Sunshine escrita por Downpour


Capítulo 11
Capítulo 11 - There is no remedy for memory




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Capítulo 11 - There is no remedy for memory

“Te amar para sempre não pode estar errado

Mesmo que você não esteja aqui, eu não irei seguir em frente (...)

E não há remédio para as lembranças
Seu rosto é como uma melodia
Não sairá da minha cabeça
Sua alma está me assombrando e me dizendo
Que tudo está bem
Mas eu queria estar morta”

Lana Del Rey, Dark Paradise.




Senti um gosto amargo na minha boca, dei uma breve revirada de olhos e entreabri meus lábios deixando o sangue finalmente pingar na grama. Abri meus olhos e novamente eu os fechei, a dor nos meus cortes era interminável e o gosto de sangue e lágrimas da noite passada ainda estavam na minha boca. Ergui a minha cabeça e vomitei, puxei meus cabelos para trás enquanto vomitava. Fechei meus olhos com força sentindo o enjoo, tossi várias vezes cuspindo sangue no chão.

Ainda podia ouvir claramente para os narnianos me mandarem fugir, uma ótima rainha eu por acaso. Aquela que fugia e abandonava seus súditos, incrível. Assim que eu me levantei, senti o meu corpo tombar com uma árvore, sentia minha cabeça girar e a náusea me consumir por completo. Respirei fundo e comecei a andar, tinha que achar algum refúgio, agora sem os irmãos Pevensie, Nárnia se tornaria um verdadeiro caos.

Eu tinha errado, novamente.

Errado em pensar que mesmo sem eles, eu fosse dar conta.

Como eu pude ser tão estúpida?




MUITO TEMPO DEPOIS

EM TELMAR




— Esta menina já não nos serve de nada, —  ouvi um guarda reclamar e eu revirei meus olhos lentamente. —  Miraz já deveria ter se desfeito dela muito tempo atrás.

Eu me posicionei direito no chão gelado da prisão e dei uma risada seca, era tudo o que eu mais queria, que eles me deixassem morrer.—  Também acho.

—  Não pedimos  a sua opinião garota. —  um dos homens falou e eu tornei a sorrir cinicamente. — de qualquer maneira, cedo ou tarde Miraz irá matá-la.

Senti minha pulsação acelerar e meus olhos se arregalarem, os guardas tinham razão, Miraz - que antes estava convicto de que eu era uma feiticeira - estava começando a aceitar que não tinha mais poder nenhum, novamente. Eu era imortal, continuaria jovem para sempre e a idade não me mataria, mas as mãos humanas sim. Desde que tinha posto meus pés em Nárnia não tinha pensado nessa possibilidade, meus poderes de Charn sempre me fizeram pensar que eu não tinha fraquezas, mas olhando por este ponto, eu tinha sim. Essa possibilidade estava começando a me assustar, ao mesmo tempo que eu não queria mais viver ali, a ideia de morrer ainda me assustava. Talvez a minha hora tivesse chegado.

— Por quê não me libertar? Não infringi lei alguma. — quase que implorei para os homens, se fosse para morrer, que não fosse pelas mãos de Miraz.

— Ordens são ordens. — um dos guardas responderam colocando um ponto final na conversa.

Me afastei das grades de minha cela e respirei fundo tentando não chorar, ou até mesmo perder o controle. Talvez se eu tivesse morrido em Charn as coisas seriam bem melhores, digo, minha morte não teria sofrimento, eu apenas desapareceria.

Quando a noite estava prestes a cair eu ouvi guardas resmungando no corredor, o que era estranho, já que dificilmente os guardas conversavam alto ainda mais a noite. As vozes ficaram cada vez mais próximas até que três homens pararam na frente da minha cela. Me perguntei se era Caspian, já que o mesmo costumava me trazer mingau de madrugada.

— Acorde garota.

