Parents for our children escrita por EuSemideus


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Ca estou eu novamente! Eu ia postar ontem, mas o pc daki de casa estava monopolizado pelo meu irmão (assim como hj), então só deu agr.
Bem, espero q gostem!



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Capítulo 4 

 

Anna 

 

A pequena Anna mal podia manter seus olhos abertos naquela manhã. Tinha certeza que sua mãe a acordara mais cedo. Olhava-a, vestida com uma roupa de ficar em casa, lavar a louça do café da manhã. 

 

A loirinha bocejou e deixou o copo, que antes cotinha achocolatado, em cima da mesa. 

 

— Você não vai se arrumar, mamãe? - perguntou sonolenta, apoiando os braços na superfície de madeira a sua frente e deitando a cabeça sobre eles. 

 

— Lembra que disse que, a partir de hoje, é o tio Percy que vai te levar para a escola? - indagou sua mãe, virando levemente a cabeça para fitá-la. 

 

Anna assentiu, relembrando a conversa. Se não lhe falhava a memória, Peter passaria a ir para sua casa depois da escola também. A menina sorriu, fechando os olhos. Aquilo, definitivamente, ia ser legal. 

 

Ouviu ao longe o interfone tocar e, assim que o barulho cessou, sua mãe trocar algumas palavras com quem quer que estivesse do outro lado. 

 

— Anna, meu amor, está na hora - chamou ela, passando a mão por seus cabelos. 

 

A pequena abriu os olhos e levantou-se, cambaleando até a sala e pegando sua mochila. Estava com tanto sono... Por que não podia mesmo dormir mais um pouco em sua cama? 

 

— Anna - ouviu sua mãe chamar novamente. 

 

Levantou os olhos com esforço e a viu à porta do apartamento. Sem pensar duas vezes, estendeu os dois braços em sua direção. Viu sua mãe suspirar e se aproximar, pegando-a nos braços. Abraçou o corpo da mulher imediatamente, enroscando-se a ela, e apoiou a cabeça em seu ombro. 

 

Quando abriu os olhos novamente, sua mãe a estava prendendo na cadeirinha do carro. Ela sorriu e acariciou seus cabelos, beijando-os em seguida e desejando uma boa aula. Depois que a porta se fechou, pode ver tio Percy pela janela, conversando algo com sua mãe. Virou a cabeça e encontrou Peter. Ele a fitava sorrindo, claramente animado. 

 

— Tá com sono? - perguntou o menino. 

 

— Aham - respondeu Anna, fechando os olhos e aconchegando-se contra o encosto da cadeira. 

 

— Quando a gente chegar eu te chamo - prometeu ele. 

 

Anna somente assentiu e se deixou, novamente, ser levada pelo sono. 

 

Acordou, depois do que parecia ser um minuto, com a mão de Peter em seu braço e sua voz a chamando. 

 

Soltou o cinto vagarosamente e, quando se deu conta, a porta do carro já estava aberta e, do lado de fora, jaziam tio Percy e Peter lado a lado. Anna bocejou. Ainda estava tão cansada... 

 

A pequena sorriu levemente e estendeu os braços para o homem. 

 

— Me leva? - pediu manhosa. 

 

A loirinha viu tio Percy sorrir e se aproximar. 

 

— Claro - ele disse pegando-a. 

 

Assim que se ajeitou, deitou a cabeça e se deixou relaxar. Sentia-se tão segura ali. Era uma sensação muito parecida com a que sentira no parque. Quando tio Percy colocara-a nos ombros, pudera enxergar tudo como nunca antes. Sentira-se tão alta e não tivera, em momento algum depois do susto inicial, medo de cair. Sabia que ele não a desampararia em momento algum. 

 

Era diferente de quando estava no colo de sua mãe. Não que não confiasse nela, longe disso, mas sabia que já estava ficando pesada demais. Já tinha algum tempo que, as vezes, ficava com medo de sua mãe não a aguentar. Com tio Percy não era sim. Era como se seu peso não fosse nada para ele. Ele a carregava sem dificuldade alguma, além de que seu peito era mais largo e, assim, melhor de abraçar e se aconchegar. Sem falar que ele tinha um cheirinho gostoso que a acalmava. 

