Burning Love escrita por Beatrix Costa


Capítulo 14
Orgulho e preconceito


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo pode ferir algumas suscetibilidades já que a partir daqui vou falar algumas vezes de um problema que se impõe na nossa sociedade constantemente: o preconceito!
Espero que gostem :)



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Anteriormente…

—Tenho a sensação que vamos ter muito que explicar quando voltar-mos a Boston Jane.

—Também eu meu amor… também eu – disse ela abraçando-a enquanto fixava o olhar no bebé que agora dormia tranquilamente no berço.

Com estas palavras, ouviu-se o bater da porta. Mais uma vez Maura deu autorização para que a pessoa entrasse. Era Ian! Assim que ele viu a criança esboçou um sorriso nos lábios. Perguntou o nome e ao ouvir que Maura já tinha decidido nem sequer questionou a sua decisão. John agradou-lhe. Pegou-lhe no colo embora ainda estivesse um pouco fraco e com carinho embalou o filho lentamente.

—Bom, vocês devem ter muito que conversar – disse Jane antes de sair do quarto.

Mentalmente desejou boa sorte à amada. Ela tinha o seu anel no dedo. Não havia como esconder mais a sua relação. Sentiu-se um pouco mal por deixar “a batata quente” nas mãos de Maura, mas ela saberia lidar melhor com a situação.

Eles ficaram um bom tempo sozinhos. No corredor Jane estava sentada num dos bancos da sala de espera muito nervosa. A conversa com Mr. Isles estava a consumir-lhe a cabeça. Não havia como não pensar naquelas palavras frias e cruéis.

Ian saiu da sala de hospital com uma cara impassível e a detetive chegou-se à sua beira. Não sabia o que dizer e foi ele a falar umas palavras inesperadas.

—Parabéns… Eu sei que vocês vão ser muito felizes juntas – disse ele com a maior das sinceridades.

—O… brigada. E tu? Pensas ficar?

—Se a Maura te contou tudo, e acho que contou, sabes que não posso.

—Vais para onde?

—Para longe…

—Mas não vais ver o John crescer…

—Vocês vão ser muito melhores mães do que eu alguma vez serei pai. Ele merece alguém que o possa manter em segurança. Além disso… eu vou dando notícias.

Com isto, Ian abraçou Jane e sussurrou-lhe ao ouvido inesperadamente “Cuida deles sim…”. Sem hesitar, a detetive respondeu que iria cuidar. E com isto, ele afastou-se dela cada vez mais até deixar de se ver. Jane sabia que aquela seria provavelmente a última vez que se iam ver… por agora. Voltou a entrar no quarto de Maura, e encontrou-a a dormir. Sentou-se no cadeirão onde tinha passado a noite e pegou no bebé que ainda dormia. Começou a pensar. Ultimamente não fazia outra coisa. Como teria sido se ela não tivesse perdido o seu bebé? Era a dúvida que a tinha assaltado durante meses e que, ao longo do tempo, ela tentava esquecer mas não conseguia. No entanto agora estava feliz. Tinha ao seu lado a pessoa que mais amava: Maura, e pretendia ser uma verdadeira mãe para John.

Um mês depois…

As semanas que se tinham seguido ao parto tinham sido um verdadeiro inferno! Maura teve de realizar vezes sem conta uma data de exames. Ela sabia que todos eram importantes e insistia em explicar isso a Jane que pouca paciência tinha para ouvir explicações médicas. A estadia no hospital também foi marcada por uma enfermeira muito mal-educada… Mrs. Wood era uma das mais antigas enfermeiras do hospital e como tal tinha uma mentalidade de acordo com a época mais antiga. As meninas tiveram de aguentar comentários desagradáveis do género “no meu tempo não era assim” ou “um menino tão lindo merecia estabilidade familiar”. Sempre que ela entrava Jane tinha de se conter para não lhe dar um tiro. Infelizmente, Mrs. Wood não era a única… Quando saíram do hospital, elas começaram a passear pela rua de mãos dadas. As pessoas faziam olhares reprovados e elas já estavam a perder a paciência, mas enfim, tinham o voo marcado de volta a Boston para daí a dois dias. John estava bem, muito bem aliás. Ele parecia gostar muito de Jane, embora ainda só dormisse, comesse e chorasse. Jane gostava de ver Maura a dar de mamar ao filho, era uma visão bonita. A mãe de John tinha sido bombardeada com telefonemas da mãe biológica desde que o filho nascera. Aquilo estava a aproximar Constance e Maura o que era ótimo. Já o pai da patologista não tinha feito nem uma chamada desde que estivera no hospital. Maura tinha recebido uma carta sem remetente e quando a abriu teve a agradável surpresa de descobrir que vinha de Ian. Ele não comprometia o local onde se encontrava, o que preocupava Maura mas ele sabia cuidar de si e se lhe escreveu era porque estava em segurança.

