Lá E De Volta Outra Vez escrita por Pacheca


Capítulo 30
Nascimento de uma Estrela?


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas :3 Vim postar mais um lindo capítulo dessa linda história, sofrendo um pouco pelos carrapatos que eu peguei na roça --' Ah, e já preparada para os paus nas materias, mas não vem ao caso. Aproveitem ;)



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  O papel das falas já começava a ficar amassado no ponto em que minhas mãos o seguravam. Eu estava lendo aquilo noite e dia, sempre que eu conseguia. Até comer com aquilo perto de mim eu estava, quando minha mãe não estava por perto. Aliás, eles me ajudaram também. Meu pai contracenava comigo na loja enquanto estávamos sozinhos, minha mãe me ajudava em casa.

  – Ei, Anna. – Eu estava caminhando pelo corredor da escola, repetindo as frases mentalmente, quando Kim me chamou. Olhei para ela, meio distraída. – Eu e Vi estamos indo ensaiar. Quer vir com a gente? A gente tem se ajudado muito.

  – Ah, claro. Onde?

  – O porão deve estar vazio. Vem.

  Segui as duas meninas, lendo mais uma vez o texto. A escola toda estava no mesmo estado, lendo e repetindo falas sobre narizes enormes. Eu ia atrás das meninas, tentando ver quem estava melhor e pior que eu. E não sei se fiquei satisfeita ou não.

  Apesar de um pouco tímida, Violette tinha o texto todo gravado e repetia sem erros. Só faltava se soltar um pouco. Kim era o oposto. Ela tinha todo o jeito do mundo, só que se esquecia de algumas falas essenciais. Respirei fundo antes de começar a recitar as falas que eu já repetia sem dificuldade. As duas ficaram me encarando em silêncio depois que eu terminei.

  – Então. Gente.

  – Minha nossa... – Violette piscou, sorrindo para mim. – Foi muito bom.

  – Sério?

  – Guria, que arraso. Sinceramente, o papel já é seu.

  Consegui respirar. Meus pais já tinham me dito que estava bom, mas eu não confiava muito na opinião deles. Alguém de fora me dizendo aquilo foi como tirar o mundo de cima dos ombros. Sorri.

  – Bom, vou tomar uma água. Vocês vem?

  – Não, pode ir.

  Deixei o porão, toda sorridente. Tomei minha água e, enquanto eu voltava para o porão, trombei num Lysandre distraído. Pedi desculpa, pegando o script caído.

  – Não sabia que ia tentar.

  – Sou um grande adepto das artes cênicas, apesar de gostar mais de clássicos.

  – Clássicos tipo Fedra?

  – Sim, tipo Fedra. O próprio Cyrano me interessa bastante. Pode ser pela identificação.

  – Seu nariz não é imenso, Lys.

  – Sim, mas todo mundo me olha estranho pelos olhos. Acaba sendo o mesmo. Tentando também?

  – Ah, é. Sair um pouco da minha zona de conforto não deve matar, sim?

  – Você organizou um show praticamente sozinha, um teatro deve ser fácil.

  – Não foi sozinha.

  – Bom, quer aproveitar a chance e ensaiar? Eu ainda não tive a chance de apresentar para ninguém...

  – Oh, ok. – Eu devia voltar para Kim e Violette, mas não consegui negar o pedido de Lysandre. Ajudar não me custava nada. E eu gostava de estar perto dele, com aquele sorriso pacífico dele. Ele entrou na primeira sala vazia que achou e se acomodou.

  – Quer começar?

  – Não. Uma pausa do texto me faz bem. Pode ir.

  – Tudo bem. Aviso que minha voz pode parecer um pouco arrastada, quase sem emoção. Não sei. Tenho trabalhado nisso.

  Lysandre respirou fundo antes de começar. Eu devia ter feito o mesmo. Eu achava que era a voz dele cantando que me impressionava, mas não. Era a voz dele. Ponto final. Eu fiquei tão boquiaberta que posso ter babado e nem notado. Era só que ele estava tão...espetacular.

  – O que achou?

  – Precisa...falar um pouco mais alto.

  – É, claro. Não costumo falar muito alto, mas estou tentando.

  – Está ótimo.

  Nem sei como conseguir falar. Na minha cabeça eu ainda estava presa com a boca aberta, vendo ele pronunciar as falas com os olhos sempre cravando em mim. Será que ele tinha noção do quanto aqueles olhos prendem alguém? O que eu estou pensando?

  – Quer tentar?

  – Hum? Oh, sim. Ok. – Respirei fundo, ainda meio perdida. Ele me fitava, o sorriso paciente de sempre. Tossi antes de começar a falar, do mesmo jeito que eu já tinha feito dezenas de vezes. Tentei imitá-lo e manter contato visual, mas sempre que eu estava prestes a me distrair, era obrigada a olhar para outro lado. Então fingi que tinha mais de uma pessoa na sala.

  – Está...muito bom. Muito.

  – Obrigada. Bem, eu...preciso ir atrás das meninas. Tchau, Lys. – Só faltou eu tropeçar quando estivesse saindo da sala para a cena ficar mais retardada. Sinceramente, uma meia dúzia e neurônios meus decidiu falhar. Ainda com a cara vermelha, fui para o banheiro.

  Lavei o rosto, querendo me afogar na pia. Claro que eu não ia tentar. Esperei meu rosto voltar a uma cor normal e sai para as aulas. Querendo ou não, ainda tínhamos que estudar.