 

Anna abriu os olhos levemente e olhou por cima do ombro de tio Percy. Logo atrás dele estava Peter, carregando a própria mochila nas costas e puxando a dela pela caminho. A pequena cerrou as pálpebras novamente e fez uma nota mental para agradecer ao amigo mais tarde. 

 

Nem um minuto havia se passado quando sentiu tio Percy se sentar. Ele colocou uma das mãos sobre seus cabelos, acariciando-os, e sussurrou em seu ouvido: 

 

— Está na hora de acordar, princesa. 

 

Anna sorriu com o apelido. A única pessoa que a chamava de princesa era seu avô, e não o via desde seu aniversário. Gostava daquilo e parecia certo que tio Percy também a chamasse assim. 

 

A pequena soltou o pescoço do homem e se ajeitou, sentando-se de lado sobre suas pernas e apoiando a cabeça em seu peito. 

 

— Tô acordada - ela garantiu com um murmuro, mantendo os olhos levemente abertos. 

 

Pode sentir os braços de tio Percy a sua volta e o carinho retornar a seus cabelos. Ele não tinha tanto jeito quanto sua mãe, mas era bom da mesma maneira. 

 

— Acorda, dorminhoca! - implicou Peter, surgindo a sua frente. 

 

— Não to dormindo - reclamou Anna, levemente irritada pelo amigo ter interrompido seu momento de sossego. 

 

— Ah, então você pode brincar! - ele concluiu e tocou seu braço - Pique-alto, tá com você! 

 

Ao ouvi-lo gritar, a menina imediatamente levantou o corpo, sentando de maneira ereta. 

 

— O que... - tentou perguntar, mas foi cortada por outro grito de seu melhor amigo. 

 

— Gente, tá com a Anna! 

 

Todas as crianças que estavam a sua volta correram. Somente Peter ficou ao seu lado, sorrindo travesso. Anna o fitou brava. 

 

— Que foi? - ele perguntou zombeteiro - Tá com medinho de me pegar? 

 

Aquilo foi o bastante para fazer a menina bufar de raiva, pulando rapidamente do colo de tio Percy e correndo atrás do amigo, que já disparara a sua frente. 

 

Depois de alguns segundos conseguiu pegar outra pessoa. Não havia sido Peter, para sua decepção, mas também estava valendo. Logo todo o sono tinha passado e ela sentia-se pronta para um dia agitadíssimo! 

 

Em algum momento da brincadeira, quando estavam pendurados nas grades para não serem pegos, sentiu alguém beijar sua cabeça. Virou-se e encontrou tio Percy, que então bagunçava os cabelos de Peter. 

 

— Boa aula para os dois - ele disse e então fitou o filho fixamente - Comportem-se. 

 

A loirinha viu o amigo rir e acenou para o homem, que deixava a escola com um sorriso discreto nos lábios. 

 

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Peter 

 

Para Peter, aquele dia prometia e muito! O sol brilhava no céu, o vento deixava o ambiente mais fresco e algumas folhas caiam da árvore atrás de si. 

 

Estava lanchando no mesmo lugar de sempre. Debaixo da maior árvore do jardim da escola, ao lado de Anna. Eles conversavam sobre o dia passado no parque no fim de semana anterior. A menina parecia feliz e animada, repetindo diversas vezes que não via a hora de voltar ao lugar. 

 

Alegrava Peter saber que ela gostara tanto, já que ele dera a sugestão de visitarem o local. Havia se divertido muito naquele dia, também. Para ser sincero consigo mesmo, fora um dos melhores dias de sua vida e, assim como a amiga, mal podia esperar para repeti-lo. 

 

Estava completamente perdido em pensamentos, lembrando daquele dia tão bom, quando sentiu Anna puxar a manga de sua blusa. Estranhou a atitude da menina e fitou-a, inquisidor. 

 

— Que foi? - perguntou sem entender o que estava acontecendo. 

 

Anna apontou para frente e sussurrou:  

 

— Olha. 

 

Peter seguiu a direção que o dedo da menina indicava e encontrou uma cena que não esperava ver em sua vida. Haviam quatro garotos na entrada do jardim. Todos eram grandes, mas três em específico eram muito grandes. Se o menino tivesse que chutar, diria que eles eram, pelo menos, três anos mais velhos que ele próprio. 

