Sunshine escrita por Downpour


Capítulo 18
Capítulo 18 - See me in a crown




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Capítulo 18 - See me in a crown

“Você deveria me ver usando uma coroa

Eu vou mandar nessa cidade de nada

Veja-me fazê-los se curvar

Um por, um por um.”

Billie Eilish, You Should See Me In a Crown



Você está se culpando por não poder ter usado seus poderes e salvar Lúcia.

  Aquela voz melodiosa quase que me ensurdeceu.

  Fechei os meus olhos com força, queria acreditar que aquilo era apenas um delírio embora o arrepio no meu corpo me dissesse que era real. De alguma forma, eu sabia que aquele momento chegaria.

Ela sempre estava lá, como se fosse uma parte de mim, principalmente nos meus momentos de dúvida. Ela estava lá, e nós estavamos sozinhas na floresta. Ninguém viria para me ajudar.

Mas eu já tinha me acostumado a estar sozinha muito tempo atrás.

— Eu não preciso dos meus poderes, não sou mais uma rainha, não há necessida-

  Os olhos dela brilharam de forma maliciosa.

— Mas você gostaria de ser uma rainha novamente não? Depois de todos aqueles anos sendo capacho dos Pevensie, você só queria que Aslan também te desse uma coroa, mas nunca aconteceu.

Pisquei recuando alguns passos na floresta, pude ouvir um estalar de um galho que eu tinha pisado.

Me senti tentada a gritar com ela, aquilo não era verdade. Eu não queria governar novamente, não queria uma coroa sobre a minha cabeça eu-

Eu queria minha coroa de volta, sempre quis. A certeza veio naturalmente em mim. A realeza estava no meu sangue, então por que Aslan tinha a cedido para quatro crianças despreparadas? Eu era rainha por direito, minha coroa fora tomada injustamente.

Meus olhos brilharam, não de lágrimas, mas sim de desejo. Vislumbres vinham a mente da minha Época de Ouro, o ouro, o vinho, as festividades em meu nome. A guerra. A luxúria. O poder.

— Isso é errado, — murmurei tentando voltar a si mesma, aquela não era eu, nunca fora — eu… Aslan… 

A figura de Jadis riu com vontade.

— Você sequer consegue mentir para si mesma, resta-lhe admitir. Por que você acha que seus poderes enfraqueceram em Nárnia? 

 — Isso é uma alucinação e já vai passar, isso é uma alucinação e já vai passar — murmurei para mim mesma enquanto fechava meus olhos com força. Eu não podia ceder a ela, jamais.

— Porque gelo e fogo quando juntos, são indomáveis. Se você tivesse seus poderes estivesse se unido a mim, nós teríamos instaurado uma dinastia de gelo e fogo. Consegue entender agora, o quão perigoso são duas mulheres poderosas unidas? — os olhos fantasmagóricos dela brilhavam enquanto eu estremecia.

Não era verdade, não era verdade, não era verdade.

Aquilo era loucura, a mais pura loucura.

Pisquei, o cenário da floresta ao meu redor desapareceu. Agora eu estava diante de um enorme palácio feito de rocha no topo de uma colina, ele era majestoso. Me senti tentada a subir os degraus enquanto olhava fascinada para o horizonte. O castelo dividia o horizonte entre o inverno e a primavera, aquela era a combinação mais linda que eu já tinha visto na minha vida.

Gelo e fogo juntos são indomáveis.

Então eu me vi, no topo. Havia uma expressão no meu rosto, minha face estava ilegível. Meus cabelos castanhos estavam trançados em uma longa trança e meu corpo era delineado por um longo vestido dourado com um longo decote em U.

Eu estava linda, mas mais do que linda, eu estava incontrolável.

Não havia dor e arrependimento no meu olhar, apenas a certeza de que eu era a dona de tudo aquilo, de aquela era a minha dinastia e que meu legado se prolongaria pela eternidade. Não haviam as marcas de tortura e escravidão, apenas um sutil sorriso de quem era senhora de si mesma.

