Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 31
Dia de Teste


Notas iniciais do capítulo

Olá lindjos e lindjas :3 Apenas aproveitando minhas lindas férias para atualizar todas as fics e continuar a postar aqui ♥ Espero que gostem e queria avisar que andei arrumando os capítulos passados ( o último acabou sendo postado repetindo o texto do penúltimo, uma loucura) Enfim, boa leitura *-*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/668946/chapter/31

  A escola continuava agitada. As audições não demorariam a começar. Alexy e Rosalya já estavam ocupados com os planos para os figurinos. O resto dos alunos ensaiava as falas de Cyrano de Bergerac como se suas vidas dependessem disso. Bom, quase todos. Ambre continuava com a bobagem de improvisar sua apresentação.

  Mas naquela manhã em particular, um outro assunto surgia entre os alunos. A menina estranha que estava zanzando pelos corredores. Podia ser eu, mas acho que já não me classificava como estranha. Pelo menos no sentido de desconhecida não.

  – Mel, sabe de quem o pessoal está falando?

  – É a menina que apareceu na escola. Eu estou rezando para a diretora não encontrá-la. Ela não estuda aqui.

  – Nina?

  – Não, não é a fã do Lysandre. Essa é da nossa idade.

  Agradeci a informação e sai do grêmio. Garota da nossa idade na escola? E que não era aluna? A ideia parecia tão absurda que eu nem me incomodei, até ver Castiel todo sorridente no corredor. Estranhei.

  – Posso ajudar?

  – Por que está sorridente? Você não sorri.

  – Tem uma menina no corredor. Bonita.

  – E dai? Isso não exclui o fato de você não sorrir.

  – Eu não sorrio pra você. – Ele riu da cara chateada que eu fiz, cruzando os braços. – A diferença é que essa não fica enchendo meu saco o dia inteiro. Pelo contrário, ela até me deu muita bandeira.

  – Quais as chances do cabelo dela ser lotada de presilhas? – A coincidência já começava a deixar de ser tão absurda. Castiel franziu o cenho e confirmou meu medo.

  – É, ela usa bastante daqueles prendedores coloridos.

  – Lety. Bom, senhor sorrio para todos menos Anna, se me der licença...

  Fui obrigada a sair procurando minha amiga por cada um dos corredores e cada sala de aula. Até encontrá-la conversando com Armin. E, pro meu choque, era ele quem não parava de falar. Cruzei os braços e parei atrás dela, esperando que me notassem.

  – E cosplay? Você gosta? Adoro as neko girls!

  – Eu já fiz alguns. – Revirei os olhos. Ela realmente não suportava ver um carinha bonito.

  – Você não pode ser real, Lety.

  – É, Lety, você não pode ser real nem me procurando. Na minha escola. – Só então ela me viu. E deu aquele sorriso todo fofinho dela.

  – Oh, hey. Eu não tinha te encontrado, em minha defesa. E aí eu acabei encontrando o Armin e a gente começou a conversar, sabe?

  – Sei, sei bem. – Armin estranhou já nos conhecermos, mas expliquei antes que ele pudesse perguntar. – Armin, se não se importa, preciso trocar uma ideia com a Lety. Licença.

  Ela acenou pra ele antes de entrelaçar seu braço no meu e sairmos as duas andando pelo corredor. Ela já começou a comentar toda empolgada sobre o menino roqueiro lindo que ela encontrou, além de Armin. Ah, e os que ela ainda não tinha falado.

  – Como você consegue me dizer que não gosta de ninguém estudando aqui? Você percebeu o tanto de homem bonito que tem aqui?

  – Percebi, Lety. A diferença é que eles são meus amigos e fim. Aliás, o loirinho maravilhoso que você acabou de citar é meu amigo de infância.

  – Aquele?

  – É, o que eu falava dele sempre.

  – Nunca me disse que ele era esse deus grego, minha filha.

  – Lety, sem querer cortar sua onda nem nada, mas a escola anda meio movimentada, como acho que você percebeu...

  – Algo sobre audições pra uma peça de teatro, sim? Acho que o Castiel comentou. Ah, menina, quase esqueci do lindinho de calça militar. – Meu sangue gelou. Eu até tinha visto Kentin meio assustado quando procurava Lety, mas não entendi o motivo.

  – Bom, pois é, o dia na escola vai ser cheio e a diretora não pode te ver aqui, então...Precisa ir.

  – Ah, entendi. Sabe, eu nem ia entrar, mas você não aparecia nunca, e eu precisava mesmo ir ao banheiro, ai acabou que...

  – Lety, linda, respira. Eu vou com você até o pátio, ok?