 

Notou que os três maiores ameaçavam o menor de algo, empurrando-o de um lado para o outro, até que ele caiu. Só então Peter pode ver seu rosto. Era um dos meninos que haviam perturbado Anna no primeiro dia, o que tinha falado com ela. Seu nome era Mike, se ele bem se lembrava. Quem diria, um valentão sofrendo na mão de outros valentões. 

 

Sentiu novamente um puxão em sua blusa e voltou-se para Anna. Só de olha-la sabia o ela queria. 

 

— Ah, não! Nem pensar! - ele se negou, cruzando os braços. 

 

O testa de Anna se enrugou e as sobrancelhas franziram e se juntaram. Ela estava brava, muito brava. 

 

— Não adianta fazer essa cara que eu não vou - ele disse virando o rosto e fechando os olhos, se recusando a fitá-la. 

 

Sentiu a mão dela puxar seu rosto e abriu os olhos, ela continuava a olha-lo daquela maneira. 

 

— Foi ele que te fez mal! - exclamou, tentando fazê-la ver o absurdo que estava lhe pedindo. 

 

— Peter - ele disse num tom tanto acusador como de súplica, como se não acreditasse no que ele estava fazendo. 

 

O garoto bufou e encarou-a, tentando ganha-la naquele jogo. Percebeu, tarde demais, que não tinha chances. Só então entendeu o que seu pai dissera quando levara ele e Anna ao banheiro no dia do parque, deixando tia Annabeth confortavelmente sentada no banco. Não dava para contradizer aqueles olhos cinzentos. 

 

Bufou e levantou-se, completamente contrariado. Caminhou a passos largos para fora do jardim por entre os arbustos, evitando a confusão. Não acreditava no que estava prestes a fazer. Não acreditava que ela tinha lhe convencido com um olhar e uma única palavra! Ele precisava pensar urgentemente em como virar a situação para o seu lado em momentos futuros. 

 

Viu o sorriso no rosto da loirinha ao voltar, menos de dois minutos depois, acompanhado da professora e da coordenadora. O rosto de Mike, ao vê-lo, declarava pura surpresa. Ele não parecia crer no que estava acontecendo. 

 

Peter andou até a amiga e sentou-se, observando os quatro garotos serem levados para fora do jardim, perdendo-os de vista. O menino suspirou e recostou-se na árvore. Nem precisava fitar Anna para saber o imenso sorriso que ela tinha no rosto. 

 

— Satisfeita? - perguntou, ainda um tanto contrariado.

 

— Muito - revelou a menina, claramente feliz - Heróis não escolhem a quem salvar, Peter. 

 

O moreninho deixou outro suspiro escapar de seus lábios e fitou a amiga, que olhava-o orgulhosa. É, talvez ela tivesse razão. Aquilo não lhe custara mais do uma corrida até a secretaria e poupara um menino de, provavelmente, levar uma surra. Não que ele fosse inocente, mas não era como se merecesse. 

 

Resolveu comer seu lanche, enquanto analisava a possibilidade de realmente estar errado. Só restava um único biscoito no pacote, quando todos os seus eu's que discutiam, chegaram a mesma conclusão: Anna estava certa, como sempre.

 

O menino estava prestes a admitir isso em voz alta para a amiga, quando viu um par de pés a sua frente. Levantou os olhos e encontrou Mike. Seu primeiro extinto foi aprumar o corpo, inclinando-se para frente de Anna. Não sabia o que ele queria, então preferiu não arriscar. 

 

Só então notou que a típica postura de valentão de Mike não estava presente. Os ombros estavam caídos, as mãos agarrando-se mutuamente, em sinal de nervosismo, e a cabeça baixa. Percebeu, surpreso, que as bochechas grandes do garoto estavam vermelhas e os olhos castanhos baixos e, claramente, envergonhados, como Peter nunca vira antes. 

 

— Ahn... Eu... - começou Mike, até seu tom de voz estava diferente. Mais baixo e tranquilo. O garoto maior suspirou e sentou-se, surpreendendo Peter - Eu queria agradecer por vocês terem me ajudado. 

