Manual Para Damas Arya Stark escrita por Vespertilio


Capítulo 4
Regra nº 3: Damas verdadeiras têm atitudes recatadas.


Notas iniciais do capítulo

Eu não sei nem o que falar sobre esse capítulo. Ele é bacaninha :3
Boa leitura



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Impudicícia¹. Impudicícia era sua palavra favorita. Não só pelo som elegante que ela transmitia, mas também pela sensação prazerosa que a fazia sentir, ao levar a ponta da língua às costas dos dentes superiores, para pronunciar as suas últimas sílabas. Impudicícia. Sua palavra preferida, que significava exatamente o contrário da palavra escrita no manual: Recato.

Arya não era, de longe ou de perto, impudica², mas tampouco era recatada. Não era, nem que a virassem do avesso, uma donzela sonhadora e inocente. Já imaginara várias vezes como seria a sensação de ter os lábios de um rapaz sobre os seus. Não de uma maneira romântica, como as descritas nos romances lidos por Sansa, e sim de uma maneira tórrida³ e... Selvagem. Ah sim! Selvagem era uma boa definição para o que buscava. Até mesmo chegara a beijar seu próprio reflexo, no entanto, algo lhe dizia que as sensações trazidas pelo vidro frio, não tinham muito em comum com as proporcionadas pelos lábios alheios.

—Vejo que você está mesmo apegada a esta coisa, Arya. — A voz de Jon, como sempre, interrompeu seus pensamentos. Chegava a ser engraçado como aquele irmão mais velho sempre estava lá. Em momentos oportunos e inoportunos, o único que sempre estava ao seu lado era Jon. Talvez porque, no fundo, ele também soubesse o quão parecidos eram. — Juro que, desta vez, não entendi o motivo de sua fuga, irmãzinha.

Fez uma careta. Por um momento, mais exatamente pelos 10 minutos que conseguiu ficar sozinha, conseguiu esquecer-se daquilo. Depois de perder completamente a compostura e, sem querer, infringir mais uma das regras do manual, correu o mais rápido que pôde para fora do salão. Ouviu seu pai chamar por seu nome e, no meio do caminho, esbarrou em Sansa, que virou uma panela de molho tomate em seu vestido azul. Não ficou parada para ouvir as desculpas da ruiva. Sabia que ela havia feito aquilo de propósito, o embate físico que tiveram não fora tão forte.

— O criado estava lá, Jon. O criado que não sabe que sou a segunda princesa...

— Oh! Esse seu romance proibido está ficando mais perigoso, não? — O mais velho brincou. — O engraçado é que eu não vi nenhum criado, talvez você esteja tão obcecada por este rapaz a ponto de vê-lo em qualquer lugar. Ou, ainda pior, talvez ele seja apenas da sua imaginação.

— Eu deveria cortar essa sua língua com minha espada, seu bastardo! — Bradou nervosa. Às vezes Jon ultrapassava todos os limites possíveis com seu sarcasmo. E ela, em resposta, o atacava com coisas que não deveria dizer. Virou o rosto para encara-lo, a expressão divertida dele não era mais sustentada em sua face. — Me desculpe, eu não queria...

— Tudo bem, Arya. Afinal, eu sou mesmo um bastardo, não sou?

— Você foi legitimado pelo Rei. É um Stark de verdade. E, mesmo que não fosse, isso não importa nada para mim.

— Até as mais tenebrosas damas conseguem ser amáveis vez ou outra, vejam só.

— Por Deus, Jon, não use essa palavra. Ela me causa alergia. — Respondeu no costumeiro tom divertido que usava em suas conversas com o irmão. Sentia-se feliz por suas brigas resolverem-se rapidamente. — Estou perdendo meu juízo por causa destas malditas regras de dama.

— Você não pretende segui-las de qualquer maneira.

— Longe de mim, ser uma dama vai contra todos os meus princípios. — Sorriu. — Inclusive, vou agora mesmo desacatar mais uma ordem do Rei. Irei visitar o Bruce. Vem comigo?

— Hoje eu não posso.

— Quanto mistério o cerca, caro irmão. — Estreitou os olhos para ele.

— Quanta sagacidade a cerca, cara irmã.

— Quando conversamos desta forma parecemos tolos.

— Sim, soamos igual ao Robb! — Jon concordou e ambos gargalharam.

~*~

Terminou de alimentar Bruce e sentou-se à sombra de uma árvore. Seu olhar pairou novamente no manual que Sansa lhe dera e, novamente, a cena de sua irmã mais velha virando aquela panela sobre si lhe veio à mente. Sansa era, com certeza, considera uma verdadeira dama, pelo Rei e por todos os outros do reino. O quão chocados eles não ficariam se conhecessem a verdadeira pessoa por trás daquele sorriso que a Primeira Princesa ostentava?