Pisquei me levantando do chão gelado, sentindo minhas costas doerem. Quase surtei quando percebi que os homens abriram a minha cela.

— Ordens do rei, você não é mais necessária aqui e só está ocupando espaço. — um dos homens disse bruscamente me puxando pelo braço.

— Aí. — gemi baixinho.

— Cale a boca, vossa majestade não deve ser acordada. — um deles falou e cobriu a minha visão com um pano vermelho. Ótimo, eles tinham me vendado.

Era mais do que óbvio que eles iriam me matar, e Miraz provavelmente colocaria a minha cabeça em exposição para os telmarinos. Talvez porque eu fosse uma prisioneira insuportável, ou por eu ser muito próxima do sobrinho dele, só podia ser isso. Alguém deveria ter contado ao rei as minhas aventuras que eu dizia a Caspian, estava mais do que óbvio.

Me surpreendi quando fui amarrada e jogada em um barco, e os três homens subiram no mesmo e começaram a remar um tanto agitados.

— Não acho certo irmos lá a esse horário. — um dos homens murmurou.

— Ora, deixe de ser covarde! — outro respondeu bruscamente. — apenas iremos nos livrar dessa falsa narniana.

Meu coração se apertou com aquela frase, mas resolvi ficar calada, era a minha vida que estava em jogo.

— De fato a garota é muito estranha, — começaram a discutir sobre a minha pessoa como se eu não estivesse lá — nunca alguma mudança nela nesses últimos seis meses. A garota continua da mesma forma!

Na realidade, depois de todo esse tempo a minha aparência imortal tinha sim sido alterada, o que era algo que eu não conseguia explicar. Meu semblante estava mais sério, e o meus cabelos que antes eram enormes estavam cortados na região dos meus seios.

Um deles gargalhou, o que me fez estremecer, e me traria pesadelos pelo resto da vida.

— Por isso que eu acredito que ela seja uma feiticeira, — um dos três disse — acontece que como essa tal “antiga Nárnia” se foi, a magia dela deve ter ido embora.

Retorci meu lábio, quase que querendo usar meus poderes para queimar aquele telmarino vivo, mas me contive respirando fundo e fingindo que estava quase que adormecendo.

— Que seja, essa coisa de Aslan e Narnia não existem, e muito menos feiticeiras.

O barco parou.

— Até nunca mais pirralha.

A última coisa que eu me lembrava era de ter meu corpo jogado no mar, e olhar para cima, vendo a lua brilhante no céu noturno. E por um momento eu sorri em meio aquela água gelada, não me parecia a maneira mais honrosa de morrer, mas eu tinha finalmente aceitado o meu pedido.

No fundo da minha mente eu pedia perdão a Aslan, e a Edmundo.








(...)







 

Senti meu corpo formigar, e me assustei ao perceber que estava viva. Eu estava viva. Abri meus olhos me deparando com uma extensão enorme de areia e do mar, sorri aliviada ainda sem acreditar. Então senti uma sensação muito desconfortante, água, tinha água em todo o meu corpo. Tossi enquanto eu liberava a água sentindo a minha garganta secar, minha barriga roncava e meu corpo clamava por água. Me levantei meio desnorteada e comecei a andar, adentrando na floresta começando a procurar por algo para comer.

Senti novamente a sensação de alívio ao encontrar diversas macieiras, usei meus poderes, apesar da dor, para amadurecer algumas maçãs e fazê-las caírem da árvore. Quando mordi a maçã e senti o suco da fruta na minha boca, senti uma enorme satisfação por finalmente estar comendo algo que não fosse um pão duro e velho. Tudo o que eu queria era descansar um pouco e esquecer o que tinha se passado no castelo de Miraz, eu não tinha como salvar Caspian, e isso era o que mais me preocupava. Algo em mim dizia que as árvores ainda podiam cantar, os animais ainda podiam falar e que alguns narnianos estavam escondidos por aí. Mas o desânimo era, a situação estava crítica demais para que eu acreditasse nisso ingenuamente.