 

O pequeno Jackson sentiu uma mão em seu ombro, empurrando-o para o lado. Logo fitou Anna, que sorria ternamente, não parecendo temer por sua própria segurança. Peter quase reclamou quando ela o cutucou, mas ao notar seu olhar, logo entendeu o que a amiga queria. 

 

— Não foi nada - respondeu ele. 

 

— Foi sim - insistiu Mike - Eu só impliquei e fiz mal a vocês e mesmo assim vocês me ajudaram. Nem são meus amigos! Eu iria entender se tivessem até gostado de me ver apanhar. 

 

— Mas, e os seus amigos? - perguntou Anna cautelosamente - Por que não te ajudaram? 

 

Mike mexeu nos cabelos castanhos, tirando alguns restos de grama, adquiridos na queda minutos antes. 

 

— Cada um resolve seus problemas - explicou ele - Aqueles garotos eram meu problema. Eles acharam que eu estava me achando demais. Meus amigos não precisavam se meter, não era problema deles. 

 

Aquilo foi o bastante para fazer o muro que Peter levantara, cair. Que tipo de amizade era aquela? Como um amigo poderia deixar o outro apanhar só porque não era problema seu? Só de pensar em alguém se quer tocando Anna, seu sangue fervia. Pensando bem, se fossem amigos na época que Mike quase a agredira, provavelmente teria perdido a cabeça. 

 

— Mas o que eu realmente preciso dizer, não é isso - continuou o garoto - Agora vocês são meus protegidos. 

 

Peter fitou-o fixamente. 

 

— Como? 

 

Pela primeira vez durante aquela conversa, Mike olhou em seus olhos. As íris marrons do menino, pela primeira vez, não pareciam querer intimida-lo. 

 

— É assim que funciona. Se você protege um valentão, vira protegido dele - explicou, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo - Então, eu vou ter que passar mais tempo com vocês. 

 

Aquilo definitivamente não agradou Peter. Não se arrependia de ter salvado o garoto e, em algum lugar de sua mente, até pensara em tornar-se algo como seu colega, mas não o queria em sua cola o tempo todo. Por mais que Mike parecesse agradecido, não confiava plenamente nele. Tinha medo que voltasse a ofender Anna. 

 

— Tudo bem - disse a loirinha, antes que ele pudesse protestar. 

 

Mike pareceu surpreso por ela ter aceitado e sorriu, o primeiro sorriso que parecia sincero que Peter o viu dar. 

 

— Ah, então, eu vou pegar meu lanche e já volto. 

 

Assim que o garoto saiu, Peter fitou a amiga. 

 

— Por que fez isso? - indagou sem entender, afinal, a maior prejudicada por Mike fora ela. 

 

Anna simplesmente sorriu. 

 

— Não se preocupe, tenho certeza que ele não é tão ruim quando parece - disse tranquila - Além do mais, somos os menores da turma, Peter. Vai ser bom termos um guarda-costas. 

 

O menino suspirou e viu que não haveria escolha, ela já tinha tomado uma decisão e ele, certamente, não conseguiria mudá-la. Além do mais, seus argumentos faziam sentido. 

 

— Acho que você está certa - ele admitiu por fim, referindo-se aos dois acontecimentos daquele dia. 

 

Anna sorriu, esticando a mão em sua direção e tirando uma folha, que ele nem percebera que caíra em seus cabelos. Algo na expressão da loirinha o fazia ter certeza que ela sabia muito bem que estava certa. 

 

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Annabeth 

 

Annabeth fechou o laptop, radiante. Finalmente havia encontrado uma solução para a problema financeiro de seu projeto. Enfim ele estava dentro do orçamento disponibilizado. 

 

Recostou-se na cadeira, deixando seu corpo relaxar por um instante. Precisava sair do escritório em menos de meia hora se não quisesse se atrasar para buscar os pequenos na escola, mas se deu ao luxo de deixar aquilo de lado por um breve momento. Sua mente, definitivamente, precisava de ao menos um minuto de paz. 

 

Infelizmente, aquele minuto passou bem rápido e logo as preocupações da loira voltaram a assolá-la. Suspirou e abriu os olhos, era melhor agir de uma vez. 