Damas verdadeiras têm atitudes recatadas. — Leu em voz alta, sentindo um súbito enfado tomar-lhe conta. Outro pensamento, um dos que teve anteriormente, voltou a preencher sua mente: o beijo feroz. Sim, certamente aquilo não era recatado. Certamente aquilo a faria cumprir seu objetivo – quebrar mais uma das imundas regras. No entanto, beijar era algo que não poderia fazer sozinha.

E sempre que não podia fazer alguma das suas sozinha, Arya contava com Jon. Oh, não! Beijar Jon era um pensamento tão absurdo que a causava náuseas. Desta vez, o irmão mais velho não serviria para ajuda-la. Precisava de outro. Mas quem? O único ser masculino que conhecia, além dos de sua família, era seu cavalo. Por mais que amasse Bruce, beija-lo também não lhe parecia uma ideia agradável.

Vamos Arya, pense!

Levantou e bateu a poeira da parte de trás da roupa. Deixou o livro largado no mesmo lugar, ninguém se interessaria por tal coisa grotesca. E, caso alguém a roubasse, era um favor lhe fazia. Ergueu as saias do vestido, que estava pegajoso – graças a Sansa e seu molho de tomate-, e iniciou uma caminhada para lugar nenhum.

Mesmo que não soubesse para onde ir, não se perderia, conhecia aquelas terras como a palma de sua mão.

Aos poucos as árvores foram sumindo e, em seu lugar, pequenos casebres surgiram. Percebeu então que havia ultrapassado os limites do castelo. Por quanto tempo havia andado? De repente, uma excitação a tomou. Era a primeira vez que pisava pela cidade sozinha. Olhou para o céu, o anoitecer estava cada vez mais próximo, deveria voltar à segurança do castelo. Porém, ela não era o tipo de pessoa que seguia os “deverias”, ela era Arya. E a Arya adorava quebrar as normas.

Uma garota, mais ou menos de sua idade, passou de braços dados com um rapaz. Parecia feliz. Com certeza aquele rapaz havia sido escolhido por ela, com certeza não era um alguém que ela nunca havia visto antes. Aquela garota não teria um casamento arranjado. E ela também não. Definitivamente não! Preferia o convento e a companhia eterna das freiras.

Continuou sua caminhada. Viu crianças correndo na rua e homens com semblantes felizes, estavam voltando para casa depois de mais um dia de trabalho. Alguns daqueles, muito provavelmente, trabalhavam no castelo. Estava encantada. A cidade era muito mais aconchegante e parecia-se muito mais com seu ideal de lar do que os muros do castelo. O castelo era cinza e a cidade era colorida. No castelo havia apenas regras e na cidade havia... Liberdade.

Um barulho não muito longe de onde estava chamou sua atenção. Parecia música. Uma festa! Há quanto tempo não participava de uma? Olhou a placa pendurada em cima da porta indicando que o local era nada mais nada menos que um bar. Um bar... Não pôde deixar de sorrir. Aquilo não era nada recatado! Sim! Era disso que precisava.

Entrou ainda com o sorriso no rosto e o alargou ainda mais ao constatar o quão impróprio era o lugar. Uma princesa não deveria, de forma alguma, frequentar tais estabelecimentos. Arya não podia estar mais feliz, pelo seu feito. Após observar por um tempo, decidiu misturar-se, encheu um copo de cerveja e sorveu todo o conteúdo de uma só vez. Amargo!

E bom!

Gargalhou.

Encheu o copo novamente, tomando seu conteúdo ainda mais rápido.

Correu os olhos pelos rostos dos homens que ali estavam, enquanto bebia mais cerveja, aquela bebida lhe proporcionava uma sensação melhor do que o vinho - que pegara escondida na cozinha do castelo uma vez. Precisava escolher um deles. Seu plano era seduzir o mais bonito, não beijaria qualquer um, e já que não acharia nenhum conhecido...

Feio.

Feio.

Céus! Aquele parece o Bruce com duas pernas.

Feio.

Muito feio.

Bonito. Mas está acompanhado...

Feio.

Feio.

Bonito. Muito bonito. Quem será...

Oh não!

Aquele não era quem parecia ser, ou era?

Exatamente o que, ou quem, precisava. Um conhecido!

— Gendry. — Falou, um pouco contente demais, ao chegar perto do rapaz. Ele trajava uma camisa branca com os primeiros botões abertos. Era tão quente... — Você é bonito demais para um criado. — Declarou, para sua própria surpresa, sem nenhuma vergonha.

— Por que você está aqui?

