Parents for our children escrita por EuSemideus


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Cap novo pessoal!!!!
Mas depois a gente se fala! Espero q gostem do cap!



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Capítulo 6 

 

Percy 

 

Percy passou as mãos pelos cabelos, analisando pelo terceira vez as papeladas em cima de sua mesa. Aquele processo estava, definitivamente, tirando sua paciência. 

 

O rapaz recostou-se na cadeira de seu escritório e fechou os olhos em uma tentativa desesperada de descansar. Deixou sua mente vagar a procura de algo que o relaxasse. O sorriso brincalhão de seu filho invadiu seus pensamentos, logo seguido das bochechas coradas de Anna. O rapaz sorriu, ainda de olhos fechados, e segurou um suspiro com a última lembrança: o abraço sincero e preocupado que Annabeth lhe dera dois dias antes. 

 

Aquele dia fora horrível para Percy e ele mal estava conseguindo se manter de pé quando foi buscar seu filho. O abraço de Annabeth, seguido de sua exclamação de alívio, o surpreenderam imensamente. Havia tanto tempo que vivia somente com seu filho, que já tinha se esquecido de como era ter alguém que se preocupa com seu bem estar te esperando em casa. Assim que se recuperou do susto, não pode resistir a retribuir o carinho, segurando-a contra si com a força que lhe restava e deixando sua cabeça tombar até o pescoço dela, descansando-a ali. 

 

Ainda podia lembrar-se com clareza do sorriso carinhoso e preocupado que ela lhe lançara naquela noite e de como seus olhos cinzentos brilharam em uma súplica para que ele aceitasse o pedido de dormir no pequeno apartamento. 

 

Percy respirou fundo, afastando os pensamentos e abrindo os olhos, pronto para voltar a se concentrar em seu trabalho. Contudo, não foi capaz de ler se quer uma linha antes que uma batida rápida ecoasse pela sala e a porta fosse aberta. Seu pai entrou apressado. 

 

Poseidon Jackson era extremamente parecido com o filho. Os mesmos olhos verdes, pele bronzeada e cabelos negros obrigatoriamente bagunçados. As únicas diferenças reais eram os traços do rosto, tal que Percy puxara praticamente todos da mãe. 

 

— Percy, temos um problema com o cliente de Washington - disse o homem, passando uma das mãos pelos cabelos. 

 

Percy fitou o pai. Ele claramente estava preocupado. Seu pai era o dono daquela empresa de advocacia e o motivo de ele ter feito direito, em primeiro lugar. Admirava-se ao vê-lo chegar em casa com o terno preto e a gravata frouxa em seu pescoço, quase sempre com um sorriso no rosto e uma pasta em uma das mãos. 

 

— Que tipo de problemas? - perguntou o rapaz. 

 

Seu pai suspirou e sentou-se em uma das cadeiras na frente de sua mesa. 

 

— Do tipo que precisamos estar lá amanhã de manhã - explicou ele - Bem cedo. 

 

Percy engoliu em seco. 

 

— Você quer dizer, sair de Nova York hoje à noite? - perguntou o moreno mais novo, tentando organizar suas ideias - Eu tenho o Peter, pai. 

 

Assim que Percy viu o olhar de seu pai, soube que ele lembrava-se muito bem disso e lamentava por estar fazendo-o tomar aquela decisão tão rapidamente. 

 

— Você não pode deixa-lo com o Nico? - indagou o homem. 

 

Percy balançou a cabeça em negação. 

 

— Thalia está grávida, esqueceu? - lembrou ele - Eu realmente preciso ir? 

 

Seu pai o fitou, sério. 

 

— Desculpe, filho. Mas se você não for, vou ter que passar o caso para outro advogado que possa ir. 

 

Percy bufou, irritado. Nunca deixaria que ninguém lhe tomasse aquele cliente. Estava trabalhando há meses naquele caso e não daria todo o seu tempo e esforço de mão beijada para outra pessoa. 

