Sunshine escrita por Downpour


Capítulo 20
Capítulo 20 - Love you for infinity




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Capítulo 20 - Love you for infinity

“Continue sonhando, não pare de respirar, enfrente esses demônios

Venda sua alma, não você por completa

Se eles te virem quando você estiver dormindo, faça-os irem embora (...)

Isso dói, mas não vou te impedir

Você é uma idiota de qualquer maneira

Você me faz querer morrer, bem quando eu

Quando acordo eu tenho medo

Que alguém possa ter tomado meu lugar”

Afraid, The Neighbouhood

 

Estava acostumada a lidar com conflitos armados, em Charn sempre me acostumei a empunhar uma espada em mãos, e um usar a minha magia ao meu favor, mas agora diante aquele momento… Algo me deixava terrivelmente ansiosa. Assim como Edmundo, eu sobrevoava os arredores do castelo, minha missão era de se infiltrar silenciosamente e começar a limpar caminho para quando Pedro e Caspian fossem atrás de Miraz.

A brisa fria da noite batia violentamente contra o meu rosto, me causando arrepios, enquanto a minha marca da maldição queimava como fogo. Fechei meus olhos, tentando me garantir de que tudo iria dar certo, que tudo iria ficar bem.

Minha espada estava presa a bainha na minha calça, as mangas da minha camisa branca de botões ocultavam a tatuagem em minha pele. Normalmente eu ia para batalhas de cabelo trançado, contudo, dessa vez meu cabelo estava preso no topo em um rabo de cavalo, permitindo que meus cachos tivessem a liberdade de se movimentarem.

Era de noite, e tudo estava absurdamente escuro. Mal conseguia enxergar os pequenos pontos de luz onde tochas estavam acesas dentro do castelo.

Conforme nos aproximavamos do castelo de Miraz, um arrepio percorria toda a minha espinha dorsal. Algo naquele ataque não me parecia certo, como se algo fosse dar errado…

Eu temia aquilo mais do que tudo, porque sabia que não tinha forças o suficiente para conter o poderio militar de Miraz. Principalmente porque apesar de ser imortal, uma flechada no lugar certo poderia ceifar a minha vida para sempre, e também havia o ponto de que eu não poderia confiar tanto nos meus poderes. E embora não pudesse usufruir dos mesmos, hoje eu me arriscaria. Pelo meu povo, por Caspian, e pelos Pevensie.

O hipogrifo que me carregava me desejou boa sorte quando fui deixada em uma das torres principais da construção, agradeci.

Me apoiei no telhado da torre, havia um apenas um soldado telmarino realizando a guarda, ele estava armado com um espada. Decidi que seria prudente esperar pelo sinal que Edmundo faria com o objeto que ele chamava de lanterna.

Olhei para os lados, me sentindo subitamente ansiosa. Onde Edmundo estava? Ele tinha pousado bem? Algo tinha acontecido com ele?

Mordi o canto da minha bochecha para conter o nervosismo, estar travando uma batalha era pior ainda quando o garoto pelo qual eu estava apaixonada também estava lutando. Não iria me perdoar se algo acontecesse com ele.

Demorou longos minutos para que ele acendesse aquele negócio cilíndrico de metal, assim que o sinal foi dado eu apenas empunhei minha espada e finquei na nuca do homem, caindo sob seus ombros.

Um a menos.

Pensei quando vi seu corpo morto e ensanguentado cair, silenciosamente no chão.

Peguei uma tocha que estava apoiada no canto da torre e junto da minha espada, entrei silenciosamente no castelo.

Nos poucos meses que tinha passado como prisioneira de Miraz, não tinha explorado muito do castelo além da prisão que ficava mais abaixo. Contudo, Caspian me ensinou exatamente como se locomover dentro daquele local. Eu estava em uma torre mais afastada da parte em que o castelo era movimentado a noite.

Essa torre ficava na direção da dispensa e do quarto dos empregados que deveriam estar dormindo, então não era tão perigoso. Contudo, eu deveria começar a me locomover em direção ao quarto de Miraz para limpar o caminho em breve.

Minhas botas eram suaves enquanto eu caminhava lentamente pelo corredor, dando o meu melhor para se espreitar pelas paredes. Tinha de admitir a minha sorte em ter uma estatura baixa, o que apenas facilitava o processo.

— O Conde Aidan entregou seus melhores soldados a Miraz, ele compreende a necessidade dele de encontrar o Príncipe Caspian o mais rápido possível. 