  Eu praticamente tive que arrastar Lety pelo corredor, procurando a diretora. Ela continuava praticamente caindo para poder olhar todo garoto daquele colégio. Quando finalmente chegamos ao pátio, a bomba explodiu.

  – Oh, você de novo. Parece até que fugiu de mim. – Lety tinha esbarrado nas costas de Kentin. Ele tentou não fazer contato visual, mas a metralhadora fonoaudióloga de Lety não parou. – Prazer, Lety. Posso saber seu nome?

  – Kentin. – Achei que ele ia infartar. Ele praticamente implorava para eu tirar Lety de perto dele. Na antiga escola, ela era uma das que não conseguia não falar mal de Ken. Mesmo sabendo que eu era amiga dele, ela insistia em ser bem...indelicada.

  – Sério? Eu conheci um Kentin antes, mas ele era bem diferente. Tipo, baixinho, com um cabelo de tigela terrível e os óculos mais grossos que os do meu avô. – Tentei fazer minha linda amiga calar a boca, mas ela simplesmente olhava para mim e perguntava se eu me lembrava do quão alucinado comigo ele era. Até que eu apontei pro Kentin e esperei ela entender. – Ah, fala sério. Anna, não dá.

  – Lety, ele se transferiu, lembra?

  – Minha nossa. Como foi que você ficou bonito assim?

  Kentin não respondeu. Na verdade, ele bufou e saiu indignado do pátio, indo para o corredor. Lety pareceu chocada com a reação. Fui obrigada a dizer que foi um baita vacilo chamar o menino de feio na cara dura. Ela queria ir se desculpar, mas eu dispensei.

  – Só vai, Lety, depois a gente conversa. Beijos. – Quando ela passou pelo portão, nem parecia arrependida mais. Suspirei e fui atrás do garoto chateado. Achei-o sozinho numa das salas de aula, pegando algo com cuidado sobre a mesa. A lente de contato.

  – Oh, Anna, hey. Olha, se é pra falar...

  – Ela foi cruel com você, Kentin, eu sei. Ela é assim. Infelizmente.

  – Ela não é cruel. Só fala do jeito errado.

  – O jeito errado as coisas erradas. Olha, o que importa é que agora você é você. Agora você é o Kentin gostosão, do olhar arrebatador e o cabelo bonito. Continua inteligente e fofo, como sempre.

  – Deixa pra lá. Lety sempre pegou no meu pé, eu devia imaginar que ela ia fazer aquilo. Valeu, Anna.

  – Pode voltar a se preocupar com a audição. Boa sorte.

  – Você também. – Sorri, voltando a ficar tensa. Em algum tempo eu estaria falando para os professores o texto decorado, esperando ser a melhor a cumprir o papel. Já parecia meio tarde para continuar lendo o texto.

  Tarde ou não, eu queria ler mais uma vez. A insegurança ia acabar me sufocando. Eu estava descendo para o porão, quando Lysandre me chamou. Ele queria que eu lhe dissesse se ainda estava falando muito baixo. Concordei, seguindo-o até uma sala vazia.

  Suspirei enquanto ele lia. Lysandre não tinha um traço de nervosismo que fosse. Era capaz até dos professores o escolherem para ser a Alice, de tão bem que ele estava falando. Aquilo só fez meu estomâgo apertar o nó e me deixar ainda mais nervosa. Tentei não incomodá-lo, mas ele percebeu. Como eu esperava de Lysandre.

  – Tudo bem?

  – Uhum. Você conseguiu deixar a voz num ótimo tom.

  – Ah, que bom. Quer treinar?

  – Não, eu acho que...que estou bem.

  – Certeza? Parece nervosa.

  – Estou, mas é normal, sim? Bom, eu vou indo. Preciso deixar algo no meu armário antes de ir para o ginásio. Não vá se atrasar.

  – Muito bem, se prefere assim...

  Deixei a sala, querendo me esconder no banheiro ou comer o máximo de chocolate que eu conseguisse. Pareciam os dois únicos caminhos para vencer a ansiedade. Respirei fundo e caminhei até meu armário, tentando não tremer muito.

  O corredor já estava vazio, o pátio devia estar cheio. O ginásio nem se fala. E eu fugindo do compromisso. Bati a testa no armário, segurando o papel com o texto de Bergerac. Eu não ia conseguir. Não ia e pronto. Eu nem precisaria ir nessa merda de audição.

  Abri a porta do armário com força. E como numa cena clichê de um filme previsível, algo caiu lá de dentro. Suspirei e me abaixei para apanhar o papel. Ou melhor, a foto. Viktor. Se meu irmão me visse naquela situação, ele provavelmente começaria a me xingar, dizendo o quão idiota eu era em achar que não conseguia ler uma porcaria de texto.