 

Levou uma das mãos aos cabelos e obrigou-se a pensar. Thalia e Nico estavam fora de questão. Peter tinha medo de tio Hades. Sua mãe estava na Califórnia visitando Tritão, seu irmão mais velho. Bianca, irmã de Nico, tinha acabado de se casar, não seria justo com ela. 

 

— Quando voltamos? - perguntou Percy. 

 

— Domingo pela manhã - respondeu seu pai. 

 

O moreno mais novo sentiu seu coração apertar. Peter só tinha dormido longe dele por tanto tempo quando ficara na casa de seus pais durante as férias. 

 

Quando finalmente voltou a fitar seu pai, ele o olhava com expectativa. Claramente não queria ter que passar o caso para as mãos de outra pessoa. 

 

— E então filho, algo em mente?

 

Percy assentiu. 

 

— Sim, sim - ele afirmou - Pode confirmar minha presença. Já sei onde vou deixar Peter. 

 

—-----------------------------–-------------

 

Percy abraçou o filho mais uma vez. 

 

— Comporte-se - disse apertando-o contra si - Vou ligar todos os dias, ok? Não se preocupe. Obedeça a tia Annabeth e não enrole para fazer o dever de casa. 

 

Peter afastou-se o bastante para olhar para o pai e sorriu. 

 

— Não se preocupe, papai - pediu o menino - Eu vou ficar bem. 

 

Percy sorriu e bagunçou os cabelos do pequeno. Ah, ele sabia muito bem que seu filho ficaria bem. O moreno mais velho é que não confiava em si mesmo, já pensando na saudade que sentiria. 

 

— Eu sei - ele disso sorrindo para o pequeno. 

 

— Tchau, papai - despediu-se Peter. 

 

— Tchau, filhote - ele retribuiu, levantando-se. 

 

Percy estava prestes a virar-se em direção a porta quando viu uma cortina de cabelos loiros e dois olhinhos cinzentos fitando-o, parcialmente escondidos pela parede do corredor. 

 

— Anna? - ele chamou. 

 

Mal tinha visto a menina naquela noite. Assim que ele dissera que iria viajar, ela sumira e não voltara a dar as caras. 

 

A loirinha saiu, envergonhada, de seu esconderijo. A cabeça estava baixa, os braços atrás das costas e ela usava um pijama bem fofo com um urso panda desenhado na blusa. 

 

Percy aproximou-se vagarosamente dela e agachou-se a sua frente. 

 

— Está tudo bem? - ele perguntou - Pensei que teria que ir embora sem me despedir de você! 

 

Anna levantou a cabeça e Percy segurou a respiração ao ver os lábios trêmulos e olhos cheios de lágrimas da menina. 

 

— Você tem mesmo que ir? - ela perguntou em um tom mais baixo que o normal, quase num fio de voz. 

 

— Infelizmente, eu preciso sim, princesa - confirmou o moreno - Não se preocupe, vai ficar tudo bem. 

 

A loirinha virou o rosto, segurando o choro. 

 

— Não é isso... É que... É que eu... Eu... - Anna voltou a olhar nos olhos dele, deixando uma lágrima escapar - É que eu vou sentir saudades. 

 

Percy abraçou-a e sentiu a pequena apertar os braços finos contra seu pescoço, afundando o rosto ali. O moreno acariciou seus cabelos loiros com cuidado, afim de conforta-la. 

 

— Nem vai ser tanto tempo assim, princesa - falou ele na tentativa de acalma-la - Hoje já é quarta-feita à noite. Eu só vou passar quinta, sexta e sábado lá. Três dias. Domingo, antes de você acordar, eu já vou ter voltado. Também vou ligar todos os dias, assim nenhum de nós dois fica com tanta saudade. 

 

Anna soltou-se dele e assentiu, secando os olhos com uma das mãos. Aquela cena quebrou o coração de Percy. Ele ainda podia desistir de ir, não é? 

 

— Tudo bem - ela disse com a voz embargada - Tchau, tio Percy. 

 

O moreno sorriu e beijou o topo da cabeça da menina. 

 

— Tchau, princesa. 

 

Percy levantou-se e viu a menina correr para o corredor, sendo seguida de imediato por seu filho. 

