Seddie, a história continua II escrita por Nany Nogueira
Apesar do nervosismo, Isabelle lembrou-se das falas e executou muito bem o seu papel, bem como os demais atores.
A cena do beijo chegou.
Isabelle estava deitada, fingindo-se de adormecida, como manda o script. Quando Willian foi se aproximando, ela teve que se esforçar para se manter imóvel. Na platéia, Cris virou o rosto, desejando não ver a cena.
Willian reclinou-se sobre Isabelle e depositou um delicado beijo em seus lábios, que não durou mais que 4 segundos.
Isabelle não sentiu nada além de tédio. Talvez porque fosse tudo encenação. Não dava para rolar um clima com tanta gente olhando.
A peça terminou. Os atores deram-se as mãos para o agradecimento ao público. Isabelle e Willian ficaram de mãos dadas. Ela avaliou o que sentiu: nada! Nem uma corrente elétrica. Tão diferente de quando Cris estava por perto (não precisavam nem se tocar).
Na saída, recebeu o elogio dos parentes e familiares. Sam convidou todos para jantar no apartamento da família Puckett Benson. Cris desculpou-se, dizendo que tinha outro compromisso. Isabelle ficou imaginando que ele iria se encontrar com Monica e estava certa.
No Vitamina da Hora, Costela brincou com Cris:
— Soube que você ta namorando a maior gata do Colégio. Mandou bem, amiguinho! – bagunçando os cabelos dele.
— Não sei quem te falou, mas é mentira.
— A própria gata, sentada naquela mesa – apontando – disse que estava esperando o namorado. Perguntei se era cliente e ela me falou que era você. Acho que ela ta namorando você, mas você não ta namorando ela. Vixi! Se precisar de qualquer coisa, grita!
Cris sentou-se à mesa com Monica e foi direto:
— Você acha que estamos namorando?
— Eu acho que não precisamos definir a nossa relação. Está bom como está – tomando um gole da vitamina de morango.
— Não está bom como está.
— Como assim? Quer terminar comigo?
— Nós temos mesmo algo para terminar?
— Eu pensei que você era diferente, mas é igual a todos os outros! Usou-me na cama e agora vai me jogar fora! – alto.
Cris ficou envergonhado ao perceber que todos olhavam para o casal, inclusive Costela, com os olhos arregalados.
— Vamos conversar. Acalme-se. Eu não te usei. Você me ajudou muito numa fase importante da minha vida...
— Claro, sua iniciação sexual! Não sabia nem trepar antes de mim – alto.
Novamente, olhares e também cochichos.
— Podemos conversar em outro lugar mais reservado? Termina a sua vitamina e vamos para minha casa.
— Vai ter coragem de me apresentar para os seus pais?
— Eles não estão em casa.
— Claro que não estão! Eu não sou moça para ser apresentada aos pais!
— Não é nada disso. Por favor, termine sua vitamina e vamos.
Monica seguiu Cris depois de tomar a vitamina bem devagar.
No apartamento da família Shay Gibson, Cris começou:
— Você está entendendo tudo errado. Eu não quero namorar você, porque eu não sou o cara certo pra você. Eu gosto de outra pessoa e estou confuso. Você não merece ficar com um cara como eu.
— Já ouvi muito essa conversa. Eu sou pra pegar, mas não para namorar. Dizem por aí que hoje existe igualdade entre homens e mulheres. É mentira! As mulheres que fazem o mesmo que os homens são taxadas de vagabundas! Eles querem para levar para cama, mas na hora de procurar compromisso, escolhem as santinhas.
— Eu não acho que você seja vagabunda e eu não tenho nada contra as suas escolhas. Você é livre para viver como quiser. Eu poderia ter me apaixonado por você se não tivesse outra pessoa no meu coração.
— Claro, a sonsa da Isabelle! Todo mundo sabe. Burrice a minha ter criado expectativas com você.
— Agora você entende...
— Não entendo, não! Você está me dando um fora ou porque sou uma moça livre ou porque gosta de uma sonsa, nenhum dos dois motivos é digno.
— Então, peço perdão. Acho ainda menos digno te enganar.
Monica começou a chorar e Cris sentiu-se culpado, abraçando a moça:
— Eu sinto muito, não queria magoá-la.
Ela encostou a cabeça no ombro dele. Nesse instante, Carly, Gibby e Isabelle entraram no apartamento.
Isabelle ficou sem reação, Gibby sorriu e Carly começou a falar:
— Boa noite! Não vai me apresentar sua amiga, Cris?
— Essa é a Monica, do colégio... – começou Cris.
— Somos mais que amigos – completou Monica.
Cris corou.
Carly fechou a expressão. Gibby foi simpático:
— Bom saber que meu filho ta namorando uma moça tão bonita!
Isabelle não conseguia se conter e tentou disfarçar:
— Creio que queiram conhecer melhor a convidada do Cris. Agora entendo porque não pode ir jantar lá em casa. Vou ver se minha precisa de minha ajuda com a louça.
— E o colar que você queria emprestado? – perguntou Carly à afilhada.
— Eu pego amanhã – retirando-se.
Monica sorriu. Cris queria chorar.
Chegando em casa, Isabelle foi direto para o quarto. Sam não prestou muita atenção, bem como Freddie. Os dois recolhiam e lavavam a louça do jantar, depois de guardarem o que restou de comida na geladeira.
A menina pegou o celular e num impulso mandou mensagem para Willian:
“Oie! Passando para te parabenizar pela atuação. A peça foi um sucesso!”
Ele logo respondeu:
“Imagina! Todo o sucesso se deve à sua bela apresentação”.
