Manual Para Damas Arya Stark escrita por Vespertilio


Capítulo 5
Regra n° 4: Damas não fazem parte de boatos.


Notas iniciais do capítulo

BÚ!
Voltei sim, olá.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/669706/chapter/5

— Arya? — Seu nome foi pronunciado com cautela. Como se a pessoa que o falasse tivesse medo da resposta. Relutantemente, Arya virou-se, soltando Gendry de forma brusca, fazendo com que o rapaz, que estava de cócoras a sua frente, se desequilibrasse. Piscou três vezes antes de, enfim, reconhecer o dono da voz que lhe chamara. Sorriu, verdadeiramente feliz e logo em seguida gargalhou, porque o rosto dele girava um pouco, assim como o de Gendry minutos antes.

— Jon! Fico feliz que seja você, porque eu estava fazendo coisas erradas. — Para sua surpresa, não ouviu a típica gargalhada do irmão mais velho. Estranhou. Tentou ficar de pé e andar até ele, mas suas pernas estavam pesadas e não obedeciam aos comandos. Só lhe restou então a opção de estreitar os olhos, até que o rosto de Jon parasse no lugar. Por que ele estava girando? Por que estava tudo girando, aliás?

— Vocês se conhecem? — Ele inclinou a cabeça para algo atrás dela. Gendry.

— Ele é o criado de quem lhe falei, lembra-se? — Respondeu simplesmente, no entanto, a resposta pareceu não agradar.

Você... Você mentiu para minha irmã. — O tom de Jon mudou de cauteloso para ameaçador e, em questão de segundos ele estava segurando Gendry pela camisa. Agora os dois giravam juntos. Como bobos da corte. Arya não conseguiu evitar uma gargalhada. — Por Deus, você está completamente bêbada. Como você pôde vir para um lugar desses?

— Você também está aqui, não é? — Levantou a voz, sentindo-se subitamente irritada. Do nada, tudo pareceu perder a graça. Focou a visão no rosto do irmão mais velho. A expressão julgadora que ele ostentava só lhe serviu para deixar o sangue ainda mais quente. — Se você pode estar aqui, por que eu não posso? Não pensei que fosse desta maneira, Jon.

Suspirou pesadamente e levantou de vez. Uma tontura lhe abateu e quase caiu novamente sobre a cadeira, mas estava furiosa demais com seu irmão para se deixar vencer por algumas míseras cervejas. Não estava bêbada. Era resistente ao álcool! Caminhou a passos decididos para fora da taverna, sabendo que seria seguida por ele.  Suas suspeitas se confirmaram quando, já mais afastada do estabelecimento e no caminho de volta para o castelo, ouviu passos atrás de si.

— Não venha atrás de nós, estou lhe avisando.

A frase a pegou de surpresa. Quem os estava seguindo?

— Nós precisamos resolver isto. — Gendry respondeu no momento em que ela virava para descobrir com quem Jon falava. — Este... Não sei o que foi isso. Juro. Não sou um vigarista. Eu jamais enganaria Sansa...

— Sansa? — Jon pareceu confuso por instante. — Oh, é mesmo, você enganou minha outra irmã também.

— Também? Então... Quando mencionou sua irmã antes... — Os olhos de Gendry foram se arregalando aos poucos, ao mesmo tempo em que sua boca abria-se em um pequeno “o”. Olhou para o chão por longos segundos e, por fim, os olhos escuros pararam sobre Arya. E então, como se pudesse ler o que estava na mente dele, ela também se deu conta.

Estava miseravelmente encrencada desta vez.

— Como pôde mentir para mim desta maneira? — Apontou um dedo na direção dele. — Céus, você é noivo e beijou outra... Que tipo de homem...

— Quem é você para falar alguma coisa? — Ele rebateu no mesmo tom. — Você foi a primeira a mentir e foi você a iniciar o beijo!

— Mas eu não estou noiva!

— No que você se meteu desta vez, Arya? — Jon falou baixo, mas ela o conseguiu ouvir, porque aquelas eram as exatas palavras que sua mente lhe gritava.

— Eu não sabia que ele...

— Como você confundiu o Primeiro Príncipe Baratheon com um criado?

— Da mesma maneira que ele o fez.

— Oras, não subestime minha inteligência. Quem conseguiria adivinhar que uma princesa sairia por aí com um vestido sujo e cheirando a molho de tomates?

— E quem conseguiria adivinhar que um príncipe pode ser tão rude?

—A princesa não pareceu se importar com isso quando agarrou-me naquele bar.

Aquelas palavras foram a gota d’água.

Arya sentiu o rosto esquentar e, movida por uma raiva crescente, espalmou os cinco dedos de sua mão direita na face do Baratheon.

Prosseguiu sua caminhada de volta para o castelo sem olhar para trás. No entanto, pôde ouvir quando Jon disse “não ouse nos seguir” antes de começar a caminhar ao seu lado. O irmão permaneceu em silêncio, talvez soubesse que ela não queria e nem conseguiria conversar. Não poderia ter feito escolha pior. Agora seria atormentada pelo resto da vida com aquilo. Havia beijado não somente um desconhecido. Havia beijado o noivo de sua irmã. Talvez o convento fosse o menor de seus problemas naquele momento.