Quase engasguei quando ouvi aquela conversa através de uma porta qual eu pretendia abrir.

Conde Aidan.

Não poderia me sentir mais enojada.

Aquele tinha sido o homem que tinha me comprado como se fosse uma mercadoria, um animal para entretê-lo. Um rostinho bonito para levar em suas reuniões importantes no conselho. Uma garotinha que fazia truques mágicos.

Sem que pudesse me conter, sentir ódio se espalhando rapidamente pelo meu corpo.

Como se soubesse que aquele era o meu momento de fragilidade, a marca da maldição queimou novamente, cada vez mais forte. E quando eu arregacei a manga de minha camisa, pude perceber a tatuagem ficar cada vez maior.

Estava tomando o controle.

Ela.

Ela estava tomando todo o controle.

— Conde Aidan pretende encontrar aquela tal de Rosalie, ele ainda tem plena fé de que aquela garota realmente é uma feiticeira.

— Bem, sorte a dele se aquela coisa for de fato uma feiticeira. O quanto de dinheiro ele conseguiria com aquilo? — o criado fofocou para o outro.

Sentia o ódio tremer na base da minha estrutura óssea. Estava totalmente possessa. Sentia meu corpo sucumbir de raiva.

Empurrei a porta, abrindo-a. Os empregados que até então estava tão entretido em sua conversa particular, desviaram o olhar para me olharem espantados. Todos naquele castelo me conheciam, aquilo era verdade. Ali eu era uma mulher morta.

— Onde ele está?

— Q-Quem?

— O Conde Aidan. — semicerrei meus olhos, minha voz saía em um tom debochando como se eu estivesse falando o óbvio.

— Dormindo, nos aposentos próximos a M-Miraz.

— Obrigada pelo auxílio. — forcei um sorriso sombrio, e com um estalo de dedos os dois caíram desacordados no chão.

Algo sombrio dentro de mim implorava para ceifar a vida daquele homem, algo dentro de mim queria ver o sangue vermelho vivo e quente dele escorrendo pelas minhas mãos. Queria ver ele pagar por toda a humilhação que tinha me feito passar.

Estava ciente da aura negra que envolvia o meu corpo, porém continuei caminhando em passos confiantes, me aproximando cada vez mais dos aposentos reais. Não perdia meu tempo para matar os empregados de Miraz, na verdade eu sempre os nocauteava, procurando poupar a maior quantidade de tempo possível. Apenas fazia um caminho de pessoas desmaiadas no chão.

Mate-o.

Mate a todos que um dia te colocaram em posição de miséria.

Era a voz de Jadis que soava no meu interior. Aquilo fazia com que eu me estremecesse de medo, sabia que aquela aura negra tinha algo a ver com ela. Compreendia perfeitamente que meu corpo estava em um estado semelhante ao de hipnose, a única coisa que se passava na minha mente era vingança e sangue.

Era uma luta interna entre o querer de Jadis e o meu querer. Eu deveria cuidar dos aposentos de Miraz, para que tudo saísse de acordo quando Pedro chegasse.

Não podia me desviar.

Não podia matar Aidan.

Eu queria matar Aidan.

Não podia, mas queria tanto que sentia meu corpo estremecer em um desejo sombrio e perverso

Um passo.

Dois passos.

Estava cada vez mais próxima do quarto de Miraz, cada vez mais próxima de Aidan.

Meu corpo estremecia, completamente febril. Meu olhar encontrou uma porta de madeira fechada, e de alguma forma eu sabia, sabia que Aidan estava ali.

Senti meus pulmões encherem de ar quando tomei a iniciativa de andar em direção ao quarto.

“Rosalie, pare”.

O coração em meu peito pareceu parar de bater por alguns instantes, e então logo retomou o seu ritmo mais acelerado do que o normal. A aura tinha se dissipado, eu tinha controle do meu corpo, e lágrimas de medo escorriam pelo meu rosto.

Depois de tanto tempo pedindo, chorando, implorando. Ele tinha vindo falar comigo.

Aslan.



[...]



— Onde está Caspian? — sussurrei quando me deparei com Pedro e Susana na porta do quarto.

— Ele em breve estará aqui. Por favor, desça para o pátio, a batalha irá ocorrer lá embaixo. — Susana respondeu em tom baixo, como se ao mesmo tempo também me agradecesse por limpar o caminho para eles.

Fiz um aceno com a cabeça, desviando o meu olhar entre os dois irmãos.

— Boa sorte lá dentro.

