Sunshine escrita por Downpour


Capítulo 14
Capítulo 14 - Say what's on your mind




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/669186/chapter/14

Capítulo 14 - Say what's on your mind

“Você não vai dizer o que está em sua mente?

Diga o que está exatamente em sua mente

Diga-me que você é minha”

blackbear, verbatim.

 

 

Foi uma manhã complicada, os Pevensie sempre que podiam me dirigiam olhares preocupados, provavelmente pensando no meu surto de madrugada. Não iria abrir a minha boca para falar alguma coisa sobre meus pesadelos, parte de mim tinha certeza de que eles não iriam gostar de saber o que estava me assombrando de qualquer maneira. A dor era minha, quem devia lidar e sofrer com a mesma era apenas eu, ninguém mais.

Nosso café da manhã se tornou maçãs, e o gosto maravilhoso que as maçãs tinham na noite passada dissipou por completo. Eu podia estar sendo muito egoísta por pensar isso, mas aquele gosto de maçã já estava me enjoando, e tudo o que eu mais queria era um banquete real, e não maçãs.

— Você está com a cabeça nas nuvens, não é mesmo? —  Edmundo se sentou do meu lado, eu sorri, embora fora um sorriso pequeno. Era incrível como ele era tão atencioso e bom comigo, eu me perguntava se realmente merecia tamanha bondade.

— Não é nada demais. — disse tentando tranquiliza-lo, para que sua mente não criasse coisas.

— Você sempre tem segredos Rose, —  ele sussurrou, não em um tom acusador, e sim num tom pensativo —  é estranho, você conhece todos nós, mas na verdade nós não te conhecemos direito.

—  Tem coisas sobre você que eu não sei. — disse com um sorriso torto, embora soubesse que tudo o que ele estava falando era verdade.

Fez-se um breve silêncio, no qual tudo o que podíamos ouvir era as ondas do mar e os pássaros voando. Com um suspiro, resolvi contar alguma coisa do meu passado para Edmundo, afinal, ele merecia saber algo sobre mim.

—  O quê você realmente quer saber? —  perguntei virando o meu rosto para ele, para assim poder ver sua reação. No momento, ele tinha ruborizado, o que era engraçado de alguma maneira.

—  Você não precisa se sentir obrigada a me contar nada. —  o garoto disse rápido, embolando as palavras uma nas outras, o que me fez sorrir de canto. Isso o deixava mais fofo do que ele realmente já era.

—  Eu insisto. —  levantei as sobrancelhas para lhe dar a sensação de que eu falava sério.

—  Ahm, — ele coçou a nuca, mostrando que estava desconfortável —  sua família, talvez?

Desviei o olhar sentindo um nó na minha garganta, enquanto pressionava as minhas mãos contra os meus joelhos nervosamente. Não gostava de falar sobre eles, na verdade, nunca falava sobre eles. Era como jogar álcool em uma ferida aberta.

— Meus pais foram assassinados pelos seguidores de Jadis na minha frente, quando eu era uma criança. — disse forçando um sorriso irônico, era incrível como pessoas eram coisas frágeis, uma facada no lugar certo poderia tirar suas vidas em questões de minutos.

— Me de-desculpe — ele gaguejou e eu dei de ombros, não era como se um pedido de desculpas fosse trazer meus pais de volta, aliás, isso tinha acontecido milhares de anos atrás.

—  E os seus pais? —  fiz o possível para afastar a expressão triste do meu rosto.

— Hum, meu pai é um soldado e a minha mãe cuida de mim e dos meus irmãos desde sempre, — os olhos dele brilharam ao falar de seu pai, pude perceber que ele o admirava muito, o que me fez sorrir — nós moramos na Inglaterra.

—  Que nome engraçado, Inglaterra. —  disse tentando imitar o sotaque do garoto ao pronunciar o nome do país, o fazendo rir.

—  Você é sempre assim? —  ele murmurou mais para si do que para mim —  quero dizer, tão sozinha e cheia de segredos?

Parei algum tempo para pensar na pergunta do garoto, e no final, ele estava certo, sempre tinha sido assim.