A caminhada de volta pareceu-lhe mais longa e, quando enfim avistou os muros que cercavam o castelo, suprimiu a vontade de correr o mais rápido que suas pernas permitissem. Tal atitude chamaria uma atenção que não queria sobre si. Precisava entrar como saiu, sem ser vista. Deu a volta, evitando a entrada principal, o que a fez caminhar por mais dez minutos. Chegou ao caminho que levava para os estábulos, esgueirando-se e tomando cuidado para não fazer barulho e acordar o guarda adormecido e rechonchudo.

— Me desculpe. — A voz de Jon se fez ouvir depois de muito tempo. — Eu não deveria ter julgado você. Eu apenas fiquei preocupado...

— Tudo bem. Estou aliviada que foi você a nos ver ali. — Parou. Estavam nas terras pertencentes aos limites do castelo, perto da porta dos fundos. Mas, aparentemente, nenhum dos dois estava pronto para entrar em casa. — Quero dizer, se fosse um criado de confiança de nosso pai? Eu estaria perdida. Não que não esteja...

— Mas você não está, Arya. Escute-me, a única pessoa que sabe desse seu envolvimento com o Príncipe Gendry, sou eu. E vocês, claro. Ele não irá contar. Isso acabaria com o acordo entre nossas famílias. Você, apesar de não ligar para o acordo, também não vai contar. E eu me importo demais com você e jamais trairia sua confiança. Tenho certeza que este segredo permanecerá sendo um segredo.

Um segredo que permanece sendo segredo, aquilo lhe pareceu bom.

Envolveu o irmão num abraçado caloroso. Pela primeira vez desde que descobrira toda a verdade, permitiu-se relaxar. Jon tinha razão, nada estava arruinado afinal. Poderia seguir seu plano com segurança, desde que se mantivesse longe do Príncipe Gendry.

Príncipe Gendry...

Até pouco tempo pensava que ele era um criado.

— Por que vocês estavam juntos naquele lugar? — Indagou.

— Eu apareci para o café da manhã de hoje, como sabe, e tive a oportunidade de conhecer o noivo de Sansa, assim como toda família Baratheon. — Jon fez uma careta. Era notável que não gostara deles. — Nosso pai me deixou encarregado de mostrar o reino a Gendry.

— Aposto que isso não incluía as tavernas.

— Pena que foi apenas isso que ele conheceu.

— Você acha que eu deveria conversar com ele?

— Talvez devesse. Mas eu não quero que faça isso. Sei que dificilmente escuta conselhos, mas se mantenha longe dele, minha irmã. Você não precisa de mais problemas.

— Tem razão. — Concordou com um suspiro. Conhecia Gendry há apenas dois dias e ele já lhe trouxera dores de cabeça para uma vida inteira. Estava prestes a entrar no castelo, quando Jon gritou, arrancando-lhe uma gargalhada:

Maldição, Arya! Você sujou a minha roupa com molho de tomate.

~*~

Evitou o café da manhã mais uma vez.

Estava consciente de quem iria encontrar lá e não se sentia preparada para vê-lo. Não quando passara a noite relembrando do beijo que trocaram. Tampouco quando, logo após relembrar o beijo, sentira raiva por ter se permitido enganar. Parecera tão tola! Era tão óbvio que aquele rapaz, que falava como se escolhesse cada palavra que dizia, não seria um mero criado. Suas roupas, suas maneiras e absolutamente todo ele passavam a mensagem de nobreza.

Nobreza que ela, apesar de ser uma princesa, não possuía.

Sentou-se e pegou o manual – como havia previsto, ninguém se interessara por aquilo e ele permanecera exatamente no mesmo lugar. Abriu-o numa página aleatória, sem se importar em conhecer as regras na ordem. Não as seguiria de qualquer maneira. Estava se permitindo ler tais coisas novamente por apenas uma razão: precisava direcionar sua raiva para outro alvo. Cansara-se de pensar no ex—criado.

Respirou fundo.

Uma.

Duas.

Três vezes.

E então abriu os olhos, a tortura se iniciaria ali.

Damas devem conhecer as normas basais¹ da etiqueta.

Toda Dama, independentemente de sua classe social, tem obrigação de possuir o conhecimento das regras básicas de boas maneiras. Atenção para estas duas acima de tudo: à mesa, principalmente quando houverem convidados, certifique-se de mastigar com a boca fechada e de, em hipótese alguma, falar alto.

Riu.

Era a primeira vez que concordava com aquele livro. Não era a mais educada das mulheres, mas jamais mastigara com a boca aberta. Era uma questão de bom senso e higiene. Virou a página, deparando-se com mais uma regra.

Damas não podem, em hipótese alguma, ser alvos de boatos.

Mais uma vez sua mente vagou para noite anterior. Se alguém descobrisse aquilo estaria, definitivamente, acabada. Fechou o manual com mais força que o necessário e, ao mesmo tempo, seu estômago roncou. Olhou para o céu e percebeu que o sol estava a pino. Não havia comido nada durante a manhã e, apesar de não sentir a mínima vontade, teria de enfrentar um almoço em família.

