Parents for our children escrita por EuSemideus


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal! Estou de volta!
Falo com vcs lah em baixo, sim?
Espero q gostem!



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Capítulo 5 

 

Anna

 

Anna estava começando a entender porque sua mãe, pouco antes de elas se mudarem, dissera que Nova York era fria. Em duas semanas, praticamente todas as folhas das árvores foram ao chão. Um vento congelante cortava a cidade e, a cada dia, as pessoas saiam mais agasalhadas. 

 

Aquele frio era o motivo de ela não estar lanchando no jardim naquele momento. Todas as crianças haviam sido proibidas de ir até o lado de fora. As mesas do refeitório haviam sido distribuídas na quadra da escola, de modo a abrigar todos. E era lá que a pequena Chase estava, sentada em um canto afastado dos outros, somente com Peter e Mike por companhia. 

 

Tudo estava ficando mais chato com a vinda daquela frente fria. Além de não poderem sair durante os intervalos, as aulas externas haviam sido canceladas e, quando o vento estava frio demais, eram obrigados a esperar por seus pais dentro de sala. A única coisa que consolava Anna era que logo o inverno chegaria, e se tinha uma coisa que a menina amava, isso era neve. 

 

Anna recostou-se na parede fria e observou os dois meninos conversando. Peter demorara um pouco para aceitar a presença de Mike, mas, antes que ele tentasse impedir, os dois já tinham se tornados amigos. O ex-valentão se mostrara muito divertido e bondoso quando não estava assustando criancinhas, coisa que ele abandonara completamente depois do dia em que fora salvo pelo pequeno Jackson, duas semanas antes. 

 

Os dois meninos eram bem diferentes, porém isso era bom. Peter estava sempre agitado, não conseguia ficar parado sem fazer nada por um minuto se quer, sempre tinha uma piada na ponta da língua e era irritantemente divertido. Já Mike era um pouco mais calmo, tinha senso de humor o bastante para fazer piada até com as próprias desgraças e estava sempre pronto para ajuda-los no que quer que fosse. 

 

Contudo, Anna começava a pensar que era a única com o cérebro em constante funcionamento naquele grupo. Mike afastava os valentões deles e os colocava em bons times na educação física. Peter resolvia qualquer problema com a professora ou a diretora e conseguia fazer amizade com qualquer um. Mas se acontecesse qualquer coisa que eles precisassem pensar para resolver, o resolução só chegava com a ajuda da loirinha. 

 

Anna já percebera que Peter só era lento. Ele demorava mais tempo que o normal para compreender as coisas, as vezes até mesmo necessitando de uma segunda explicação ou complemento. Com Mike era diferente, ele simplesmente não entendia. A menina já tinha perdido as contas de quantas vezes, desde que ele se juntara ao grupo, ela não simplificara algo para garoto, enquanto Peter tentava compreender o que ela falara. 

 

— Anna - ouviu a voz de Peter a chamar, tirando-a de seus pensamentos - Eu queria tomar banho de banheira hoje. 

 

A loirinha franziu o nariz. Sua mãe havia estabelecido que eles só tomariam banho de banheira as segundas-feiras e sextas-feiras. Não era exatamente fácil fazê-la mudar de ideia. 

 

— Hoje é quarta, Peter - ela disse, mas tudo que o garoto fez foi lhe lançar um olhar pidão. Anna suspirou - Eu posso pedir, mas tenho quase certeza que a mamãe não vai deixar. 

 

Peter bufou e soltou um "Ahh", completamente decepcionado. Então suspirou e fitou-a novamente. 

 

— Tomara que meu pai demore hoje, então - ele desejou - Assim a gente, pelo menos, termina de assistir aquele filme. 

 

Antes que Anna pudesse assentir, ela ouviu uma risada. A menina voltou seu olhar para Mike, que comia seu sanduíche com um sorriso divertido no rosto. 

 

— Qual é a graça? - perguntou ela curiosa e surpresa por não ter pego a piada. 

 

Mike engoliu a comida que tinha na boca e limpou os lábios com as costas da mão. 

 

— Nada - ele garantiu - Era só que antes eu achava que vocês eram irmãos. 

 

Anna arregalou os olhos. Como?!