 

Notou, surpresa, a presença de Thalia. Estivera tão imersa em seu trabalho, que nem mesmo percebera que a amiga ainda não fora embora. 

 

— Thalia? Ainda está por aqui? - indagou, ajeitando-se na cadeira. 

 

A morena levantou os olhos e sorriu. 

 

— Olha quem decidiu dar sinal de vida! - brincou ela - Nico vai se atrasar, vou sair mais tarde hoje. 

 

Annabeth assentiu, entendendo. 

 

— Queria poder ficar com você, mas tenho que sair daqui a pouco - contou a loira - Preciso buscar as crianças na escola. 

 

Thalia assentiu. 

 

— Não se preocupe, não é como se eu fosse fazer alguma loucura - disse a grávida, balançando a mão como se aquilo fosse uma grande bobagem - Além mais, você já me disse como Anna fica quando voc... Espera! Você disse "crianças"?! No plural?! 

 

Annabeth não pode deixar de rir da expressão de confusão de sua amiga. 

 

— Sim, são Peter e Anna - explicou ainda rindo - Eu e Percy combinamos de revezar com eles. Ele leva para a escola, eu busco e fico com Peter em minha casa até que ele chegue. 

 

Thalia deixou um grande sorriso tomar seus lábios. 

 

— Isso é ótimo! - exclamou a morena em puro êxtase - É a chance de... 

 

— Eu já disse que não quero um relacionamento, Thalia - Annabeth interrompeu a amiga, já prevendo o fim de sua frase. 

 

Thalia revirou os olhos, contrariada. 

 

— E quem disse que eu ia falar isso? - indagou indignada -Eu ia dizer que é a chance do Peter ter uma mãe.

 

Annabeth sentiu seu corpo gelar por um momento. A morena a sua frente suspirou e fitou-a séria. 

 

— Peter é um ótimo menino. Carinhoso, obediente, brincalhão... Mas ele é carente de "mãe", não importa o quão bom pai Percy seja ou o quanto suas avós o deem atenção - Thalia nunca tinha olhado-a daquela maneira, tão sóbria e determinada - Ele precisa de uma mãe, Annie, nem que seja só um exemplo. Você é a chance dele de ver como uma mãe é. 

 

A morena parou por um segundo e abaixou os olhos. Ela respirou fundo e voltou a fitar Annabeth. Seu olhar era de súplica. 

 

— Não importa se você e Percy vão se envolver ou não, eu só te peço, seja uma mãe para Peter - pediu Thalia - Trate-o como se fosse seu filho, se puder, ame-o como um. Por favor, nesse tempo que terão juntos, seja a mãe que ele nunca teve e tanto precisa. 

 

Annabeth respirou fundo, olhando nos olhos da amiga. Ela estava lhe pedindo muito. Aquela era uma responsabilidade grande demais. Se cumprisse o desejo de Thalia, ganharia, oficialmente ou não, mais um filho. Mais uma pessoa a quem ela dedicaria seu amor incondicional. Mais um ser humano que cresceria sobre suas regras e cuidados, e seguiria seus princípios. Mais uma criança para quem ela seria uma figura importantíssimo e fonte principal de exemplo. 

 

Foi então que Peter lhe veio a mente. O sorriso travesso, os olhos verdes brilhando e os cabelos negros, que ela sabia serem muito macios, em completa desordem. Pensou no quanto se afeiçoara a ele em tão pouco tempo e como ele fazia bem a Anna. Lembrou do pequeno em seu colo, completamente entregue a seus carinhos. 

 

Seu coração apertou. Thalia tinha razão, Peter precisava de uma mãe. Quase podia ver seu Id gritando para que não fizesse aquilo, enquanto o Ego sorria amigavelmente, incentivando-a. Voltou a atenção novamente para a morena a sua frente. Sua expressão demonstrava preocupação, mas seus olhos azuis estavam cheios de esperança. Suspirou, mal acreditando na decisão que havia acabado de tomar. 

 

— Tudo bem - anunciou por fim, fazendo a amiga levantar de sua cadeira e abraçá-la fortemente. 

 

— Parabéns, mamãe - disse Thalia em seu ouvido. 