E com essas palavras eu sumi pelo corredor escuro. Dessa vez meus passos eram controlados, embora rápidos. Eu sabia o que fazer, não ia deixar Jadis me controlar e em breve poderia colocar um fim em tudo aquilo que constantemente me agoniava.

— Ei! Quem é você? — um guarda me chamou enquanto eu andava pelos corredores mal iluminados do castelo.

Me virei para o homem, ergui minha mãos e o joguei em direção a parede. Tentei não me importar com a aura obscura que a minha magia carregava e segui em frente.

Contudo, o homem se levantou e sem que eu esperasse avançou em minha direção com a espada empunhada em mãos. Sua lâmina conseguiu desferir um corte em meu ombro, e pela primeira vez em tempos eu senti dor de verdade, não causada pela minha magias e por meus erros egoístas, mas sim por terceiros.

E então, como se nunca tivesse acontecido, o corte se cicatrizou. 

Arregalei meus olhos surpresa, então era verdade…

Desviei do próximo ataque jogando o meu corpo para o lado, ao mesmo tempo em que desembainhava a minha espada.

— Então é verdade — ele cuspia as palavras totalmente enojado —, você é uma feiticeira. O Conde Aimon estava certo-

— Jamais — sibilei com a ponta da espada apontada para sua garganta em um ataque surpresa — , jamais diga esse nome na minha frente novamente.

Aproveitei a distração da espada em sua garganta e agilmente o derrubei com uma rasteira, fazendo com que ele caísse de barriga para cima no chão. O canto do meu lábio se esgueirou em um meio sorriso triste, meu pé estava  em cima de seu peito e minha espada agora estava a alguns centímetros de sua garganta.

Ceifei a sua vida com um golpe certeiro no peito e o deixei morto no chão, retomando a minha caminhada.

De alguma forma… algo me entristecia em matar aquelas pessoas que me viram trancafiada por meses, presa por um crime que eu não tinha sequer cometido. Não sabia de onde vinha essa empatia tão de repente, mas sentia que algo tinha mudado bruscamente no meu interior. Haviam duas forças gritantes lutando dentro de mim, e eu sinceramente não sabia qual deles iria ganhar quando eu finalmente cedesse.

Com algum esforço, depois de encontrar os ratos de Ripchip e enfrentar diversos telmarinos, consegui descer para o pátio central do castelo. Minha espada já estava encharcada de sangue, meu corpo doía de cansaço mas ao mesmo tempo me mantia alerta com medo do pior.

Mate-os.

Mate-os.

São apenas pessoas.

São apenas pessoas.

Mate-os.

Sentia a minha consciência lutar contra a voz de Jadis na minha cabeça. Era tão alto que eu sequer conseguia escutar o som da batalha que estava sendo travada ao meu redor. Meu corpo agia no automático, não era necessariamente o eu de agora que empunhava a espada, e sim a garota que já tinha batalhado mais vezes do que poderia contar nos dedos. A garota que já tinha visto tanto sangue ser derramado por causa de seus próprios erros, e que agora queria desmoronar ao ver os corpos caindo no chão, seja eles inimigos ou não.

Estava decepando um homem, quando ouvi Susana, Caspian e Pedro discutirem próximo ao portão.

Não iria dar tempo.

Reconheci o rosto de Miraz coordenando o ataque dos soldados telmarinos.

O gosto do vômito inundou a minha boca.

Nós iriamos recuar. Não só iriamos como precisávamos recuar naquele exato momento.

 Tueatur igne emuniit obice! — gritei, com as palavras rasgando a minha garganta.

E então chamas amarelo esverdeadas se ergueram ao redor dos narnianos, traçando uma linha de fogo onde os telmarinos que a atravessassem eram queimados vivos. Podia ouvir os gritos dos homens de Miraz sendo transformados em cinzas. Minha magia se espalhava avassaladora pelo castelo enquanto eu tentava não demonstrar o quanto usar todo aquele poder estava me consumindo, embora a ânsia de Jadis por matar estivesse mais contida.

— RECUAR! — Pedro gritou, completamente empalidecido diante das minhas chamas.

Ergui minhas mãos para o alto, fazendo com que as chamas se erguessem, defendendo os narnianos das flechas que os telmarinos atiravam.

SURGERE! — não somente minha força, como também minha vitalidade pareciam esvair conforme eu ordenava que as chamas se erguessem para queimar os arqueiros.