—  Talvez se as circunstâncias fossem outras, —  disse com o olhar pensativo — talvez as coisas fossem diferentes. Me pergunte outra coisa. — o olhei gentilmente, era uma tentativa de me abrir depois de muito tempo.

Edmundo pareceu pensar um pouco mais ao fazer a pergunta.

— Como foi passar todo esse tempo aqui em Nárnia?

Eu lhe dei um sorriso triste, novamente era algo que eu não queria falar, mas faria um esforço por ele. Não só porque eu queria prolongar aquela conversa e a presença dele, mas também porque eu devia aquilo a ele.

— Assustador, — admiti — passei boa parte do tempo treinando, até que vocês sumiram depois de saírem em busca do veado branco, então eu tive de assumir o trono. Governei por muito tempo até que os telmarinos atacassem de surpresa, desde então Nárnia está em um caos. Passei algum tempo fugindo indo para os diversos cantos do país, me recordo de ter sido capturada em uma ilha com alguns poucos narnianos.

“Fomos vendidos em um tipo de feira, ficávamos a mostra em jaulas e os mercadores nos tratavam como produtos, de fato. Uma senhora que tinha algum parentesco com um conde me comprou, então eu fui levada para uma casa enorme próximo a Telemar.”

Franzi o cenho, sentindo certa irritação por me lembrar daquilo.

— Era uma família podre de rica, que tinha muitos outros escravos além de mim. Eles me compraram com a ideia de que o meu poder os enriqueceria mais ainda, coisa que não aconteceu. Em toda a minha estadia naquela casa, os fiz acreditar que eu não tinha mais nenhum poder, então eu apenas era uma escrava bonitinha que era levada para algumas reuniões importantes. Claro, até Miraz chegar no trono e ficar obcecado com tudo que envolvesse a Antiga Nárnia. Quando eu soube disso, sabia que tinha que fugir. Não queria abandonar Nárnia nas mãos dele, mas teria, caso não quisesse ser seu objeto de tortura.

“Foi extremamente complicado fugir daquela casa, mas quando eu consegui, me vi obrigada a passar pela cidade para poder me distanciar do castelo. Só que desta vez eu estava sozinha e não tinha mantimentos, então achei que não seria nada demais roubar o principal mercado da cidade.”

“Infelizmente, eu fui pega em flagrante e trancafiada nas masmorras de Miraz. Acho que a única coisa que me deixou viva foi a desconfiança dele que eu fosse uma bruxa. Ele não queria me matar, porque caso matasse tudo o que lhe serviria de fonte sobre Naria teria sumido, e também não poderia me libertar. Até alguns dias atrás…”

“Miraz andava furioso nos últimos dias, e por algum motivo que eu desconheço ele realmente achou que eu fosse uma impostora. Como eu passava boa parte do tempo incomodando os soldados, ele decidiu se desfazer de mim jogando o meu corpo nos mares gelados e aqui estou eu”

Edmundo assentiu a cada palavra que eu falava, como se estivesse processando toda aquela informação. Hora ou outra ele me olhava surpreso, como se estivesse realmente assustado com o que Nárnia tinha se tornado.

Quando terminei de falar me senti um pouco mais leve, apesar de estar omitindo o essencial. Naquele momento eu me prometi que contaria as coisas a Edmundo e o restante dos Pevensie, só que não seria agora que eu falaria sobre meus poderes.

Primeiramente porque, como eu explicaria para eles que o espírito de Jadis veio me encontrar no meu leito de morte com provocações baratas? Como eu diria que eu só estava viva porque queria ver Edmundo novamente?

Só de pensar naquilo as minhas bochechas ficaram vermelhas de vergonha.

Novamente eu estava sendo egoísta e colocando a minha vida pessoal acima das minhas responsabilidades, que no caso, era um reino.

— Uau, você realmente passou por muita coisa. – Edmundo analisou – Eu estou feliz que você esteja aqui, quero dizer, Nárnia não seria a mesma sem você.