Jades estava atras de mim, em seu típico vestido cor de gelo, só que diferente de todas as outras vezes, nós estávamos em paz.

Com movimentos graciosos o meu eu se moveu para dentro do castelo, arfei ao me ver sentada no Trono com uma coroa em minha cabeça.

O trono, a coroa, a dinastia. Era tudo meu.

  Um sorriso escapou dos meus lábios.

Ao meu redor as pessoas se curvavam ficando de joelhos, se submetendo ao poder do Sol. Quase gargalhei quando ouvi o público falar “Longa vida a Rainha do Sol”, “Longo seja o seu Reinado.”

Se aquilo fosse um sonho, eu queria ficar ali para sempre.

Lá havia apenas a leveza e a certeza de um mundo melhor, não havia escravidão, tráfico humano, tortura e miséria. Ali eu estava no controle, ali não havia Miraz, não haviam injustiças.

Esse será o seu futuro se você curvar o joelho para mim agora, Rosalie. — Jadis disse friamente, me tirando daquele vislumbre.

Arregalei os meus olhos quando percebi que estava de volta a floresta. Senti uma súbita sensação de desapontamento. Eu não queria estar ali.

— Eu… Não posso aceitar, quando cheguei aqui em Nárnia eu aceitei uma redenção por isso…

— Oh criança, quanto você demorará para perceber que não existe tal coisa como o bem e o mal? No final tudo é um jogo. Existe apenas o poder e quem o possui. E os meios para de obter o poder nunca importarão enquanto sua finalidade for o poder, e apenas ele.

Meus olhos se arregalaram com aquela fala.

— Com o poder nas suas mãos você poderá se vingar dos homens que a fizeram viver o inferno na terra. Você poderá trazer seus pais de volta.

Arfei, quase que me engasgando com uma lufada de ar.

— Isso é sério? Eu poderia… Meus pais…

Jadis sorriu acenando com a cabeça.

— Veja, essa é a principal diferença da Magia das Trevas nós não nos restringirmos ao que é dito como moral. Nós não temos limites, embora toda magia venha com um preço. Venha para o caminho da noite, você saberá como me encontrar.

Pisquei.

Quando voltei para meus sentidos percebi que estava curvada, e dessa vez a certeza inundou o meu ser. Eu queria a coroa, queria o poder, queria a dinastia, queria me vingar.

Acordei me debatendo.

Lágrimas de diversos sentimentos varriam o meu rosto. Ódio, tristeza, desgosto tudo ao mesmo tempo. Levantei-me de onde estava deitada e deixei os Pevensie dormindo sem olhar para trás. Todo o meu ser se sucumbia, sentia os meus ossos estremecerem da mais pura raiva.

O ódio que eu nutria por mim não cabia no meu ser, novamente eu estava sendo manipulada pelas vontades de Jadis. Estava sendo manipulada porque era egoísta, porque era má.

Era madrugada quando eu caminhava sozinha pela floresta. Meus pés descalços esmagavam as folhas secas enquanto o meu rosto aos poucos perdia as feições de ódio e se tornava inexpressivo.

Não sentia medo da noite, não temia o que poderia encontrar na floresta.

Quando finalmente me vi em um local mais isolado, me permiti cair sentada no chão. Arfei, ainda assustada com o que eu tinha sonhado, porque eu sabia que era real. Tinha a perfeita noção de que o espírito de Jadis viria atrás de mim de todas formas possíveis e impossíveis. Aquela era a minha sina, eu deveria apenas aceitá-la. Afinal, estava sozinha nessa.

Estava assustada porque tinha me curvado perante a mulher que jurei odiar, porque me rendi as minhas ambições mais obscuras.

E então ergui as minhas mãos em direção ao brilho do luar, e mesmo sendo de noite, concentrei minhas forças internas na palma. Não tardou para que acompanhando de um formigar, uma luz quente se projetasse para fora do meu corpo.

Torci o meu lábio em desgosto ao ver a tonalidade da minha magia, que de dourado estava se transformando em uma cor esverdeada que me parecia musgo. Mesmo assim deixei meu poder fluir, e quando consegui ajuntar uma quantidade boa o suficiente o atirei em direção a uma árvore.