  Ou ia simplesmente me desejar boa sorte e sorrir.

  Meus olhos arderam, como era de se esperar. E, talvez para minha sorte, só não chorei porque escutei um barulho vindo do porão. Guardei a foto e fui ver o que era, pensando que podia ter alguém machucado ou algo quebrado. Desci a escada, olhando ao redor. Algumas caixas caídas, mas cheias de bolas vazias. E o som da porta batendo.

  – Ah, pelo amor... – Tentei abrir, mas estava trancada. Chamei-a, mordendo a língua. – Ambre. Ambre, abre essa porta.

  – Oi? Tem alguém ai? – E a risada mais filha da puta que eu já ouvi. Bati na porta.

  – Ambre, eu juro por Deus que eu vou derrubar essa porta e vou bater sua cara numa parede até o reboco começar a misturar com sua maquiagem, sua filha duma mãe, desgraçada.

  Ela riu de novo antes de soltar seu veredito.

  – Relaxa, vou te soltar assim que as audições acabarem. Até mais.

  Ainda gritei, mas ela foi embora. Ouvi os saltos batendo no chão enquanto ela murmurava. E não ia ter ninguém por ali. Até mesmo quem não queria atuar estava assistindo seus colegas e dando força. Ou seja, eu estava ali sozinha pela próxima hora. Ou mais. Acabei sentada atrás da porta, esperando.

  E sentindo o gosto amargo que era ter Ambre conseguindo me ferrar. A melhor parte de todas, foi a bateria do meu celular, que tinha acabado apenas alguns minutos antes, quando eu ainda estava com Lysandre.

  – Anna? Anna, você está ai? – Ergui a cabeça, achando que estava delirando. Sinceramente, eu já tinha decorado o número de tijolos no teto. As audições deviam ter acabado. – Anna?

  – Lys? Lysandre. Lys, aqui. Oi. – Eu estava berrando, mas ele não me ouviu. Ou simplesmente não encontrou a direção certa. Sacudi a porta e bati com o punho na madeira. Acho que aquilo foi suficiente.

  – Anna? O que está fazendo ai?

  – Pra resumir, Ambre decidiu me prender aqui para garantir seu papel. Tem como me tirar daqui? Ambre já deve estar vindo, mas não queria dar esse gostinho.

  – Não tenho certeza. Espera ai. – Fiquei esperando até ouví-lo de novo, tentando imaginar o que ele ia fazer. Quando ele voltou, pediu para eu me afastar da porta. Desci as escadas e esperei. A porta ia ter me acertado com força se eu ainda estivesse sentada lá. Não entendi bem o que ele fez, mas não tive tempo de perguntar. – Se quer aquele papel, é melhor corrermos.

  – Não acabou ainda?

  – Talvez. Precisamos tentar. – E saiu me puxando corredor abaixo, abrindo a porta pra mim.

  A diretora estava se levantando de sua cadeira, quando me viu passando pela porta feito um rojão. Assustada, ela deixou suas anotações caírem.

  – MENINA, ISSO SÃO MODOS?

  – Desculpe, senhora Shermansky. Eu vim para a audição.

  – Bom, sinto dizer que já encerramos os testes. – Gemi, pegando os papéis no chão para ela.

  – Senhora, eu sei que estou pedindo muito, mas aconteceu algo sério e eu...

  – Ela estava presa, senhora. Ao que, já aproveitando, peço perdão por ter arrebentado a tranca da porta do porão. Acho injusto que ela não possa tentar.

  – Por favor. Eu nem preciso ler o texto todo, eu nem preciso falar o texto se não quiser. Lysandre mesmo pode te dizer o quanto eu li essa porcaria de Cyrano de Bergerac, o tempo que eu fiquei remoendo essas frases. Pode ver meu papel, está todo amassado de tanto que eu segurei. Por favor...

  – Tudo bem. Tem cinco minutos, senhorita.

  – Obrigada, muito obrigada.

  Respirei fundo e comecei. Não consegui criar uma imagem minha dizendo o texto ensaiado. Naquele minuto era apenas o personagem falando o que me vinha em mente. Só depois que acabei de falar, fui me preocupar em encontrar Ambre sentada na multidão. E é claro que ela estava quase explodindo de ódio. Agradeci a diretora mais uma vez pela chance e desci do palquinho.

  – Muito bem. Voltaremos logo com os resultados. Professores, por favor...

  Caminhei até Lysandre, ainda ofegante. Nem acreditava que tinha repetido tudo, sem esquecer uma vírgula que fosse. Ele me deu um sorriso, ao que eu só consegui retribuir com um olhar exausto.