  Naquele dia, eu fiquei até mais tarde, estudando o tal do script. Aquele texto já começava a me cansar, mas se eu queria ser atriz, faria parte. Fiquei tão distraída no meu ensaio privado, que quando dei por mim já estava de noite. Ou quase isso. A porta abriu de uma vez, me assustando. E me deixando ainda mais surpresa quando Castiel apareceu.

  – Ainda aqui é?

  – Eu perdi a noção do tempo.

  – Agora que já recuperou, pode meter o pé.

  – A escola já vai fechar. Vai ficar ai a noite toda?

  – Eu preciso de dois minutos. Posso?

  – Sinta-se livre.

  Ele suspirou e se sentou numa das carteiras da frente, anotando algo num caderno de aparência velha. E mais ou menos uns cinco minutos depois ele ficou de pé e me encarou.

  – Vai ficar ai? Vamos.

  – Vamos aonde?

  – Para sua casa, anda.

  Suspirei e fui atrás dele. Ele falou comigou mais umas duas frases, antes de sairmos do colégio. Depois disso, ele saiu andando na frente, como se estivesse sozinho. Parei na esquina, olhando as costas dele até ele perceber que eu não mais seguia.

  – O que foi?

  – Qual é seu problema, Castiel?

  – O que?

  – Eu, eu não entendo. Você diz que vai embora comigo, mas nem perto de mim você fica. Eu tenho alguma doença, é isso?

  – Anna, o que você pensa?

  – Eu não sei. Eu não sei o que pensar. – Eu estava a beira de um colapso nervoso. Eu sentia meu corpo trêmulo por dentro, os olhos marejados, as palavras entalando na minha garganta. E ele não parecia muito melhor. – Você me deixa tão confusa! Um dia está tudo bem, você me trata como qualquer um. No outro dia você nem olha para mim direito, no outro você está me levando para casa, mas não quer ficar perto de mim. Eu não sei, não sei...

  – Anna, você está...

  – Não vem me falar isso, eu não estou exagerando. Você sabe que é verdade, que você me odeia sem o menor motivo.

  – Eu não te odeio.

  – Então por que você me trata assim?

  – Porque...Argh, que droga, Anna. – Ele me deu as costas. Fiquei de pé, esperando ele dizer mais alguma coisa, mas ele atravessou a rua e continuou a andar, sem me esperar. – Vai ficar ai?

  – Viu? Confusa. – Pisquei, limpando os olhos e passei por ele. Se era para andar sozinha, que eu não estivesse o vendo. Filho da mãe, maldito, idiota. Como é que Lysandre era amigo daquela peste? Quando abri meu portão, ele ainda estava lá. Respirei fundo e entrei, querendo ignorá-lo.

  – Filha, você...demorou...

  Subi direto para o quarto e entrei no banheiro, fugindo da minha mãe. Tudo que eu queria era um banho e minha cama. E esquecer aquilo com Castiel. Eu não entendia. E o mais provável era que eu nunca ia entender. O mais perto que eu chegara de fazê-lo dizer algo ele se virou e saiu andando.

  Tomei meu banho e desci, só para provar para meus pais que estava tudo bem. Mesmo não muito convencidos, eles atribuiram a culpa ao cansaço pelo ensaio excessivo e me deixaram quieta. Pensei em dormir, mas ainda estava cedo demais. Então liguei para Alexy e Rosa.

  – Falou mesmo isso?

  – Ficou surdo, Alexy?

  – Ih, Rosa, aprendeu com ele é?

  – Gente, oi.

  – Estranho. Bizarro. Digo, eu convivo com Castiel por tabela, você sabe. Meu cunhado é amigo dele. Só que você falou uma verdade, ele age diferente com você, ainda mais grosso que o normal.

  – Talvez seja a super demonstração de afeto?

  – Não acho, Alexy. É como se ele quisesse me afastar, mas ai logo em seguida mudasse de ideia. Não sei, eu não entendo.

  – Quer que eu peça Lys para perguntar?

  – Não, não vale o esforço. Eu realmente só queria entender se o problema é comigo, ou algo assim.

  – Não fica assim, amor. Olha, eu sei que você vive uma luta diária com Castiel, mas você já fez tanto por ele que até eu que cheguei há menos tempo já vi que ele gosta de você. Ele só não sabe mostrar.

  – Acha mesmo, Alexy?

  Vi uma notificação de mensagem no celular enquanto o menino de cabelos tingidos concordava com a cabeça. Peguei, achando que seria Nathaniel, finalmente parando de se isolar num mundo ideal, mas fiquei surpresa com o remetente.

  Castiel.

  “Quem sabe um dia eu te explico? Um dia...”

  – O que foi?

  – Ele me enviou uma mensagem.

  Não comentei muito daquilo. Dei um jeito de agradecer os dois pela atenção e desligar. Eu queria responder, mas faltavam palavras...Ou entendimento para elaborar qualquer coisa. Acabei mandando simplesmente “estarei esperando.”

  Deixei o celular de lado e fui dormir. Eu tinha que estar tranquila para o dia seguinte. O dia das audições. Meu dia de brilhar. Sem me deixar enfraquecer por Castiel e suas bobagens. Apaguei a luz e me deitei encolhida, ainda sentindo aquele tremor interno.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?



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