A única coisa que eu tinha era os meus poderes e a imortalidade, estava fraca e vulnerável, novamente.

Meu corpo relaxou, e eu fechei meus olhos adormecendo quase que automaticamente.






(...)







Acordei com o barulho de um galho se quebrando, sem nem pensar peguei um outro galho. Podia ser um animal, e eu poderia ter um coelho de jantar. Sorri meio sonolenta com o pensamento e comecei a andar lentamente procurando ficar atenta.

Senti uma mão no meu ombro e caí no chão com o susto, aquilo não podia ser verdade. Meu corpo paralisou completamente enquanto eu olhava incrédula para a figura a minha frente.

— Rose?




MUITO TEMPO ATRÁS,

APÓS A COROAÇÃO DOS PEVENSIE




Era um dia feliz para Edmundo Pevensie, ele mal podia acreditar que tinha chegado onde estava. Sorria para tudo ao seu redor, sem conseguir acreditar no que via. Não havia nada melhor do que aquela sensação de vitória, tinha ganhado de Jadis, tinha ganhado de seu próprio egoísmo.

Procurou em meio a diversos rostos a face familiar de Rose, queria poder sorrir para a garota e dizer que nada daquilo teria acontecido sem a participação dela. Queria poder abraça-la, agradecer por tudo o que vinha acontecendo.

Viu a menina em um canto do salão com o olhar distante, seus olhos brilhavam, mas não de alegria e sim como se estivessem prestes a transbordar, como se ela estivesse presa em suas próprias memórias. Secretamente, Edmundo odiava aquilo, odiava ver ela daquela maneira. Tão fechada e inacessível, presa em seu passado que ela não compartilhava com ninguém. 

Assim que percebeu que a garota começara a andar para fora do salão, resolveu segui-la. Infelizmente, Edmundo se deparou com uma multidão de pessoas vindo cumprimentá-lo, animados pela maldição ter se quebrado. Quando conseguiu olhar novamente, ela já não estava mais lá.

Com um pressentimento ruim, ele tentou atravessar a multidão apressado, não queria perder aquela garota de vista por tão cedo. Ainda haviam coisas que ele precisava dizer, precisava dizer a Rose que ele não queria que ela fosse embora.

Quando se deu conta, o único vislumbre que tinha da garota eram seus cabelos esvoaçando enquanto ela caminhava para longe na beira do mar.

— ROSE! — gritou, embora soubesse que ela não pudesse escutá-lo.

Seu peito doeu quando se deu conta de que ela não se viraria para encará-lo uma última vez, porque na verdade ela já tinha o feito antes. Porque ela já tinha se preparado para aquele momento.

Porque aquela garota era como um pássaro, não havia sentido algum em prendê-la.

— Ela irá voltar. — a voz suave e ao mesmo tempo grave de Aslan o surpreendeu.

Edmundo se virou assustado, sem conseguir acreditar que o leão tinha visto tudo. Sentiu suas bochechas ficarem quentes.

— Eu não acho que ela irá querer voltar. — disse cabisbaixo, estava feliz perto dela, tão feliz em ver que ela estava feliz perto dele. Ainda não conseguia entender o sentimento que tinha por ela desde que soube que a garota salvou sua vida, mas era forte, ao menos isso, ele sabia.

— Acredite em minhas palavras, neste momento, Rosalie precisa ir, há coisas que ela precisa compreender sozinha, problemas que ela deve enfrentar sozinha, para poder voltar. — disse com a voz leve, enquanto observava a garota se afastar em passos lentos, como se soubesse que não era apenas Edmundo que estivesse sofrendo. Rose também derrubava lágrimas enquanto caminhava. — Um filho perdido sempre encontrará o caminho de volta para casa.

Ela irá voltar. —Edmundo sussurrou para si mesmo, com um olhar entristecido.


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