 

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Annabeth olhou para os dois pequenos. Peter pegava um punhado de espuma, colocando-o na cabeça e causando risadas em Anna, sentada a sua frente. Ambos estavam na banheira do banheiro de Annabeth. Ela não era muito grande, mas tinha sido um dos motivos da loira ter alugado aquele apartamento. Sua filha passara a amar a hora do banho depois disso. 

 

A mulher tinha cumprido sua parte do trato sem grandes problemas. Chegara a escola cinco minutos após a hora da saída e rumara até seu apartamento depois disso. Tinha colocado as crianças para fazerem seus deveres e depois deixou que assistissem um pouco de tv. Então trouxera-os para o banho. 

 

Eles já estavam dentro d'água há tempo o bastante para Annabeth já ter preparado a janta. Estava de bom tamanho. 

 

— Anna, venha cá - chamou a mulher. 

 

Sua filha, já sabendo o que aconteceria, sentou-se de costas para mãe, encostando-se na borda da banheira. Annabeth ajoelhou-se e colocou um pouco de shampoo nas mãos, levando-as aos cabelos da filha. Massageou-os, vendo o produto espumar, e tomou cuidado para lavar bem o couro cabeludo e não deixar que nenhum resíduo chegasse aos olhos da menina. 

 

— Pronto - anunciou - Agora, chuveiro. 

 

Anna levantou-se e seguiu para o boxe bem ao lado da banheira a passos rápidos. Annabeth sabia que sua filha sabia o que fazer, então voltou-se para Peter, que ainda brincava, distraído, com a espuma na água. 

 

— Peter, sua vez - ela chamou. 

 

O pequeno fitou-a confuso, mas então sorriu. Ele se aproximou e sentou-se na mesma posição que Anna. Annabeth sorriu. Ele podia demorar um pouco para compreender algumas coisas, mas era muito inteligente. 

 

A loira mais uma vez despejou um pouco do shampoo em sua mão e levou aos cabelos do menino. Assim que o tocou, pode ver o corpo de Peter relaxar. Fez questão de acaricia-lo enquanto lavava os fios negros, vendo o pequeno entregar-se completamente ao carinho. 

 

— Pronto, querido - disse se afastando. Viu o moreninho suspirar e virar-se para ela - Chuveiro. 

 

Assim que o menino entrou no box, Anna cedeu o espaço debaixo da água, indo para a porta e parando de costas para mãe. Annabeth sorriu. Sua pequena já sabia de cor aquele "ritual". A loira passou o condicionador nos cabelos da filha, massageando-os levemente, enquanto a pequena relaxava. A loirinha sempre amara aquilo, quando estava muito cansada, chegava até a dormir no banho. 

 

Logo Annabeth a colocou novamente debaixo do chuveiro, trazendo Peter para perto de si. Assim que tocou em sua cabeça, o menino, que estava de frente para ela, fechou os olhos e suspirou. Um sorriso bobo tomou seus lábios e seus ombros caíram. A mulher o fitou e sorriu de lado. Thalia tinha toda razão, Peter carecia de carinho materno e ela podia dar isso a ele. 

 

Quando retirou as mãos dos cabelos do menino, esse abriu os olhos de imediato e fitou-a confuso. 

 

— Já acabou? - ele perguntou parecendo decepcionado. 

 

Annabeth assentiu, olhando-o com ternura. Peter deu de ombros e sorriu, indo para baixo do chuveiro. Logo estavam os dois pequenos enrolados em roupões, ambos com orelhinhas no capuz. A loira fitou-os por um momento, antes de mandá-los para o quarto. Tinha como ficarem mais fofos? 

 

Minutos depois já estavam a mesa, jantando. Peter não parava de elogiar seu macarrão com carne moída, dizendo ser o melhor do mundo. Aquilo tirava risadas de Anna, que claramente não acreditava muito na sentença, mas concordava que era bem gostoso. 

 

Os dois se davam tão bem, que chegava ser estranho pensar que se conheciam a tão pouco tempo. Annabeth não se arrependeu de ter aceitado aquela proposta. Anna estava muito mais feliz com a presença do amigo e Peter era uma amor de menino, apesar de levemente hiperativo. Tinha certeza que tomara a decisão a correta. 

 

Fitou o filha segurando a barriga de tanto rir e Peter com um pedaço de carne moída no nariz, fitando-o fixamente, de modo a parecer extremamente vesgo. Sorriu com a cena. Não seria difícil ser mãe daquele menino. 

