Sunshine escrita por Downpour


Capítulo 19
Capítulo 19 - Finally safe to fall




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/669186/chapter/19

Capítulo 19 - Finally safe to fall

“Lindo desconhecido, aqui está você em meus braços e eu sei

Que lindos desconhecidos só aparecem para me tratar mal

E eu espero

Lindo desconhecido, aqui está você em meus braços

Mas eu acho que finalmente, finalmente, finalmente, finalmente, finalmente é seguro

Para eu me apaixonar”

Finally / Beautiful Stranger, Halsey.




  A caminhada que realizamos enquanto procurávamos um esconderijo fora um tanto desconcertante. Algo em mim sabia que os narnianos não confiavam em mim, como se eles soubessem que havia algo de errado comigo. Como se todas as pessoas ao redor pudessem ver através de mim. A verdade era que eu estava me sentindo nua naquela situação, tinha errado e agora estava com a sensação de peso nas costas.

Para a minha surpresa Edmundo seguiu o percurso ao meu lado, ele parecia estar deslumbrado com o ambiente e com o fato de ainda haverem alguns narnianos restantes. Meu coração derretia conforme ele sorria para os narnianos, conversando com eles sobre qualquer coisa possível. Ele era um bom rei.

— Você está calada desde de hoje de manhã, — ele comentou, fazendo com que meu corpo estremecesse — o que aconteceu,

Naquele momento eu senti vontade de falar tudo, abrir a minha boca e contar toda a minha vida para ele. Mostrar todas as minhas feridas que cicatrizavam lentamente. Queria que ele soubesse sobre o que fizeram com os meus pais, queria que ele soubesse o que fizeram comigo, com o meu corpo, com a minha magia, com a minha alma.

Meu psicológico estava fragmentado em pedacinhos.

Todavia era injusto jogar aquele peso sobre ele tão de repente. E eu certamente não queria que ele sentisse dó de mim. Apenas me sentia na necessidade de por fim ser honesta.

— Eddie — murmurei incerta, sabendo que se ele usufruísse bem de suas palavras, facilmente conseguiria obter algo de mim. 

Era engraçado como que em determinado momento da minha existência Edmundo tenha se tornado meu ponto fraco. Se antes eu prometi ir embora, agora eu não queria mais abandoná-lo. A presença dele era essencial para mim, a sua amizade me era mais do que necessária, e embora eu temesse admitir, os seus beijos me preenchiam de forma que ninguém jamais ousou oi sequer poderia ousar.

Por mais duro que fosse admitir, eu estava terrivelmente apaixonada.

E esse sentimento era tão forte e grande, que eu sequer tinha ideia de suas proporções.

— Sei que você está relutante, mas sabe que pode confiar em mim para tudo, certo? — Edmundo aparentava estar chateado por eu não ter me aberto, mas ao mesmo tempo esbanjava compreensão e empatia. Naquele momento eu não poderia deixar de me sentir cada vez mais entregue por ele, como era possível que duas pequenas atitudes tivessem um impacto tão forte sobre mim? Eu sinceramente não fazia a mínima ideia.

Um sorriso singelo surgiu no meu rosto.

— Eu sei disso e também te agradeço muito por isso. Assim que eu me sentir pronta para lidar com meus próprios demônios, irei me abrir. Eu prometo.

Promessas.

Geralmente a Rainha do Sol de Charn não fazia promessas que não sabia se ia cumprir, com tudo nesse momento em especial eu me sentia tentada a ser honesta sobre tudo. Edmundo por sua vez, deu um sorriso que poderia iluminar aquela floresta e fazer com que o espírito das árvores saíssem para dançar depois de um longo inverno.

— Estarei esperando. — respondeu enquanto entrelaçava as nossas mãos em um toque simples, doce e ao mesmo tempo desconcertante.

Eu não merecia aquilo, não conseguia me habituar com o fato de que Edmundo estava sendo compreensivo comigo, quando deveria estar atento, quando deveria não confiar em nenhuma palavra que saísse da minha boca. Era difícil acreditar que mesmo depois de todos aqueles anos, ele ainda confiasse em mim, ainda acreditasse em mim.

Tinha passado anos fugindo dele, para que depois lutasse para poder finalmente reencontrá-lo. Para que a ponta dos meus dedos pudessem sentir seu toque gentil, poder sentir a sua pele contra a minha mão.