 

— Você está chorando? Mas é o meu pai que está indo viajar! - pode ouvir Peter dizer. 

 

— Fica quieto, Peter - a voz de Anna ecoou baixa antes do barulho de uma porta batendo invadir o ambiente e tudo se tornar silencioso. 

 

Percy virou-se e encontrou Annabeth. Ela estava encostada no batente da porta que levava para fora do apartamento e sorria para ele. 

 

— Por esse eu não esperava - admitiu Percy ao se aproximar dela. 

 

A mulher sorriu. 

 

— Quando Anna gosta de alguém, é para valer - contou ela - E ela está muito apegada a você. 

 

Percy assentiu e olhou nos olhos de Annabeth. Ele não conseguia saber o que ela estava pensando ou sentindo naquele momento, mas só de olhar aquela imensidão cinzenta seu coração se acalmava. 

 

— Eu não tenho como te agradecer - disse por fim - Eu te joguei essa bomba de supresa e você aceitou.  

 

Annabeth balançou a cabeça. 

 

— Não diga como se fosse um sacrifício tão grande - pediu ela - Eu amo o Peter e você é meu amigo. Estou ajudando com prazer. 

 

Percy sorriu e abraçou-a. Sentiu o corpo de Annabeth se retesar, mas ela logo em seguida relaxou, retribuindo o gesto. Ela não o abraçava desde do dia em que ele dormira ali e o rapaz queria muito sentir aquela sensação novamente antes de ir. Mais uma vez pensou que Peter tinha toda razão sobre o cheiro dela, era, sem dúvidas, o melhor calmante de todos. 

 

O moreno não sentia vontade de solta-la e agradeceu por ela não quebrar o abraço por vontade própria. Eles dois ali, daquela maneira, parecia tão certo. 

 

Percy amaldiçoou sua consciência quando esta lembrou-lhe que ele não podia se atrasar para o voo. Ele se afastou um pouco, ainda mantendo as mãos na cintura de Annabeth, e beijou a testa da loira, vendo-a fechar os olhos. 

 

— Até, Annabeth. 

 

— Até, Percy - ela retribuiu antes que ele se afastasse e seguisse pelo corredor até o elevador. 

 

—-----------------------------–-------------

 

Peter 

 

Passar os dias na casa de Anna fora mais diferente do que Peter esperava. Dormir não fora exatamente o problema. Era certo que sentia muito mais saudades de seu pai quando estava deitado na cama no escuro, mas o pequeno já estava preparado para aquilo. Tinha pego uma blusa de pijama de seu pai e dormia abraçado a ela. Estava certo ao pensar que ela teria o cheirinho de seu pai, assim como o casaco de tia Annabeth cheirava como ela. 

 

Sem falar que haviam outras coisas que o ajudavam a adormecer. Como a voz calma de tia Annabeth, que cantava todas as noites depois de contar uma história, e o carinho dela em seus cabelos. Além de que quando ele acordava de madrugada, só precisava trazer a blusa de seu pai para perto de seu rosto. O odor dela, junto com o do travesseiro, fazia com que ele sentisse que os dois adultos estavam ao seu lado. 

 

Peter tinha acordado um pouco mais tarde que o normal na quinta-feira. E, pela primeira vez, tivera de esperar um pouco para usar o banheiro. O café fora tranquilo e, no fim, ele sentara no sofá, observando tia Annabeth trançar os cabelos de Anna. 

 

— Peter, sua vez - ela dissera ao terminar o penteado de sua amiga. 

 

O menino fitara a escova e o pente com desânimo. Não gostava da sensação deles contra sua cabeça. Porém tia Annabeth somente sorrira quando ele se aproximou devagar e arrumou seus cabelos com os dedos. Peter não pudera deixar de fechar os olhos e aproveitar. Se pudesse ser assim sempre, ele nunca mais reclamaria de ter que pentear os cabelos. 

 

Chegara bem na hora da entrada naquele dia. 

 

Na sexta-feira fora bastante diferente. 