 

— Por que?! - soltou Peter, parecendo tão surpreso quanto ela. 

 

Mike corou levemente e deu de ombros. 

 

— Sei lá. É que vocês estavam sempre juntos e depois começaram a chegar na escola e ir embora juntos - ele contou - Daí eu pensei que talvez vocês fossem irmãos. 

 

Anna inclinou levemente a cabeça, analisando o que ele dissera. 

 

— Mas isso não faz sentido - ela afirmou, segundos depois - Você sabia que eu não tinha pai. 

 

Mike a olhou nos olhos. 

 

— Eu sabia que você não tinha pai de sangue - falou o moreno maior - Ele podia ser seu pai de coração. 

 

A loirinha franziu as sobrancelhas. 

 

— Pai de coração? - ela perguntou confusa. 

 

Mike abriu um grande sorriso, claramente alegre por perceber que ele sabia de algo que ela não sabia. 

 

— Isso, pai de coração - ele disse levantando o corpo e sorrindo, usando um tom parecido com o de um professor. Anna segurou-se para não rolar os olhos - Quando seus pais são separados ou um deles foi pro céu, se seu pai ou sua mãe se casarem de novo, essa pessoa vira seu pai ou sua mãe de coração. 

 

A pequena Chase não precisou nem de um segundo para formar a ideia. Era perfeito! Todos sairiam felizes! Ou melhor, ela acreditava que sim. 

 

— Puxa, bem que eu queria que a tia Annie fosse minha mãe de coração - comentou Peter pensativo. 

 

Anna sorriu. Aquela era a confirmação que ela precisava. 

 

— É isso! - ela exclamou - Isso resolve tudo, Peter! 

 

O moreninho a fitou completamente confuso. 

 

— Tudo o quê? 

 

Dessa vez a menina revirou os olhos. 

 

— Nossos problemas! - ela explicou - Eu só tenho mãe, você só tem pai. Se o seu pai casar com a minha mãe, seu pai vai ser o meu pai de coração e a minha mãe vai ser... 

 

— A minha mãe de coração - completou Peter, maravilhado. 

 

— Isso! - confirmou Anna. 

 

— Mas como vocês vão fazer para eles se casarem? - indagou Mike, mordendo mais uma pedaço do sanduíche. 

 

— Isso é fácil, eles só precisam dar um beijo de amor verdadeiro - disse a menina, nada preocupada - A princesa sempre se casa depois do beijo de amor verdadeiro, nos filmes. 

 

— A Anna e o Kristoff não casaram - lembrou Peter. 

 

Anna fitou o amigo, incrédula. 

 

— É claro que eles casaram, você é que não viu! 

 

O moreninho franziu as sobrancelhas, provavelmente pensando se tinha perdido alguma parte do filme. A menina simplesmente ignorou-o e pôs-se a pensar. Só precisava achar uma maneira de sua mãe e tio Percy trocarem um beijo de amor e verdadeiro e ela, finalmente, teria um pai. 

 

—-----------------------------–-------------

 

Annabeth 

 

Annabeth observou as crianças dormindo uma última vez e fechou a porta do quarto silenciosamente. 

 

Havia um mês que Peter passara a frequentar sua casa e, desde então, sua vida tinha mudado completamente. A presença do menino e de seu pai passaram a fazer parte da rotina de Annabeth.  

 

Todos os dias, depois da escola, o pequeno Jackson ia para seu apartamento. Percy chegava, no máximo, poucos minutos após o jantar dos pequenos, mas normalmente estava lá cedo o bastante para ajudá-la a coloca-los do banho e fazer suas tarefas de casa. Annabeth já tinha se acostumado a fazer comida em dobro, já que os dois morenos passaram a sempre jantar em sua casa. Como retribuição, Percy fazia parte das compras da casa. 

 

A verdade era que a presença dos dois era tão natural e constante, que a loira mal lembrava de como era sua vida em Nova York sem eles. Já estava habituada as piadas de Peter e a seu sorriso relaxado quando ela o acarinhava. Já era parte de sua rotina jantar com Percy todos os dias, logo após os pequenos, enquanto conversavam sobre qualquer coisa, desde o dia no trabalho a suas vidas particulares. Já era mais do que comum ver sua filha abraçando o moreno mais velho todas as manhãs com um grande sorriso no rosto e acenando para ela da janela do carro. 