Não iria desmaiar, lutaria para me manter acordada. Contudo, ao mesmo tempo sentia meu estômago se revirar, como se eu fosse vomitar meus próprios órgãos a qualquer momento. Todo o meu corpo doía, meu coração doía.

Aquele magia fora amaldiçoada, e estava me matando por dentro.

— Rosalie, — Caspian colocou sua mão sobre meu ombro. De alguma forma ele conseguiu ver através do meu olhar que eu estava doente — basta. Pegue um cavalo e vá.

Lágrimas de tristeza se formaram no canto dos meus olhos quando eu assenti, dando as costas para a destruição que tinha causado e me montava em uma égua.

Enquanto a égua trotava para longe do castelo, junto de outros narnianos, senti meus olhos pesarem e então adormeci, deixando-me ser sugada para o mundo dos sonhos.



[...]



— Rosalie precisa de um médico, AGORA! — Caspian gritou quando chegamos a nossa base.

Desci da égua, agradecendo por sua ajuda.

Embora todo os orgãos do meu corpo doessem, e a derrota fosse visível em meu rosto, me mantive em pé.

— Eu estou bem.

Minha voz saiu tão fraca que mal me reconheci.

— Rose, você está pálida. — Lúcia correu na minha direção com seu frasquinho, mas eu acenei negativamente com a mão. Não era digna daquilo, jamais seria.

— Está tudo bem. Só preciso de um pouco de descanso e estarei bem novamente. Novinha em folha. — menti, e pude perceber que Lúcia tinha notado a mentira. Eu não estava bem, e não ficaria bem.

Suspirei pesadamente.

— Se me permitem, irei me retirar para dormir um pouco. Depois adorarei discutir sobre… o que aconteceu.

Olhei para os Pevensie, eles estavam abalados. Não somente eles como Caspian e o restantes dos narnianos. Aquilo apertava o meu coração. O fato de mesmo sendo uma feiticeira, eu não pude conter a derrota.

Eu era um fracasso iminente.

Se eu dissesse que tinha tido um bom sono em meus aposentos, bem… era uma mentira. Não conseguia dormir, minha mente era tomada por pesadelos, memórias do rosto desolado dos narnianos quando chegamos…

Acorde. A voz de Jadis gritou em meu subconsciente.

Então eu me levantei.

Sentia que somente naquelas últimas horas, tinha envelhecido pelo menos dez anos. Meu rosto estava opaco, sem vida, cansado.

Me cobri com um manto marrom e comecei a andar até a Mesa de Pedra, sabendo que os Pevensie e Caspian estariam lá, provavelmente brigando de novo. O manto se arrastava no chão conforme eu caminhava lentamente.

Quando cheguei na sala da Mesa de Pedra senti algo se estilhaçar dentro de mim.

Jadis estava lá. Dentro de uma parede de gelo, mas estava lá.

— C-Como- — minha voz falhou e meus joelhos estremeceram.

A Feiticeira Branca, que estava voltada para Caspian, ergueu seu olhar na minha direção. Ela sorria, me dizendo coisas agradáveis enquanto erguia a mão em minha direção.

— Venha Rosalie McCartner, venha em direção de seu destino. Em direção a dinastia que lhe foi tomada injustamente. Eu te darei o poder que você precisa, a cura que você procura. Apenas me forneça o sangue de algum desses Filhos de Adão.

Não soube dizer exatamente como ou quando aconteceu, mas devido o choque, meus joelhos encontraram o chão em um baque ensurdecedor.

A verdade era que eu amava cada uma das pessoas ali, dentro daquela sala. Eu as amava demais para poder sacrificá-las em detrimento do meu querer. Jamais poderia fazer algo assim, era a minha natureza.

— Vá embora, por favor. — sussurrei, as lágrimas queimavam nos meus olhos.

Estava tão cansada de me fingir ser forte o suficiente. Estava cansada de chorar. Estava cansada de ter traumas com os quais eu nunca soubera como lidar.

Cansada. Cansada. Cansada.

A risada dela soou melodiosa e horripilante aos meus ouvidos, como se pudesse ver através da minha alma quebrada.

— Rose, do que ela está falando? — Caspian indagou, preocupado.

Todo o meu corpo estremeceu.

— O fim está chegando para você Rosalie caso não se junte a mim. Espero que saiba bem disso.

Queria vomitar, queria arranhar cada parte do meu corpo que tinha sido infectada por aquela maldição. Sentia nojo de mim mesma, das minhas decisões. Mas com uma força que nem eu mesmo acreditava ter, consegui manter meu rosto inexpressivo. 