Algo que eu desconhecia crescia no meu peito, e dessa vez me parecia certo. Era como enorme e ao mesmo tempo reconfortante, um sentimento que até então eu nunca tinha sentido. E dessa vez, não necessitava ir para longe ou levantar minhas barreiras para me defender. Não havia a necessidade de tal coisa.




[...]




— Você vai falar comigo agora? — Lúcia indagou atrás de mim.

Não sei como a pequena tinha me encontrado na floresta, para ser sincera ela nem deveria estar ali, não era seguro, e neste momento os Pevensie estariam conversando com Caspian sobre estratégias. Eu também deveria estar envolvida na conversa, mas acabei optando por tirar um pequeno tempo para poder ficar sozinha na floresta, me conectando com a natureza, com o que restava de humanidade no meu corpo que fora tão maltratado por mim e por terceiros.

Um sorriso doce surgiu em meus lábios ao ver que ela tinha se sentado ao meu lado.

— Aqui é bem bonito. — comentou.

— É um bom lugar para meditar. — falei observando as folhas das árvores se movimentarem, cada uma em seu ritmo, com sua beleza própria.

— Não sabia que você meditava.

O sorriso vacilou no meu rosto conforme eu falava:

— Meditar é uma boa forma de encontrar o que resta de humanidade dentro de si, principalmente nos seus piores momentos, quando sua sanidade está por um fio.

A expressão de Lúcia passou de admiração para preocupação em poucos minutos, tudo o que eu menos queria era preocupá-la, mas era impossível ser verdadeira com a Pevensie sem passar por essa parte.

— Sabe Lu, pode não parecer a princípio, mas as guerras destroem o seu corpo com o passar do tempo. Já lutei tantas batalhas que mal posso contar, já vi tantas pessoas morrerem a minha frente. Quando vocês se foram, fui coroada Rainha de Nárnia. A princípio eu fiquei assustada, com medo de não ser a rainha que os narnianos queriam. Mas com o passar do tempo fiquei mais tranquila, porque eu passei boa parte da minha vida como alguém da realeza. Sempre vivi para governar, e dessa vez eu tinha me prometido que não cometeria os mesmos erros que cometi em Charn.

“E de fato eu não cometi. Dessa vez eu não só governei o meu povo, como governei para o meu povo. Não queria que me vissem como uma rainha intocável, e sim uma narniana, uma deles. Estava disposta a lutar no campo de batalha por cada um deles. E foi isso o que eu fiz. Levantei a minha espada por Nárnia como nunca fiz em Charn, matei por Nárnia como nunca antes.”

“Eu doei tudo o que tinha de mim por Nárnia, nesses últimos anos eu estive de frente para a morte mais vezes do que posso contar. Dei tudo de mim, mentalmente e fisicamente, e não sei porque, realmente não sei porque eu esperava que em algum momento Aslan apareceria para mim, ao menos quando eu estivesse em perigo. E ele nunca apareceu.-”

Um soluço triste escapou dos meus lábios conforme eu falava coisas que jamais imaginaria desabafar com alguém. Lúcia fez menção de abrir a boca para falar, mas fiz um gesto com a mão, indicando que ainda iria falar.

— De todas as vezes em que eu encontrei a morte, consegui escapar de alguma forma. Das piores e mais sujas formas possíveis. Eu tenho nojo de mim por isso, pelas coisas que fiz e como as fiz. E mesmo quando eu decidi que não aguentava mais, que não conseguiria mais viver, algo me manteve aqui. Não algo necessariamente bom, mas mesmo assim algo.

“É por isso que me senti tão magoada quando descobri que Aslam apareceu para você, porque em tantos anos em que eu sofri e gritei por ajuda, ele nunca apareceu. Quando parecia não restar mais nada da minha alma, quando meu povo clamou por ajuda e eu não pude sequer lutar para ajudá-los, mesmo assim ele não apareceu. E isso me matou por dentro. Porque mesmo com a magia e com a imortalidade eu jamais conseguiria manter Nárnia sozinha, jamais. Não importava o quanto eu amava o meu povo e amava o que fazia. Não importava o quanto eu tentava me distanciar dos meus erros do passado. As coisas arranjaram um jeito de me reencontrar.”

“Acredito que Aslam tenha aparecido para você porque seu coração é puro Lúcia. E mesmo que eu tenha vivido milhares de anos, meu coração ainda se assemelha ao de uma criança egoísta que ainda tem muito o que aprender. “

“Só Aslan sabe as coisas ruins que fiz nesses últimos tempo, e pode ser prepotência da minha parte dizer isso, mas o que eu fiz de errado, fiz com as melhores intenções possíveis.”