Era o último dia da estadia das meninas e de John em Inglaterra. Definitivamente elas iriam guardar aqueles meses na memória. Iriam começar uma nova vida. Quando Angela falava com elas ao telemóvel demonstrava cada vez mais saudade. Jane já sentia falta da agitação em Boston e dos seus amigos e colegas. Nesse dia ia à esquadra tratar do resto da papelada. Abriu a porta da rua e despediu-se de Maura com um beijo assim como do menino. Saiu e foi até à esquadra. Todos os colegas se despediram dela com grande pena. Depois de inúmeros apertos de mão e abraços Jane lá conseguiu sair daquela esquadra à qual, embora tivesse gostado da experiência, não pretendia voltar.

No caminho para casa Jane começou a sentir um desconforto no peito. Não sabia de que se tratava, era algo estranho puramente vindo do nada. Quando começou a ver a sua casa assustou-se e percebeu o porquê da sua dor no peito. Correu aceleradamente para ela e quando chegou parou alguns segundos para observar. As paredes estavam escritas com palavras e frases insultuosas como “Cabras”, “abaixo a vossa raça” ou “vergonha da sociedade”, etc… A porta e a entrada estavam cobertas de ovos e azeite e as janelas quebradas. A detetive correu para dentro de casa aos gritos por Maura. Viu uma bola de basebol no chão e vidros espalhados por todo o lado.

—Estou aqui Jane! – gritou a patologista de um dos quartos.

—Maura, o que se passou?! – perguntou Jane aflita abraçando-a sem a magoar. A patologista encontrava-se somente em sutiã com as costas vermelhas e cobertas de creme. A seguir foi verificar se estava tudo bem com Jonathan. Para seu alívio ele estava sem um único arranhão.

—Foram uns miúdos quaisquer. Eles entraram aqui e…

Maura teve um flashback do que se tinha passado há cerca de uma hora atrás enquanto relatava o que tinha acontecido a Jane:

Ela ouviu um barulho vindo de lá de fora e foi ver o que se passava com John ao colo. Eram os ovos a bater na porta. Ela viu os miúdos a atirarem os restantes para o chão da entrada juntamente com fios de azeite. Tentou faze-los parar com diplomacia mas eles continuaram a atirar os ovos como se não a ouvissem. Olhou para os lados e viu mais adolescentes, com marcadores na mão a desenhar nas paredes e a gritar-lhe insultos. Ela não aguentava mais! Entrou em casa depois de um último aviso que não pareceu resultar. Foi até à mesa que se encontrava ao lado da janela para fazer a chamada do telefone de casa, visto que o seu estava sem bateria. Mas, quando ia a pegar no dispositivo eletrónico olhou para a frente e num movimento rápido comprimiu no seu bebé com força contra o peito e virou-se de costas para o vidro mesmo antes de ele quebrar com o impacto de uma bola de beisebol. Sentiu uma dormência nas costas e John começou a chorar compulsivamente. A seguir foi para a casa de banho e ouviu mais vidros a partirem-se enquanto tentava limpar as feridas e acalmar o filho.

—Passei meia hora a tentar tirar os vidros das costas. Não chamei a polícia porque entretanto eles foram-se embora – informou Maura com o bebé nos braços.

—Porque é que não me ligas-te?

—Eu liguei… mas tu não atendes-te.

Jane verificou o telemóvel e reparou que tinha umas quantas chamadas não atendidas. Levou as mãos à cabeça e começou a chorar.

—Ei, calma Jane, a culpa não é tua – disse Maura suavemente.

—E se isto acontecer sempre Maura? O que é que nós vamos fazer. Se as pessoas são assim aqui, em Boston vai ser muito pior!

—Jane, as pessoas são diferentes, isto foram só uns miúdos com uma mente atrasada que não conseguem conceber a ideia de duas mulheres a viver juntas. Não quer dizer que vá acontecer outra vez! E os nossos amigos vão apoiar-nos em tudo assim com a tua família e a minha mãe.

—E o teu pai?

—O meu pai vai ter de aceitar de uma maneira ou de outra. Eu amo-te Jane e vou repetir isso quantas vezes forem precisas até tu te convenceres.

Maura pousou o filho no berço que a companheira lhe tinha oferecido de presente. A detetive tirou os sapatos e deitou-se na cama. Maura vestiu a camisola (com o intuito de a voltar a despir) pois o creme que pusera nas costas já tinha secado e a dor aliviara. A loira deu-lhe a mão e começou a beijá-la.

—Maura! Ele está aqui.

—Jane, o encéfalo dele não consegue associar o que nós vamos fazer, com o tempo a memória vai-se deteriorando. Além disso, não me parece que ele vá ficar muito tempo acordado com o cansaço psicológico de hoje – disse Maura intelectualmente.

Jane não resistiu, também ela começou a beijar a loira. Tinha muita vontade de estar com ela até porque aquela poderia ser… nem conseguia pensar nisso. O que Jane estava a pensar fazer quando voltassem a Boston não iria ter perdão. Ela iria saborear cada beijo, aproveitar cada toque e não pensar em mais nada.


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Notas finais do capítulo

Curiosos para saber o que Jane vai fazer? Então continuem a seguir ;)
Comentem e favoritem :)
Deem também as vossas opiniões é importante para mim saber o que pensam em relação à fic. Aproveito também para agradecer a quem tem comentado frequentemente. Obrigada!



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