  – Muito bem, como eu esperava.

  – Obrigada, Lys. Foi muita sorte você chegar naquela hora.

  – Fiquei preocupado. Você me mandou vir na frente mas não chegou nunca. – Reparei como ele falou olhando em outra direção, mas não resisti à minha própria imaginação. Sorri, meio abobada.

  – Sorte minha ainda assim que você não ficou só esperando.

  Nathaniel vinha atravessando os alunos para falar comigo. Só quando ele foi obrigado a pedir desculpa por pisar no pé de Castiel eu reparei na sua presença. Ele conseguiu se expremer e sentar ao meu lado, oposto a Lysandre. Ele respirou fundo e perguntou.

  – Foi Ambre, não foi?

  – O que acha?

  – Aquela menina é doida.

  – Olha, deixa isso pra depois. Lysandre, se a diretora exigir, eu pago o preço da tranca...

  – Não, eu pago. Minha irmã quem criou isso tudo. Aliás, ela vai pagar.

  – Não declare a terceira guerra, por favor.

  – Bem, o que importa é que você conseguiu. Parabéns.

  Sorri, engolindo em seco. Vi os professores entrando no ginásio de novo, todos sérios. Comecei a bater o pé. Nathaniel me olhou.

  – Vocês não vão ficar desapontados se eu não conseguir, vão? Meus pais vão, eu tenho certeza que...

  – Ei. Relaxa, garota. Vai dar tudo certo. – Nathaniel segurou minha mão esquerda. Num reflexo, eu agarrei a mão de Lysandre também, tentando não apertar muito.

  – Eu não vou ficar decepcionado com algo que tenho certeza que não vai acontecer. Você vai conseguir, confia.

  Concordei, ouvindo Boris reclamando da falta de firmeza na maioria das apresentações, das vozes baixas e sem entonação. Faraize assumiu a prancheta com o nome dos selecionados.

  – Muito bem. Decidimos que o rei e a rainha de copas serão encenados por Li e Nathaniel. A lebre de março será o papel do senhor Kentin, enquanto o chapeleiro será encenado pelo senhor Armin e o coelho por Lysandre. – Percebi a satisfação com o aperto de leve que ele deu na minha mão. – Cheshire será feito por Castiel, Kim será a irmã de Alice...Peggy será a lagarta. E por fim, o papel da principal é da senhorita...Anna.

  – Ah. – Deixei um gritinho escapar ao mesmo tempo do questionamento raivoso de Ambre.

  – Como é?

  – Desculpe?

  – Esse papel é meu. Eu sou a principal, professor, eu tenho que ser. Eu até improvisei meu próprio texto.

  – Ou, principal o cacete, eu ganhei o papel.

  – Eu quero o papel ou eu juro que te faço quebrar um pé antes da peça.

  – Ambre...

  – Um papel em todas as cenas, eu exijo um!

  – Ok.

  – Os cenários vão ser obra de Iris e Violette, enquanto os figurinos são trabalho de Rosalya e Alexy. – A diretora simplesmente ignorou o piti de Ambre e continuou falando. – As senhoritas Melody e Bia estarão a postos para lhes soprarem falas que se esquecerem e Charlotte será nossa narradora. Dispensados.

  Caos total enquanto os alunos iam deixando o ginásio e discutindo seus papéis. Nathaniel me deixou e foi ver se conseguia controlar a fúria de sua irmãzinha. Castiel ficou de pé, no suposto bom humor. Até estranhei.

  – É, pelo menos meu personagem é o mais interessante. Vai ter que me aguentar bastante pelo show.

  – Eu aguento. Não vai ser você, afinal de contas. Cheshire é legal, você não.

  – Bom, acho que já podemos sair, sim? A discussão ali parece que vai ser longa.

  – Tem razão. Obrigada mais uma vez, Lys. Você terá minha gratidão eterna.

  – Não se preocupe. Fico feliz que Alice seja você e não ela. Bom, se me dão licença...

  – Eu vou também. Preciso contar que consegui o bendito papel. Até mais, gente.

  O sol parecia até mais brilhante enquanto eu ia descendo a rua na direção do prédio. Olhei o céu e pensei em Viktor.

  “Acho que não vou precisar mais me comparar, Vik. Acho que não mais...”

  Abri o portão sorridente, pronta para a dar a notícia mais feliz do meu ano até então.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então, minha gente, o que acharam? Mandem seus lindos reviews, eu amo vocês ♥ Mesmo todos sendo fantasminhas, obrigada por lerem ^~^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lá E De Volta Outra Vez" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.