 

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Percy 

 

O frio atingiu Percy assim que deixou o carro. O tempo, tão bonito naquela manhã, havia virado completamente. Um vento gélido assolava os desprotegidos, tomando completamente o lugar do calor agradável dos últimos dias. 

 

O rapaz adentrou a recepção do prédio a caminhou até a portaria. Um senhor, diferente do que o recebera no sábado anterior, jazia sentado atrás do balcão. Provavelmente era ele que trabalhava durante a semana. 

 

— Com licença - pediu, vendo o homem de cabelos brancos e semblante amigável fitá-lo - Apartamento 506, Annabeth está me aguardando. 

 

O senhor o fitou atentamente. 

 

— Sr. Percy Jackson? - ele perguntou e Percy somente assentiu. O homem sorriu - Pode subir. Ah, não precisa vir até aqui novamente, a Srtª. Chase liberou sua entrada permanentemente. 

 

— Obrigada - agradeceu o moreno, vendo o homem liberar a porta que dava acesso ao elevador. 

 

Não demorou muito para chegar ao quinto andar. Agradeceu mentalmente por as portas terem números, do contrário não saberia em qual bater, afinal, nunca tinha subido até ali. 

 

Tocou a campainha e escutou um "Já vai", vindo do outro lado da porta. Sorriu involuntariamente ao ouvir a voz de Annabeth. Por algum motivo, mal podia esperar para encontrá-la novamente. 

 

Quando a porta finalmente se abriu, precisou segurar um suspiro. Annabeth usava shorts jeans curtos, uma blusa azul clara, simples, e tinha os cabelos presos em um rabo de cavalo, já bagunçado. Linda, pensou Percy. O que aquela mulher tinha para encanta-lo tão rapidamente? 

 

— Percy! - ela o cumprimentou com um sorriso no rosto - Vamos, entre! 

 

O moreno retribuiu o sorriso, aceitando o convite. 

 

— Desculpe a demora - pediu - Espero que Peter não tenha te dado muito trabalho. Eu acabei relaxando com o fato de não precisar busca-lo e perdi a hora. 

 

Annabeth balançou a cabeça, fechando a porta. 

 

— Não se preocupe, Peter é um ótimo garoto - ela garantiu - Além do mais, foi o tempo exato de eles terminarem de jantar. Não diria que está atrasado. 

 

Ele assentiu, seguindo-a. O apartamento era pequeno, o que era compreensível já que só ela e Anna moravam ali. Porém, era tão aconchegante, que Percy teve que segurar o impulso de jogar-se no sofá e dormir ali mesmo. Tudo ali parecia gritar para que ele simplesmente relaxasse e aproveitasse o momento. 

 

Atravessou uma porta, entrando na cozinha. Lá, sentados em uma mesa, estavam Peter e Anna, ambos com pratos vazios a sua frente, conversando animadamente. 

 

— Tio Percy! - gritou Anna ao vê-lo, levantando-se e correndo em sua direção. 

 

Logo, não só ela abraçava suas pernas, como seu filho também. Antes que Percy percebesse, já estava sentado à mesa, imerso em um papo empolgante sobre quem era melhor: Homem-de-ferro ou Thor. 

 

— Detesto interromper esse importantíssimo debate - disse Annabeth depois que Anna listou as vantagens do herói asgardiano - Mas que tal vocês dois irem escovar os dentes, enquanto Percy janta? 

 

— Annie, não precisa - o moreno apressou-se em dizer. 

 

— Precisa sim, tia Annie - contrariou-o Peter, já se levantando, e voltando-se para o pai - Esse é o melhor macarrão do mundo! Você tem que provar! 

 

Anna seguiu o amigo e, quando ambos já estavam na porta da cozinha, se virou.

 

— Não sei se é o melhor do mundo - ela contou - Mas é muito gostoso mesmo, tio Percy. 

 

O moreno voltou-se para loira a tempo de vê-la corar com os comentários dos pequenos, e virar-se para colocar uma porção de comida no prato que tinha em mãos. 