 

Além do mais, as coisas estavam cada vez melhores para Annabeth. Seu projeto havia sido aceito e seu nome estava cada vez mais bem falado entre os gigantes de arquitetura que tinham sede em Nova York. E também tinha Thalia. A barriga da morena estava, enfim, realmente começando a aparecer, e a Di Ângelo não escondia de ninguém a prova de suas 18 semanas de gestação. Pouco dias antes, ela havia descoberto que esperava um menino. A loira não lembrava de já ter visto a amiga tão feliz quanto naquele dia. 

 

Annabeth deixou aqueles pensamentos de lado e andou até a cozinha. Seu coração se apertou ao ver, no relógio preso a parede oposta a porta, que Percy estava demorando uma hora a mais do que no dia que ele chegara mais tarde. Imediatamente seus olhos se voltaram para a pequena janela do cômodo. O céu estava coberto de nuvens e a noite estava escura, fria e até um pouco chuvosa. 

 

Sem dúvida alguma estava preocupada. Percy se tornara um amigo maravilhoso. Sempre vendo graça nos mínimos detalhes e preocupado com o bem estar das crianças e dela. Ele estava sempre disposto a ajuda-la e tratava Anna com carinho e consideração, algo que o fazia ganhar muitos pontos com a loira mais velha. A única coisa que a incomodava levemente, era o fato de que o rapaz era dado a contatos físicos, como abraços e beijos no rosto. Porém, com o tempo, Annabeth aprendera a lidar com eles sem estranhamento e, as vezes, até retribuir ou iniciar o cumprimento. 

 

Annabeth sentou no sofá e discou o número de Percy pelo, o que ela achava, a décima vez. E novamente a mesma resposta de antes: fora de área ou desligado. A loira bufou. Sua mente começou a encontrar motivos para toda aquela demora, e assustou a mulher a quantidade de soluções que envolviam acidentes e hospitais. Contudo, tudo aquilo era válido de certa forma, afinal já era tarde o bastante para que ela tivesse colocado Peter para dormir enquanto esperava que o pai do mesmo chegasse. 

 

"Não se preocupe, tenho certeza que está tudo bem. Foi só um imprevisto" comentou uma voz sua cabeça. "Oh, não seja tão otimista! Se fosse um imprevisto ele já teria dado um jeito de ligar!" a resposta ecoou em sua mente. Annabeth colocou as mãos no rosto e se inclinou o bastante para que seus cotovelos apoiassem em seus joelhos. Quando seus alter-egos começavam a discutir, a coisa, definitivamente, estava ficando feia. 

 

A loira foi arrancada de seus pensamentos pelo som da campainha. Andou rapidamente até a porta e, depois de uma olhada rápida pelo olho mágico, a abriu. Não pode segurar o suspiro de alívio quando o viu. 

 

— Percy!  Graças a Deus! - ela exclamou, cumprimentando com um abraço rápido, como já lhe era de costume - Já estava ficando preocupada! 

 

Annabeth estava prestes a se afastar dele, quando sentiu dois braços envolvendo sua cintura e a cabeça de Percy encostar-se em seu ombro. Apesar de mantê-la junto a ele, o aperto estava fraco, como se o moreno não tivesse forças. 

 

— Percy - Annabeth chamou novamente. 

 

O rapaz se afastou e passou uma das mãos pelos cabelos. 

 

— Desculpe-me , Annie - ele pediu, abrindo um sorriso fraco - Não estou raciocinando direito. 

 

Só então Annabeth viu o estado em que ele se encontrava. Os ombros estavam caídos, os olhos levemente fechados e o semblante de puro cansaço. Anormalmente, ele ainda vestia seu paletó e tinha a gravata a pertada contra seu pescoço. 

 

— Você está bem? - ela perguntou, deixando-o entrara em seu apartamento. 

 

Percy assentiu depois que a porta se fechou. 

 

— Não se preocupe, só tive um dia cheio - ele garantiu, dando outro sorriso cansado - Perdoe-me pelo atraso, Annabeth. Passei o dia no tribunal e depois tive uma reunião na empresa. Quando finalmente consegui sair de lá, havia um acidente por conta da chuva e o transito foi desviado. Acabei dentro de um engarrafamento colossal. Espero que Peter não tenha dado muito trabalho. 