Meus olhos se voltaram para o chão quando alguém, por fim, derrubou aquela enorme parede de gelo, junto da presença de Jadis que pareceu se dissipar.

— O que diabos acabou de acontecer aqui?

Era a voz de Edmundo.

Caspian, ainda um pouco espantado, veio correndo na minha direção verificar se eu estava bem. Ele espalmou a mão na minha testa e arregalou os olhos.

— Você está fervendo Rose.

Um sorriso irônico surgiu no meu rosto.

— As desvantagens de usufruir dos poderes do sol.

Ele me olhou sério, como se estivesse indignado por eu estar zombando de minha própria condição. Por fim, ele sorriu para mim.

—  Esquentadinha.

— Levem ela de volta para o quarto. — Edmundo exclamou — ela precisa de cobertas, água e remédio.

Fiz um certo esforço, me apoiando em Caspian, para poder ir até o meu quarto.

Apesar da situação, eu estava calma, completamente plena. Porque já sabia o que iria acontecer. Ele tinha me contado.

Caspian me guiou em direção até o quarto, e me colocou de volta na cama, cobrindo meu corpo com várias cobertas.

— Você vai ficar bem. — ele murmurou mais para si mesmo do que para mim, enquanto afagava meus cabelos carinhosamente.

Sorri, enquanto fechava meus olhos.

— Obrigada, por ter ido até a minha cela conversar comigo todos aqueles dias. Você é o irmão que eu nunca pude ter.

— Fico honrado que você me veja dessa forma. — ele sorriu de forma singela.

Caspian depositou um beijo em minha testa e se retirou do quarto, me deixando sozinha com meus próprios pensamentos.

Dessa vez minha mente estava mais quieta, tudo me aparentava estar tão silencioso que me surpreendi quando Edmundo apareceu na soleira da porta.

— Posso entrar? — ele perguntou timidamente.

Sorri.

— Claro.

O Pevensie entrou no cômodo e se sentou ao meu lado na cama, cuidadosamente ele colocou um pano quente na minha testa. Não pude deixar de sorrir ao ver que ele estava cuidando de mim, embora não fosse necessário.

— Você… Você foi assustadora, sabe disso não? Os telmarinos ficaram completamente abalados com as chamas que você ergueu. Não há palavras para expressar agradecimento pelo quanto você nos ajudou essa batalha.

— Esse é o meu dever. 

— Sim, mas isso te custou toda a sua energia. Veja como você está agora. — a preocupação era evidente em seu olhar.

Ergui minha mão lentamente e acariciei seu rosto.

— Eddie, e se eu te dissesse algo que apesar de te magoar, iria ajudar Nárnia? O que você faria?

— Eu iria tentar lidar com isso da melhor maneira possível. — ele murmurou, incerto do que eu me referia.

— Você disse que estava esperando eu me abrir. Esse momento chegou, não da forma que eu esperava. Eu irei te contar tudo, contanto que você prometa que irá fazer o que eu mandar para poder proteger Nárnia.

Ele piscou confuso, como se percebe que havia algo mais por trás, algo pelo qual eu estava receosa em revelar tudo.

Mesmo assim, eu lhe contei a verdade. Contei desde os meus sentimentos confusos quando deixei Cair Paravel, desde a minha infância turbulenta em Charn, até as coisas horríveis que tinha concordado para poder viver, para poder vê-lo novamente. Deixei que toda a verade escapasse de meus lábios, sobre o como eu fora manipulada, sobre quantas vezes eu chamara por Aslan quando achava que não conseguiria mais viver consigo mesma, e a ajuda nunca veio.

Edmundo ouvia tudo em silêncio.

— ...E agora eu estou aqui. Pagando por cada erro que cometi. Morrendo lentamente por causa dessa maldição.

— Rose, por favor, me diga que há alguma coisa que eu possa fazer. Me diga que há alguma cura. — os olhos dele brilhavam, de medo, de tristeza.

E eu me odiei por ser a culpada daquilo.

—  Há algo que você pode fazer, que na verdade somente você pode fazer. — agora as lágrimas desciam livremente pelo meu rosto enquanto eu olhava para ele sem baixar o olhar. — Aslan veio falar comigo Eddie, depois de anos e anos implorando por ajuda, ele finalmente falou comigo esta madrugada.

“Ele me contou toda a verdade. Quando eu desabafei com Lúcia ela tinha me dito algo semelhante, então ele acabou confirmando. A minha maldição não é de agora Eddie, a tatuagem no meu corpo apesar de ser recente e ter sido revelada há pouco tempo… os motivos por trás dela são bem mais antigos.”