Não me surpreendi ao perceber que além de ter destruído a árvore por completo, toda a natureza ao redor das mesma parecia morrer. As flores ao meu redor começaram a murchar.

Por fim, um filete de sangue escorreu de um dos meus olhos. Como um lembrete de Jadis, dizendo que ela ainda tinha total controle da minha existência minimamente deplorável.

Ergui a manga de meu vestido, sentindo uma certa queimação. No meu pulso estava uma tatuagem que não me lembrava de ter feito anteriormente. Era uma marca, escrita com o alfabeto e a língua de Charn. “Amaldiçoada.”

Trinquei o maxilar, permitindo que o sangue escorresse pelo o meu rosto, pingando diretamente no meu pé. Dei as costas a destruição que tinha acabado de causar e me dirigi em passos lentos de volta para o Pevensie.

Toda magia tinha um custo afinal das contas.




[...]




— Bom dia. — Lúcia me acordou com um sorriso meigo.

Semicerrei meus olhos ao olhar para a garota, conforme ficava desperta as memórias da madrugada vinham a minha cabeça. Não havia motivo para que eu sorrisse para ela. Não havia um resquício de felicidade em meu rosto.

— Vai dormir Lu, ainda está cedo. — me revirei, não querendo acordar.

— M-mas tem um barulho-

Fechei meus olhos e voltei ao mais perfeito estado de sono. Lúcia pareceu ter desistido de mim, pois não tentou me acordar novamente. Estava tão cansada que parecia ter me afogado em um sono profundo, e nada teria me acordado se não tivesse escutado o som de metal contra metal.

Acordei sobressaltada, quando olhei em volta estava sozinha. Praguejei me levantando do chão e indo correndo em direção ao som, conforme eu me aproximava mais alto o som da luta ficava.

— Você só pode estar de brincadeira. — gritei visivelmente mal humorada, fazendo com que a luta fosse interrompida.

Ele arregalou os olhos e então sorriu abertamente, ignorando completamente o loiro armado a sua frente.

— É assim que você me recebe Srta. McCarter?

Respirei fundo.

— Vejo que você não mudou nada vossa alteza.

— Já falei que não gosto que me chame desse jeito.

— Então abaixa a porcaria da sua espada. — grunhi.

Caspian por sua vez deu risada vindo em minha direção me abraçar, e apesar da minha pose de durona acabei sorrindo enquanto ele me girava no ar e me apertava contra seu corpo.

— Posso saber o que raios está acontecendo? — Edmundo fez a pergunta que estava entalada na garganta dos outros Pevensie.

— Esse idiota aqui, é o Princípe Caspian. — sorri irônica enquanto Caspian bagunçava os meus cabelos em um cafuné mal feito.

Pedro ergueu as sobrancelhas descrente.

— Caspian, estes são os reis do qual te falei. Da direita para a esquerda, Pedro, Lúcia, Edmundo e Susana.

— Prazer em conhecê-los. — disse Caspian, ainda com o fantasma de um sorriso convencido no rosto. — E você Rose, é bom te ver novamente.

— Digo o mesmo. 

— Nenhum deles tentou de machucar, certo? Não tentem sequer encostar nela-

— Caspian-

— Rose é meio durona mas na verdade ela é uma manteiga derretida, mas eu tomo conta dela da forma que posso.

Desviei o meu olhar morrendo de vergonha, sabendo que o príncipe estava dando o seu melhor para me tirar do sério. Então apenas tentei me contentar com o fato de que os Pevensie tinham finalmente encontrado Caspian e os poucos Narnianos restantes (nem precisava falar que estes narnianos não nutriam nenhum tipo de admiração pela minha pessoa). Talvez tudo fosse ficar bem.

— Vamos falar de negócios. — Pedro disse em alto e bom tom com os olhos semicerrados.

Caspian buscou auxílio no meu olhar, mas eu apenas dei de ombros.

— Certo.


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