 

Nunca tinha experimentado tamanha correria pela manhã, porém Anna já parecia acostumada. Seria toda aquela loucura normal para ela? Não que em sua casa eles não tivessem que se apressar de amanhã as vezes, mas nunca vira algo como o que acontecera na casa de tia Annabeth. Nem tinham tido tempo de tomar café antes de sair e fora bebendo uma garrafa de leite com chocolate no caminho para escola. 

 

Aquela tinha sido a primeira vez que Peter chegara atrasado em uma aula. Entendeu facilmente porque Anna não gostava nada daquilo. A sala já estava cheia e silenciosa quando eles entraram. Todos, sem excessão, haviam virado para olha-los e o moreninho sentira suas bochechas esquentarem e não pudera evitar abaixar a cabeça e caminhar rapidamente até seu lugar. 

 

O dia na escola passara rápido, como de costume, e a noite chegara. Então, lá estava ele, deitado em sua cama no escuro, com Anna dormindo ao lado. O barulho da chuva atrapalhara seu sono. 

 

Peter se encolheu, querendo desesperadamente, pela primeira vez em dias, a companhia de seu pai. Apertou a blusa dele contra si e colocou a coberta sobre sua cabeça. Os trovões ribombavam lá fora, assustando-o de tempos em tempos. O menino sempre odiara tempestades. As trovoadas lhe davam a sensação de que o mundo estava se acabando e os raios que cruzavam o céu sempre pareciam vir em sua direção. 

 

O pequeno fechou os olhos e tentou desviar seus pensamentos. Lembrou-se das ligações de seu pai e de como somente elas supriam boa parte de suas saudades. Tia Annabeth era incrível, nunca deixava que ele se sentisse só. Sempre estava sorrindo daquela maneira que o fazia sentir-se especial e tratando-o com todo carinho e atenção. E também tinha Anna, que estava sempre pronta para qualquer brincadeira quando tudo se tornava entediante. 

 

O moreninho não conseguia parar de pensar que seria perfeito se ele e seu pai pudessem morar ali. O menino o teria por perto, assim como poderia desfrutar do carinho de tia Annie e brincar com Anna sempre que tivesse vontade. 

 

Queria que o plano da amiga desse certo logo. Quando seu pai e tia Annabeth se casassem eles iriam morar juntos e ele poderia ter tudo aquilo. O pequeno sorriu. Seria como um sonho realizado. 

 

— Peter? - uma voz baixa e insegura o chamou. 

 

O menino descobriu sua cabeça e olhou para os lados. Encontrou dois olhos cinzentos o fitando na cama a cima da sua. 

 

— Você ta acordado? - perguntou Anna. 

 

Peter assentiu, mas se encolheu logo em seguida, assim como amiga, ao ouvir mais um trovão retumbar no céu. 

 

— Você não ta com medo? - indagou a menina, insegura - Nem um pouquinho? 

 

O moreninho pensou em se fazer de forte e dizer que não, mas logo seu pai veio a sua mente e como ele dissera que mentir era muito feio. Peter suspirou e olhou para amiga, ela parecia tão assustada quanto ele. 

 

— Eu to com medo - um trovão ainda mais alto o fez pular - Muito medo. 

 

— Eu também - disse Anna se encolhendo um pouco mais para debaixo das cobertas - Eu quero a minha mãe, Peter. 

 

Algo dentro do menino se aliviou ao saber que não era o único naquela situação. 

 

— Eu também quero meu pai - revelou ele. 

 

Anna pareceu pensar um pouco e, em um pulo, passou para sua cama. Peter afastou-se um pouco, dando espaço para a amiga, que logo se enfiou debaixo do cobertor. 

 

— Eu não quero dormir sozinha - ela explicou olhando em seus olhos - Eu to com muito medo, Pete. 

 

Pete. Só seu pai o chamava assim. De onde Anna tirara aquilo? Ele não sabia, mas aquele apelido o fez lembrar que em dias de tempestade ele se esgueirava até o quarto do pai e o abraçava até adormecer novamente. 

 

— Será que a sua mãe deixa a gente dormir com ela? - ele perguntou esperançoso. 