Ela respondeu:
“Valeu ;)”
O garoto aproveitou o ensejo:
“Gostei de contracenar com você, mas não tivemos a chance de sair para comemorar, como uma dupla de cena. Aceitar marcar algo qualquer dia para comemorarmos?”
Isabelle não titubeou:
“Claro que sim. Quando quiser”.
Depois da cena de Monica, Cris não teve mais nenhuma consideração:
— Tá na hora de você ir – disse a ela, em tom áspero.
Carly percebeu o tom do filho, mas deixou sua própria simpatia de lado e o apoiou:
— É melhor mesmo você ir. Amanhã temos que acordar cedo. Você também deve ter, afinal, estuda, não é mesmo?
— Claro que estudo. Eu já entendi. Até mais – falou a moça, pegando a bolsa e saindo.
Carly deu bronca em Cris:
— Como você se envolve com uma moça dessas?
— Mãe, você mesma me ensinou que não devemos julgar as pessoas.
— Cris tem razão – concordou Gibby.
— Eu não julgo as pessoas que não são namoradas de meu filho! – gritou Carly, sem paciência – Quero você longe dela!
— Não precisa se exaltar, mãe. Eu não quero mais nada com ela. Já dei o fora e acho que ela entendeu.
— Não foi o que pareceu!
Gibby interveio:
— Tá tarde. Por que a gente não vai dormir e pensa melhor nisso amanhã, com a cabeça fria?
Todos concordaram.
No dia seguinte, Carly foi procurar Isabelle, que terminava de se arrumar no quarto.
— Belinha, o que houve entre você e o Cris? Vou direto ao ponto, sempre imaginei que nessa idade, os dois já estivessem juntos, tipo namorando.
— Dinda, eu e o Cris não damos certo como namorados. Ele seguiu a vida dele e eu também to seguindo a minha.
— O que quer dizer?
— Vou sair com o gatinho da peça hoje.
— Mas, ele parece um galinha!
— Não posso julgá-lo sem conhecê-lo antes. Ele nunca me faltou com o respeito nos ensaios da peça. Peço desculpa por não poder conversar mais com a senhora, mas ele já está me esperando lá em baixo no carro.
— Esse garoto sabe dirigir? Tem carro? Não bebe e dirige?
— Sim, ele sabe dirigir. O carro é do pai dele. Vamos à sorveteria, então, ele não vai beber. Até mais, dinda.
Isabelle deu um beijo no rosto de Carly e saiu.
Carly foi para sala, conversar com Sam, que assistia TV com o cahorro, Bolinha, no colo:
— Permitiu que sua filha saía com um capitão de time de futebol?
— Permitiu que seu filho saía com a piriguete do colégio? – perguntou Sam, rindo.
— O que está acontecendo com nossos filhos?
— O nome disso é adolescência! Já passamos por isso. É só uma fase.
— Como pode estar tão tranquila?
— Deixa a menina se divertir e comer sorvete de graça por uma noite. Ela nem gosta do garoto.
— Deus te ouça! Pensei que Cris e Belinha iam se acertar, como você e Freddie na idade deles.
— Eu acertei o Freddie na idade deles – comentou Sam, rindo – Até teve aquele lance de namoro, mas não foi pra frente. Às vezes, o melhor é dar tempo ao tempo, deixar que amadureçam um pouco, que conheçam outras pessoas, que possam ter certeza de seus sentimentos.
— Alguma vez teve dúvida dos seus sentimentos pelo Freddie na adolescência?
— Dos meus sentimentos não, já dos dele... sabemos que ele também tinha sentimentos por você.
— Melhor não desenterrarmos o passado.
— Concordo. Nossos filhos não são como nós, Carlynha. Podem se parecer, mas têm a personalidade deles, as experiências deles. Estão crescendo e descobrindo o mundo. Não podemos fazer escolhas por eles por acreditarmos que isso seria o melhor. É claro que eu ficaria mais sossegada se a Belinha namorasse o Cris. Eu conheço seu filho desde pequeno! Mas, não posso interferir nas escolhas dela desse jeito. Você entende?
— Claro que entendo. Com o tempo, você se tornou mais sensata do que eu.
— A vida me fez amadurecer na marra. Só não quero que Belinha assuma responsabilidades tão cedo quanto eu! No mais, quero que ela seja feliz, com quem ela escolher.
— Você tem razão, vou tentar não me intrometer tanto nas escolhas do Cris.
— Só diga para ele não se esquecer da camisinha. Ela não tem jeito de ser garota que espera até o casamento. Sabemos como um lapso é capaz de mudar uma história.
— Será que o esquecimento da camisinha não foi uma desculpa para você e o Freddie ficarem juntos de uma vez?
— Acho que eu ficaria com o Freddie de todo jeito. Nunca amei mais ninguém. Mas, talvez não tão cedo! Foi difícil, porém, superamos juntos. Isso é o que importa.
— A isso se dá o nome de amor!
Enquanto isso, na sorveteria, Isabelle falava sem parar para esconder o nervosismo. Willian sorria.
Terminado o sorvete, Willian convidou Isabelle para dar uma volta de carro. Ele estacionou em frente ao mar e foi se aproximando dela, pegando uma mecha do cabelo loiro dela e afastando do rosto. A menina compreendeu que ele queria beijá-la. Seria a primeira vez que beijaria alguém que pouco conhecia e por quem ainda não estava apaixonada, embora estivesse atraída. Pensou que deveria encarar o seu medo da nova experiência e permitiu-se ser beijada. O beijo poderia (ou não) mudar os seus sentimentos.
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