 

Annabeth sorriu e pediu, com um gesto, que Percy sentasse-se no sofá. O moreno mão pareceu considerar duas vezes o convite antes de aceitá-lo. Assim que o corpo do rapaz acomodou-se, a loira o viu fechar os olhos e reprimir um suspiro. Ele estava acabado. 

 

— Você sabe que Peter não me dá trabalho algum. Já até o coloquei para dormir, enquanto te esperava - ela comentou, pensando que não poderia deixá-lo ir embora naquele estado. Provavelmente dormiria no volante antes de chegar em casa - Percy, quando foi a última vez que você comeu? 

 

O moreno pareceu surpreso pela pergunta e concentrou-se, pensando na resposta. Oh, aquilo não era um bom sinal. 

 

— Ahn... Na hora do almoço? 

 

Aquilo foi o bastante para Annabeth tomar um decisão. 

 

— O quê?! - indagou sem acreditar, levantando-se rapidamente - Fique aí e descanse, vou esquentar um copo de leite para você. 

 

— Não precisa - ele apressou-se para falar - Eu não estou com fome. 

 

A loira o fitou séria, lançando-lhe o mesmo olhar que dava a Anna quando estava teimava com algo. 

 

— Isso não está em discussão - disse antes de virar-se e andar até a cozinha. 

 

Voltou menos de dois minutos depois com um copo de leite em mãos e entregou-o a Percy. Assim que o cheiro o atingiu, Annabeth ouviu sua barriga roncar. 

 

— Não está com fome, né? - brincou, sentando-se ao seu lado. 

 

Percy sorriu envergonhado. 

 

— Beba devagar - ela orientou ao vê-lo levar o copo aos lábios - Seu estômago está vazio. Se beber muito rápido, pode te fazer mal. 

 

O moreno assentiu e a obedeceu. Annabeth observou-o enquanto o mesmo ingeria o leite. Ele estava tanto tempo sem comer que seu corpo já estava praticamente sem energia. A loira suspirou levemente. Pela primeira vez estava tendo um vislumbre de um Percy descuidado e isso a preocupava. Seu extinto materno havia aguçado de tal maneira ao vê-lo tão debilitado, que ela só estava disposta a deixá-lo ir quando estivesse totalmente recuperado. 

 

— Você não pode fazer isso consigo mesmo - ela repreendeu-o quando ele terminou o leite, mas de forma calma e carinhosa. 

 

Percy suspirou. 

 

— Eu sei - ele garantiu - É que eu realmente não tive tempo. 

 

Annabeth assentiu e levantou-se. 

 

— Tudo bem - ela disse - Vou fazer um sanduíche para você. 

 

Estava se virando para ir, quando sentiu uma mão segurar seu braço. 

 

— Já te dei trabalho o bastante por hoje, Annie - falou o moreno. 

 

Annabeth sorriu carinhosamente para o moreno. Por mais que quisesse, não conseguia ficar brava com ele por seu desleixo. 

 

— Você está sempre pensando no melhor para mim - ela lembrou - Deixe-me cuidar de você dessa vez. 

 

Percy suspirou e assentiu. Então a loira voltou a cozinha. Rapidamente preparou um sanduíche de queijo e presunto e colocou-o na chapa, na intenção de esquenta-lo o bastante para que o queijo derretesse. Recostou-se no batente da porta e observou o homem sentado no sofá a sua frente, de costas para ela. Não entendia bem de onde vinha todo aquele extinto protetor. Era certo que ajudaria qualquer um, mas com Percy era quase como se fosse seu dever. Ela sentia-se completamente responsável pelo bem estar do rapaz. Fitou os cabelos negros parcialmente bagunçados. Havia algo mais que ela pudesse fazer para ajuda-lo a relaxar? 