 

Anna arregalou os olhos e levantou-se rapidamente, puxando-o para fora da cama. Peter mal teve tempo de pegar a camisa de seu pai. A menina caminhou até a saída do quarto tentando não fazer barulho, mas só foi preciso mais um trovão para que os dois disparassem até o quarto de tia Annabeth. 

 

A mulher abriu os olhos assim que eles fecharam a porta do quarto dela e simplesmente sorriu, chamando-os com a mãos. Peter seguiu Anna, subindo na cama de tia Annabeth. Sua amiga pulou o corpo da mãe abraçando-a do outro lado. O moreninho ficou parado por um momento, sem saber muito bem o que fazer, até que sentiu uma mão o puxar e, quando se deu conta, já estava com a cabeça sobre o braço da loira mais velha. Então tudo o que fez foi se aconchegar melhor e abraça-la, deixando-se levar pelo sono e pela segurança que ela lhe passava. 

 

—-----------------------------–-------------

 

Annabeth 

 

Annabeth despertou lentamente. Podia ouvir ao longe o barulho de chuviscos contra o vidro de sua janela. Respirou fundo, com uma dificuldade anormal, e tentou se mexer. Franziu as sobrancelhas ao notar que não conseguia mover um músculo. 

 

Abriu os olhos confusa e encontrou duas crianças agarradas a ela. Peter tinha a cabeça sobre seu peito e boa parte do tronco sobre seu corpo. Ele dormia com a barriga para baixo e enroscara uma das pernas na dela. Já Anna estava de costas para a mãe. A cabeça da menina jazia na parte superior de seu braço e ela abraçava todo o testo do membro, mantendo-se bem junto a mulher. 

 

Alguma parte de sua mente lembrou-lhe que eles haviam aparecido pela madrugada, provavelmente assustados pela tempestade lá fora, e ela os chamara para sua cama.  

 

Fitou o menino adormecido sobre si e sorriu. Thalia a colocara na fila de espera para a cadeira elétrica. Desde que a loira havia definido que o trataria como seu filho, seu cérebro e seu coração o adotaram completamente. Já era praticamente impossível para ela vê-lo como qualquer outra coisa que não fosse "seu menino". O grande problema era que, eventualmente, a vida provavelmente afastaria o moreninho dela, e aquilo doeria como uma facada no coração. 

 

Ergueu o braço que Peter deixara livre e passou a mãos pelos cabelos dele, vendo o menino sorrir entre seus sonhos. Lembrava-se claramente de como aceitara a proposta de ficar com ele por aqueles dias. A verdade era que nem pensara duas vezes antes de dizer "sim". 

 

Flashback on 

 

Annabeth tentava, em vão, tirar aqueles acontecimentos de sua mente. 

 

— Ok, mas qual é o problema de ter invadido o espaço dele? - indagou Thalia - O que você fez? Abraçou-o? 

 

Fitou a amiga, pensando se responderia ou não. A verdade era que sua consciência parecia querer assassina-la por seus atos impensados duas noites antes. Annabeth sabia muito bem que não estava raciocinando claramente naquele momento. Ver Percy tão vulnerável quebrara todas as suas defesas e desligara todos os seus alertas. Não pensara em absolutamente nada que não fosse "isso vai fazê-lo se sentir melhor" quando despiu-o de seu paletó, retirou sua gravata e abriu sua camisa. Deus! Onde estava com a cabeça?! 

 

Desde que acordara na manhã seguinte, estava evitando qualquer contado físico desnecessário com Percy. Não queria que ele pensasse que estava se oferecendo ou que ela estava interessada. Porque ela não estava interessada! Ou melhor, ela tinha quase certeza disso. 

 

— Eu tirei a gravata dele - admitiu Annabeth por fim, resolvendo que deveria partilhar aquilo com alguém. Quem seria melhor que Thalia? - E o paletó também. E abri os dois primeiros botões da camisa. 

 

Annabeth não precisava olhar para a amiga para saber que ela estava de olhos arregalados e queixo caído. A loira colocou as mãos sobre os olhos. Pelo jeito era tão ruim quando ela imaginara. 

 

— Você tem certeza que aquele discurso de não entrar em um relacionamento com ninguém ainda está de pé? - indagou Thalia. 

