White Blank Page escrita por Enya Flowers


Capítulo 3
Loving you with my hole heart




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Não havia com quem reclamar, ele não era um Stark e ninguém ali era a sua família. Ele se enganara durante dez malditos anos. Comer com lobos não te torna um lobo, constatara. Ele havia criado esperanças de que quando a filha mais velha de Lorde Eddard Stark estivesse na idade apropriada ela seria oferecida à ele em matrimônio e não para aquele... aquele... Deuses! Ele nem sabia como definir Joffrey Baratheon!

Aquela criatura loura podia ser o herdeiro mais próximo do Trono de Ferro, mas ele era o herdeiro das Ilhas de Ferro e a última vez que estudara os mapas, as suas terras eram mais próximas de Winterfell do que Porto Real. Mas que diabos Lorde Eddard quer com o Sul!? O lugar dos Stark era no Norte, assim como o lugar dos Greyjoy. Isso era razão o suficiente para unir as duas Casas e todos que tinham olhos podiam ver o respeito com que Theon tratava Sansa. E nem mesmo Arya será dada para mim! Essa realidade o atormentava ainda mais. Não porque ele gostava de Arya ou coisa do tipo, mas porque isso significava que ele não era digno de se unir àquela família de lobos. Se eu não sou digno deles, por que ainda sou um prisioneiro dos Stark? Eles o tratavam como um convidado, no entanto Theon não tinha a liberdade de ir e vir quando quisesse. Se tivesse, já teria retornado à Pyke há muito tempo atrás.

– Malditos sejam todos eles! - Deixou que a maldição saísse de seus lábios e ecoasse pelos corredores vazios.

Ele não tinha mais vontade de cumprir sua promessa de não fazer mal à família com a qual vivia. Sansa partiu sem nem mesmo se dignificar a se despedir dele. Na verdade, ninguém lhe disse adeus. Nem mesmo o bastardo que partiu para a Muralha lhe deu os seus cumprimentos.

Lorde Eddard ao partir para Porto Real levou um considerável número de seus homens e suas duas filhas, restando para Winterfell - e Theon - nada mais do que um fedelho chorão, um garoto desacordado, uma mãe depressiva e um Robb desconsolado. Era papel de Theon ver como o seu amigo de infância estava. Não que ele pudesse fazer algo para aliviar Robb de suas preocupações, ainda mais com o inverno já sendo previsto, mas ele tinha certa satisfação ao ver que havia pessoas em condições piores que a dele.

A porta do quarto de Robb estava fechada e o silêncio prevalecia ali. Porém Theon tinha certeza que o amigo estava lá dentro pela claridade que escapava por debaixo da porta, indicando que havia alguma luz acesa em seu interior. Em seu braço o rapaz trazia uma garrafa de vinho. Robb não comera desde que o pai partira naquela manhã, o que não fazia bem para ninguém, no entanto o vinho poderia muito bem preencher aquele buraco no estômago se a comida lhe desse repulsa. Com duas batidas firmes na pesada porta de mogno, Theon esperou ser convidado para entrar.

Esperou por mais tempo do que julgava necessário e tornou a bater para anunciar a sua presença e mais uma vez nada aconteceu. Irritado pela afronta, meteu a mão na maçaneta e a girou, fazendo com o que trinco cedesse e logo em seguida forçou sua pessoa para dentro do quarto de Robb, fechando a porta atrás de si ao atravessá-la.

– Que porra, Robb! - Reclamou. Sabia que essa forma não era a correta para se dirigir ao filho de seu captor, entretanto os anos que conhecia o rapaz lhe dava certa liberdade em suas expressões, desde que não tivesse outras pessoas por perto.

– Eles se foram... - A voz de Robb não saiu mais alta do que um sussurro.

No quarto só havia uma vela acesa e sua luz era bruxuleante. A cera estava consumida um pouco mais da metade e era o suficiente para acentuar a expressão de desolação do primogênito daquela família.

Robb estava sentado na beira de sua cama, com as roupas do dia em meio as peles que usava como cobertor e que trespassava o seu corpo.

– E? - Theon deu de ombros, fingindo com sucesso não dividir aquele mesmo pesar.

O garoto ruivo de dezesseis anos ergueu os olhos para encarar o intruso em seus aposentos.

– Eu não sei o que fazer... - Confessou.

O mais velho riu. Se a sua aflição fosse apenas essa ele seria o mais sortudo ser vivo.

– Você é o Senhor de Winterfell na ausência de seu pai. Faça o que quiser - O sorriso continuava estampado em sua face e estendeu a garrafa de vinho para Robb, que sem pensar duas vezes a aceitou, mas hesitou um instante para tomar o primeiro gole.

– Eu não deveria beber de estômago vazio - Constatou.

– Viu só? Você consegue ser tão chato quanto senhor seu pai, tenho certeza que será tão bom quanto ele! - Brincou, tomando a garrafa das mãos do amigo e virando três generosos goles em sua boca.

– Eu não sou chato e nem o meu pai! - Protestou, voltando a pegar a garrafa, provando suas palavras e fazendo cara feia quando o vinho queimou sua garganta.

Ambos riram e Theon se jogou na cama ao lado de Robb.

– Se essa é sua maior preocupação, você é um homem de sorte - Expôs os seus pensamentos.