“A verdade é, nós nunca cumprimos aquela profecia, e você sabe disso. A princípio eu fiquei confusa, mas resolvi aceitar sem questionar afinal finalmente estava livre. Porém a influência de Jadis sobre mim permaneceu, exatamente como era Charn, só que agora em Nárnia.”

“Descobri sobre você e a profecia anos antes de você sequer ousar pisar em Nárnia. Quando Jadis chegou em Nárnia, eu também vim junto. Nós duas fomos despertadas por um casal de humanas que nunca cheguei a conhecer, e no mesmo dia em que despertei Aslan conversou comigo. Ele me contou em poucos detalhes sobre a profecia, que um Filho de Adão me ajudaria a me libertar das posses de Jadis.”

“Fiquei tão ressentida, que eu, uma rainha e feiticeira precisaria da ajuda de um humano para poder me libertar. Talvez seja por isso que fui tão fria com você quando o conheci, não queria acreditar na profecia. Mas… de alguma forma eu me apeguei terrivelmente a você, mesmo quando o meu consciente me gritava para se afastar e deixar você viver em paz.”

“Passei tanto tempo desejando ver o seu rosto novamente… E agora que você está aqui, agora que eu sei o que sinto…”

“A profecia ainda existe Eddie, e a escolha é sua. Você me salvar das posses de Jadis e de sucumbir à loucura, ou pode me deixar aqui. Sei que a primeira opção não é tão fácil, mas tente pensar no bem de todos os narnianos também. Quando a voz de Jadis grita na minha cabeça me torno alguém perigoso, passo a desconhecer meus próprios limites.”

— Mas como você pode estar tão certa dessa primeira opção? Por que tem que ser justamente eu? — lágrimas escorriam pelo rosto dele.

Me ergui para poder abraçá-lo, sentir o coração descompassado dele, bater contra o meu coração.

Quando o soltei, passei a mão por baixo de minhas cobertas e retirei a adaga que eu prendia debaixo de meu vestido.

— Irei te provar o porquê tem que ser você.

Sem que Edmundo pudesse reagir, ergui meu braço e fiz um corte com a lâmina. Como esperado a ferida começou a sangrar, só que da mesma forma rápida em que fora feita, a mesma desapareceu. Como se nunca tivesse existido.

Ele me olhava assombrado.

— Jadis fez isso com você…

— Tem que ser você Eddie, eu sinto muito. Mas eu confio em você. Eu… te amo o suficiente para deixar minha vida em suas mãos, te amo e amo tanto Nárnia o suficiente em abrir mão de minha imortalidade para que vocês possam viver longe da maldade de Jadis.

— Rose eu… — ele estava abalado demais para poder falar, como se houvesse um nó em sua garganta — Eu gostaria de impedir tudo isso. Gostaria de poder enfrentar todos os seus demônios no seu lugar, porque tudo o que eu mais queria era que você fosse feliz de verdade.

— No final disso, eu finalmente estarei feliz. — sorri.

— Eu te amo mais do que posso sequer imaginar. — ele admitiu enquanto moldava meu rosto com a mão — Eu sempre esperei por você Rose, e sempre esperarei por você, minha Rainha do Sol.

O vazio no meu coração pareceu ser preenchido com aquelas palavras tão significativas.

— Eu também esperarei por você Edmundo, passei uma eternidade sentindo sua falta, não me importarei de sentir sua falta novamente. Porque o meu amor por você sobreviveu a eternidade, não há mais nada que possa derrubá-lo. Então por favor, termine o meu sofrimento.

Ele assentiu.

Edmundo beijou meus lábios delicadamente, sentia seus beijos se misturarem com o gosto salgado das lágrimas.

— Não é um adeus Eddie, eu irei procurá-lo em todas as outras vidas que estão por vir.

E então, graças ao golpe da adaga empunhada por ele, algo em mim pareceu se romper em liberdade. A minha alma se alegrou quando se viu livre.

Fechei os meus olhos e morri com um sorriso no rosto.

Eu o amaria até a eternidade.



“Oh querida, minha alma

Você sabe que ela urge pela sua

E você tem preenchido este espaço desde que você nasceu

Porque você é a razão pela qual eu acredito no destino

Você é o meu paraíso

E farei qualquer coisa para ser seu amor, ou ser seu sacrifício

 

Porque eu te amo até o infinito”

Infinity, Jaymes Young.


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