Com a sua família e a família dele.

Antes de ir, deu mais um beijo em Bruce. Caminhou devagar, pensando no que diria para justificar sua ausência – mais uma vez – no café da manhã daquele dia. Sempre se considerara uma pessoa criativa e tinha orgulho das mentiras que contava para encobrir suas escapadas. Não que seu pai acreditasse, mas as histórias que contava para ele eram boas ao menos. No entanto, quanto mais tentava pensar no que diria desta vez, mais sua mente vagava para uma lembrança que não queria ter.

A lembrança que estava tão viva dentro de si, que fazia sua boca formigar.

— Mas quem é vivo sempre aparece. — Robb lhe saudou com o comentário provocador, assim que pôs os pés no cômodo em que todos estavam reunidos.  Seu pai não havia chegado ainda, ali, além dela, só estavam Robb e mais dois garotos, que constatou serem os Baratheons mais novos.

— Então nossa Segunda Princesa enfim melhorou? — Antes mesmo que pudesse responder a provocação de seu irmão, a voz do garoto intruso mais velho se fez presente. Virou seus olhos na direção dele. Recebeu um sorriso largo em resposta a sua carranca. A forma como ele lhe encarava era medonha, como se soubesse de algo que ela não sabia. Arya decidiu, naquele mesmo instante, que já o odiava.

— Não sabia que eu era sua Segunda Princesa, Baratheon. — O respondeu sem importar-se em soar educada. — Não é por que nossos irmãos irão se casar que seremos todos uma só família.  

— E se nós formos nos casar também?

— O quê? — Ela não havia ouvido direito, certo?

— De certo você será minha depois que nos casarmos.

— Eu não vou casar com você, nem com ninguém.

— Você não decide isso, Arya. — Robb intrometeu-se.

— Eu não decido minha própria vida? E quem decide então?

Eu decido. — A resposta fez seu sangue gelar. Virou-se lentamente e encarou o rosto do furioso Eddard Stark. Ele estava sempre furioso quando o assunto era ela. — Você deveria demonstrar mais respeito aos nossos convidados, Arya Stark. — Ned gesticulou para as pessoas que vinham atrás dele.

— E o Rei deveria demonstrar mais respeito pelos meus direitos. —Sabia que sua resposta os levaria a mais uma briga. Uma briga que, desta vez, não seria protagonizada somente na frente de sua família, mas também dos Baratheon.

— Não me faça perder a calma.

— Não me faça perder a liberdade.

— Do modo como você fala, parece que casar é algo ruim. — Disse Sansa, com seu costumeiro ar de boa moça e dona da razão. Arya não conseguiu conter-se, há muito tempo queria falar umas boas verdades para a irmã mais velha.

— Por Deus, cale esta boca. Você age toda superior, como se acatar as ordens do Rei te fizessem a melhor pessoa do mundo. Mas na verdade, cara Sonsa, você é só um fantoche.

— Eu não sou um fantoche!

— Você nem mesmo conhece o tipo de pessoa miserável que é o seu noivo.

— E você fala como se o conhecesse.

Abriu a boca para falar que sim, que o conhecia muito bem. No entanto, não poderia fazê-lo, não sem enterrar-se ainda mais em problemas. Correu os olhos por entre as pessoas que estavam ali, assistindo àquela cena, a procura do apoio de Jon. Mas os olhos que encontrou a transmitiram o contrário da segurança que precisava. Aquele olhar que Gendry  lhe direcionava, lhe queimava a pele como nenhum outro. Sentiu o corpo inteiro arrepiar. Não um arrepio bom, daqueles que sempre sentia quando montava Bruce e saia correndo por aí. O arrepio que sentiu era de puro medo.

E, as palavras que vieram a seguir, só a fizeram ter ainda mais certeza de que, fosse o que fosse, o que a aguardava não era, nem de longe, algo agradável.

— Parece que ela me conhece, porque, na verdade, nós nos conhecemos.

Gendry disse sorrindo e fitou-a diretamente nos olhos.

Então Arya percebeu o motivo de seu medo. Ele queria vingança.

Damas não podem ser alvos de boatos.

Aquela seria mais uma regra que, involuntariamente, ela quebraria.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

1. que se refere a base ('apoio', 'princípio').

OLARES o/
Primeiro de tudo: desculpem pela demora.
Eu sei que falei que esse capítulo ia ser engraçado e na verdade ele era, mas meu computador simplesmente morreu e levou com ele todos os arquivos de todas as fanfics que eu escrevo - e não, eu não tinha salvo em nenhum outro lugar. Estou escrevendo tudo de novo, aos poucos, porque não tenho tempo pra nada atualmente - só estudar e estudar - então sim, vou demorar bastante pra atualizar a fanfic. Espero que vocês entendam.
E desculpem também se o capítulo foi chato e tal. Vou melhorar no próximo o/

PS:. Não revisei o capítulo, desculpem por isso também.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Manual Para Damas Arya Stark" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.