– Essa não é minha única preocupação - Começou - Meu irmão está desacordado e não sei o que acontecerá com ele quando acordar e descobrir que suas pernas são inúteis e a minha mãe não sai do lado dele, não percebe que Rickon precisa mais dela neste momento.

Theon engoliu as palavras em silêncio. O desejo que fizera na infância pouco antes de mudá-lo estava se tornando realidade e sentia-se vazio com isso. Não era exatamente isso que desejava. Ele queria fazer parte daquela família e não vê-la destruída ou separada, agora ele entendia melhor os seus sentimentos.

– Por que não fez algo para impedir que o seu pai fosse? - Theon perguntou.

– O que eu podia fazer? - Robb se virou para o amigo e Theon se ergueu, sentando-se da mesma forma que Robb.

– Podia ter... - falado para o seu pai casar Sansa comigo, desejou dizer, mas as palavras se perderem em sua mente - Não sei, você é o filho dele e o entende melhor.

– Meu pai foi se tornar a Mão do Rei, não havia nada que eu pudesse sugerir que no fundo não soasse como traição aos ouvidos do Rei Robert - Lamentou.

– E no entanto você se tornou o Senhor de Winterfell - Theon comemorou com mais um gole de vinho da garrafa tomada de Robb.

– E eu não sei como agir com esse novo título - Robb estava apreensivo. Theon nunca o vira daquela forma. O garoto ruivo sempre fora altivo e seguro de suas ações.

Theon estudou o amigo. Não sabia dizer quando ele deixou de ser criança e se tornou um homem. O maxilar de Robb era proeminente e havia linhas de dureza em seu semblante, o que remetia muito ao pai. Contudo, os olhos azuis e os cabelos vermelhos eram traços da mãe. Naquele momento era impossível não enxergar Sansa nele.

– Não deve ser assim tão difícil sentar naquele trono para atender os seus homens.

– É bem difícil quando não sabemos o que dizer.

– Tenho certeza que Meistre Luwin o instruiu para isso - O Meistre também o havia instruído assim como os outros filhos dos Stark, sendo um assunto para cada aluno.

– Uma coisa é a teoria e outra é a prática.

– Você me disse a mesma coisa quando fomos no bordel no dia do seu nome - Theon se recordou e gargalhou.

– Theon! - Robb o repreendeu em seu constrangimento - Isso foi no passado!

– O quê? Ficou com vergonha? - O provocou - Não se lembra de como ficou obcecado por aquela ruiva? - Theon aproximou o seu rosto do de Robb - Ou está se lembrando das coisas que ela fez?

– Theon, para... - Ordenou.

– Então é isso, né? Está se lembrando das coisas que ela fez com você - Riu - De como ela o beijou e de como ela o tocou no meio das pernas... E de como você a tocou! - Ele estava se divertindo ao atormentar Robb a respeito de sua primeira noite de prazeres carnais.

– Theon... - Robb o chamou em um sussurro, claramente excitado pelos pensamentos que estava tendo.

– Os lábios dela eram fartos, macios e úmidos, não? - Continuou e tocou a coxa do amigo que estava mais próxima dele.

Ao toque recebido, Robb se voltou para Theon e sem um aviso, o beijou.

Aquela ação foi inesperada e o rapaz moreno não soube como reagir. A língua de Robb procurava abrir espaço na boca de Theon e ele não evitou o contato, abrindo os lábios e deixando que ambas as línguas de entrelaçassem em uma dança que já estava acostumado a ter com de outras mulheres, mas jamais com um homem. Robb tinha o hálito de vinho e supôs que ele também deveria ter. Ambos estavam embriagados. A última vez que conferira, faltava menos de um terço de vinho para a garrafa ser esvaziada. Ele sabia que aquele momento que estava tendo não era certo e mesmo assim ele ansiou por mais. Robb naquela luz e com aquele comportamento lembrava tanto Sansa que ele se permitiu fingir que era ela quem estava ali.

O beijo não demorou muito tempo e quando se afastaram, eles se estranharam.

– Você deveria procurar sua mãe - Foi Theon quem primeiro falou e Robb arregalou os olhos com a sugestão - Para dizer à ela que não é saudável ficar ao lado de Bran do jeito que ela está ficando - Concluiu e o ruivo relaxou ao perceber que o tema da conversa que teria com Lady Catelyn não dizia respeito ao que acabaram de fazer.

– Você tem razão - A postura do garoto voltara a ser a habitual e de imediato se pôs em pé e caminhou até a porta com uma pressa atípica. Antes de sair, ele voltou-se para Theon com relutância - Sobre o que aconteceu...

– Não aconteceu nada - Respondeu. Ele também desejava que aquilo não passasse de uma alucinação e sabia desde o princípio que não era para ter acontecido e que nunca tornaria a ser repetido.

Meneando a cabeça em sinal positivo, Robb o deixou só.

Ao barulho da porta tornando a fechar, Theon se jogou na cama e tocou os lábios. Eles estavam inchados e úmidos. Seus olhos se fixaram nas rachaduras do teto do ruivo. Foi tão errado aquele momento de intimidade quanto foi bom. Ele pensou em Sansa durante o beijo, mas foi Robb quem fez o seu coração disparar e lhe causou aquela sensação incomoda na calça.

Decidido a não pensar nisso nem agora e nem no futuro, concluiu que a única certeza que ele tinha é que ele amava tanto Robb quanto amava Sansa e faria o que fosse possível para ajudá-los enquanto lhe tratassem como um igual.


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