— Eu saí do castelo. — Riu. — Eu fugi e os guardas não me viram. Na verdade, nem eu vi que fugi.

— Dana, você está bêbada.

— Dana? Quem é Dana?

— Você.

Oh! — Riu mais uma vez. Gendry era engraçado. A cadeira trás dele era engraçada também. — Você acreditou nisso? Meu é Arya. A-R-Y-A.

— Você mentiu pra mim?

— Eu não lembro. — Mais uma risada. Era incrível como era fácil rir naquele lugar. A cidade era mágica!

— Por Deus, Dan... Arya! Você está completamente bêbada. — Sentiu seus ombros serem forçados para baixo, até que seus joelhos dobrassem e estivesse sentada em uma cadeira. —Onde você mora? — Gendry tornou a falar, após de agachar a sua frente. — Eu vou leva-la até sua casa, diga-me onde fica.

— Não quero voltar para o castelo. — Sussurrou, aproximando seu rosto do dele. — Não posso voltar, tenho que terminar o que vim fazer antes.

— Termine amanhã.

— Vai ser difícil escapar amanhã também. — Espalmou ambas as mãos no rosto dele, uma de cada lado, precisava que aquele rosto parasse de girar, estava a desconcentrando. Oh sim, o rosto dele era melhor quando estava parado. — Você é mesmo muito bonito, Gendry.

— Você também, Arya.

Ele sorriu.

Sorriu.

Arya viu os lábios carnudos repuxaram-se em lentamente para cima.

Os lábios...

Movendo-se...

Sentiu aquela vontade novamente. A vontade de ter uma boca sobre a sua. E, naquele momento, a boca que queria era a mesma que lhe sorria ternamente. Moveu as mãos até a nuca de Gendry, enroscando os dedos nos cabelos castanhos. Eram macios. Aquilo a fez rir. Os cabelos de Gendry pareciam espetados, mas eram macios. Engraçado. Será que sua boca era assim também? Antes que ele pudesse lhe questionar, e sem poder mais se conter, grudou sua boca a dele.

Quente.

Essa era a temperatura dos lábios que emolduraram os seus. A princípio, ele tentou se afastar, mas Arya aumentou a pressão em sua nuca, mantendo-os ainda mais colados. As mãos dele, relutantemente, desceram por seus braços e pairaram na cintura. Então a apertaram, colando também os troncos. A música parecia estar mais alta. E o lugar pareceu esquentar. Não importava. Nada importava. Apenas o beijo.

O beijo.

Quente.

Arrebatador...

Quente...

Entreabriu a boca, satisfazendo de uma vez por todas seus desejos obscuros. Certamente aquela sensação não se comprava a proporcionada pelo espelho. Os lábios que lhe tomavam exigentes, eram muito melhores. Muito melhores do que seus pensamentos. O criado era selvagem. E o beijo que trocavam era totalmente impudico.

Quente...

Damas verdadeiras têm atitudes recatadas.

Tal atitude não era recatada.

Arya não era uma dama.

Mas, especialmente ali, não conseguia ficar triste por não ser uma.


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Notas finais do capítulo

1. falta de pudor, de moral; imoralidade, indecência.
2. (impudico) que não tem pudor; lascivo; luxurioso; desenvolto
3. (tórrido) ardente

—---

ARYA SUA LOKA!

Eu ainda não terminei de escrever o próximo capítulo, mas acho ele o mais divertido de todos. Vocês já devem imaginar o motivo AKSAKSAJSKAJS
Quero suas teorias para o que vai acontecer a seguir.
Aposto que ficaram surpresos porque eu postei rápido! Eu também fiquei, mas o próximo capítulo vai demorar um pouquinho (acho que uma semana) então não esperem que ele vá sair rapidinho como esse okay?

Well, alguma pessoas estão confusas sobre a ambientalização da fanfic. Vou explicar brevemente: Cada casa de GoT, representa um reino. Por exemplo, os Starks governam o reino de Westeros, então aqui temos o castelo (onde vive a família real) e a cidade (onde estão - obviamente - os cidadão do reino). Ned é o gorvernante de Westeros, ou seja, o Rei. Então seus filhos são, consequentemente, príncipes e princesas. Deu pra entender direitinho? Sei que eu poderia explicar isso na narração do capítulo, mas os povs são da Arya e ela não é o tipo de pessoa que tem saco pra contar coisas assim. Ela só vai falar o essencial.

PS:. Se algum dia o Gendry ganhar um capítulo, ele explica isso (ou não).
PS2:. A época da fanfic também não é especificada. Propositalmente. Então esse reino pode ter existido em 1980 e alguma coisa ou ainda existir nos dias atuais (cabe a você, leitor, decidir ;) )

Obrigada por ler e beijos de luz :*



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