã se manteve em silêncio novamente. Uma dúvida abateu-se sobre o líder do clã: fazer o que é justo ou o que é mais seguro?

As opções eram tentadoras... Apenas um combatente da Soke precisaria ser enviado, diminuindo assim as chances de roubo do Byakugan. Por outro lado, se a situação dentro do clã já estava tumultuosa devido aos crescentes conflitos entre os Ramos das famílias, favorecer a Soke inibindo-os do combate direto só causaria mais discórdia.

A noite foi longa e cheia de comentários. A sensatez da família principal parecia ainda mais ousada perante o medo dos integrantes da Bunke de serem mortos com apenas um selo de mão. Em meio a hierarquia e a superioridade da família principal, os Bunke quase não tiveram vez na discussão. Litros de chá foram constantemente servidos para umedecer as gargantas cansadas pela conversação que se estendia por horas.

Finalmente, um homem em meio a Bunke se levantou para falar, silenciando as discussões paralelas.

– Meus senhores, gostaria de expressar a opinião oficial da Bunke, como seu principal membro. – disse Nagari. Os anciões se sentaram, seguidos do líder do clã e de todo o resto do salão, permanecendo de pé apenas o homem que pedia por voz. – Como membro secundário do clã, entendo completamente o meu dever. Porém, esta não é uma batalha em que apenas nós estamos envolvidos: não é um ataque de um clã rival, como nos tempos passados. Isso é uma Guerra Mundial! Somos chamados para lutarmos pelos nossos companheiros da Vila que estão lá fora nos defendendo. Será que seremos tão egoístas ao ponto de priorizarmos nossa linhagem sanguínea ao invés de nossos amigos no campo de batalha?

Seu comentário foi como uma grande e gélida onda que preencheu o âmbito. Nesse momento, a vontade do fogo falou mais alto que o tradicionalismo dos Hyuuga. O líder do clã se viu contra uma nuvem de impacientes membros do ramo principal, pedindo por sua inibição do campo de batalha, enquanto que a outra metade pedia igualdade na Guerra.

No final, a igualdade gritou mais alto e Hyuuga Inari decidiu por levar ambos os ramos do clã para o combate, de forma que treze membros da Soke dos quinze disponíveis fossem à batalha e vinte e sete dos que poderiam lutar pela Bunke seriam enviados. O restante do clã (os que por alguma razão não podiam lutar) permaneceriam em Konoha, junto dos outro quatorze membros responsáveis por sua defesa.

A madrugada se estendia enquanto os participantes da reunião foram se deitar.

Na varanda em frente ao pátio de treinamento do clã, um homem sentava-se rodeado de seus dois filhos. Filhos estes que eram idênticos em aparência e no herdar do talento Hyuuga. Mas entre os dois, uma diferença de poucos segundos na ordem do nascimento levava um ao topo da hierarquia e o outro a uma cela trancada por um Selo Amaldiçoado que brilhava em sua testa.

Desde cedo, Hizashi, pertencente a Bunke, foi separado de seu irmão e deixado aos cuidados principais de Nagari. Enquanto isso, Hiashi, o primogênito, recebeu toda a atenção devida dentro da Soke – respeitado, mimado e treinado para aprender as técnicas mais poderosas dentro do clã, deixadas apenas para os membros da casa principal. Ainda assim, Inari fazia questão de reunir seus filhos ao menos uma vez por semana para conversarem enquanto serviam-se de chá.

Por mais que o líder do clã fosse firme e inquebrável, seu âmago se retorcia em observar que um filho detinha mais privilégios que o outro.

– Hiashi, Yusuke me disse que você conseguiu completar o jutsu que estava treinando. Muito bem, continue dessa forma e tenho certeza que será um poderoso líder do clã um dia. – exclamou Inari.

– Hi, obrigado pai. – respondeu o filho. Hiashi mostrava-se um poderoso herdeiro do Kekkei Genkai Hyuuga. Sua destreza com o Juuken Ryuu, o estilo de Taijutsu original do clã, e sua habilidade com o Byakugan aos 14 anos, conseguia ser igualada apenas por poucos integrantes do clã. Ele é o que chamam de um gênio nato.

– Quanto a você, Hizashi, também devo parabenizá-lo por seu desempenho no Chuunin Shiken e por ter tido sucesso em se tornar um Chuunin. – quando seu pai o disse, Hizashi permaneceu em silêncio segurando seu chá, enquanto que Hiashi olhou surpreso. A relação entre os irmãos não passava muito de encontros como o atual. Além disso, Hizashi serve a folha como um Genin, ou melhor, um Chuunin agora.

Hizashi participou do último Chuunin Shiken? Eu não fazia ideia – pensou Hiashi enquanto seu pai concluía os elogios ao seu filho mais novo.

– Não se esqueça Hizashi, que mesmo como um Shinobi de Konoha você ainda é um Hyuuga da Bunke e tem o compromisso para com a defesa do seu irmão – continuou Inari, enquanto Hizashi sequer disse uma palavra.

Na expressão do jovem da família secundária, um olhar de desânimo permanecia.

– Apesar de que, da forma como seu irmão luta, não acho que precise de sua ajuda. – um leve sorriso surgiu no rosto do líder do clã. – Continue treinando e trazendo orgulho ao clã que em pouco tempo se tornará um Jounin, Hizashi. Terá uma grande chance de provar se merece esse título quando lutar em um dos batalhões que defenderão o País do Fogo na Guerra.

Nesse instante, a expressão de Hiashi mudou: perplexidade instalou-se em sua face quando a notícia que seu irmão participaria diretamente da batalha foi anunciada por seu pai.

– Pai, Hizashi irá para as linhas de frente junto do senhor e eu ficarei para trás? – Indagou Hiashi.

– Hiashi... – Inari levantou-se e uma expressão dura se formou em sua cara – Achei que compreendesse seu dever como o herdeiro do clã Hyuuga. A Soke participará efetivamente das batalhas junto da Bunke. O risco de uma tentativa de roubo do Byakugan já vai ser grande o suficiente para que eu não precise arriscar meu primogênito em campo de batalha. – reprendeu-lhe o pai.

– Mas pai, não posso ficar aqui parado enquanto Hizashi vai par-

– HIZASHI É UM MEMBRO DA BUNKE! – Inari interrompera a fala de Hiashi elevando sua voz e postura diante de seu filho mais velho. – Seu irmão não estará fazendo nada além de seu dever para com o clã e com a vila. Além disso, ele é um Chuunin agora, e seus deveres com Konoha são muito maiores que os seus.

Subitamente, Hizashi se ergueu cabisbaixo.

– Pai, se importa se eu me retirar para descansar? Tenho uma missão pela manhã. – indagou Hizashi, frio e apático à discussão.

Hiashi olhou fixamente para seu irmão que não retribuiu o olhar. A lua no céu foi coberta por densas nuvens de chuva que logo começaram a cair como chuva para a terra. No horizonte, uma luz vermelha brilhava junto de um ruído perturbador: arautos da Guerra que chegavam à Konohagakure no Sato. Com o consentimento de Inari, Hizashi dirigiu-se aos aposentos da parte nordeste do clã, onde os integrantes da Bunke residiam.

– Hiashi... essa questão não será discutida novamente. Compreendeu? – disse-o.


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Notas finais do capítulo

Bom, decidi postar o primeiro capítulo logo após o prólogo. De qualquer forma, espero que gostem do conto. Mais virá em breve :D



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