 

Percy só precisou de uma garfada para constatar que seu filho estava mais do que certo. Como ela conseguia fazer um simples macarrão com carne moída ficar tão saboroso? Ele não fazia ideia, mas Annabeth acabara de conseguir a proeza de fazer uma comida melhor do que a de sua mãe. 

 

O homem foi tão rápido, que quando Peter voltou o prato já estava limpo. Anna se despediu com um abraço que fez Percy querer leva-la para sua casa consigo. Quando já estavam a porta, Annabeth correu para dentro e voltou com um casaco. Era um moletom grande, provavelmente dela. A mulher vestiu Peter com ele, de forma que ele ficou completamente coberto. 

 

— Vento está muito frio lá fora - ela disse ajeitando a roupa no pequeno e colocando o capuz sobre sua cabeça - Não tire ou vai pegar um resfriado, sim? 

 

Peter assentiu e a abraçou. 

 

— Obrigado, tia Annie - ele disse carinhoso. 

 

Percy viu Annabeth sorrir e beijar os cabelos do menino. 

 

— Boa noite, querido - ela desejou. 

 

Então levantou-se e sorriu para ele. 

 

— Boa noite, Percy - disse ela - Até amanhã. 

 

O moreno sorriu. 

 

— Até, Annie - falou, tomando coragem para se aproximar e beija-la no rosto. 

 

Viu a loira corar fortemente antes de fechar a porta e abriu um sorriso ainda maior. 

 

Peter conversou metade do caminho sobre seu dia na escola. Contando, inclusive, sobre  a, inesperada e forçada, nova amizade com o valentão da turma. Quando ele dormiu, Percy deixou seus pensamentos vagarem para a loira de quem despedira-se a pouco. Não sabia o que era aquilo que sentia por Annabeth. Desde que a vira pela primeira vez, simplesmente não conseguia tirá-la de seus pensamentos. 

 

Era certo que a beleza dela lhe atraíra, mas não era só isso. O sorriso dela lhe hipnotizava. A risada era como música para seus ouvidos. E os olhos... Ah, os olhos. Como desviar-se daquele cinza tão incomum e belo? 

 

Não entendia como ela ainda estava sozinha. Pelo que tinha entendido, inclusive pelas informações que Thalia lhe tinha passado sem que ele pedisse, Annabeth não se envolvera com ninguém desde a morte do pai de Anna. Era certo que a maioria dos homens temia um envolvimento com uma mulher já mãe, mas qualquer um que se deixasse aproximar minimamente, apaixonaria-se de imediato pela pequena loirinha. 

 

Afastou aqueles pensamentos quando chegou a seu prédio. Pegou o filho adormecido, ainda enrolado no casaco de Annabeth, nos braços. Não poderia estar mais certo quando decidiu que queria que a loira fosse o exemplo materno de Peter. Ela era extremamente carinhosa e atenciosa para com o pequeno, tanto que mostrara aquilo ao preocupar-se em protegê-lo do frio naquela noite. 

 

Percy nem mesmo acendeu as luzes ao entrar em seu apartamento. Simplesmente andou pelo caminho já tão conhecido até o quarto de seu filho. Viu-o abrir levemente os olhos ao coloca-lo na cama. 

 

— Ei, garotão - sussurrou, acariciando seus cabelos - Vamos tirar esse casaco? 

 

Peter fitou-o com os olhos meio abertos. 

 

— Eu posso dormir com ele, papai? - pediu sonolento - É que ele tem o cheirinho da tia Annie. 

 

Percy arregalou os olhos, mas então sorriu, beijando a testa de seu filho. 

 

— É claro que pode - ele permitiu - Boa noite, Pete. 

 

O menino sorriu com o apelido que somente o pai usava. 

 

— Boa noite, pai - ele disse antes de cair em sono profundo. 

 


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Notas finais do capítulo

E aí? Tá legal?
Os caps a partir de agr tem cenas q n parecem ter grande relevância, mas são muito importantes para o desenvolvimento da fic. Portanto, peço q prestem bastante atenção aos detalhes, prometo q assim tudo vai fazer sentido mais rápido XD
Novamente, peço q digam suas impressões sobre o cap, eh realmente muito importante pra mim.
Bem, acho q isso eh tudo, pessoal!
Bjs, até!
EuSemideus