 

Annabeth levantou a cabeça para observar a amiga, certa de que ela a fitava divertida. Mas encontrou algo completamente diferente. A Di Ângelo tinha um olhar compreensivo e preocupado. A loira se surpreendeu e engoliu o "Sim" que subira por sua garganta. Thalia, pela primeira vez, não tinha usado o assunto "Percy" como piada. A grávida a fitava com tanto carinho e sinceridade, que a Chase se obrigou a dizer a verdade. A verdade que estava assustando-a e que ela estava escondendo de si mesma há dias. 

 

— Eu não sei - deixou escapar em um suspiro. 

 

O semblante de Thalia se aliviou e ela sorriu docemente, algo muito raro. 

 

E foi então que, como se combinado, o telefone tocou. Annabeth vasculhou sua mesa rapidamente e pegou o aparelho que tremia, tocando a música usual da campainha. Sua respiração ficou presa por um segundo ao ver o nome que brilhava na tela. Tinha como ele sentir que ela estava falando dele naquele exato momento? 

 

A mulher balançou a cabeça, espantando todos os pensamentos que rondavam sua mente, e pressionou a tela onde um círculo verde aparecera. Quando ouviu a voz dele dizendo "Annie?" torceu internamente para que não soasse tão insegura e estranha quanto se sentia naquele momento e deixou que ele lhe fizesse aquela proposta irrecusável. 

 

Flashback off

 

Annabeth respirou fundo. Chegara a pensar que aquela viagem seria algo bom. Talvez uma maneira de ela lembrar-se que conseguia viver tranquilamente sem ele. Além de que imaginou que aquele tempo seria o bastante para acalmar seu lado adolescente-com-os-nervos-à-flor-da-pele. 

 

Estava errada. Aquele tempo sem Percy só mostrara o quanto sua vida se tornara dependente dele. Sem falar que a presença constante de Peter a fazia se lembrar-se dele a todo momento e, por mais que odiasse admitir, já estava com saudades do moreno mais velho. 

 

Annabeth foi arrancada de seus devaneios quando Anna se mexeu. A menina soltou seu braço e virou-se, aconchegando-se contra seu tronco. A loira logo constatou que tinha pouco tempo para observa-los, sua filha estava acordando. E, uma vez que ela já estivesse desperta, não demoraria muito para que Peter também se levantasse. 

 

A mulher sorriu ao olha-los ali, dormindo junto a si. Mesmo que tivesse consciência de que seu braço ficaria com cãibras e, provavelmente, dolorido, não se arrependia e repetiria aquele acontecimento sem pensar duas vezes. Não havia nada igual a acordar e encontrar, dormindo junto de si, os seus... Sim, os seus filhos. Ambos eram seus filhos e ela reivindicaria aquela maternidade por quanto tempo fosse possível. 

 

Por mais que soubesse que aquele sentimento lhe traria sofrimentos futuros, não se arrependia. Peter precisava de uma mãe, Anna estava amando essa convivência de "irmãos" e, por mais que não estivesse em seus planos, esse "segundo" filho estava fazendo um bem sem tamanho para a própria Annabeth. 

 

Anna se revirou um pouco na cama e, como previsto, abriu os olhos. A menina olhou em volta e, então, fitou a mãe com seus olhos, em um tom tão claro que chegava a ser azul, semicerrados. 

 

— Já é de manhã, mamãe? - sussurrou ela, ainda rouca por conta do sono. 

 

Annabeth sorriu e apertou-a contra si, sentindo a filha aconchegar-se novamente. 

 

— Sim, são nove e meia - contou a mulher, logo depois de checar rapidamente o horário no relógio digital sobre o criado-mudo ao lado de sua cama. 

 

— Phineas e Ferb - resmungou Anna, virando-se de bruços. 

 

Annabeth fitou a filha sem entender. 

 

— O que tem o Phineas e o Ferb? - indagou ela. 

 

— Phineas e Ferb começa dez horas - explicou a menina, sentando-se na cama - Tem episódio novo hoje, mamãe. 