 

Um estalo surgiu em sua mente e ela adiantou-se alguns passos, parando bem atrás do moreno. Com as duas mãos, segurou o paletó do rapaz pela gola e puxou-o. Viu Percy travar os músculos por um momento e depois relaxar, jogando o corpo para frente na intensão de ajuda-la. Annabeth retirou a peça de roupa e deixou-a dobrada sobre as almofadas. Contornou o sofá e sentou-se bem ao lado do rapaz. Ignorou completamente sua consciência, que dizia que aquilo era invadir demais o espaço pessoal do Jackson, e afrouxou sua gravata, retirando-a, para depois abrir os dois primeiros botões de sua blusa social. Levantou-se ao ouvir o apito da sanduicheira e fitou-o por um momento. Os olhos estavam fechados e ele tinha um sorriso bobo no rosto. Aquele parecia mais com o Percy que ela conhecia, e com Peter também. 

 

Quando a loira voltou com o sanduíche, viu que Percy tinha finalizado seu trabalho, retirando os sapatos e as meias. Ele a esperava de olhos abertos e, apesar da recusa inicial, sorriu abertamente ao ver o misto-quente em suas mãos. 

 

— Obrigada, Annabeth - ele agradeceu pouco depois, já tendo comido mais da metade da refeição - Não sei o que teria sido de mim sem você. 

 

A mulher sorriu e balançou a cabeça. 

 

— Não agradeça ainda - ela o alertou. Então olhou-o nos olhos. Parecia um bom momento para fazer sua proposta - Percy, por que não fica por aqui hoje? Está tarde, você está muito cansado e Peter já está até dormindo. 

 

O moreno a fitou indeciso e surpreso, engolindo o último pedaço do sanduíche. 

 

— Annie, eu não quero incomodar - respondeu ele - E, além do mais, eu não tenho roupa. 

 

Annabeth revirou os olhos. 

 

— Se fosse incomodar eu nem teria chamado - revidou a loira - Eu tenho uma muda de roupa guardada que com certeza vai te servir e seu eu colocar o uniforme do Peter e a sua roupa para lavar agora, amanhã de manhã elas já estão secas. 

 

Percy ainda parecia inclinado a recusar, mas a mulher não estava disposta a deixa-lo ir. Temia, sinceramente, pela segurança dele e de seu filho. A noite era perigosa e o rapaz não estava em seu melhor estado de atenção. 

 

— Eu tenho um ótimo sofá cama - ela completou. 

 

O moreno a fitou novamente. Annabeth retribuiu seu olhar, lançando-lhe sua expressão mais amigável. Por fim, Percy suspirou e assentiu. 

 

— É, acho que você está certa - ele disse por fim. 

 

A loira sorriu abertamente e andou até seu quarto. Vasculhou seu armário rapidamente e encontrou um conjunto de calça de moletom e blusa branca, ambos masculinos. Aquele era um dos muitos pijamas dela e, talvez, o mais confortável em sua opinião. 

 

— O único banheiro com chuveiro é o do meu quarto - ela explicou, já entregando uma toalha e a muda de roupa a Percy - Segunda porta a esquerda. 

 

O moreno sorriu novamente. 

 

— Obrigada, Annie. 

 

Assim que ele sumiu pelo corredor, a loira partiu a arrumar a cama do rapaz. Retirou as almofadas da poltrona encostada na parede e puxou, de dentro dela, uma estrutura metálica, fazendo surgir uma espécie de cama dobrável com um colchão de casal. Colocou os lençóis rapidamente, junto com uma coberta e um travesseiro, que tinha tirado de sua própria cama por não dispor de muitos. 

 

Vendo o trabalho, enfim, realizado, sentou-se no sofá ainda intacto e suspirou, tentando não pensar em todos os atos daquela noite de que ela se arrependeria pela manhã. 

 

—-----------------------------–-------------

 

Peter 

 

Peter estava acordado, mas definitivamente não queria levantar. O colchão da cama puxada de baixo da, como tia Annabeth dissera, bicama de Anna, era extremamente confortável. O cobertor era quentinho e gostoso de abraçar. E, a melhor parte, o travesseiro. O pequeno vira quando a loira mais velha o pegara da própria cama - ela dormia com quatro por algum motivo - e segurou um suspiro de felicidade quando notou que tinha o cheiro dela. 