— E-Eu não entendo. — os olhos gentis de Lúcia estavam transbordando conforme eu desabafava.

Suspirei.

Iria mostrar a ela.

Ergui a mão em direção do sol e manipulei a minha magia, permitindo que a energia das minhas veias se transformasse em calor e assumisse uma forma mágica.

— A sua magia. — Lúcia me olhou assombrada — A sua magia está doente.

— Sim, e eu causei isso. Minha prepotência me levou a níveis que eu não gostaria de ter chegado. Causei muitos problemas e pretendo encerrá-los. — admiti com a voz firme, não era uma mentira, eu realmente iria dar um fim naquilo tudo.

— Como? Como isso aconteceu com você?

Um riso triste saiu da minha boca.

— Eu estava morrendo quando isso aconteceu, tinha sido aprisionada por humanos, espancada e maltratada até a morte. Iria morrer ou de hipotermia ou por perda de sangue. Quando ela apareceu, Jadis. — o nome dela saíra de minha boca com uma entonação de tristeza e vergonha — Ela me deu uma condição, para que eu continuasse a viver, e eu fui tola o suficiente para aceitar e me amaldiçoar.

Mostrei a marca da maldição para Lúcia.

Balancei a minha cabeça em negação, decepcionada consigo mesmo por ter me deixado ser manipulada dessa forma.

— Não contei desde o começo porque estava com vergonha do que fiz, com medo de que vocês nunca mais me olhassem nos olhos. E eu ainda sinto vergonha do que fiz, só que agora reconheço que não posso continuar escondendo isso de vocês.

— Rose-

Olhei para ela com um pouco de vergonha.

— Vou entender se você ficar brava comigo e não quiser mais falar comigo. Sinta-se a vontade.

Ela balançou a cabeça negativamente com certa agitação. Durante todo esse tempo em que eu estive falando ela ouviu tudo absorta em seus próprios pensamentos.

— Rose você não percebe? A profecia que está se cumprindo?

Ergui minha sobrancelha no mais puro sinal de confusão.

Do que ela estava falando?

— A profecia nunca se cumpiriu, porque mesmo quando nós sentamos nos tronos de Cair Paravel, Jadis ainda tinha uma influência sobre você. Não me surpreende que o que tenha acontecido ocorreu dessa forma. Porque estava destinado a acontecer.

— Lúcia, de que raios de profecia você está falando?

A menor me olhou furiosa com o meu raciocínio lerdo.

— A profecia sobre você e Edmundo! — ela quase gritou — Você nunca foi liberta das posses de Jadis, não até agora. Esse é o momento.

— Lu-Lucia… — gaguejei me sentindo sem palavras para sequer expressar o que eu estava sentindo. E como poderia? Tinha passado aqueles anos crente de que a profecia tinha acabado, de que eu e Edmundo tinhamos quebrado a maldição.

Então… mesmo morta uma parte de Jadis vivia dentro de mim? Se alimentando do meu lado ruim, de toda a angústia e incompreensão?

Ao que me parecia, sim. Ela ainda estava aqui.

As lágrimas rapidamente desceram pelos meus olhos e caíram na grama verde, era muito irreal. Era muito dolorido pensar que tudo aquilo tinha sido destinado, como o destino podia ser duro. 

Será que… eu ainda deveria estar viva, não porque era arrogante, mas sim porque ainda não tinha chegado o meu tempo?

Lúcia fora capaz de ler a confusão no meu rosto, como se pudesse entender que eu estava desmoronando por dentro. Então ela fez algo simples, porém necessário, Lúcia deitou minha cabeça em seu colo e me abraçou. E pela primeira vez ao chorar eu me senti acolhida, e me permiti desmanchar.




[...]




Estava encostada na parede de pedra enquanto os garotos discutiam qual era a melhor estratégia para ser utilizada naquele conflito. Não me senti surpresa ao perceber que nenhum deles sequer cogitou a ideia de usufruir das minhas experiências no campo de batalha, então resolvi apenas ouvir a discussão.

Pedro queria realizar um ataque surpresa para poder cortar o mal pela raiz, já Caspian acreditava que era melhor não atacar o castelo já que ninguém nunca tinha conseguido tomá-lo em todos esses tempos.

— Eu estou com o Caspian. — me pronunciei interrompendo mais uma discussão. — Vocês tem que lembrar que querendo ou não, ele é um telmarino, ele cresceu naquele castelo e o compreende melhor que ninguém.