 

Annabeth fitou a filha. A calça de seu pijama estava enrolada na panturrilha de uma das pernas, enquanto na outra ia até os pés. A blusa de mangas curtas jazia torta e amaçada. Mas, sem dúvidas, a parte que mais chamava atenção era o cabelo. A trança que a mais velha havia feito provavelmente soltara durante a noite, assim os cabelos da menina estavam cheios e extremamente bagunçados. A mulher riu. Loirinha como era, Anna parecia ter uma juba. 

 

— Ei leãozinho - brincou Annabeth, mantendo o tom de voz baixo para não acordar a menino em cima de si. 

 

Anna sorriu. 

 

— Só se eu for o Simba - sussurrou a pequena, descendo da cama - Aí eu vou ser o rei. 

 

Annabeth riu da colocação da filha e a viu sair do quarto silenciosamente. A loira esticou um dos braços, relaxando os músculos, enquanto a outra mão ocupava-se de acariciar os cabelos de Peter. Ela sempre se impressionava com o quão macios e sedosos eram os fios negros do menino. Seriam os de Percy da mesma maneira? 

 

— Tia Annie? - chamou uma voz baixa. 

 

Annabeth fitou Peter e viu suas íris verdes por entre as pálpebras quase fechadas. 

 

— Desculpe, Peter - ela pediu, sentida consigo mesma - Não queria te acordar. 

 

O pequeno sorriu.

 

— Tudo bem - ele disse ainda bem baixo - Não tem problema. 

 

A loira viu o menino se acomodar melhor e fechar os olhos novamente. Ela sabia que Peter gostava muito de seu cafuné, por isso sempre o fazia. O moreninho sempre parecia ir as nuvens quando ela tocava seus cabelos. 

 

— Cadê a Anna? - ele perguntou alguns minutos depois. 

 

— Levantou para ver televisão - explicou a mulher - O episódio novo de Phineas e Ferb começa daqui a quinze minutos. 

 

— Hum - resmungou o menino, ainda de olhos fechados - Você me avisa quando faltar cinco minutos? 

 

— Claro, querido - garantiu ela. 

 

Peter assentiu lentamente. Annabeth segurou a risada. Ele era realmente bem preguiçoso. 

 

— Peter - chamou a mulher - Por que vocês vieram para cá de madrugada? Foram os trovões? 

 

O moreninho abriu os olhos e a fitou. Annabeth pode admirar aquela imensidão verde antes que ele a desviasse e corasse violentamente. 

 

— Anna acordou com os trovões, ela estava com medo - contou ele - E... Eu tenho medo de tempestades. 

 

Annabeth assentiu e abraçou o menino com o braço livre, fazendo-o relaxar novamente. 

 

O restante do dia correu tranquilo. A chuva fraca perdurou toda manhã e tarde, adentrando também a noite. Aquilo impediu que Annabeth levasse as crianças para um passeio no Central Park e, depois de uma ida ao cinema cancelada por falta de opção, os três passaram o dia debaixo das cobertas, sobre o sofá-cama, assistindo animações na tv. 

 

Já passava das dez e as crianças, impressionantemente, ainda estavam a todo vapor. Annabeth mal prestava atenção em sua terceira sessão seguida de Operação Big Hero 6. Não que não gostasse do filme, não havia como não amar Baymax, mas outra coisa tomava conta de seus pensamentos. 

 

Percy ainda não ligara. Normalmente ele dava sinal de vida antes das oito da noite, porém, até então, nem sinal do rapaz. Annabeth já tentara ligar ela mesma, mas o telefone do moreno só dava "fora de área ou desligado". Ela estava, inegavelmente, preocupada. A única coisa que a acalmava era que no dia seguinte ele estaria de volta e, o que quer que tivesse acontecido, ela logo ficaria sabendo. 

 

Annabeth ouviu a campainha tocar. Fitou as crianças e notou que elas nem mesmo tinham percebido o barulho incomum, por estarem extremamente concentradas. A loira se levantou e caminhou até a porta, já imaginando quem poderia ser. Teria Thalia resolvido fazer uma visita surpresa àquela hora? 