 

Por alguma razão, aquele odor o deixava tranquilo e seguro. Enrolara quase uma semana para devolver o casado da mulher, sempre "esquecendo-o". A verdade era que só o largara porque a moça que limpava sua casa havia lavado-o e o cheiro que ele tanto gostava, saído. 

 

Peter se revirou na cama e deitou de barriga para cima, abrindo os olhos preguiçosamente. Viu pequenas estrelas de plástico presas ao teto, brilhando na escuridão em que se encontravam. Sorriu. Aquilo lhe lembrava seu quarto. Só faltavam as naves espaciais e os alienígenas. 

 

Só então o garoto lembrou de algo muito importante, seu pai. Levantou-se a contragosto e arrastou os pés descalços para fora do quarto, ignorando o chão, de madeira, nem tão frio e seus chinelos ao pé da cama. Deixou o quarto lentamente, esforçando-se para não bater a porta ao fecha-la. Ao chegar a sala, encontrou uma cama no lugar do sofá perto da parede e tia Annabeth sentada no outro. 

 

— Tia Annabeth? - ele disse, chamando sua atenção, enquanto coçava um dos olhos tentando afastar o sono - O que aconteceu com o sofá? 

 

A mulher sorriu para ele. Peter simplesmente não pode resistir a retribuir e, quando se deu conta, já tinha subido no sofá e sentado nas pernas da loira, encostando a cabeça em seu peito. Sua posição predileta. 

 

— Eu transformei ele numa cama - ela respondeu, colocando uma das mãos em seus cabelos. Peter fechou os olhos de imediato. Por que mesmo estava lutando contra o sono? - É para o seu pai, vocês vão dormir aqui hoje. 

 

Ah, seu pai, era por ele. 

 

— Mesmo? - indagou o menino, feliz por poder aproveitar mais um pouco daquilo. 

 

— Mesmo - afirmou tia Annabeth, começando um carinho leve em seus cabelos. 

 

A parte ainda consciente do cérebro do pequeno registrou que aquela notícia era muito boa. Podia ser um sinal de que o plano de Anna estava dando certo. 

 

A verdade era que Peter queria muito que aquele plano desse certo e faria de tudo para contribuir para seu sucesso. Amava muito seu pai e sabia que era muito amado, mas ter uma mãe sempre fora seu sonho. As vezes idealizava uma mãe. Ela era sempre bonita, carinhosa e dona de um sorriso tão belo e de um olhar tão carinhoso, que o derretiam. Um dos motivos para querer tanto que tudo aquilo funcionasse, era porque vira em tia Annabeth o mesmo olhar e o mesmo sorriso de seus sonhos. O que o pequeno mais queria era tê-la como mãe. 

 

— Como ele chegou aqui? - ouviu a voz de seu pai ao longe. 

 

— Acho que veio perguntar por você - explicou tia Annabeth. Sua voz estava baixa e doce, quase embalando-o um pouco mais. 

 

— Vou leva-lo para quarto - seu pai disse. 

 

No minuto seguinte o pequeno já tinha sido erguido. Por um momento lamentou deixar o colo tão confortável de tia Annabeth, mas uma felicidade o invadiu assim que sentiu os braços de seu pai. Acomodou-se melhor a ele, sentindo-se completamente em casa. 

 

Sentiu quando ele colocou-o na cama e o cobertor em cima de seu corpo. 

 

— Boa noite, filho - seu pai disse, beijando sua testa. 

 

— Boa noite, princesa - ele disse antes de sair do quarto, provavelmente para Anna. 

 

Peter esperou até que seu pai saísse e virou para o lado. Empurrou o braço da loirinha adormecida na cama de cima. 

 

— Anna, Anna - chamou o pequeno. 

 

A menina virou-se para ele e abriu parcialmente os olhos. 

 

— Que foi, Peter? - ela perguntou sonolenta. 

 

— Eu e o meu pai vamos dormir aqui hoje - contou o pequeno - Pode ser que seu plano esteja dando certo. 

 

Anna sorriu sonolenta. 

 

— Isso é bom, muito bom - ela disse entre bocejos - Boa noite, Peter. 

 

O moreninho viu a amiga abraçar seu ursinho de pelúcia e fechar os olhos. 

 

— Boa noite, Anna - ele retribuiu, antes de seguir o exemplo dela. 