Por um momento eu jurei ver um leve tom rosado nas bochechas dele, mas foi tão rápido que preferi acreditar que fora a minha imaginação fértil.

— Agora, me conte sobre essa tal Inglaterra! – eu disse animada, queria muito saber mais sobre o mundo em que os Pevensie viviam.

— Ah, é uma longa história…

Eu sorri, me ajeitando na areia como se estivesse pronta para ouvir.

— Bem, a Inglaterra fica no Reino Unido na Europa...No meu mundo, estamos no século vinte, apesar de já termos vivido muito mais anos que isso. Bem...O meu país está em guerra agora, a chamamos de Segunda Grande Guerra…

— Segunda? – indaguei e ele sorriu.

— Mas para isso eu teria que te explicar a primeira…

Sorri – Tome o tempo que precisar.






[...]




— Ei, olhem ali. —  Susana chamou atenção dos demais para o mar, eu franzi a minha testa tentando ver o que estava acontecendo.

De longe era possível ver um barco não muito grande, nele dois homens com fardas da realeza de Miraz remavam desconfiados e um anão estava amarrado no meio dos dois. Não me surpreendi ao perceber que o anão era familiar, já sabia exatamente o que eles iriam fazer, novamente.

—  Ora, —  exclamei irritada ao ver os irmãos parados —  Vamos ajudá-lo!

Pedro correu em disparada para o mar junto de Edmundo, enquanto Susana preparava seu arco para atacar um dos homens e Lúcia assistia tudo de olhos arregalados no fundo. Estendi minhas mãos pensando em usar meus poderes, logo após esse impulso senti uma dor na minha cabeça, como se ela latejasse. Fechei os olhos recolhendo as minhas mãos, doía.

—  Conseguimos! —  Pedro anunciou trazendo o anão para a areia da praia, enquanto os homens de Telmar fugiam em disparada, como os covardes que sempre foram. Lúcia me olhou de canto, como se tivesse visto eu tentando usar meus poderes, ignorei a menina, não queria explicar para ela que Jadis tinha me visitado recentemente.

—  Deveria agradecer por terem salvado a minha vida? — o anão disse quando retomou a consciência. Seu olhar recaiu em mim, e então ele sorriu maldosamente —  parece que essa ilha realmente tem fantasmas, não, Rose? Que eu saiba você deveria estar morta a um bom tempo.

Os irmãos me olharam confusos, mas eu apenas sorri para o anão.

— Eu gosto de desafiar a morte. —  respondi mantendo o sorriso irônico.

—  Vocês se conhecem? —  Edmundo perguntou confuso.

— Essa garota estava na prisão de Miraz, uns dias atrás ela foi banida de Telmar.

Os Pevensie me olharam novamente procurando por uma explicação, mas eu apenas encolhi meus ombros, não era a pessoa certa para falar para eles tudo o que estava acontecendo em Nárnia no momento.

—  Por quê você não explica para os Reis, o que está acontecendo? —  ergui a sobrancelha.

—  Reis?  — ele frisou a palavra com deboche, deixando os irmãos chocados. — Oras, vejam, eu por si, não acredito que esta garotinha possa ser a “Feiticeira do Sol” então por quê diabos eu acreditaria que estou diante dos reis da Idade de Ouro?

O olhar de cada um dos irmãos era engraçado, Susana estava descrente, Pedro franzia a testa, Edmundo encarava o anão confuso e Lúcia apenas estava boquiaberta.

— Perdoem-o, —  eu me sentei na areia sem olhar para os Pevensie — muitos narnianos não acreditam mais em nós, se passaram muitos anos. Mas afinal, anãozinho, por quê não conta seu lado da história para eles? Creio que você seja a melhor pessoa para explicar essa confusão.

O anão deu de ombros como se falar ou não falar, não fosse fazer alguma diferença para ele, e começou a falar a sua história.

Enquanto o anão fazia seu monólogo, senti o olhar de Edmundo sobre mim, quando eu finalmente correspondi o olhar, ele parecia querer me dizer algo pelo seu olhar.

“O quê você está escondendo?”

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sunshine" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.