 

A mulher apoiou-se na porta e olhou pelo olho-mágico. Seu coração chegou a falhar uma batida. Seguiu para a maçaneta o mais depressa que conseguiu. Girava a chave rapidamente e, ao abrir a porta, abraçou-o de imediato. 

 

Annabeth não sabia dizer de onde viera toda aquela necessidade de toca-lo. De garantir, com as próprias mãos, que ele estava ali e bem. São e salvo. Talvez fosse a saudade inesperada que sentira naqueles dias. Talvez a culpa fosse da preocupação que lhe fora infligida naquela noite. Talvez fosse os dois. A única coisa que a loira tinha certeza era que sentiu seu coração se aliviar como nunca antes quando ele a envolveu em seus braços, retribuindo o gesto de carinho. 

 

— Percy - ela sussurrou em seu ouvido. 

 

Diferente do dia em que ele fora embora, quando ela se deixara ser abraçada, Annabeth simplesmente não queria se afastar. Seus pensamentos sobre invasão de espaço pessoal haviam sido ignorados e jogados dentro da lixeira. Naquele momento, ela não se importava nem um pouco com nada daquilo. 

 

— Annabeth - disse Percy ainda abraçado a ela. 

 

A mulher se soltou lentamente, sabendo que era o certo a se fazer. 

 

— Eu já estava preocupada porque você não tinha ligado - contou ela, tentando controlar o rubor que ameaçava tomar suas bochechas - Foi tudo bem por lá? Por que voltou mais cedo? 

 

Annabeth deu espaço para que o moreno entrasse e fechou a porta. 

 

— Desculpe-me, eu devia ter avisado - ele pediu - Está tudo resolvido. Como conseguimos terminar o que precisávamos antes do previsto, liguei para a companhia aérea para tentar adiantar meu voo. Eles ficaram tão felizes que nem cobraram. Acho que estavam com um problema de overbook

 

Percy sorriu e Annabeth sentiu seu coração se acelerar ao ver aquilo. O que raios estava acontecendo com ela? 

 

— Papai! - o grito de Peter ecoou em seus ouvidos. 

 

— Tio Percy! - Anna imitou o amigo. 

 

Logo Percy já estava abaixados com duas crianças agarradas a seu pescoço. 

 

— Papai, aconteceu muita coisa! - disse o menino soltado-se do pai, logo sendo seguido pela loirinha. 

 

— A gente se atrasou para ir para a escola - contou Peter. 

 

— E pintou quadros na aula de artes - continuou Anna. 

 

— Vimos Toy Story. 

 

— E Big Hero! 

 

— Choveu muito! 

 

— Teve raios!

 

— E trovões!

 

— Foi uma tempestade! 

 

— Esperem um minuto - pediu Percy, interrompendo o falatório dos pequenos - Vocês disseram tempestade? - ele perguntou parecendo preocupado, então voltou-se lara o filho - Você está bem, Peter? 

 

O menino corou levemente. 

 

— Aham. Tia Annabeth deixou a gente dormir com ela. 

 

Percy voltou-se para ela. Seu olhar exprimia pura gratidão. Annabeth simplesmente retribuiu, tentando dizer algo como "Não foi nada". 

 

— Vocês vão dormir aqui essa noite, não é tio Percy? - perguntou Anna, chamando a atenção do moreno para si. 

 

Percy pareceu indeciso por um momento, como se não soubesse bem o que responder, então voltou a fita-la em busca de alguma ajuda. Annabeth sorriu. 

 

— Eu tenho um ótimo sofá-cama - lembrou ela. 

 

O moreno voltou-se para Anna e sorriu. 

 

— Eu acho que é uma boa ideia, princesa.


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Notas finais do capítulo

Gente, estou postando esse cap hj pq eh aniversário de uma amigo meu e ele me pediu um cap de presente! Ivo, espero q tenha achado o presente digno e q tenha gostado dele!
Ah, Biancaamacedo ! Muito obrigada pela linda recomendação!!!!
Espero q tenham gostado do cap e pf me digam o q estão achando! Mais uma vez peço q foquem nos detalhes!
Bjs, até!
EuSemideus



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