 

—-----------------------------–-------------

 

Percy 

 

— Percy - o rapaz ouviu uma voz o chamando. Sorriu levemente. Parecia a voz de Annabeth - Percy. 

 

Espera, ninguém o chamava de manhã! Ele tinha um despertador. O moreno abriu os olhos, confuso, e encontrou-a a sua frente. Os cabelos loiros estavam presos em uma trança desfiada que caia por um dos ombros, o corpo vestido com o mesmo pijama da noite anterior, composto de calça e blusa, um sorriso tímido no rosto e os olhos cinzas brilhando. O Percy segurou um suspiro. 

 

— Annie? - perguntou, sem saber se ainda estava dormindo. 

 

A mulher se afastou. 

 

— Vamos, já está na hora - ela avisou, colocando-se de pé. Só nesse momento Percy notou que ela estivera ajoelhada - Sua roupa está em cima do sofá e deixei uma escova de dentes nova em cima da pia do banheiro. 

 

Percy assentiu, ainda desnorteado, e viu-a seguir para o corredor. Ajeitou a cabeça, tentando organizar os pensamentos, mas, ao se mexer, o odor do travesseiro invadiu suas narinas, tirando-o novamente do ar. Era o cheiro dela. 

 

Finalmente resolveu obedecê-la. Pegou com cuidado sua roupa passada no sofá e seguiu para o mesmo banheiro que usara na noite anterior. Mal conseguia se concentrar em seus pensamentos, tudo ali lhe remetia a ela. 

 

Percy não entendia o que estava acontecendo consigo. Não conseguia passar muito tempo longe de Annabeth. Seus toques, sempre muito contidos, o colocavam em êxtase e seu olhar não deixava sua mente. Não sentia-se daquela maneira desde... Arregalou os olhos com seu próprio pensamento. Aquilo não poderia estar acontecendo, não é? 

 

Arrumou-se rapidamente e caminhou pelo pequeno apartamento, logo chegando a cozinha. Parou no batente da porta e não pode segurar o enorme sorriso que surgiu em seus lábios. Annabeth colocava ovos mexidos em um prato na mesa e Peter, ao vê-los, roubou um pedaço, recebendo um olhar repreensivo da mulher e sendo ralhado por Anna. Seu filho simplesmente sorriu, arrancando um sorriso da loira mais velha, que bagunçou seus cabelos antes de voltar para o fogão. 

 

— Papai! - exclamou Peter ao vê-lo. 

 

Percy caminhou até o filho, bagunçando um pouco mais seus cabelos. 

 

— Bom dia, campeão - cumprimentou ele. 

 

— Bom dia, princesa - disse beijando os cabelos loiros de Anna. 

 

— Bom dia - retribuiu a pequena e Peter simplesmente sorriu. 

 

Percy rodeou a mesa e sentou-se no lugar onde costumava jantar, bem a frente do prato de ovos mexidos. 

 

— Bom dia, Percy - disse Annabeth ao se aproximar, colocando algumas torradas na mesa. 

 

— Bom dia, Annie. 

 

O rapaz olhou em volta, vendo os pequenos engajarem em uma conversa animada enquanto comiam seu cereal, recebendo alguns comentários de Annabeth, ainda junto a bancada da cozinha. Não sentia aquela sensação desde que saíra da casa dos pais. Aquela sensação de estar em família. 

 

Viu Annabeth se virar, secando as mãos em um pano de prato, e sentar-se à mesa, com um belo sorriso nos lábios. E foi naquele momento, ao som das risadas dos pequenos, que notou o que estava lutando, mesmo que inconscientemente, para negar. Ele queria que aquela fosse a sua família.


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Notas finais do capítulo

E aí? O q estão achando? Digam, pf!
Eu quero agradecer muito a Jess Di angelo pela maravilhosa recomendação!! Sim, jah recebemos uma recomendação! N eh demais?! Eu to nas nuvens!!!!
Ah, eh vdd. Minhas aulas voltaram e estou em ritmo de vestibular. Sabe como eh, terceiro ano, medicina... Mas n se preocupem, n vou por a fic em Hiatus, só q talvez eu n consiga postar toda semana, sim? Só tenham paciência comigo, ok?
Bjs, até!
EuSemideus



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