— Não temos tempo para “compreender” Rosalie. — Pedro respondeu duramente, porém eu apenas sorri.

— Eu já fui assim, exatamente como você Pedro. E isso me fez falhar. Não me olhe como se eu fosse uma garota de quinze anos, e sim como uma rainha. Nem mesmo quando fui coroada Rainha de Nárnia eu ataquei Telmar sem ter ideia do que me esperava.

— Acho que você percebeu que eu não sou você, certo?

— Pedro! — Edmundo exclamou — Talvez você devesse escutá-la.

— Não adianta, ele é muito cabeça dura pra isso. — Caspian ironizou.

— O quê disse? — Pedro foi na direção dele, porém eu o empurrei para se afastar dele.

— Chega, essa conversa não está indo a lugar nenhum. Conversem mais tarde, quando esfriarem a cabeça.

— Por Aslam, quem é você para dar ordens?

— Rainha de Nárnia — Lúcia respondeu por mim, ela estava sentada em silêncio na mesa de pedra partida até então. 

Suspirei cansada.

— Não, tudo bem. Resolvam da forma que quiserem. Irei batalhar por vocês independente de concordar ou não com o que vocês estão fazendo, mas não irei hesitar em mostrar a minha opinião. Espero que saiba disso. E agora a minha opinião é essa: você está cometendo um erro.

Os rapazes me olharam com surpresa, porém não os dei tempo para me contradizer, apenas me retirei do recinto silenciosamente. Não estava furiosa,só estava triste de ver Pedro cometer os mesmo erros que eu tinha cometido no começo. Antes nunca escutava o que terceiros tinham a dizer, não acreditava que tais opiniões fossem acrescentar em algo. Porém depois de anos de experiência e amadurecimento eu sabia que aquilo não era verdade.

Era uma pena que ele não fosse me escutar.

Decidi retornar para o lugar que estava conversando com Lúcia mais cedo, enquanto caminhava apressada um plano maquinava na minha cabeça. Haviam várias possibilidade, eu sabia disso, tinha passado bons anos em Cair Paravel estudando a magia narniana.

Peguei a adaga que eu mantinha escondida debaixo do vestido, caso fosse atacada por um telmarino de surpresa. Sem me dar tempo para hesitar, raspei a lâmina contra a palma da minha mão. Um corte fundo fora feito, o sangue começava a aparecer, vermelho vivo.

E então o ferimento fechou, se cicatrizou em questão de minutos.

Apenas acenei com a cabeça, já estava imaginando que algo assim fosse acontecer. Então apenas me restava uma opção.

— Rose! Eu sinto muito, tentei convencer Pedro a pensar novamente-

Um sorriso inocente surgiu no meu rosto quando vi Edmundo correr em minha direção, suas bochechas estavam coradas pelo esforço físico.

— Não precisava Eddie. Seu irmão é um rei-

— E você é uma rainha. — ele exclamou se aproximando sutilmente — Bem mais experiente que ele por sinal.

Pisquei, era quase impossível estar ao redor de Edmundo e não me sentir acolhida com sua energia confortadora.

— Bela escolha de palavras, Rei Edmundo.

Um sorriso de canto surgiu na boca dele.

— Eu queria ter estado aqui quando você foi coroada. — ele admitiu — Queria ver você com uma coroa na cabeça.

— Não acho que eu mereça essa coroa. — assumi desviando o meu olhar.

A mão quente de Edmundo moldou o meu rosto, a forma gentil em que ele me segurava fazia com que meu olhar recaísse em seus olhos castanhos. Seus olhos, de alguma forma me passaram a sensação de que ele não acreditava no que eu tinha falado.

— Eddie, se eu pudesse voltar atrás… eu teria ficado.

Os olhos de Edmundo se arregalaram com minha fala, e então pareceram me sorrir.

— Eu gosto das coisas como elas estão Rose, — seus dedos traçaram meu rosto delicadamente, colocando uma mecha de cabelo para trás da minha orelha — você precisava partir naquele momento para poder se encontrar.

— Agora eu achei o meu lar. — sorri para ele — Meu lar é com o meu povo, com você.

Os olhos de Edmundo brilharam, e quando eu menos esperava, fui surpreendida por um beijo. Ele pressionava seus lábios nos meus com gentileza, tudo o que ele fazia era com carinho, cuidado como se ele me admirasse e tentasse sempre respeitar o meu espaço, meu tempo, meus sentimentos.

E naquele momento, meus sentimentos pertenciam a ele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sunshine" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.